t r a u m a
NOTAS INICIAIS
Olá, é minha primeira fic do gênero policial, plot doado por @pargguksm. Fiz uma pequena mudança no pedido inicial, pois citava o Taehyung como policial se envolvendo em casos criminais complexos e isso fica mais a cargo de investigadores :) É isso, espero que gostem, será uma 3shot.
Obs.:
Queridos leitores, antes que prossigam, peço que se atente à(s) seguinte(s) observação(ões) de extrema importância sobre o enredo a seguir: A fanfic irá abordar/ mencionar temas sensíveis como abuso infantil e dependência química. Caso não se sinta confortável, peço que não prossiga, pois pode a vir a ser gatilho. Não se force a ler algo que não se sinta confortável apenas por ser taekook! Cuide de si mesmo, você é muito importante e especial!
Disque 100 para o serviço que oferece proteção a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.
Disque 132 para atendimento gratuíto e orientação sobre os riscos do uso de drogas e seus efeitos.
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O céu ainda estava um pouco escuro quando Taehyung foi sacudido de seu sono. Resmungou a contragosto, mas a mão grande em seu ombro insistiu.
"TaeTae, acorde", a voz familiar de seu irmão mais velho, Seokjin, era urgente. "Ele voltou. Jeongguk voltou para casa, levante!"
Taehyung empurrou as cobertas e sentou na cama, assustado. Jeon Jeongguk, seu vizinho, estava desaparecido fazia cinco dias. Ele sumira no último sábado, durante sua festinha de aniversário, enquanto o Sr. Jeon assava um churrasco no quintal e as crianças corriam berrando em volta da piscina de plástico. Ninguém viu como tinha acontecido, ninguém se deu conta de que o pequeno Jeon havia sumido até que a Sra. Jeon gritava por ele pela casa, chamando-o para os parabéns.
A sra. Lee, a vizinha da frente, dissera para os policiais que vira uma picape preta passando devagar pela rua enquanto ela regava os jardins.
"Os vidros eram escuros, não dava para enxergar quem estava dentro", um Taehyung perplexo ouvira a Sra. Lee relatando, agarrado à cintura da mãe. Tudo ficou vazio e errado depois que Jeongguk sumira, ele se sentia menor e mais ignorante, sem conseguir entender os olhares que os adultos trocavam, ou porque passou a encontrar seus pais chorando e sussurrando na cozinha, de madrugada. "Mas eles desceram a rua a pararam na frente da casa dos Jeon por alguns minutos, e então foram embora."
Foram cinco dias indo para a escola sozinho. Seu pai não deixava mais que ele esperasse pelo ônibus escolar na esquina, como de costume. Em vez disso, Seokjin o levava a pé, a mão firme na nuca de Taehyung como se temesse que o irmãozinho escapasse do nada.
Na escola, Taehyung olhava para a carteira vazia de Jeongguk, havia um silêncio pesado em volta do espaço que o garoto devia ocupar, murmúrios desconfiados e olhares tangentes na hora dos intervalos.
"O que você acha que aconteceu?"
"Para onde acha que levaram ele?"
"Eu acho que ele está tentando assustar os pais. Teve um garoto da quarta série que fez isso, ele comprou uma passagem de ônibus para Busan e foi sozinho, escondido, e voltou dois dias depois. Deve ser muito legal!"
Taehyung não entendia muita coisa sobre o mundo ainda, mas sabia que Jeongguk não tinha se aventurado para Busan. Eles tinham crescido juntos, brincando um na casa do outro; Jeongguk era tímido e inseguro, era sempre o que falava menos, o que ria mais baixo, o que segurava a mão de Taehyung quando viam filmes de terror embolados no sofá da sala dos Jeon.
Certa vez, quando terminou os deveres de casa e desceu para comer algo na cozinha, escutou Seokjin e a mãe conversando com uma vizinha na porta da frente.
"Eu já não sei se ele deveria voltar", sua mãe dizia, a voz embargada. Seokjin a afagava no ombro, a expressão penalizada. "Meu Deus, coitadinho, as coisas que devem estar..."
"Mãe..."
"Não diga isso, Taewon", a vizinha fungou. "Devemos agradecer se ele voltar vivo. Vou fazer uma novena. Devíamos todos fazer."
"Eu vou fazer."
Taehyung perdeu a fome e voltou para o quarto, sentindo um terror esmagador no peito. O que estava acontecendo? Por que as pessoas estavam falando como se Jeongguk não fosse mais voltar ou desejando que ele nem voltasse mais? Se alguém o tivesse levado embora, o que podiam fazer com ele além de obrigá-lo a ver filmes ruins ou a comer coisas azedas como aquelas gelatinas coloridas que Jeongguk odiava?
Os dias passaram. O noticiário local não parava de repetir sobre o caso do garotinho de seis anos desaparecido no pequeno bairro no distrito de Seoul.
E então, Seokjin o estava acordando naquele final de madrugada e Taehyung tentava enfiar um moletom desajeitadamente pela cabeça despenteada, olhos piscando para a claridade azulada da manhã sem sol. Ele viu o brilho vermelho da viatura estacionada lá embaixo riscando as paredes amarelas de seu quarto. Andou até a janela e espiou.
Havia uma pequena comoção diante do jardim dos Jeon. O sr. Jeon conversava com um dos policiais, esfregando o rosto banhado em lágrimas, e a Sra. Jeon estava abaixada ao lado da viatura, abraçando algo envolto em um lençol com estampa de foguetes, e então Taehyung viu Seokjin e sua mãe saindo para a rua, e os vizinhos das casas ao redor. A Sr.a Jeon pegou o embrulho no colo e Taehyung reconheceu os pés descalços de Jeongguk balançando no ar, pálidos, sujos de sangue e negrume. Ela enterrou a cabeça do filho no próprio pescoço e correu com ele para dentro.
Taehyung desceu, mas os Jeon já tinham se enclausurado em casa e os policiais entravam na viatura para partir. Ele passou o resto do dia sentado na porta de casa, olhando para a janela fechada do quarto de Jeongguk. Com alguma coragem, atravessou a rua perto do anoitecer e bateu na porta dos Jeon. O sr. Jeon atendeu, o rosto abatido e o olhar sem brilho.
"Olá, TaeTae."
"Oi, Sr. Jeon. O Gukie voltou, não é? Ele está bem?"
"Ele está" a voz do pai de Jeongguk era mortiça. Ele coçou os olhos vermelhos por baixo dos óculos, franzindo a testa numa careta que Taehyung costumava ver em seu pai, quando ele estava estressado demais por causa do trabalho.
"Eu posso vê-lo?"
"Agora não, TaeTae. Ele está cansado. Que tal amanhã?"
Taehyung voltou no dia seguinte, com Seokjin e Jimin, o garoto da rua de trás. A Sra. Park fizera um bolo de morango com as palavras seja bem-vindo de volta, Jeongguk, em glacê azul bebê e os três garotos esperaram na porta dos Jeon por quase cinco minutos inteiros antes que ela fosse aberta e a Sra. Jeon surgisse, despenteada e confusa. Ela olhou para eles como se não os reconhecesse.
"Sim?"
"Viemos ver o Jeongguk", Jimin disse alegremente. "E trouxemos um bolo que minha omma fez."
"Ah", a Sra. Jeon piscou várias vezes, sorrindo incerta. Pegou o bolo da mão de Jimin e assentiu freneticamente, já fechando a porta. "Diga a ela que estamos muito gratos. Jeongguk está dormindo agora, queridos, voltem outra hora, sim?"
Mas Jeongguk sempre estava dormindo. Ou cansado. Ou ocupado. E a Sra. Jeon estava cada dia mais distante e irritadiça. Ela gritava com os repórteres que amontoavam na frente do cercadinho branco de sua casa, berrando perguntas e disparando flashs.
"Nos deixem em paz! Não temos nada para dizer! Vão embora!"
As cortinas das janelas da casa deles viviam fechadas agora. As plantas no jardins estavam morrendo.
Jeongguk não ia mais às aulas. Taehyung ficou sabendo, um mês depois do retorno do amigo, que ele foi transferido de escola, para uma bem distante, do outro lado da cidade. Uns dias depois, viu um caminhão de mudança estacionado na frente da casa dos Jeon. Taehyung assistiu da janela do quarto, impotente, a mobília dos Jeon ser metodicamente enfiada na traseira do caminhão, e então o Sr. Jeon entrou no Toyota velho da família e deu a partida no carro. A Sra. Jeon saiu em seguida, carregando Jeongguk no colo, envolto numa coberta com estampa de coelhos azuis. A coberta deslizou pela cabeça do garoto enquanto a Sra. Jeon dava a volta no carro depressa, fugindo dos disparos dos jornalistas de tocaia na rua, revelando o rostinho de Jeongguk pressionado de lado contra o ombro da mãe.
Taehyung perdeu o fôlego de saudade. Ele já estava começando a esquecer como era o rosto de Jeongguk, os olhos grandes, o nariz fofo, a boquinha cor de rosa em botão e o cabelo negro como piche cobrindo a testa. Taehyung sorriu assim que o olhar de Jeongguk vagou pela rua e se ergueu para encontrar o seu através do vidro da janela. Mas Jeongguk não retribuiu. Ele piscou longamente, como se estivesse dopado, ou desinteressado.
Durou alguns segundos, segundos que se esticaram enquanto Taehyung procura reconhecer algo naqueles grandes e familiares olhos castanhos. Mas não viu seu amiguinho tímido, não viu o garotinho medroso que segurava sua mão, não viu sequer uma criança.
Não havia nada ali. Para onde quer que as pessoas que sequestraram Jeongguk o tivessem levado, o garotinho que entrou naquele carro preto jamais voltou.
E essa foi a última vez que Taehyung viu Jeongguk por muitos e muitos anos.
***
Taehyung ergueu o rosto e fitou o reflexo no espelho do banheiro. A água que acabara de jogar em si escorria por seus cílios, bochechas e pescoço, criando manchas escuras na gola da camisa social azul marinho, fazendo pouco ou nada para lavar o cansaço que sentia.
Como as pessoas não enjoam de olhar para a própria cara durante a vida inteira? Ele não tinha sequer chegado aos trinta e já achava odioso ter que olhar para alguém como ele, pele cor de caramelo queimado, olhos em rasgos brilhantes pela quantidade abusiva de cafeína que ingerira a madrugada inteira, cabelos lisos de um tom desinteressante de marrom escuro. Ele precisava cortá-los, a franja quase cobria os olhos e uma camada macia de mechas ondulava sobre a nuca e enroscava por dentro da camisa. A última vez em que arriscara algo diferente fora no segundo ano do Ensino Médio, quando perdeu uma aposta para Jimin e teve que pintar o cabelo inteiro de azul berrante.
Mas agora, não tinha mais tempo para isso. Ser diferente ou despojado, Taehyung apenas era Taehyung. Nem gordo nem magro, alto ou baixo. Os sobretudos pesados que usava o faziam parecer maior e mais intimidador do que realmente era, mas, fora isso, nada nele era extraordinário, embora ele não tivesse problemas com isso.
Simplesmente evitava espelhos e estava tudo bem.
"Ei, Kim", Namjoon bateu na porta do banheiro e Taehyung se perguntou a quanto tempo ele estava ali, provavelmente achando-o estranho por ficar encarando a si mesmo no reflexo por tanto tempo.
"Sim?", Taehyung puxou toalhas de papel sobre a pia levantou o olhar para Namjoon, chefe do departamento de Narcóticos, e viu a familiar expressão que ambos conheciam muito bem. Temos um probleminha e ele é todinho seu. Taehyung revirou os olhos e viu a hora no celular. Merda. Eram quatro e meia da manhã e ele virara a noite em cima de um caso cheio de pontas soltas, a última coisa que seu cérebro precisava lidar agora era com um probleminha. "Ah, Namjoon, será que pode resolver isso hoje? Eu preciso entrar em contato com a perícia e..."
"Quer que eu resolva isso, Taehyung?", Namjoon ergueu as sobrancelhas, bancando o policial mau. "Eu vou resolver, mas vai ser do meu jeito, sem fiança, serviços voluntários para diminuir a pena ou fingir vista grossa, porque Jeon Jeongguk não é realmente um problema meu."
Taehyung esfregou o rosto para afastar o cansaço e atirou o papel usado na lata de lixo ao passar por ela em direção a Namjoon. Parou no arco da porta, cara a cara com o chefe de Narcóticos.
"O que foi dessa vez?"
"Flagrante. Posse."
"Ele disse que não estava mais nisso."
Namjoon riu secamente, balançando a cabeça.
"Incrível que você ainda acredite."
Kang Seulgi esperava Taehyung com a mesma cara de todos ali, olhos cansados e lábios secos após uma ingestão continuada de café. Ela suspirou exageradamente assim que Taehyung se aproximou de sua mesa e começou a jogar os pertences dentro da bolsa.
"Finalmente. É todo seu", ela apontou na direção dos sofás do outro lado do vidro. Taehyung seguiu o dedo dela por um momento e viu Jeongguk na sala de espera, usando um boné preto encardido, um casacão de inverno e as usuais Timberlands mostarda. Os cotovelos se apoiavam nos joelhos e ele tamborilava na aba do boné, o rosto escondido nas sombras do acessório, e Taehyung sentiu um nó amargo na boca do estômago olhando para aqueles dedos bonitos e masculinos e lembrando o modo como eles o tocavam, o apertavam, envolviam seu pau.
Ele tinha que parar com isso, pelo amor de Deus. Ou tratava Jeongguk como alguém que precisa de ajuda profissional ou o tratava como um amante, as duas coisas iam deixá-lo louco.
"Eu assumo, Kang."
"Como se você tivesse escolha", ela miou ao passar a bolsa pelo ombro e ir se afastando.
"Uau, onde está o respeito nessa repartição?"
"Só porque você foi promovido para a ala VIP da investigação e ganha cestas com perus recheados no Natal, não significa que vou lamber suas solas sujas de merda, Kim."
"Poxa, achei que ver massas cefálicas espalhadas pelo chão e tripas para fora pelos últimos dois anos me desse algum crédito aqui!"
"Seu garoto gastou todos", ela piscou para ele por cima do ombro com um sorriso bonito e Taehyung acenou para ela uma despedida.
Seu garoto. Seulgi estava certa, não é como se ele tivesse opções. Jeongguk não tinha ninguém. Se apenas Taehyung tinha ficado, então Jeongguk era seu, não era?
Com um suspiro resignado, Taehyung curvou-se sobre o computador ligado de Seulgi, aberto na ficha criminal de Jeongguk. A essa altura, era para a ficha do garoto parecer uma lista de supermercado, exceto que, em vez de produtos, deveria ter uma sequência sem fim de registros de datas em que ele foi parar na delegacia por causa de drogas, brigas, roubos e todo tipo de merda que alguém que precisa urgentemente ir para um reformatório sabe fazer muito bem.
Taehyung posicionou o cursor na data atual, a coluna já tendo sido preenchida por Seulgi. Flagrante com posse ilegal de drogas. Começou a apagar o registro, ciente de que cometia uma infração, mas não era como se realmente se importasse. Ele não tinha subido ao cargo de investigador mais destemido de Seoul seguindo regras. Não tinha como entrar em ninhos de cobra sem respirar a corrupção e manter a ficha de Jeongguk limpa nem chegava perto de ser a coisa mais suja que ele já havia feito na vida.
Quando terminou, olhou de volta para o vidro que dividia o departamento da sala de espera. Era um vidro que permitia ver quem estava do outro lado, mas, para o outro lado, era apenas um espelho, como os vidros das salas de interrogatório. Jeongguk havia mudado de posição no sofá; costas apoiadas no encosto, cabeça erguida e pescoço esticado. As luzes frias da sala iluminavam sua pele pálida, a aba do boné escondia seus olhos, deixando visível apenas o contorno bonito do queixo e a boca. Taehyung sempre achou que havia algo desafiador em Jeongguk, os ângulos do rosto, os ombros sempre alinhados, como se o garoto se recusasse e se dobrar diante da crueldade do mundo.
Havia uma força implícita e uma promessa negra em Jeongguk.
Taehyung tinha medo disso. Medo do que ele poderia encontrar se olhasse muito fundo naqueles olhos que viviam escondidos nas sombras da aba de um boné.
A batida da música pop criava uma cacofonia confusa misturada aos gritos do narrador do jogo sendo transmitido na televisão acima do balcão do bar onde Taehyung e Namjoon se escoravam, as cervejas pela metade cheias de espuma quente.
"É trinta e cinco", Namjoon dizia. Eles estavam há meia hora discutindo sobre a expectativa de vida de um policial, e Namjoon defendia que a média em Seoul era mais alta que nos Estados Unidos, porque nos Estados Unidos o tráfico de armas e drogas era maior.
"Aqui ou lá?", Taehyung não saia mais em operações policiais pequenas como patrulhamento e ordem desde que conseguira o cargo de investigador no departamento criminal, mas isso só significava que a brincadeira tinha ficado ainda mais divertida.
"Lá, cara. Aqui, uns quarenta e nove, com sorte, você se aposenta e conhece seus netos."
"Você tem que levar em conta que coreanos morrem mais jovens por causa de problemas estomacais", Taehyung entorna o resto da cerveja e pede outra. "Aqui, uns quarenta, no máximo. Estresse e úlcera, combinação letal."
"E apendicite", Namjoon ri, mas Taehyung só o acompanha até se dar conta do que é uma provocação. É como Namjoon se refere a Jeongguk, o apêndice de Taehyung, a falha da evolução que só serve para foder tudo. "Eu não sei até quantos anos você vai viver, Taehyung, mas se depender desse garoto, no máximo até os trinta."
"Ainda tenho um ano de vida", Taehyung ergue o copo recém cheio em deferência, mas as piadinhas perderam a graça e a preocupação voltou como um calo doendo num sapato apertado. Ele só queria encher a cara de cerveja ruim neste bar com seu amigo até esquecer sobre sua vida de merda, os casos horríveis que tem que dar conta e toda a porcaria com Jeongguk, mas Jeongguk sempre volta. Ele é como uma cicatriz que Taehyung jamais consegue se livrar.
"Desculpa", Namjoon recua e ergue as mãos em sinal de paz. "Eu sei que você gosta desse garoto e tudo o mais, mas ele não se importa com você, Taehyung. Ele não liga, ele não vale à pena, não consigo entender porque arrisca seu cargo para encobrir as merdas desse pirralho!"
"Namjoon", a voz de Taehyung fica cortante e Namjoon pisca, atento. "Eu estava lá, no quintal da casa de Jeongguk, na festa de aniversário dele, quando ele foi levado e devolvido cinco dias depois! Ele só tinha seis anos de idade. Seis anos de idade, merda! Que tipo de pessoa doente sequestra uma criança e a devolve cinco dias depois, completamente destruída emocionalmente? Eles não o mataram, eles não roubaram os órgãos dele, eles só se divertiram por cinco dias seguidos e então o largaram na rua! Os pais dele se mudaram, trocaram ele de escola e eu soube que a mãe dele enlouqueceu, Monie. Ela não conseguiu lidar com o que quer que Jeongguk tenha trazido consigo quando voltou para casa. Eu estava lá quando a polícia o entregou para os pais. Sou eu quem olha para os olhos dele hoje e vê alguém que teve a inocência devassada. O pai de Jeongguk é um alcoólatra desgraçado. A mãe está internada até hoje, ele não tem ninguém, e você quer que eu deixe uma pessoa assim simplesmente pagar por um crime idiota de vender drogas? É isso? Simples assim, não é?"
"Taehyung, eu não quis..."
"Você não sabe!", o punho de Taehyung soca o balcão, atraindo olhares de alerta do barmen e de dois caras sentados ao lado deles. "As coisas que eu vejo... O mundo que eu vejo não é novo para mim, Namjoon. Ele não se tornou um mundo ruim depois que entrei para a polícia, ele se tornou um mundo horrível desde que eu tinha oito anos e Jeongguk foi levado embora de mim, de Jimin, da família, e nunca mais voltou. Ele era só uma criança, meu Deus, uma criança..."
"Ah, inferno", Namjoon está dando batidinhas desajeitadas nas costas de Taehyung e é como ele se dá conta de que está chorando feito um bebê, soluçando e tudo.
"Chega por hoje", ele pega algumas notas na carteira e as desliza pelo balcão para pagar a última cerveja. "Vou para casa."
"Taehyung, espere..."
"Eu sei, Monie. Não quis me aborrecer e tal... A culpa não é sua. Eu preciso de férias."
É claro que Taehyung sabia que Jeongguk estaria sentado na escadinha em frente à sua casa o esperando; era sempre assim quando se metia em confusão e Taehyung livrava a cara dele. Jeongguk implorava de todas as formas por perdão e Taehyung resistia duramente o máximo que podia até ceder e acabar aninhando Jeongguk em seus braços.
"Ei", a voz macia de Jeongguk atravessou o gramado até Taehyung. Girava o boné amassado nos dedos pálidos, sob as luzes frias dos postes da rua, o rosto dele era suave e juvenil, olhos escuros confusos e bloqueados que lembravam a Taehyung quem Jeongguk realmente era, os buracos escuros de sua alma arruinada.
Taehyung suspirou ao passar direto pelo garoto e enfiar a chave na fechadura da porta. Jeongguk xingou baixo, erguendo-se depressa e entrando na casa como um gato no encalço de Taehyung assim que a porta foi aberta.
"Tae, escute, eu estou limpo, ok? Eu só estava vendendo! Só fazendo grana, só isso, eu estou limpo, continuo limpo..."
"Jeongguk, hoje não..."
"Olhe para mim", Jeongguk insistiu, perseguindo Taehyung conforme o investigador tirava o casaco, o jogava no sofá, ia até a cozinha e abria a geladeira para pegar uma cerveja. Taehyung fez tudo tendo o máximo de cuidado de ficar de costas para Jeongguk. Apoiou o braço na porta da geladeira, a luz branca do interior cegando seus olhos acostumados a trabalhar no escuro da noite. "Tae, olhe para mim."
Taehyung fechou os olhos e contou até três.
Ele via coisas muito feias em sua rotina. Coisas que a maioria das pessoas não tinha ideia. Coisas que, ele tinha certeza, não eram normais para um ser humano lidar. Mas a pior delas, a mais insuportável, era ter que olhar nos olhos de Jeongguk. Os olhos escuros, grandes e vazios de Jeongguk.
Taehyung virou-se de frente para Jeongguk. O clarão mortiço da geladeira iluminava todo o rosto do garoto, expondo os detalhes mais mínimos dele, os sinais, a marca em diagonal na bochecha, a boca rosada e brilhante, inchada pela quantidade de vezes que os dentes proeminentes moderam-na nervosamente enquanto esperava por Taehyung... o nariz fofo, os cabelos tão escuros que não refletiam a luz. O coração de Taehyung acelerou, não porque Jeongguk estivesse sendo sincero - ele estava limpo -, mas porque era Jeongguk.
Seu garoto.
Seu ponto fraco.
Seu amor.
"Tae, eu estou limpo", ele repetiu, a voz incerta. "Você tem que confiar em mim, eu sei que faço merda, eu sei que minto muitas vezes, mas eu fico limpo por você, não pode duvidar disso, estou sempre limpo para você..."
"Tudo bem."
"Eu precisava de dinheiro."
Taehyung fechou a geladeira, abriu a cerveja e a virou num gole, andando a esmo pela cozinha. Ele sabia o que viria agora e estava cansado demais para reagir contra, ia apenas deixar que Jeongguk desse suas desculpas.
"De quanto você precisava? Era para a clínica?"
"Sim", Jeongguk assentiu desesperadamente, a garganta subindo e descendo sem parar. Taehyung odiava como ele parecia estar sempre com medo de tudo; merda, até mesmo medo dele. "Você sabe, o pagamento estava atrasado e eles ameaçaram transferir omma para o hospital psiquiátrico do governo. É tão ruim, hyung, eles não têm nenhum cuidado com os pacientes, eu não podia deixar."
"Você conseguiu? Pagou a clínica?", Jeongguk perdera muitas coisas ao longo de seus vinte e seis anos, mas poucas haviam ficado, coisas que, Taehyung tinha certeza, eram o que ainda o salvavam da podridão humana. O amor pela mãe, puro e implacável.
Jeongguk mordeu o lábio e hesitou. Taehyung esperou que ele pedisse mais dinheiro, mas Jeongguk assentiu e desviou o olhar.
"Eu resolvi tudo."
"Não vou perguntar como você resolveu, está bem?", a voz de Taehyung era muito, muito suave nas sombras da cozinha. Jeongguk não reagia bem quando era pressionado, quando tinha que confessar todas as coisas imundas que fazia para sobreviver e pagar as próprias contas porque os dois empregos de meio período não geravam zeros o suficiente em sua conta bancária para encobrir as despesas com a clínica particular de sua mãe. "Está com fome?"
Jeongguk fungou e assentiu outra vez, ombros encolhendo. Taehyung liquidou a cerveja e a jogou no lixo.
"Vou pedir comida. O que você quer?"
"Ei, hyung, não precisa..."
"O de sempre, pizza com queijo extra, não é?", Taehyung começou a discar no celular, ignorando o constrangimento de Jeongguk em pé no meio da cozinha. Sentia tanta vontade de cruzar a distância entre eles e beijá-lo, aplacar toda a dor de Jeongguk com carinho e palavras doces, dar-lhe tudo até que seu amor preenchesse todos os buracos vazios de Jeongguk, mas Jeongguk estava em sua zona de segurança agora. Era um estado delicado em que Taehyung devia respeitar o espaço pessoal do garoto; Jeongguk entrava em zonas de segurança quando se sentia muito exposto, o que ocorria com bastante frequência e quase sempre após episódios em que tinha que suportar muito contato físico.
O que fez Taehyung adivinhar que tipos de coisas Jeongguk havia recorrido para conseguir resolver tudo.
Era difícil amar uma pessoa, mas era ainda mais difícil amar Jeongguk.
Taehyung suspirou e escutou o toque de chamada da pizzaria. Como investigador, ele tinha noites longas, mas as noites com Jeongguk eram infinitas.
Uma das coisas que Taehyung gostava em Jeongguk era o fato de que o garoto não gostava de ficar nu. Mesmo no verão, Jeongguk mostrava o mínimo possível de pele, com a desculpa de que era branco demais e o sol ardia em seus punhos e joelhos. Não chegava a ser uma mentira, a pele de Jeongguk era mesmo muito fina e suave como a de um bebê, mas Taehyung tinha sensibilidade o bastante para saber que esse era um mecanismo de proteção bem rudimentar. Sempre escondido atrás de um milhões de escudos emocionais, por que não barreiras físicas também?
Então, ter Jeongguk completamente nu em sua cama tinha um significado enorme.
Taehyung olhou para o corpo despido do garoto deitado de bruços, cabeça apoiada num travesseiro. Eles tinham acabado de tomar banho, os cabelos cheiravam a shampoo de lavanda e as peles estavam frescas e macias. Jeongguk saia lentamente de sua zona de segurança, deixando que Taehyung se aproximasse lentamente. Taehyung contornou a linha da espinha dorsal de Jeongguk, subindo até a nuca e respirando o perfume leve preso na raiz do couro cabeludo.
Eles estavam imersos no silêncio pós refeição, as barrigas cheias e quentes permitindo que o sono chegasse. Taehyung queria beijar Jeongguk, tomá-lo para si a noite toda, mas fazer Jeongguk querer sexo era um pouco mais complicado do que conseguir que ele deitasse nu em sua cama.
Ele devia vir. Ele devia querer e pedir. Então, Taehyung esperava.
"Posso beijar você?", pediu num sussurro no ouvido de Jeongguk, que ronronou baixo em resposta. Taehyung desceu pelas costas do garoto numa trilha de beijos gentis até a cintura. Roçou os dedos pelo braço de Jeongguk, o bíceps marcado e o ombro redondo.
Jeongguk era um homem bonito. Por baixo das camadas de roupas, Taehyung ainda se surpreendia ao encontrar algo tão raro. A natureza tinha sido benevolente com Jeongguk em cada detalhe, desde as linhas masculinas das coxas e das costas até as pintas salpicadas pela pele lisa e macia. Ele adorava todas, a do pescoço e as da bochecha, a minúscula mancha castanha sob o lábio inferior, mas apegara-se particularmente a que Jeongguk tinha na lateral da nádega direita, no côncavo dos quadris. Taehyung se pegava olhando para ela durante o sexo, deslizando os dedos ao seu redor quando Jeongguk contraía a coluna para recebê-lo mais e mais fundo; e também havia aquela escondida do interior das coxas de Jeongguk, uma pequena estrela solitária no Paraíso.
Jeongguk era inspirador, e Taehyung podia ser duro como uma pedra rústica por dentro, mas sabia apreciar a arte e Jeongguk era algo bem próximo disso. Complexidade e beleza e...
"Eu sinto os calos nos seus dedos", Jeongguk disse numa voz arrastada. "Da arma."
"Desculpe", Taehyung afastou a mão, mas Jeongguk se ajeitou na cama, recuando e pedindo mais contato. Taehyung segurou-o pelos quadris gentilmente, mantendo o garoto a uma distância segura. Já estava dolorosamente duro de expectativa, a ereção erguida obscenamente entre sua barriga e a curva da coluna de Jeongguk, ela pulsou alegremente quando o investigador olhou para baixo e viu o contorno macio das nádegas de Jeongguk, a pele clara parecendo prateada na penumbra do quarto. Esse era o efeito do cheiro e da pele de Jeongguk em si e eles nem tinham se beijado ainda.
O garoto tateou para baixo nos próprios quadris até encontrar o pulso de Taehyung, trazendo sua mão de volta para si.
"Eu gosto", Jeongguk rolou os nós dos dedos de Taehyung pelos lábios. "Eu gosto das suas mãos, hyung. Elas são como você, bonitas e caras. Mas elas podem ser tão duras e fortes para disparar uma arma. E suaves para me tocar. Isso é bom. É quente."
"Caras?", Taehyung sorriu. "É a primeira vez que dizem que minhas mãos são caras."
"Elas parecem caras", as carícias se transformaram em beijos suaves e então Taehyung estava sentindo o calor úmido da língua de Jeongguk em torno de seu indicador e médio. Taehyung molhou os lábios, o sangue esquentando em expectativa, porque Jeongguk estava começando dar sinais de que o queria. "Caras e quentes", Jeongguk murmurou com um som de satisfação ao enfiar os dois dedos de Taehyung na boca, chupando-os e enlaçando a língua ao redor, segurando o pulso de Taehyung com as duas mãos e deslizando a boca pela pele envolta em saliva.
Jeongguk não falava muito durante o sexo, e em geral gostava de ficar de bruços, o rosto enfiado no travesseiro, engolindo gemidos e súplicas, mas os sons que emitia diziam tudo que Taehyung precisava saber; e ele lia Jeongguk tão bem.
"Como você está hoje?", Taehyung perguntou com carinho ao beijar a nuca de Jeongguk, aproximando devagar a pélvis. Sua ereção doía, pulsando a tempo demais, e ele se permitiu encostá-la com cuidado na carne quente das nádegas de Jeongguk, apertando-o na cintura. "Quer isso? Você me quer?"
Ele tinha que perguntar, porque havia noites em que a zona segura inesperadamente convertia em surtos de pânico. Taehyung então apenas o abraçava e enxugava suas lágrimas até que os surtos passassem, até que Jeongguk adormecesse. Taehyung nunca reclamou por ter que se privar do sexo nessas noites, e eles estavam nisso que talvez fosse um relacionamento desde que Jeongguk apareceu na delegacia pela primeira vez, dois anos atrás, perdido e raivoso, cheio de drogas e xingamentos. Não foi um reencontro feliz, mas Taehyung teve que interrogá-lo e olhar dentro daqueles olhos ejetados de sabe-se lá quantas misturas químicas e decidiu que queria aquele garoto. Queria tocá-lo e amá-lo, Deus, o Taehyung adulto entendia tão bem o vazio que o Taehyung criança sentiu ao ver seu amiguinho indo embora, fazia todo sentido agora.
E eles nunca tiveram um encontro romântico ou coisas do tipo, porque isso não fazia o estilo de Taehyung e Jeongguk não ficava confortável em situações óbvias. A única vez em que tentaram sair para jantar num lugar com luzes de velas e um pianista tocando, Jeongguk vomitou o espaguete com molho branco no banheiro e Taehyung levou três dias para entender que era demais para o garoto. O sexo lento e o carinho na cama era o máximo que tinham de algo próximo ao que casais em geral tem num namoro, e todo o resto era entrecortado por crises, sumiços de semanas e retornos como os de hoje, apreensão de drogas, desculpas, sexo cheio de necessidade e beijos e lágrimas.
"Mhhm", Jeongguk esfregou os quadris contra o colchão, a fricção dando a Taehyung a ideia de que estava excitado e, se isso não fosse um sinal claro, ele enfiou os dedos de Taehyung completamente na boca, gemendo ao redor deles, sugando-os obscenamente.
"Diga para mim, jagi", Taehyung demandou, a voz roçando a orelha macia de Jeongguk. "Mostre onde você me quer."
Jeongguk ajeitou-se de lado, retirou os dedos de Taehyung da boca e os levou para baixo, esticando o braço de Taehyung pela barriga, afastando as pernas e deslizando os dedos molhados do investigador ao redor do anel de músculos entre as carnes das nádegas. Taehyung soltou o ar dos pulmões com um xingamento. Fascinante, não havia como descrever Jeongguk quando ele saia da zona segura e se entregava. Tão lindo e seu.
"Aqui, hyung", Jeongguk sussurrou, abafando a voz no travesseiro ao sentir um dos dedos forçando devagar sua entrada. Taehyung sugou o ar entre os dentes antes de tomar a boca de Jeongguk num beijo profundo. Por cima do ombro de Jeongguk, viu a ereção bonita do garoto pingando sobre a pele lisa da barriga.
"Tão bonito, jagi, sabe o quanto é perfeito para mim?", Taehyung o beijou outra vez, envolvendo o pescoço de Jeongguk por trás e mantendo a boca do garoto aberta para si. Circulou a língua rosada de Jeongguk com a própria, gemendo no hálito entrecortado de Jeongguk e penetrando-o devagar por cima e por baixo. "Toque-se agora, você quer fazer isso?"
Jeongguk não levou nem um segundo para agarrar a ereção e se masturbar num ritmo afoito, a lubrificação da glande espalhando pela base, o atrito molhado pontuando os arquejos de ambos. Taehyung mal conseguia respirar de tesão, os dedos de Jeongguk em torno do membro inchado e molhado, as linhas duras e flexíveis do corpo dele contraindo quando ele se abria, apertando os dedos de Taehyung por dentro...
Taehyung empurrou mais os dedos no aperto de seu ânus, bebendo todos os gemidos quebrados que saiam pela boca aberta de Jeongguk. Cada investida dos dedos de Taehyung era como um pedido de permissão, quer mais? quer assim? Ia fundo e deslizava para fora devagar, dedilhando as paredes internas do garoto com cuidado. Nem piscava, atento aos sinais, cada mudança na expressão de Jeongguk, o coração prestes a explodir de tão cheio.
Ele só precisava de uma certeza, só uma.
"Diga, Jeongguk, quer isso ou não? Tem que me dizer, meu amor, é isso que você quer agora?"
Jeongguk choramingou em resposta, o rosto fugindo para lado no que Taehyung interpretou com uma negação. Seu peito doeu e ele engoliu em seco, pronto para recuar, mas então Jeongguk estava virando de bruços novamente e empinando num convite explícito.
"Tudo, hyung. Eu quero tudo."
Tudo, na linguagem estabelecida entre eles, era bem mais do que em geral Jeongguk estava disposto a dar. Era o céu depois do horizonte e, por mais que essa permissão acendesse alertas na mente de Taehyung, era magnífica demais para que ele perdesse um segundo sequer.
"Santo cristo, você vai me enlouquecer, Jeongguk", Taehyung praguejou e se mexeu na cama, abrindo a gaveta e vasculhando o fundo até puxar o lubrificante e o preservativo. Jeongguk bufou um lamento ao escutar o som da embalagem laminada sendo esmagada nos dedos de Taehyung; ele odiava com preservativo. Gostava sujo, com porra escorrendo pelas coxas, e só Taehyung sabia o quanto gozava com Jeongguk.
"Goza fora", Jeongguk pediu, esfregando a ereção no colchão. As linhas do corpo contraindo e relaxando eram a visão mais erótica para Taehyung. "Nas minhas coxas, na minha bunda, eu não me importo, preciso tanto de você inteiro hyung..."
Era doloroso negar isso a Jeongguk, mas mesmo assim...
"Vamos manter isso seguro, sim?", Taehyung disse ao deslizar os dedos novamente pelo ânus de Jeongguk, molhando tudo com bastante lubrificante.
No fundo, eles sabiam que era o certo. O mundo pelo qual Jeongguk vagava não era um mundo confiável. Ele sumia e nunca dizia para Taehyung o que tinha feito, com quem estivera, e por mais que doesse, Taehyung tinha calos que iam além das ferida que a arma deixava em seus dedos. Amar Jeongguk nunca seria fácil, mas não era mais uma escolha.
Taehyung posicionou-se sobre Jeongguk com a respiração falhando em expectativa, os dedos trêmulos desenrolando o preservativo pelo pênis e masturbando-o com mais lubrificante. Ele gemeu apenas em abrir as nádegas de Jeongguk e ver o anel apertado pulsado, pronto para recebê-lo. Apoiou-se nos antebraços para se alinhar à entrada do garoto e entrar, mas quando sentiu a glande sendo engolida pelo calor justo de Jeongguk, estremeceu inteiro e quase despencou nas costas do outro.
"Deus, fazia tanto tempo", sibilou, enfiando-se lentamente até comprimir as bolas contra as nádegas firmes. Jeongguk reclamou no travesseiro, dedos apertando os lençóis e costas arqueando tentando se acostumar com a invasão. Taehyung estava agoniado para se mover, mas esse era um momento crítico, então ele desceu com cuidado sobre a nuca de Jeongguk e o beijou, falando palavras de conforto e acariciando o ombro do garoto. "Você está bem?"
Jeongguk soltou um som estrangulado que fez Taehyung recuar em aflição, mas os quadris de Jeongguk o seguiram, batendo para trás em suas coxas até que estivesse de quatro na cama, empurrando-se contra o pau de Taehyung. Ele o segurou pela cintura e se manteve dentro, sem se mover, ainda sentindo Jeongguk o apertando desconfortavelmente.
"Com cuidado, jagi", Taehyung o fez deitar novamente na cama. Jeongguk estava chorando, mas Taehyung acostumara-se com a forma como o garoto fazia amor, nunca era tranquilo ou convencional, ele sempre chorava e soluçava e tremia, preso entre o passado e o presente e Taehyung tinha que ir com o máximo de cuidado e paciência para fazê-lo sentir prazer através da dor.
Era como transar com alguém pela metade. Ele tinha que resgatar Jeongguk dos pesadelos e fazê-lo voltar para si, só então o sexo realmente acontecia e era a melhor coisa que Taehyung já tinha experimentado na vida.
"Concentre-se em mim", Taehyung pediu, o peito comprimido e a excitação implorando por mais velocidade conforme ele se retirava lentamente e voltava, fundo e firme. As costas de Jeongguk contraiam e relaxavam com cada investida e ele gemia e dizia coisas sem sentido, bochecha amassada no travesseiro que ia umedecendo com sua saliva. "Sou eu, Jeongguk, e você está aqui comigo agora, não no passado. Comigo, aqui. Sinta isso", ele deslizava para dentro e para fora de Jeongguk, pulsando e sabendo que o preenchia o suficiente, esticava-o a ponto de fazê-lo sentir cada centímetro de seu pau o preenchendo até que não existisse mais nada na mente de Jeongguk a não ser o quanto Taehyung era real.
Era isso, fazer amor com Jeongguk nunca era sobre perseguir o prazer, era sobre trazer de volta. Encontrar algo que Taehyung sabia que ainda existia em Jeongguk, que não podia estar morto.
"Venha para mim, meu amor", ele implorou no ouvido de Jeongguk, empurrando fundo e com força, mas se retirando com cuidado. Era bom, era o paraíso, o peito colado nas costas mornas e suadas de Jeongguk, o cheiro dele em seu nariz, o calor dele o envolvendo... Taehyung estava cavalgando para o céu.
"Tae... hyung", Jeongguk soluçou, a perna direita deslizando pelo lençol e dando mais acesso a Taehyung. Nessa posição, a penetração era quase delirante de tão profunda, e os dois gritaram quando Taehyung encontrou o ângulo certo para pressionar Jeongguk por dentro, a glande deslizando exatamente na próstata ao entrar e sair. Ergueu os quadris e apoiou as duas mãos na lateral da cintura de Jeongguk, transando com ele e se maravilhando com o corpo embaixo de si.
"Tão lindo", arquejou, quadris batendo com força contra as nádegas de Jeongguk. Olhou para o próprio pau esticando a entrada de Jeongguk e o engolindo e chiou alto, o nó de calor crescendo nas entranhas. "Você é tão gostoso, Jeongguk, tão quente..."
Embora fosse a próstata de Jeongguk que estivesse sendo socada sem piedade, era Taehyung quem estava gemendo rouco, olhos cheios de lágrimas pelo prazer sufocante que sentia. Era um milagre; como uma alma tão quebrada podia significar tanto para si, como podia parecer certo que duas pessoas condenadas encontrassem algo tão divino em seus corpos unidos?
Se Jeongguk estava sempre limpo para Taehyung, Taehyung também estava limpo para Jeongguk quando transavam. Ele não era o investigador impiedoso e frio, ele era genuíno e quente e inteiro para Jeongguk.
Acelerou, alucinado com os ruídos engasgados de Jeongguk, o modo como ele erguia os quadris pedindo por mais e mais fundo. Taehyung quicava contra as nádegas de Jeongguk, bolas estalando alto, as coxas se chocando com a pele clara do garoto deixando a região vermelha e sensível. A coluna de Jeongguk envergava, ângulos e músculos e carne macia se movendo embaixo de Taehyung.
Jeongguk choramingou, testa enterrando no travesseiro, coxas inquietas tentando de fechar.
"Merda, Jeongguk, eu vou gozar...", ia vir a qualquer momento, estava no ponto mais alto da onda, estocando tão forte que seu pau inteiro era massageado pela sucção morna do interior de Jeongguk.
Percebeu Jeongguk contraindo ao seu redor. Era agora. O momento que resumia toda a vida de Taehyung, pelo qual valia a pena viver e acordar. Taehyung se retirou de Jeongguk depressa, virando-o na cama e se encaixando entre as pernas do garoto. Elas se fecharam com força em torno de sua cintura quando voltou a afundar no calor estreito do ânus de Jeongguk; as vezes Taehyung esquecia da força que ele tinha nos músculos flexíveis. Apertou as coxas do garoto, afagando-as conforme retomava o ritmo, uma mão em torno do queixo de Jeongguk.
"Olhe para mim", pediu, contendo o clímax o máximo que podia. O prazer o esmagava, embaçando sua visão. Talvez já estivesse entrando no orgasmo.
Jeongguk era uma bagunça. Cabelos embolados, bochechas coradas e suadas, respiração entrecortada e olhos fechados. Ele negou efusivamente, já na beira do precipício. Seu ânus compria o pau de Taehyung em contrações duras e a ereção expelia pré gozo sem parar, chicoteando no abdômen teso. Mas ele não precisava ser tocado. Jeongguk sempre vinha inesperadamente só com o estímulo na próstata e Taehyung adorava isso, os tiros de sêmen saindo do pau dolorosamente duro de Jeongguk.
"Jeongguk, olhe para mim agora, eu estou... Ah..."
Com um apelo sôfrego, Taehyung trincou os dentes e adiou mais um pouco, cada músculo do corpo contraído. Jeongguk abriu os olhos, o prazer enfim o arrebatando e o arrancando de onde quer que estivera até então. Sem as barreiras, apenas os olhos grandes e castanhos fitando Taehyung no auge do êxtase, ele gozou com força, jatos atingindo o peito e o queixo conforme Taehyung o estocava vezes seguidas.
Ah, sim. E ali estava. Jeongguk, apenas Jeongguk. Olhos limpos, claros e entregues. Taehyung gemeu alto e gozou olhando naqueles olhos e enxergando por um segundo o seu Jeongguk, o verdadeiro por trás de todo o pesadelo.
A porção intocada do garoto que só Taehyung amava e conhecia. Era como a fé, olhar nos olhos de Jeongguk enquanto ele passava pelo orgasmo e ver o que ninguém mais via, mas Taehyung sabia que existia algo bonito escondido em Jeongguk, algo sagrado.
Taehyung jamais daria a isso o nome de amor. Ele não ousaria.
Ainda estava estocando Jeongguk enquanto tentava manter os olhos abertos através do orgasmo intenso, e então sua boca foi esmagada pela de Jeongguk. Ele o abraçou com braços e pernas, arranhando-o em desespero, mal dando tempo para Taehyung passar pelas ondas que o afogavam.
"Eu gosto tanto de você", Jeongguk disse, a voz embargada, a zona de segurança ultrapassada e ele agora estava exposto e trêmulo nos braços de Taehyung, tão lindo e perfeito que Taehyung poderia chorar de gratidão.
Eles respiraram e se soltaram aos poucos. O corpo inteiro de Taehyung doía pela intensidade do sexo, mas sua mente estava imersa. Ele sempre precisava de alguns minutos para voltar a si depois de gozar com Jeongguk. Também precisava de um banho, mas não podia se afastar de Jeongguk depois do sexo, jamais fazia isso. Ele havia transado com Jeongguk até expô-lo completamente e a última coisa que Jeongguk precisava agora era ser deixado sozinho.
"Tome outro banho comigo", Taehyung pediu. Jeongguk fez um barulho divertido na garganta, o que soou como um presente para Taehyung. Eles quase pareciam normais depois que Taehyung conseguia ultrapassar a zona segura de Jeongguk, mas ambos sabiam que era só uma trégua e ela dificilmente durava até o dia seguinte.
"Certo. Encha a banheira."
"Você é tão mimado", Taehyung o estapeou na coxa e Jeongguk gargalhou. O som de um milhão de dólares.
Quarenta minutos depois, eles estavam acomodados na cama outra vez, Jeongguk de bruços, costas voltadas para Taehyung. Nenhum dos dois costumava falar depois do sexo, mas por alguma razão Jeongguk estava inquieto. Taehyung graduou a luz da luminária para que pudessem deitar de frente um para o outro e ainda assim Jeongguk tivesse privacidade. Ainda podia ver os olhos do garoto na semi escuridão, mas era mais difícil ler suas expressões e Jeongguk ficava mais confortável assim.
"Você nunca pergunta onde eu estive", ele quebrou o silêncio de repente, os dedos de Taehyung passeando lentamente por seu rosto.
"Eu não sei se quero saber", Taehyung confessou. "Você está limpo e está aqui, é tudo que importa."
"É mesmo?"
Não é.
"Eu sinto muito, hyung. Por ser incompleto. Por não saber amar e ser alguém que nunca terá conserto."
"Shh", Taehyung roçou o indicador pelos lábios de Jeongguk, pressionando-os gentilmente. "Eu amo você mesmo assim ."
"Você ainda vai me amar, hyung, quando descobrir por onde andei e o que fiz?", a voz de Jeongguk era velada, secreta, provocando uma sensação gélida na boca do estômago de Taehyung.
"Não é uma escolha, Jeongguk. Amar não é algo que você controla. Só aceita."
"Isso é cruel", Jeongguk lamenta, mas não há emoção real em sua voz. O momento genuíno se foi, o garoto vazio está de volta, espreitando o investigador no quarto sombrio. "Eu sinto medo, Tae. Das coisas dentro de mim, dos meus pensamentos. De perder você."
"Eu ainda estou aqui."
"Mas você não pode me prometer ficar para sempre. Um dia, vai acontecer. O mal em mim vai acontecer, o mal que eles plantaram, e você não vai ficar."
A franqueza nas palavras do garoto assustaram Taehyung; ditas no silêncio da madrugada, na voz regular e mortiça de Jeongguk, elas soam ainda mais sinistras.
"É cansativo", Jeongguk murmurou, virando de peito para cima. "Voltar para você."
Taehyung se sentiu patético; ele podia lidar com casos cabulosos que o departamento de homicídios ficava de cabelo em pé para resolver, mas ele se aterrorizava com as coisas que Jeongguk dizia fora de sua zona de segurança, e o mais assustador era não conseguir responder, e então as palavras de Jeongguk vagavam pelo silêncio do quarto, girando entre eles e crescendo como assombrações até que Taehyung pegasse no sono, tendo pesadelos horríveis em que o Jeongguk de seis anos de idade voltava para casa abraçado a algo que pulsava e sangrava. Quando o Taehyung de vinte e nove anos de idade saia da viatura e lhe perguntava o que era isso que ele estava segurando, Jeongguk estendia a mãozinha suja de sangue e respondia:
"É o meu coração."
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