Capítulo IV - Jardim dos Sonhos
Por uma terceira vez, despertou no chão do cômodo das telas.
Sua pele ainda ardia devido ao intenso calor das chamas do dragão, mas não havia queimadura alguma.
Levantou com um impulso e cruzou o cômodo para atravessar a porta desenhada na parede, mas parou antes de cruzá-la. Ele precisaria de uma arma para enfrentar a fera, porém não havia nenhuma nos bastidores. Retrocedeu um passo e voltou o olhar para as telas limpas organizadas no chão. Poderia usar o mesmo truque de Madeline.
Pegou a maior tela da coleção e voltou ao cavalete. Retirou a pintura feita por Madeline, sem cuidado algum e jogou-a em um canto do cômodo, colocando a tela em branco no lugar. Tomou o pincel em sua mão direita, após mergulhar a ponta no pote de tinta, e começou a percorrer a superfície da tela com o mesmo. Desenhou uma espada no quadro, sem muitos detalhes. Sua ponta era fina, mas a lâmina ia aumentando de tamanho até alcançar o guarda-mão. O cabo era grande o suficiente para manejar a espadas com ambas as mãos.
Atravessou a mão na pintura e agarrou o cabo da espada, puxando-a para fora do quadro. Já tinha a arma necessária para matar o dragão. Porém, estaria desprotegido contra as chamas. Deixou a espada encostada no cavalete e pegou o pincel novamente. Desta vez desenhou um escudo largo para evitar as chamas. Tirou-o do quadro do mesmo modo que tirou a espada.
Sentia-se preparado para vencer o dragão e finalmente acordar.
Com a mão esquerda segurava o escudo, enquanto a mão direita se ocupava da espada. Ambos os objetos eram tão leves que mal fazia esforço para carregá-los.
Deixou o cômodo e atravessou o curto corredor com passos moderados, que mal faziam barulho devido ao carpete, voltando aos bastidores do palco. Prendeu sua própria atenção nos figurinos organizados nos cabides. Judith lhe disse que precisaria de seu figurino, e confiava na irmã. Colocou seus objetos sobre a mesa em que estava a lamparina de luz vermelha e voltou às roupas organizadas.
Passou traje por traje até encontrar o figurino de um príncipe. Ponderou sobre a possibilidade de pegá-lo, mas deixou-o de lado, voltando a conferir roupa após roupa. O ultimo traje era uma capa feita de pele de raposa, capaz de cobrir toda a suas costas e ombros, e vinha também com um gorro de cabeça de raposa. Aquele era o traje certo.
Ele não seria um príncipe, e sim um caçador de monstros.
Vestiu a capa e amarrou o barbante responsável por deixar a roupa no lugar, fazendo um nó abaixo do pescoço. Em frente ao espelho presente nos bastidores, ajeitou a camisa de botões que usava e bagunçou seus próprios cabelos com os dedos, colocando o gorro sobre a cabeça em seguida. Estava pronto.
Retornou ao palco e aguardou as luzes se acenderem. Confiante, apertava com força o cabo de sua espada enquanto esperava a mesma cena de minutos atrás se repetir novamente.
Os portões do castelo se abriram e Judith passou correndo por ele novamente. Na metade do palco, tropeçou na barra de seu vestido longo e caiu ao chão. A coroa dourada mais uma vez rolou pelo carpete de grama até colidir com os tênis de Joel. A menina levantou o olhar e encarou Joel. Ambos os olhos castanhos foram substituídos por olhos de bonecas.
— Por favor, me ajude! – ela suplicou, mas o homem sabia que era apenas encenação. Era exatamente a fala que estava no roteiro daquela peça.
O dragão novamente emergiu das sombras dos limites do cenário, afundando sua pata larga e pesada no chão de madeira. Um rugido forte ecoou no local. Joel lançou-se a frente, passando pela irmã e se colocando entre ela e a fera. Não demonstrou sinal algum de que estava intimidado. A fera deu um passo à frente e rugiu na direção do homem. O ar quente que saia de sua boca fazia a capa de Joel balançar. Entretanto, o homem continuou na posição inabalável que estava.
Observou as mandíbulas se afastando e pôs o escudo a frente, instantes antes da rajada de fogo o atingir. O fogo colidiu com escudo e foi mandado para os lados, incapaz de destruir o objeto de tinta preta. Assim que o calor cessou, tirou o escudo da frente e encarou os olhos do dragão. Estes também haviam sido trocados por olhos de boneca. Olhos amarelos se destacando na pele verde.
Notou, atrás da cabeça achatada do dragão, outros pedaços de cenário suspensos no ar por cordas. Sabia que não conseguiria vencer o dragão se não o derrubasse e cravasse a espada em sua cabeça. Decidiu arriscar o ato, arremessando o escudo na direção da cabeça do dragão. A fera desviou, e o escudo partiu as cordas que suspendiam o cenário.
A estrutura pesada caiu sobre a nuca do dragão, e a cabeça da fera seguiu o movimento de queda até colidir com o chão, quebrando mais um pouco da madeira. Joel não perdeu tempo, lançou-se à frente, pisou no focinho do dragão e colocou-se sobre a cabeça. Usando todo sua força, cravou a lâmina no alto de sua cabeça, cortando as escamas e a pele resistente, penetrando no crânio. O dragão se contorceu e rugiu com força antes de se desfazer em um monte de areia colorida.
Retrocedeu alguns passos, voltando a pisar no carpete que imitava um gramado vivo e apoiou as mãos nos joelhos. Estava ofegante, mas feliz por ter ganhado a batalha.
Palmas, com curtos segundos de pausa entre elas, ecoavam da plateia.
Madeline era a única ali, em pé no meio das cadeiras organizadas e aplaudindo com força.
— Bravo, Joel! Foi magnífico! – riu sozinha e continuou aplaudindo. Joel imediatamente se pôs em guarda, mesmo que estivesse sem suas armas. Franziu o cenho e encarou com severidade o sorriso largo que a loira exibia. – Você só esqueceu-se de uma coisa... Eu não vou deixá-lo sair!
Madeline fez um breve movimento de mãos, como um sinal. Notou de relance quando Judith puxou uma alavanca atrás das cortinas, abrindo um alçapão sob os pés de Joel. Impotente, o homem caiu no breu daquele buraco, sem ao menos ter chance de reagir.
A suave melodia de pássaros cantando preenchia seus ouvidos. Seu corpo estava relaxado, deitado sobre uma superfície macia, a cabeça apoiada em algo mais elevado.
Havia morrido ou apenas perdido a consciência?
Seu cabelo estava sendo constantemente afagado por uma mão leve. Os movimentos suaves eram ainda mais relaxantes.
Ousou abrir os olhos, deparando-se com a imagem de um jardim. O mesmo jardim retratado na pintura de Madeline. O gramado verdejante se estendia por todo local, até onde seus olhos alcançavam. A fonte no centro era rodeada por pequenos anões de jardim, com uma distância perfeitamente simétrica entre eles. As águas claras eram lançadas ao céu azul com poucas nuvens e refletiam à luz do sol.
Encontrou os arbustos com o olhar e analisou cada uma das rosas brancas que desabrochavam ali. Algumas estavam colocadas no chão, com um pedaço de suas hastes espinhentas. Rosas que haviam sido colhidas. A tesoura usada para cortar as hastes estava ao lado das rosas, largada em meio à grama.
Um ambiente extremamente calmante.
— É bonito, não acha? – ouviu Madeline indagar, e só então percebeu que estava deitado sobre o colo da moça, sendo afagado por uma de suas mãos.
Usou seus braços para levantar seu corpo, colocando-se sentado. A loira o havia deitado sobre sua capa de raposa, aconchegado em seus pelos macios. Estavam ambos sentados nas raízes expostas de uma grande árvore com incontáveis galhos. Suas folhas verdes eram sutilmente carregadas pela brisa suave que soprava.
Joel estava confuso. Havia finalmente acordado?
— Onde estamos? – ele indagou, girando a cabeça para analisar o local novamente.
— Estamos em casa, meu amor. – se aproximou e beijou a bochecha do homem. Seus lábios eram gelados. Joel sentiu um arrepio desconfortável correr por sua espinha. – A propósito, eu te perdoo por ter dito aquelas coisas horríveis mais cedo...
O homem se pôs em pé com um movimento brusco. Ainda estava sonhando.
— Eu... Eu não posso ficar aqui. – anunciou, se afastando de onde a loira estava sentada.
— Não pode? Por quê? Você não gostou? – Madeline indagou preocupada, pondo-se em pé e dando alguns passos até Joel. – Podemos encontrar outro lugar, se você não gostou deste.
— Madeline... – lançou um olhar para a moça sobre o ombro. Seu semblante era sério. – Você sabe do que eu estou falando.
— Você... Você está me deixando? – os olhos de boneca adquiriram um brilho em função das lágrimas que se formaram em seus olhos. Mas não eram lágrimas verdadeiras.
Joel sentiu a cabeça latejar novamente. Ela já havia dito a mesma frase uma vez, em outra ocasião. Um pouco tonto, se aproximou da fonte e apoiou suas mãos na borda de pedras. Fechou os olhos com força a fim de aliviar a dor repentina.
Quando abriu os olhos notou o próprio reflexo nas águas claras. Seu olho esquerdo agora era um olho de boneca. Seu coração começou a acelerar.
Madeline queria substituir seus olhos para poder controlá-lo, assim como fizera com Judith.
A cabeça começou a latejar com mais força.
Madeline o manipulava. Sempre o manipulou.
O amor possessivo que sentia por Joel era o responsável por todas as atitudes extremas que a loira tomava. Seu ciúme por Joel era doentio.
Em meio à dor de cabeça, as lembranças voltaram a aparecer.
Após a morte de Grace, o homem sentiu-se deslocado, e começou a se afastar de Madeline. A moça não aceitou bem a reação de seu namorado. Ela fez de tudo para a relação voltar ao que era antes, porém, nada funcionou.
Joel ficava cada vez mais distante.
Andrei, seu melhor amigo, parecia ser o único que entendia como Joel se sentia, e era ele quem estava ao seu lado, amparando-o como sempre fez. Mas Madeline começou a ficar com raiva de toda aquela situação. Ela queria Joel apenas para ela. Seu próximo ato foi afastar Andrei de Joel.
Judith foi a primeira a perceber o que Madeline estava fazendo, e aconselhou o irmão a terminar com aquele relacionamento. Madeline tentou impedir, e foi então que Joel se lembrou do momento em que despejou toda sua frustração, em forma de palavras, sobre Madeline, era seu argumento para terminar o namoro. Deixou bem claro o que Madeline estava fazendo. Todo aquele jogo de manipulação. Destacou também o modo como Madeline havia se livrado de Grace e afastado Andrei dele.
E então Madeline perguntou se aquele era o fim, como fizera há pouco.
Os dois se afastaram por um tempo, mas então Joel se sentiu culpado pelo modo como tratou a moça e resolveu reatar o relacionamento.
Entretanto, Madeline já não era mais a mesma. Ela estava disposta a destruir a vida daquele que quebrou seu coração. A lembrança da boate foi a próxima que veio a sua mente. O beijo forçado com Andrei.
A cabeça de Joel latejou com mais força. Não conseguia lembrar-se do que vinha a seguir. Caiu de joelhos em frente à fonte, ofegante. A dor era tanta que mal conseguia ponderar.
— Você está bem, meu amor?! – Madeline indagou, mostrando-se preocupada com o homem. Suas mãos geladas repousaram sobre os ombros de Joel.
A dor aliviou por um instante. Joel abriu os olhos, ainda ofegante, e notou o coelho sentado do outro lado da fonte, por entre as águas claras. As orelhas estavam levantadas e as patas ajeitadas sob o peito.
Skipper estava vivo, e seus olhos vermelhos brilhavam em um vermelho intenso.
Joel entendeu o que ele estava fazendo ali. Skipper era o seu guia, e não Madeline. O coelho era quem sempre estava colocando-o no caminho certo.
Sobre os ombros, voltou o olhar para Madeline. Lágrimas dolorosas escorriam por seu único olho verdadeiro:
— O que você fez comigo...? Você provocou tudo isso...! – disse com voz falha. Seus lábios tremiam.
Inquieta, Madeline soltou as mãos dos ombros do homem e retrocedeu alguns passos. Seu semblante destacava sua confusão.
Agora, capaz de suportar a dor que martelava sua cabeça, Joel se pôs em pé novamente, enxugando as lágrimas que percorreram seu rosto. Voltou o olhar frio para a moça:
— Você é um monstro, Madeline! – esbravejou com raiva.
Pela primeira vez, notou lágrimas verdadeiras escorrendo dos olhos de Madeline. Ela estava em choque. Seu corpo começou a tremer diante daquelas palavras. Os olhos de boneca, que não deixavam perceber quando a moça estava mentindo, se quebraram como vidro frágil e desapareceram como poeira ao vento, deixando um vácuo negro no lugar dos olhos.
O mesmo ocorreu com o olho castanho de boneca colocado em seu globo esquerdo, mas deste escorreram lágrimas de sangue. Joel rapidamente limpou o sangue com a mão, encarando atônito o liquido vermelho na palma de sua mão. Não tinha certeza se o sangue era seu.
As mãos frias de Madeline foram levadas às madeixas louras, separando as mechas com seus dedos, e os joelhos colidiram com o gramado do jardim. Ela estava perdendo as forças, encolhendo-se no chão.
— Não... Não pode acabar assim... – ela sussurrou, como se falasse sozinha, depois ergueu o queixo e voltou o rosto para Joel. Sua expressão era assustadora. – NÃO PODE ACABAR ASSIM! – esbravejou com todas as forças de seus pulmões.
Sua pele clara e macia tornou-se uma cor avermelhada e enrugada. As asas brancas e macias de anjo perderam as penas, que se tornaram negras sobre o chão, dando lugar às asas demoníacas. As madeixas louras tornaram-se um louro escuro, perdendo toda a maciez e aspecto bem tratado. O corpo tomou uma proporção maior, rasgando parte de seu vestido preto.
Havia um buraco em seu peito, onde estava localizado o coração. Mas o órgão não estava ali.
Joel lembrou-se do coração que Skipper mastigava no corredor que precedia o labirinto. Entretanto, Madeline não precisaria dele. Era um monstro sem coração.
Ela se levantou a abriu suas longas asas escuras, batendo-as e deixando o chão. A rajada de ar que causou foi forte o suficiente para partir os anões de cerâmica e empurrar Joel contra a fonte.
O céu azul tornou-se vermelho escuro, e alguns raios ousaram a cortar as nuvens brancas. Todo o verde do jardim, desde o gramado e arbustos até as folhas da árvore, começaram a morrer, aderindo um verde extremamente escuro. As rosas brancas tornaram-se vermelhas. Suas pétalas escorriam como sangue e pingavam no gramado morto.
Era o mesmo cenário da pintura.
A fonte atrás de si começou a expelir um liquido negro e pegajoso que poluía toda a água cristalina. Afastou-se dela antes que se encostasse ao liquido.
— Você jamais sairá desse sonho. Jamais! – Madeline esbravejou, sua voz estava distorcida. – Você é meu! Só meu!
A moça avançou sobre Joel, pronto para atacá-lo com as garras afiadas que se formaram em suas mãos. O homem se preparou, para o impacto, mas Madeline não chegou sequer perto dele. Andrei, com os olhos brilhando em vermelho escarlate, decepou a mão de Madeline com a mesma espada que usara para matar Joel no labirinto, e atirou-a longe.
O coelho o estava controlando.
Madeline caiu sobre o gramado e emitiu um rugido de dor ao ver sua mão decepada do pulso. O mesmo liquido que a fonte expelia, agora escorria da área cortada. Tinha um efeito ácido sobre a matéria morta do gramado, terminando de destruí-la. Andrei se pôs à frente de Joel, metros à frente, segurando a espada com ambas as mãos, enquanto encarava a moça, que tentava se recuperar em meio à dor.
— O que eu devo fazer, Skipper?! – indagou para o coelho, agora ao seu lado. Seus olhos vermelhos brilhavam com tanta intensidade que chegava a ser tão assustador quanto Madeline.
O animal não virou sua pequena cabeça para encará-lo, tinha o olhar fixo em Madeline, apenas rosnou com ferocidade.
— Venha comigo, Joel. – disse Grace, tomando sua mão delicadamente. Ela exibiu um sorriso reconfortante antes de puxá-lo. – Você deve se lembrar do que aconteceu depois da balada, só assim poderá acordar.
— Mas eu não consigo, Grace! – rebateu com euforia.
Madeline notou a fuga de Joel junto de Grace e reconquistou as forças necessárias para se por em pé novamente, com o auxilio de suas asas.
— Você não vai escapar! – gritou em meio a sua fúria.
Usando a energia interior que usava para controlar o sonho, retirou um pedaço de terra infértil à sua frente e lançou-o com força na direção em que Joel e Grace corriam.
A morena notou o ataque, e percebeu que nem mesmo o coelho conseguiria fazer Andrei cortar aquele pedaço de terra ao meio. Skipper criou uma porta no meio do gramado para que o homem pudesse fugir a tempo.
— Vá, é a sua chance! – Grace exclamou.
— E você?!
— Eu ficarei bem! – mentiu, exibindo um sorriso para confortá-lo. Abriu a porta de uma vez e empurrou Joel para dentro.
A força colocada no movimento da morena pareceu muito mais intensa do que realmente havia sido.
Joel fora arremessado porta adentro, sem conseguir ver o que acontecia ao seu redor. Sentiu uma dor muito mais intensa em sua cabeça, quase ao mesmo tempo em que ouvir uma freada brusca de um carro.
Fechou os olhos com força e sentiu rolar no asfalto molhado até finalmente parar. Esperou a dor aliviar o suficiente para que pudesse mover qualquer músculo e finalmente ousou abrir os olhos. Sua visão fora ofuscada pelos faróis potentes de um carro, mesmo que estivesse há alguns metros.
Colocou a mão na frente da luz até perceber que ela não cessaria, e então resolveu levantar usando os braços como apoio. A cabeça ainda latejava com seus movimentos bruscos. Reconheceu a rua em que estava. Era a rua em que ficava a boate. Rapidamente identificou o letreiro em neon que se destacava em meio à chuva.
Mesmo assim estava confuso.
O motorista do carro deixou seu lugar, saindo na chuva e levando as mãos à cabeça.
— Meu Deus! – ele exclamou em choque.
Uma pequena multidão se aglomerou em torno do carro, todos igualmente em choque, cobrindo a boca com suas mãos. Murmúrios começaram a percorrer de pessoa a pessoa.
— Joel! Joel! – ouviu Andrei gritar em meio à multidão. Usando os braços e os ombros, abriu caminho em meio às pessoas, colocando-se no centro do circulo formado pelas mesmas. Assim como o homem do carro, levou as mãos à cabeça e separou as mechas de seu cabelo enrolado com a ponta dos dedos. – Não... Joel! – lançou-se a frente, na direção do homem.
— Eu estou... – parou de falar ao perceber o amigo ajoelhar ao chão, ao lado de seu próprio corpo jogado no asfalto molhado.
Um grosso filete de sangue escorria das mechas de seu cabelo.
Ele se afastou incrédulo. Sim, era ele, vestia a mesma blusa branca de botões, a mesma calça jeans, os mesmos tênis sujos. Mas estava ali, inconsciente, jogado ao chão. Joel se afastou ainda mais, visualizando melhor o cenário do acidente.
Ao sair às pressas da boate, fervendo de raiva, fora atropelado por um carro, que não conseguiu frear a tempo antes de atingi-lo.
— Ligue para uma ambulância! Rápido! – Andrei gritou para o motorista. Mesmo com a chuva, podia notar as lágrimas escorrendo dos olhos azuis de Andrei.
O motorista rapidamente tomou seu celular nas mãos e, mesmo que trêmulo, digitou o número da emergência.
Madeline surgiu em meio à multidão em seguida, travando ao ver o corpo de Joel ao chão. Ela ameaçou avançar e ver o estado em que o homem estava, mas foi impedida por Andrei:
— Sai daqui! – gritou enfurecido.
— Mas... – Madeline tentou protestar. Seu corpo tremia e lágrimas escorriam de seus olhos.
— SAI DAQUI! Ainda não está satisfeita com tudo que fez?! – descarregou as palavras sobre a moça que, desta vez, voltou pelo mesmo caminho que veio.
Joel suspirou cansado. Observar toda aquela cena era doloroso. No fim, Andrei permaneceu ao seu lado.
Abraçou o próprio corpo com os braços.
Ele estava morto?
O pensamento fez todo seu corpo arrepiar. Ele não queria deixar tudo daquele jeito. Devia desculpas ao melhor amigo. Desculpas por não ter confiado em Andrei.
Aos poucos, toda aquela cena se apagou, e tudo que restou foi o breu. Mas Joel continuava ali, novamente abraçando o próprio corpo para se esquentar. As roupas estavam encharcadas novamente.
Uma luz branca, forte e constante, surgiu em sua retaguarda. Era intensa demais para conseguir ver algo.
Era para onde tinha que seguir.
Chegamos à reta final do livro! O próximo capítulo é o último 😭
Será que Joel realmente morreu?! Compartilhe suas angústias nos comentários!
E não se esqueça de deixar sua estrelinha para o Skipper 🐰🌟
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