14 | 𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐈𝐒 𝐃𝐔𝐌𝐁 𝐖𝐇𝐄𝐍 𝐘𝐎𝐔'𝐑𝐄 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐎𝐍𝐄
▪ ALPES DE YORGOS LANTHIMOS É SELECIONADO PARA O FESTIVAL DE CANNES DESTE ANO, COM O ATOR PRINCIPAL JOE ALWYN MARCADO PARA RECEBER O TROPHÉE CHOPARD, CONCEDIDO ANUALMENTE A UMA ESTRELA EM ASCENSÃO.
▪ A RECÉM-SOLTEIRA JAMIE HARINGTON, 22, PARECE ENCANTADA COM O ATOR JOE ALWYN, 21. OS DOIS FORAM FOTOGRAFADOS NA FRENTE DO PUB BOSTON ARMS, ENQUANTO HARINGTON RIA DE ALGO QUE ALWYN DISSE.
▪ JAMIE HARINGTON APROVEITA UM ENCONTRO ACONCHEGANTE EM BELFAST COM O ATOR JOE ALWYN - DIAS DEPOIS DOS RUMORES DE SEU RELACIONAMENTO COM SUA CO-ESTRELA, PAUL MESCAL.
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Jamie teve semanas ocupadas – e intensas. A tal ponto que ela mal achou tempo para pensar em outra coisa que não fosse seu próprio trabalho. Durante as filmagens de Short Term 12 - filme que acompanhava funcionários e moradores de uma instituição de acolhimento temporário de crianças -, durando dias inteiros, às vezes noites e madrugadas, ela sempre acabava indo para a cama exausta. Então ela começou tudo de novo.
Ter Paul como co-estrela ajudou muito. Comédia e tragédia eram habilmente equilibradas por Cretton, mas às vezes a tragédia assumia o controle e certos diálogos pareciam tão reais que dominavam a mente de Jamie por horas.
No primeiro dia, eles realmente gravaram a primeira cena do roteiro, porque Cretton achou que serviria para quebrar o clima. Em seguida, todo o elenco principal se reuniu, com Paul no personagem contando uma história tensa sobre um garoto violento tentando fugir de casa, que terminou com uma piada alegre para aliviar a tensão. Depois, Jamie, Paul e Rami filmaram uma cena com Alex Calloway, um garoto ruivo que interpretava 'Sammy'. Na cena, Sammy, que havia perdido as irmãs e brincava constantemente com bonecas para lembrá-las, desceu a varanda da casa principal, correndo e gritando, e logo em seguida, Jamie, Paul e Rami correram atrás dele.
As cenas seguintes também foram com o elenco completo. Depois, havia cenas na casa alugada que serviu de "instituição", cenas no gramado e cenas de Jamie pedalando em San Fernando Valley no meio da noite. Jamie era o rosto central, e a história era realmente sobre ela - como Grace -, e Kaitlyn Dever, de quinze anos, interpretando a jovem Jayden. As duas tiveram muitas cenas juntas, e algumas eram tão pesadas que demoraram um dia inteiro para serem feitas. Os problemas dos personagens do filme tinham que parecer "reais", e isso não era tarefa apenas do roteiro. Era tarefa dos atores também. E o elenco, como um todo, se saiu bem. O diálogo e a atuação acabaram sendo excelentes, e a química entre o elenco foi tão vívida que todas aquelas pessoas com problemas realmente pareciam pessoas com problemas.
Paul esteve no set quase todos os dias também. Ele filmou sua última cena três dias antes da cena final de Jamie com Kaitlyn, mas mesmo assim, na gravação "aftermath", após uma briga entre os personagens Grace e Jayden, e as duas se dando bem, filmado em no meio da noite, em frente a uma casa alugada no subúrbio de Los Angeles, o irlandês se orientou entre a produção e viu tudo através dos retornos. Mas, embora ele tenha precisado retornar a Londres dois dias depois, Jamie permaneceu em Los Angeles e, deixando Grace para trás, ela disse "oi" para "Sam", sua personagem em Bling Ring. Uma Valley Girl imprudente, com gosto por tudo que sinalizasse perigo. Sam era baseada em uma figura real, pois a história contada em Bling Ring era uma história real, mas Jamie tentou dissipar qualquer curiosidade sobre a "Sam original" para que pudesse entregar o que achava que deveria. E Sofia adorou a abordagem.
Bling Ring era muito engraçado, à sua maneira, mas também sabia ser desconfortável e cruel. Com a obsessão pelo estrelato relatada nas páginas do roteiro, receber rostos conhecidos no set, além dos do elenco principal, passou a fazer parte do conjunto. Com cenas de festa gravadas ao meio-dia, em galpões escuros, com música alta entre os intervalos das gravações, e a exata sensação de que estavam em um ambiente fora de contato. A história de roubos, celebridades e dinheiro rendeu algumas semanas agitadas. Apesar disso, Jamie passou muito menos tempo no set do que o esperado e, assim, duas semanas antes do planejado, ela voltou a Londres, mas por apenas dois dias.
Com tempo livre, Jamie seguiu para compromissos em Cannes na companhia de Birdie, tendo Rose Forde – sua estilista –, e seu publicista, Paddy, também ao lado. E fosse o tempo, o trânsito, o cinema ou apenas o humor de Jamie, tudo parecia muito "parado".
Ela esteve presente nas exibições, mas também no jantar organizado pela Piaget e na festa da Prada em parceria com a Vanity Fair. Na verdade, foi um dos primeiros eventos de Jamie depois de anunciarem que ela era oficialmente um dos novos rostos da grife italiana.
Assim que as exibições do filme começaram para valer, Jamie foi apresentada a uma série de protagonistas atolados em situações além de seu controle ou de seus hábitos destrutivos de autoengano. Ela compareceu a quase todas as exibições, mas percorreu apenas dois tapetes vermelhos no Palais des Festivals et des Congrès, por escolha própria. O tapete vermelho do filme Rust & Bones e do quarto longa-metragem do diretor grego Yorgos Lanthimos, Alps - estrelado por um recém-chegado, que mal tinha saído da escola de teatro, Joe Alwyn. E lá estava ela, na festa organizada pela Prada, no final da terceira noite do festival. Na quarta noite, ela saiu do hotel Carlton - com Birdie, Rose e Paddy -, e então seguiu para o jantar da Piaget no Hotel du Cap-Eden-Roc. Foi certamente uma coincidência que um período de tempo chuvoso, ventoso e frio chegou justamente naqueles quatro dias antes, e se recusou a mudar até aquela noite, combinando com a animação de Jamie para grande parte das coisas. E nada tinha a ver com o fato de que ela tinha terminado um relacionamento recentemente - ou talvez tivesse. O ponto era que entrar em bons termos com o fato, não deixava nada mais fácil. Então, depois de entender que tudo o que tinha acontecido era para melhor, ela também queria um tempo para si, sem tantos compromissos, porque há algumas semanas não tinha isso. Mas Jamie foi jogada de uma data a outro, e no jantar da Piaget, ela parecia bem menos sociável do que o costume.
Em certo momento, depois que o prato principal foi servido, e então vieram as sobremesas, logo as pessoas começaram a se levantar com suas taças de bebida para irem conversar com velhos conhecidos em outras mesas. Enquanto uma música um pouco mais agitada começava a tocar pelo espaço, Jamie aproveitou o fluxo e também se levantou. Havia uma pista de dança, e ela precisou passar por lá para conseguir chegar até a porta que levava para fora. Antes disso, Jamie se certificou de que Birdie ficaria bem, e a garota parecia mais do que bem. Ela e Rose tinham se embrenhado em uma conversa com Aaron Taylor-Johnson, enquanto Paddy estava perto da pista de dança, com uma taça na mão, conversando com alguns conhecidos da Searchlight Pictures.
O Hotel du Cap-Eden-Roc era elegante, discreto, bonito, charmoso e tudo mais que se pudesse imaginar. A vista que se tinha do pátio principal era linda, e a maioria das pessoas chegava ali de barco. Construído nos rochedos de Cap d'Antibes, era realmente uma das localizações mais bonitas de todo o sul da França. Ficava há um pouco menos do que quinze quilômetros de Cannes, e se os atores que estavam para o festival não estavam no Carlton, então eles estavam todos ali.
Era a primeira vez de Jamie no lugar, o que levou a um ponto que ela não sabia realmente para onde estava indo até chegar lá. O destino, no fim, acabou sendo a icônica piscina de borda infinita do hotel. Jamie já tinha visto imagens de celebridades que por lá estiveram, como os registros do fotógrafo americano, Slim Aarons, nos anos 1970. Mas era diferente olhar de perto. O céu pintava a piscina de um jeito diferente, e dava a impressão de que o mar no horizonte, chegando mais perto, nunca acabava. A piscina tinha sido talhada dentro do rochedo de frente para o mar, e a ideia do contraste da borda com o mar estava ali. E era tão bonito.
Jamie se perdeu tanto na cena, que mal reparou no garoto sentado em uma das espreguiçadeiras. Mas quando ela se virou, para justamente ocupar o lugar em um dos assentos, se assustou com a presença. Não que tenha deixado isso transparecer. O coração dela acelerou um pouco, mas a expressão continuou igual, e então ela limpou garganta, antes de murmurar um "não tinha te visto aí". Ela estava na França, e se fosse qualquer outra pessoa, Jamie teria usado seu francês - talvez não tão bom, mas que definitivamente servia para algo. Mas não, ela se lembrou do rosto dele. Tinha visto o filme com aquele mesmo garoto dois dias atrás.
— Tudo bem — ele deu de ombros, e enviou — Joe.
— Jamie — ela devolveu o sorriso, e se sentou na cadeira de madeira com braços largos, ao lado dele. Jamie abriu uma pequena bolsa de mão que carregava e tirou de lá seu maço de Lucky Strike, depois procurou por seu isqueiro, mas em vão, porque tinha o esquecido, muito provavelmente em um dos bolsos de seu casaco Carhartt preto.
— Você precisa de um isqueiro? — Joe disse, e enfiou a mão no bolso, tirando um Dunhill em prata, com pequenos desenhos de Nishikigoi num fundo azul.
— Obrigada — Jamie murmurou, e enfiou o cigarro entre os lábios. Ela se inclinou, e Joe foi pego um pouco de surpresa, porque tinha estendido o isqueiro, mas Jamie acenou para que ele acendesse o cigarro em sua boca, e assim ele fez — Você aceita?
— Eu não fumo — ele respondeu — O isqueiro é mais para isso-
— Acender o cigarro das pessoas em festas? — ela brincou.
— Algo assim — ele riu suavemente — Eu sou muito bom nisso, espero que você tenha reparado.
— Você é- — Jamie se interrompeu, retornando o cigarro para boca por um momento, assoprando a fumaça para o lado oposto ao de Joe — De Londres?
Ela fez a pergunta porque tinha o visto em Alps, com um sotaque que definitivamente não era dele. Algo mesclado a um grego, muito arrastado. Muito bom. Mas com ele ali, falando normalmente, era muito claro como o sotaque do garoto lembrava um pouco o de Jamie. Nada posh.
— Norte da cidade — ele respondeu — Cresci em Tufnell Park.
— Eu sou do norte também — Jamie disse, e pareceu um pouco mais animada que o esperado.
Ela tinha passado a noite fugindo de contato, de conversas e de todas aquelas coisas, e então estava ali. Conversando. E não estava se sentindo mal por isso.
— Qual parte?
— Crouch End — Jamie respondeu — Logo ao lado do Tufnell Park.
— Quarenta minutos caminhando.
— Um pouco mais que isso, dependendo de onde você está.
— O que não faz realmente uma grande diferença — ele deu de ombros — Eu imagino que você cresceu em Londres, então... deve concordar que nós caminhamos para todos os lugares.
— Oh, claro — ela sorriu gentilmente — Eu concordo. Ônibus e tubo apenas quando muito necessário.
— Às vezes o táxi.
— Mas só às vezes — Jamie disse — Você ainda mora na cidade?
— Voltei para lá no último ano... depois de terminar a faculdade.
— Você estudou onde?
— Bristol.
—Teatro?
— Na verdade, eu fiz literatura, e então segui direto para o curso de teatro na RADA, mas não concluí, porque o diretor do meu primeiro filme me tirou direto de uma vitrine de novos alunos.
— Yorgos? — ela disse, e Joe concordou, mas não perguntando como ela sabia o nome do diretor. Não que fosse um grande segredo. Alps tinha sido o filme mais comentado do festival, pelo menos até aquele dia — Isso parece incrível. Eu... bem, eu terminei meus estudos em Trinity. Teatro também, mas fiz o último período praticamente à distância.
— Eu sei — Joe disse, e então balançou a cabeça, como se tivesse pensado em algo em um último momento — Isso soou tão estranho. Eu quero dizer, "eu sei", porque eu te conheço de Game Of Thrones. Acho que todo mundo assiste a série hoje em dia também, então é um pouco difícil não ligar uma coisa a outra. Seu rosto estava em um anúncio da HBO no aeroporto também.
— Eu não vi isso, mas imagino que seja... difícil , eu digo. Seja difícil não ligar uma coisa a outra — Jamie disse — O que você gosta de fazer em Londres? Eu particularmente acho que conheço todos os cantos daquela cidade, mas meus amigos estão sempre buscando novos lugares para as nossas noites juntos.
— Oh, você quer algumas dicas... — Joe parou por um momento, pensando realmente no que poderia recomendar — Eu sempre recomendo um pub, mas há bons pubs por toda parte. Você não pode virar uma esquina sem encontrar um bom pub na cidade. Agora, eu estou morando perto de Hampstead, que é muito verde, bonito e tranquilo, mas ali em Hampstead Heath, eles têm o tipo de pubs que valem a pena dar uma olhada. Você deve saber.
— Adoro Hampstead, mas meu lugar favorito ainda é provavelmente South Bank. O trecho que desce pela margem sul do rio — ela gesticulou com uma das mãos, fazendo um movimento direto — E ali tem o Globe Theatre, a Tate Modern-
— É minha galeria de arte favorita em Londres — Joe pontuou.
— É a minha também.
— O National Theatre — ele lembrou — É sempre uma boca escolha para uma noite de teatro em Londres. Eu adoro porque não fica no West End, então é muito fácil conseguir ingressos realmente bons e baratos, é imperdível para mim. Costumava ir lá o tempo todo.
— East London é muito mais jovem.
— No que me diz a respeito, eu concordo — Joe foi sincero — E é o lugar para sair. Shoreditch ali do lado... quero dizer, todos aqueles clubes.
— Um pouco demais para mim — Jamie reconheceu — Eu só tenho 22 anos, mas ainda assim.
— Você dev gostar do Boston Arms.
— Eu vejo Rugby por lá com os meus amigos.
— Rugby? — ele levantou as sobrancelhas — Você parece bem mais uma pessoa interessada em futebol.
— E eu sou, mas tenho alguns amigos que são malucos pelos Broncos, então estamos sempre lá.
— Uma merda que eles mudaram de nome.
— Eu sei, certo?! Harlequins...? — Jamie acenou — Que merda é essa?!
— Sobre o futebol... — Joe puxou o assunto, sem realmente pensar muito além da própria curiosidade — Qual seu time?
— Arsenal. E você?
— QPR.
— QPR? — Jamie sorriu, não conseguindo não fazer isso.
— Eu costumava ir aos jogos no oeste da cidade, então... — ele deu de ombros — Isso apenas ficou. Eu adorava a energia daquele lado, e eu ainda me divirto tirando um tempo para ver o QPR.
Mais tarde, mas não tarde o bastante, quando Jamie largou o cigarro, ela se levantou comentando que estava voltando para dentro do hotel. Foi quando os olhos azuis de Joe a seguiram, e o inglês se apressou em perguntar o que ela achava de o acompanhar até o bar, para uma gim tônica. Jamie recusou, mas o observou dar as costas, com seus sapatos pretos e seu terno azul-marinho. Ela sentiu uma pontada lenta de incômodo, e supôs que aquilo poderia ser descrito como arrependimento. Então, de repente, Jamie estava levantando as barras de seu vestido com as mãos, para conseguir apressar o passo sem tropeçar em cima dos saltos, e se aproximar de Joe, até estar perto o bastante para tocar em seu ombro. Ele se virou.
— Eu pensei melhor sobre a bebida — ela disse.
— Gim com tônica?
— Eu prefiro Negroni.
Joe concordou, e se colocou ao lado de Jamie enquanto eles seguiam pelo caminho o qual ela iria de qualquer maneira. Os dois, no entanto, passaram direto pelas mesas, atravessaram a pista de dança, e acabaram do outro lado, sentados no bar. Joe pediu Gim Tônica, e Jamie optou realmente pelo Negroni.
Depois, os dois conversaram por horas, um pouco embriagados quando alcançaram seus terceiros copos. Joe comentou mais sobre si, e falou de sua família - sua mãe era psicóloga e seu pai um documentarista. Joe tinha passado alguns meses na América do Sul, antes de ir para a faculdade. Ele adorava viajar, extensivamente, mas amava Londres mais que tudo. Falava um espanhol péssimo, e um francês ainda pior, mas tocava piano, escrevia poemas e pintava quadros que apenas ele via. Joe tinha um irmão mais velho, um ano e seis meses mais velho. Ele também tinha um irmão mais novo, doze anos mais novo.
Desde o início, havia algo sobre a interação com Joe, que fez Jamie se lembrar de uma amizade antiga, na qual nenhuma questão estava fora dos limites. Mas mais do que isso, tinha também familiaridade.
No fim da noite, ela talvez estivesse alta demais para conseguir ler as linhas certas. Ela entrou com Joe em um barco, enquanto Birdie, Rose e Paddy voltaram para Cannes de carro. Depois, Joe a acompanhou de táxi até o hotel, e no saguão, eles estavam muito próximos um do outro. De um tempo a outro, ocorreu a Jamie que aquela tinha sido - de um jeito muito torto - o encontro mais "romântico" que ela tinha tido nas últimas semanas. Não que ela estivesse procurando algo. Ela tinha terminado um namoro recentemente, mas aquela noite com Joe tinha acontecido. Então, muito perto de uma pilastra, e na direção do elevador, ela estendeu a mão para se despedir de Joe, e percebendo que não tinha nada a perder, se inclinou gentilmente para o beijar. Ela quis culpar a bebida logo em seguida.
Foi simples assim. Para ela, que não beijava nos primeiros encontros, foi definitivamente uma surpresa. Para Joe, que não tinha lido aquela noite daquela maneira, foi uma surpresa ainda maior. Ele retribuiu o beijo, muito mais pela situação, pela surpresa e pela bebida, mas depois se afastou com cuidado, e mostrou culpa, completamente estampada no rosto.
— Me desculpe — ele disse, e Jamie logo pensou que a coisa seguinte seria o óbvio. Ele estava a rejeitando, talvez preocupado demais com a formalidade da situação. Talvez ele não estivesse buscando aquilo. Ela também não estava. Ela só queria ver o que poderia acontecer. Mas se arrependeu assim que tomou a iniciativa.
— Não... — Jamie balançou a cabeça negativamente — Eu quem deveria pedir desculpas.
— Não, não — Joe mexeu as mãos, um pouco nervoso. Logo em seguida, ele as enfiou no bolso da calça — Eu entendo como pode ter parecido que estávamos caminhando para isso, mas... hm, eu sou gay, Jamie.
Jamie deixou a respiração, que nem reparou estar segurando, saindo. Ela riu um pouco, e Joe acabou sorrindo com isso, porque talvez estivesse esperando outra reação. Ele estendeu a mão direita e apoiou no braço de Jamie.
— Eu sinto muito por- — Jamie acenou para si mesma, e então para ele, apontando a situação.
— Tudo bem — ele deu de ombros — Eu me diverti hoje à noite, se contar para alguma coisa.
— Eu também — Jamie garantiu — Eu só estava pensando demais.
— Podemos nos falar depois? — Joe perguntou.
— Você pode ficar com meu número.
Joe não discutiu sobre isso. Ele estendeu seu celular para Jamie, e ela clicou em "Adicionar amigo" e digitou seu nome. E no dia seguinte, Joe mandou uma mensagem. Ele disse: "Ei!". Ela digitou de volta, e logo os dois estavam combinando de se encontrar quando voltassem para Londres. E foi o que fizeram.
Numa quarta-feira eles estavam rindo de qualquer besteira na frente do pub Boston Arms, e depois caminhando até o Odeon, um cinema na Holloway. Eles assistiram a Moonrise Kingdom pela segunda vez - segunda vez, porque já tinham visto a exibição em Cannes.
Na segunda-feira, duas semanas depois, quando Jamie voou para Belfast, para a leitura do roteiro da terceira temporada de Game Of Thrones, Joe enviou uma mensagem dizendo que estava na cidade para algumas filmagens de Line Of Duty - uma série inglesa que estava gravando sua segunda temporada, enquanto a primeira ainda estava sendo exibida. Joe não era um personagem recorrente, então ele teria algum tempo livre. Na sexta-feira, depois da leitura do roteiro, Jamie se encontrou com ele em um restaurante perto de seu hotel. Eles se sentaram lado a lado na mesa, e o inglês parecia uma criança mostrando para Jamie as fotos que tinha tiradas em sua câmera nova. A maioria eram do set de Line Of Duty, mas também havia registros de Belfast, da cidade, e de pontos turísticos que, depois de três anos praticamente morando em Belfast por metade do ano, Jamie já conhecia muito bem.
Foi assim por dias. Eles sempre tentavam se encontrar, e conversar com Joe fazia com que Jamie se sentisse bem. Ela poderia estar lá, sentada na sala de roteiro ou em reuniões com seu publicista e seu agente, discutindo coisas importantes, e então uma mensagem de Joe na tela a puxaria para uma conversa que poderia durar horas. Aquilo ajudou seu equilíbrio.
Um dos filmes favoritos de Jamie era "Before Sunrise", onde dois estranhos se encontravam em um trem, e então partiam para um encontro prolongado em uma cidade e começavam a se apaixonar. Celine, a protagonista, falava sobre como as pessoas, quando jovens, acreditavam que teriam muitas pessoas com as quais iriam se conectar, e como somente quando mais velhas, percebiam que isso acontecia apenas algumas vezes. De modo algum a relação entre Jamie e Joe era romântica. Mas ela tinha 22 anos, e já tinha idade o suficiente para saber que a conexão entre eles era especial. Eles poderiam falar sobre tudo - e sobre nada também. Às vezes apenas o silêncio era o suficiente, como quando eles terminaram na varanda do quarto de hotel de Jamie, encarando o céu e dividindo uma garrafa de vinho branco.
Jamie não estava buscando romance. Não estava procurando por nada que a jogasse de volta aquela sensação ansiosa que sentia a cada vez que estava perto de Taylor. Não que tivesse desacreditada que houvesse alguém para ela no mundo. Jamie só não queria pensar nisso tão cedo.
Talvez Jamie estivesse tendo um momento de transcendência - pelo menos ela pensou sobre isso. Nos primeiros dias ao término com Taylor, havia um nó em sua garganta. Mas ali, depois de algum tempo, o nó tinha sumido. E ela só queria viver um dia de cada vez. Relaxar, trabalhar, voltar a conversar besteira em pubs e ir aos jogos do Arsenal com os amigos. Brincar com as pessoas, e evitar pensar demais em tudo. Não que não quisesse pensar demais em tudo, mas queria evitar fazer isso. Em contrapartida, ela queria pensar em suas amizades. E foi exatamente o que fez. Ela pensou em Joe, em Birdie, Paul, Arden, Booker, Cenric e todos os outros, e dedicou o tempo que tinha a eles, e a sua família - aos pais, aos irmãos. Então, de repente, ela reparou como à parte de tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas, na verdade, ela estava muito feliz.
Foi assim que ela começou a viver novamente. E foi assim que começou a esquecer de Taylor. Um dia de cada vez.
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