𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐏𝐈𝐋𝐎𝐓𝐎
Você já pensou alguma vez: "O que estava passando na minha cabeça quando resolvi namorar esse cara?"
Bom, na minha já. Na verdade, não paro de pensar nisso desde o fatídico dia em que descobri a traição de Pedro, o meu namorado.
Veja bem, eu não sabia que ele não prestava. Quando nós começamos a sair, Pedro parecia ser tão gentil, romântico. Me levava a restaurantes caros de São Paulo, me comprava presentes e elogiava o tempo todo minha aparência. Eu devia ter percebido que ele era meio narcisista, porque passava a maior parte do tempo falando sobre si mesmo, sobre como fazia seu dinheiro "trabalhar" com os investimentos "inteligentes" que aprendeu a fazer, sobre como não havia pessoa mais disciplinada que ele para treinar e se manter em forma, e sobre como entendia de carros. Mas foi o modo como falava comigo, com a sua com uma voz grave e penetrante, que me conquistou. Pedro sempre soube dizer a coisa certa.
Quando brigamos, suas palavras sempre me mostram carinhosamente que, quase sempre, a culpa é minha. Pedro é bom de papo, temos conversas longas e interessantes. E claro, tem as palavras românticas que me fala antes de me dar um beijo caloroso. Uma vez, li um livro sobre as linguagens do amor e preferi acreditar que tudo isso não passava de uma forma como ele expressa seus sentimentos por mim.
Agora eu percebo que isso não é carinho. É manipulação.
Pedro não só fala coisas bonitas para outra garota, como também a leva para cama. O modo como descobri não é muito relevante, apenas o fato de a traição são tão grande, que tem até uma rotina própria: ele encontra a amante todas as segundas-feiras, no Hotel Vermont. As segundas, na minha empresa de marketing, são extremamente agitadas e não tenho tempo nem de almoçar, devido as muitas coisas para fazer. Com certeza, ele aproveita isso para me trair sem que eu ao menos perceba.
Que otario!
O mais louco disso tudo é que estou agora, no saguão do hotel, como uma tonta, esperando-o aparecer com a amante no encalço. Não pretendo fazer nenhum barraco, poderia, mas não vou. Só quero ver com meus próprios olhos que Pedro realmente é um traidor. Talvez assim, meu coração pare de doer com os sentimentos que ainda insistem em viver dentro de mim.
E é então que as portas giratórias chamam minha atenção. Vejo Pedro entrar no hotel, exatamente às quatro horas da tarde. Esse babaca se confia tanto que nunca irei descobrir nada, que me trai à luz do dia. Bufo. Uma lambisgóia, com um salto agulha maior que meu braço, um vestido à vácuo e uma bolsa Prada, está agarrada ao braço dele e seu sorriso é tão grande que até alguém numa estação espacial na ionosfera veria.
Levanto-me do sofá vermelho da recepção e cruzo os braços. Controlo a vontade de correr até os dois e acabar com a raça de Pedro. Fico apenas parada, batendo meu scarpin no chão. Os dois demoram no balcão de recepção, mas quando recebem a chave do quarto, quase que correm para o elevador mais próximo. Ele não reparou que eu, sua namorada furiosa, estava observando-os o tempo tempo.
Reprimindo as lágrimas, pesco da bolsa o celular e digito uma mensagem para Pedro, dizendo que quero vê-lo em meia hora no restaurante do hotel Vermont. Será que ele vai sacar que eu já sei de tudo?
Ledo engano meu.
Vinte minutos depois que consegui uma mesa no restaurante, Pedro aparece, como se a sua amante não estivesse lhe esperando num quarto lá em cima.
– Boa tarde, linda. Por que me chamou aqui? Aconteceu alguma coisa? – ele diz, após beijar meu rosto.
Sínico! Filho da mãe!
– Chegou rápido.
Pedro coca a nuca e senta, desconfiado, na cadeira a minha frente.
– Eu estava aqui por perto resolvendo uns assuntos pra o meu pai.
Mentiroso.
– E então, por que está aqui? – Pedro pergunta, depois de chamar um garçom com um aceno de mão.
– Eu é que devia te perguntar isso.
– Do que está falando? – ele é incapaz de olhar para mim, apenas finge ler o cardápio.
O veneno começa a escorrer pela minha boca.
– Ah é, não te contei. Eu já estou sabendo que você vem aqui toda segunda com uma mulher para esse hotel. Pensei que você iria inventar uma desculpa para não me encontrar aqui no restaurante, afinal, é feio deixar a amante esperando, não é mesmo?
Os olhos de Pedro saem do cardápio e me encaram. Formulei essas palavras por muito tempo e pensei que, ao serem ditas, causariam espanto e até medo em Pedro. Mas seu rosto denota surpresa e até um pouco de raiva. Nessas horas, o curso de análise de expressão fácil até que ajuda.
– O que você disse? – é a primeira vez que o ouço falar com os lábios quase fechados.
– Você ouviu bem.
– Eu não acredito nisso...
– Eu é que não acredito isso! – começo a me exaltar, o que chama atenção de algumas pessoas próximas a nós e espanta levemente a garçonete que acaba de chegar na nossa mesa.
– Ellen, por favor...
– O quê? Quer que eu fale baixo? Que eu seja comedida e discreta? – sinto nojo do dia em que ele falou que uma mulher perfeita pra ele tinha que ser assim – Seu desgramado, você está me traindo!
– Você não tem o direito de me tratar assim. – Pedro tenta não alterar a voz. Ele dispensa a garçonete com um gesto de mão e volta a me encarar, já com olhos mais raivosos – Não me trate com desrespeito.
Só pode ser brincadeira!
– Pedro, você está pedindo respeito? Você é que está me desrespeitando, será que você não vê isso?
– Escuta aqui, Ellen, para de fazer esse drama todo. Eu não fiz nada demais. Eu não sou qualquer bosta pra você estar me gritando por causa disso.
– Espera um pouco, você está querendo dizer que eu não tenho o direito de ficar zangada porque descobri sua traição?
Solto ar pela boca e balanço a cabeça. Inacreditável como o meu namorado é um babaca narcisista e eu nunca havia reparado. O que estava passando na minha cabeça pra eu ter aceitado namorar com esse idiota?
– Isso mesmo! – ele responde, na maior cara de pau do mundo – Eu sou o namorado que todas querem, sou perfeito, admirável, bonito, inteligente, sou a luz que ilumina as pessoas ao meu redor. Será que você não pode perdoar um simples erro meu? Eu perdoo tantos erros seu! E pra você ver, nunca falei nada ou fiquei zangado por causa desses erros, porque eu sou o cara mais legal do mundo. Nunca reclamei com você por não me dar mais atenção. Desde que seu negócio deslanchou, você quase não fica comigo. Mas eu nunca falei nada sobre isso.
– Primeiramente, – interrompo seu discurso de merda – nós saímos duas vezes por semana e, segundo, seu filho da mãe! Quer dizer que você me traiu e a culpada sou eu? Chega, não aguento mais. Acabou tudo entre a gente.
Faço menção de levantar da cadeira, mas ele segura meu braço. Pedro me olha com cara de superioridade e deboche, o que me faz querer quebrar seus dentes. Respira, Ellen, você é uma mulher que domina a inteligência emocional.
– Pensa bem, linda. Vai mesmo me perder? Eu sou o melhor, você não vai encontrar alguém melhor que eu. Não com esse seu corpo e essa sua personalidade fraca.
– Seu merdinha sustentado pelo pai. – resmungo alto para ele ouvir. Mas o que ganho é uma gargalhada sarcástica.
– Então tudo bem. – Ele solta meu braço – Vai lá sofrer sozinha e ficar iludida pelos caras que você assiste naquelas séries idiotas. Como é o nome daquele que você vive dizendo pras suas amigas que é o mais bonito? Cha... alguma coisa. Continua iludida por ele. Pelo menos nos seus sonhos você vai ter alguém.
Enxugo uma lágrima teimosa que resolve escapulir. Pedro sempre ria da minha cara quando eu assistia algum dorama. Ele dizia que, como uma mulher de vinte e cinco anos, eu deveria fazer coisas mais maduras e produtivas. Ou então, dizia que esses caras eram "bonitos demais para mim", que deveria parar de idealiza-los tanto. Pensei que era uma implicância de homem, apenas uma brincadeira boba. Mesmo que, de fato, nunca cheguei a querer um desses coreanos – afinal, já tinha um namorado e ele era o único homem que desejava como marido na vida – ouvi-lo me dizer que eu não poderia nem cogitar essa ideia me magoava. E ainda magoa. Como nunca percebi que ele é tóxico?
Pego minha bolsa da mesa e, de costas, digo:
– Espero que sua amante te ensine uma lição.
Deixo Pedro para trás, mais preocupada em não desabar em choro no meio dessa gente toda. Já basta de humilhações por hoje. Ele não vem atrás de mim, na verdade, não sei se ele permanece sentado ou se levantou e foi para um rumo diferente do meu. Mas isso já não importa. Se Pedro chegar perto de mim de novo, meus punhos vão parar na boca dele.
Controle sua raiva! Controle sua raiva. Controle... Eu vou matar esse babaca!
Antes que eu saia do restaurante e ganhe o saguão, sou interceptada pela mesma garçonete que apareceu na nossa mesa quando joguei a verdade na cara do meu namorado traidor. Respiro fundo e olho-a, afinal, a educação não ficou em casa. Quando penso que ela irá me dizer algo, sinto-a colocar um pequeno cartão de visitas na minha mão. Depois, vira as costas e se afasta.
Olho confusa para onde ela escapou. Foram milésimos de segundo. Ela veio, deixou o cartão e foi embora. Sem me explicar nada. O que isso significa?
Vencida pela curiosidade, olho o cartão de visitas e vejo escrito num fundo branco a frase "Clube das Garotas Más" em letras com serifa, meio redondas e colorida com um efeito holográfico. Por um momento, minha mente de social media analisa a intenção da marca na escolha da tipografia, das cores... Mas volto o foco para o motivo pelo qual aquela garçonete me deu isso. Viro o cartão para ler o que tem do outro lado. Diz: "planos de vingança para mulheres enganadas por machos escrotos, narcisistas, babacas e traidores."
Isso só pode ser uma brincadeira. Parece mais algo como saído de uma série de tv. Uma sociedade que vinga mulheres? Solto um risinho. Se fosse real, eu teria o plano perfeito para que executassem por mim... Mas isso é besteira.
Guardo o cartão na bolsa e saio do hotel apressadamente. Porém, dentro do carro, com os vidros ainda fechados, pego de novo o cartão. Será se isso é real?
Tentada pela curiosidade, disco o número de telefone escrito e espero alguém atender a ligação. Do outro lado, ouço:
– Olá! Clube das garotas más. Nina falando. Qual seu nome?
Não acredito. É real mesmo? Se não for, é uma pegadinha muito bem feita.
– Me chamo Ellen.
– Oi, Ellen, é um prazer falar com você. Então, me diga qual o seu problema e ficaremos felizes em ajudar.
– Sabe o que é... Vocês conseguiriam fazer parecer que eu tenho um caso com o Cha Eun Woo?
Continua...
Oiii, querido leitor! Obrigada por chegar ao fim do primeiro capítulo. Seu voto é importante para mim, então deixe-o aqui!
Não se esqueça de me dizer o que achou esse capítulo, por favorzinho! 💕
Beijos de luz ✨
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