03
Março de 1984
Eddie estava a caminho da loja de instrumentos para poder ver mais uma apresentação de Florence. Ele sempre sabia quando ela iria tocar, e sempre marcava presença. O garoto sabia que ela adorava quando ele ia, porque toda vez que o via entrando pela porta, um sorriso fraco surgia em seus lábios. Eddie percebia, e aquilo apenas mexia ainda mais com ele.
— Chegou cedo, Eddie Munson. — disse ela se aproximando dele.
— Sério? Pensei que estivesse atrasado. — Ele respondeu, fingindo um suspiro aliviado e exagerado. — Quer uma carona de volta quando acabar seu turno? — Florence franziu as sobrancelhas.
— Você sabe que o carro é meu, certo? — E sorriu logo em seguida.
— Exatamente, princesa.
— Pare de me chamar assim. — Ela disse empurrando-o levemente, mas não conteve uma risada divertida.
— Ah, por favor, você ama quando te chamo assim. — Ele abriu os braços e forçou uma expressão indignada no rosto.
— Ei, Flo, vem, já vamos começar. — Um outro funcionário da loja, que também iria tocar, chamou a mulher. Eddie ergueu as sobrancelhas.
— Flo? Que tipo de intimidade é essa? — Ele cruzou os braços enquanto perguntava, arrancando um revirar de olhos por parte de Florence.
— Aproveite o show, docinho.
Um apelido novo. Finalmente algo além do seu nome completo, o que ele não reclamaria jamais, já que toda vez que ouvia seu nome na voz de Florence, uma energia diferente percorria seu corpo. Mas agora ele tinha um apelido. Um apelido tosco e brega, mas ele seria o "docinho" de Florence, e apenas dela.
Mais uma vez, Eddie paralisou ao ouvir a mulher cantando. Dessa vez não era um rock tão pesado como estavam acostumados, era uma música calma e clássica. Quem não amava Hotel California de Eagles? Florence começou com o dedilhado no violão sozinha. A melodia preencheu a loja, e tudo melhorou quando sua voz se fez presente, junto com o resto dos instrumentos. Uma obra de arte, na visão de Eddie.
Como ele sempre fazia nos dias que ela cantava, esperou até que o turno de Florence acabasse na frente do carro dela, com um cigarro entre os dedos. Quando ele finalmente a viu saindo, percebeu uma expressão cansada em seu rosto, e sem precisar dizer nada, apenas estendeu o maço na direção dela. Florence aceitou, e logo já estava preenchida pela nicotina.
— Algum cliente inconveniente? — Ele perguntou, observando ela apoiar o corpo no carro ao seu lado.
— Não dessa vez. Aquela mulher, Joyce Byers veio... Queria comprar um rádio novo. — Ela deu de ombros, mas a expressão era tensa. — Nem imagino o que ela e o filho passaram. — Ela apoiou a cabeça no ombro de Eddie, uma mania muito agradável que ela começou a ter.
— Bom, ele está vivo, e está com ela... Então, tudo terminou bem, certo?
Eddie tentou conforta-la, principalmente porque ele já havia percebido a empatia que ela tinha por todos, além da sensibilidade. Mesmo sendo vista como uma casca grossa, metaleira e dona de si, — o que ela realmente era — Florence também parecia se importar com todos, e tinha uma vulnerabilidade diferente, um tanto especial, o que muito admirava Eddie.
— É, acho que sim.
Ao terminar o cigarro, ambos ainda continuaram na mesma posição, apenas aproveitando suas companhias. Eddie então percebeu Florence com o olhar longe, passando a mão direita por um conjunto de pulseiras de couro e de metal que ela sempre carregava no pulso esquerdo. Provavelmente ele jamais a teria visto sem elas.
— Ei, aberração, arrumou uma namorada? Até que é gostosa. — Alguém dentro de um carro passou na frente deles gritando.
Eddie então percebeu serem os jogadores de basquete de seu colégio, os quais sempre implicavam com ele, sem descanso. Ele ia fazer algum comentário respondendo, mas algo inusitado aconteceu antes. Com um estrondo relativamente alto, um dos pneus do carro estourou, fazendo com que o automóvel se desgovernasse e batesse em um poste presente em uma das calçadas.
— Caralho. Realmente karma é uma vadia. — Florence comentou, lançando uma gargalhada alta em seguida, sendo acompanhada por Eddie.
— Estão rindo agora, aberrações? — O que dirigia o carro desceu, extremamente enraivecido e começou a caminhar na direção dos dois. Eddie estava pronto para fugir.
— Ah, ele está bravinho agora? Poxa, que dózinha. — Florence provocou, deixando o jogador ainda mais irritado.
— Florence, acho melhor irmos. — Eddie tentou, segurando levemente o ombro dela.
— Melhor ouvir seu namoradinho, boneca. — O jogador continuou, mas ainda caminhava na direção deles.
— Ou o que, babaca? — Florence continuou.
Eddie estava pronto para fazer algo quando viu o jogador segurar firmemente no braço de Florence, mas ela foi muito mais rápida. Apenas precisou girar o antebraço uma vez para conseguir segurar a mão do outro e torcer em suas costas com muita força. O garoto foi ao chão de joelhos, grunhindo desesperadamente com a dor. A mulher se abaixou até que ficasse perto da orelha dele.
— Ou. O. Que. Babaca? — repetiu pausadamente, com a voz baixa.
Eddie observou a cena toda e não escondeu um sorriso no rosto, além da expressão surpresa. Aquela mulher se tornava cada vez mais perfeita em sua visão e poderia apenas observar ela fazendo qualquer coisa que fosse por horas. Florence apenas soltou o jogador quando viu as luzes do carro da polícia se aproximando.
— Vamos, entra no carro. — Ela pediu, puxando Eddie pelo braço, com um sorriso divertido no rosto.
Antes que a polícia pudesse sequer se aproximar, ela arrancou com o carro, finalmente levando os dois de volta para casa. Durante o caminho, Eddie imitava o jogador perdedor forçando a voz e a postura, arrancando gargalhadas sonoras de Florence. E quando chegaram em Forest Hills Trailer Park, não entraram imediatamente em suas casas, permaneceram ali, deitados na grama, brincando e se divertindo até a madrugada chegar.
— Eu preciso trabalhar amanhã, Eddie, vou dormir. — Florence disse, pronta para se levantar.
— Eu tenho que ir pro inferno que chamam de escola amanhã, você não é a única que precisa ir. Fica só mais um pouco.
Florence nunca negava. Ela voltou a se deitar na grama, e por um momento ficaram em silêncio, apenas observando as estrelas no céu escuro. Eddie se esgueirou para mais perto dela, conseguindo encostar seus braços, cobertos pelas jaquetas que ambos usavam. Um singelo e quase imperceptível movimento da mulher fez mais uma corrente de energia passar pelo garoto. Ele sentiu quando ela moveu a mão e tocou a sua, de início com os anéis que ambos usavam se chocando, mas em seguida a pele dos dedos. Eddie virou a cabeça e olhou para ela.
— O que está olhando, Eddie Munson? — Ela perguntou, mas não virou para encara-lo.
— Pensei que eu fosse o docinho agora. — Ele respondeu. Florence gargalhou mais uma vez, com os olhos fechados. Eddie apenas observou, como sempre fazia. — Pode cantar pra mim?
Ele sabia que Florence jamais negaria aquele pedido, não porque era especificamente vindo dele, mas sim porque a mulher amava cantar, então sempre que tinha a chance, soltava a voz o quanto queria. Obviamente, Eddie jamais reclamava disso.
— There she stood in the street. Smilin' from her head to her feet. I said, hey, what is this? Now maybe, baby, maybe she's in need of a kiss. — (Lá estava ela na rua. Sorrindo da cabeça aos pés. Eu disse: Ei, o que é isto? Agora talvez, querida, talvez ela precise de um beijo) Florence começou, e junto com a letra, fez uma pequena performance mexendo o corpo e as mãos.
— Precisa de um beijo, é? — Eddie não conseguiu se controlar, mas Florence ignorou, e continuou cantando.
— All right now, baby, it's all right now. All right now, baby, it's all right now. — (Tudo bem agora, querida, está tudo bem agora. Tudo bem agora, querida, está tudo bem agora) E terminou, balançando as mãos e os braços enquanto se sentava na grama e fazia uma pose.
— É isso o que eu chamo de show particular, princesa. — Eddie comentou enquanto Florence voltava a se deitar na grama ao seu lado.
— EI, VOCÊS DOIS, VAGABUNDOS, VÃO DORMIR. — Uma voz estrondosa vinda de um dos trailer atingiu os ouvidos de ambos, mas ao invés de acatarem a ordem, apenas gargalharam de forma bastante sonora.
— Bem que nosso amigo nervoso está certo, docinho. Agora preciso ir. — Florence comentou após alguns segundos, apoiando-se em um dos cotovelos para conseguir ver o amigo deitado ao seu lado.
— Nem um beijinho de boa noite? — Eddie tentou.
Florence nada respondeu, mas sorriu demoradamente olhando para ele. Em um movimento suave, encostou uma das suas mãos no rosto de Eddie e começou a se aproximar lentamente. O garoto estava a mil, pensando que esse seria finalmente seu momento. Mas Florence apenas depositou um beijo casto em sua bochecha. Apenas aquilo começava a deixá-lo louco, mesmo que não fosse exatamente o beijo que ele tinha em mente quando pensava nela.
Em seguida, ela se levantou e caminhou até seu trailer, mas antes que pudesse fechar a porta, voltou a olhar para Eddie e lhe lançou um último sorriso.
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Autora: OOOI MEUS ANJOS!! mais um capítulo fresquinho aqui procêis! quem tá amando esses dois? pq eu tô hihi
gente vou deixar aqui o link das duas músicas cantadas pela Florence nesse cap
Hotel California - Eagles
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]
All Right Now - Free
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]
foi isso gente, quem estiver gostando não esqueçam da estrelinha, e de comentarem bastante, e se quiserem compartilhar c os amiguinhos fãs do Eddie, vou agradecer muito
BJIN PROCÊIS❤️🔥
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