01 | 𝐒𝐎, 𝐈𝐅 𝐘𝐎𝐔'𝐑𝐄 𝐋𝐎𝐍𝐄𝐋𝐘
▪ A FESTA DO OSCAR REPLETA DE ESTRELAS DE GRAYDON CARTER ATRAIU UMA MULTIDÃO ECLÉTICA E DE PRIMEIRA LINHA PARA A SUNSET TOWER, EM LOS ANGELES.
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O cabelo desajeitadamente "arrumado" de fim de festa e o estilo clássico adquirido pela jaqueta de Kit nos ombros faziam Jamie parecer mais adequada às paisagens nevadas de Westeros e ao cenário pitoresco da série com a qual havia se comprometido dois anos antes, do que ao cenário ricamente decorado da Sunset Tower em West Hollywood - anteriormente conhecido como The St. James's Club, ou The Argyle, era um edifício histórico, transformado em hotel, localizado na Sunset Strip e foi a escolha do editor da Vanity Fair, Graydon Carter, para a pós-festa do Oscar daquele ano.
A Sunset Tower estava sempre cheia de gente, mas naquele domingo as pessoas que andavam pelos corredores do prédio não eram os cidadãos comuns em trajes casuais, indo para seus quartos, tirando um momento para descansar das férias planejadas, mas sim as celebridades que tinham alcançado à lista final da Vanity Fair, convidados para uma noite agitada, sem câmeras do lado de dentro - sem fotos a não ser as oficiais tiradas pela própria Vanity Fair, consequentemente, sem muitos comentários além de suposições sobre como poderia ter sido a festa.
Era a primeira vez de Jamie naquele espaço, assim como era sua primeira vez em Los Angeles. Ela havia chegado à cidade quatro dias antes, para algumas rodadas de promoção sobre Game Of Thrones. Ela havia viajado com Kit, Emilia, Richard e Alfie, e eles estavam indo para Nova York em dois dias para um evento fechado da HBO com o resto do elenco. Com o primeiro episódio da série saindo em 17 de abril, depois de Nova York, Jamie sabia muito bem que teria quase dois meses livres antes que a turnê de imprensa realmente começasse. Mas, naquele momento, ela estava em Los Angeles, depois de uma chegada rápida ao LAX, pisando em um avião fretado pela primeira vez em sua vida.
Quatro dias antes, ela havia saído de Londres sem muito mais do que uma mochila e uma mala de mão. Ela havia chegado a Londres pouco mais de um mês antes, depois de quase meio ano em Belfast, gravando com a equipe de Game Of Thrones; Então dizer que ela superou parte da saudade de casa não seria mentira, pois ela aproveitou para voltar à rotina. Mas tudo passou tão rápido e, antes que pudesse pensar direito, ela recebeu uma ligação de seu agente e de sua nova publicista enquanto recebia todas essas orientações sobre como seriam seus próximos meses.
Em resumo, seriam tempos agitados e Jamie já estava sentindo o gostinho disso. A divulgação em torno da série estava sendo pesada e, mesmo com apenas teasers e trailers, as pessoas já pareciam apaixonadas pelo contexto da história - fossem aquelas que tinham ligação com a série de livros, ou mesmo aquelas que estavam tendo contato com todo aquele mundo pela primeira vez.
Jamie fazia parte do elenco principal, então também não foi uma grande surpresa que ao caminhar pela Sunset Boulevard ela tivesse visto seu rosto caracterizado como Lyarra. Claro, parecia um mundo novo, mas não era nada ruim.
No dia 27, um domingo que começou nublado e se transformou em uma tarde mais amena, Jamie começou a se arrumar logo após o almoço. Ela e Kit estavam em quartos próximos um do outro em um hotel cinco estrelas e almoçaram juntos na suíte de Kit, depois chegaram as equipes de cabelo e maquiagem, assim como a stylist de Jamie, Erin Walsh, e a de Kit, Sydney Lopez, e então eles mantiveram seus compromissos conforme o cronograma. No final da tarde, os dois se encontraram com seus colegas de elenco e se dividiram em dois carros em direção à Sunset Tower, tendo que enfrentar o caótico trânsito de Los Angeles em um final de tarde ainda mais movimentado por conta da premiação do filme.
Aquele era o primeiro tapete vermelho de Jamie, então ela teve que se acostumar com o brilho das câmeras e com as chamadas excessivas e agitadas sobre como deveria posar, com todas aquelas orientações sobre o que deveria fazer. Mas depois disso tudo chegou sobre si com mais normalidade.
Ela se sentou em uma parte do bar de mogno e fez sinal para o garçom trazer uma taça de Sauvignon Blanc, enquanto Kit pedia um Pinot Grigio. Richard, Emilia e Alfie estavam perdidos na pista de dança, socializando, mas os irmãos Harington mantiveram a justaposição mais introvertida, pelo menos naqueles primeiros minutos. Em determinado momento eles foram puxados por Richard para dançar e antes que pudessem entender o que estava acontecendo, após o quarto copo de bebida, estavam se aproximando de James Franco e Julianne Moore enquanto o DJ emendava uma sequência de músicas do ABBA. Mas Jamie teve que se afastar quando sentiu a sala ficar ainda mais cheia.
A garota era, de uma forma muito desconcertante, semelhante à sua personagem na tela – a desajustada Lyarra Snow. A garota do mundo místico não estava a um milhão de quilômetros de distância e Jamie a reconheceu. Lyarra era uma pessoa muito introvertida e ansiosa, e as pessoas perceberiam isso logo no primeiro episódio da série. Jamie tinha muitas dessas semelhanças, provavelmente por isso ela conseguiu o papel - embora ser a irmã de Kit talvez tenha ajudado também, já que mesmo que tivessem feito os testes sem que um soubesse da fita do outro, eles foram bons o suficiente para chamarem a atenção, e então o laço sanguíneo apenas provocou Nina Gold, a diretora de elenco, ainda mais. Foi uma escolha acertada, e Nina soube disso logo de imediato. Ela tinha, definitivamente, visto algo.
Mas diante disso, a seriedade de Jamie era uma das primeiras coisas que você conseguia notar nela - com seus olhos profundos e escuros e sua fala lenta e firme que apenas desmentiam seus recém-completos 21 anos de idade. Sentada em um banco alto de estofado de couro antigo, discutindo as armadilhas da indústria de atuação com um já bebâdo Adrien Brody, ela transmitia um certo nível de intensidade e carisma, que tinha o efeito bem direto de transformar qualquer um em uma pessoa risonha.
Aquela não parecia ser a primeira vez de Jamie naquele ambiente. Harington parecia um ajuste perfeito para a nova Hollywood, a mais recente de uma leva de jovens atores. Ela mal tinha estreado, mas já parecia ter saído na frente só pela maneira como chamava atenção sem nem mesmo tentar. Jamie sabia conversar, e isso era um ponto. Mais do que saber conversar, ela tinha um jeito próprio e muito carismático - e isso era uma mudança boa diante da maneira engessada como parte das pessoas daquele meio agiam.
Lá pelo início da madrugada, quando Jamie colocou o paletó de Kit nos ombros e passou uma das mãos em seus fios de cabelo, tentando os arrumar da melhor maneira, ela seguiu para o bar, depois de mais alguns minutos se dividindo entre a pista e a mesa em que seus amigos tinham se acomodado. Kit estava no celular com alguém, e Jamie desconfiou que fosse a ex-namorada - que tinha virado "ex" há pouco tempo, mas eles agiam como se esse momento não tivesse sido algo, com todas as conversas, ligações e mensagens. Era complicado, para dizer o mínimo.
Jamie se sentou no banco do canto, ao lado de uma outra garota. Alta, com os cabelos loiros presos e usando esse vestido dourado sem alças, com o batom vermelho marcado em seus lábios. Ela tinha uma taça nas mãos e Jamie reparou como o líquido no vidro era vinho branco.
O bartender estendeu uma cerveja para Jamie, Guinness, sem muita surpresa pela escolha porque aquele pedido tinha se repetido outras duas vezes. O olhar da garota ao lado caiu nas mãos de Jamie, e então ela focou no anel que a inglesa usava no dedo mindinho - em prata, com a frente circular e achatada, marcada por um desenho singelo de um canguru. Aquele mesmo anel tinha sido um presente, de alguns anos antes; dos 18 anos de Jamie. O canguru simbolizava a capacidade de sair de situações ruins, mas também colocava o foco na importância de estar agradecida quanto a vida. A avó de Jamie quem tinha a presenteado com o anel, que havia sido dela mesma por todos os anos anteriores, como um presente também, que tinha vindo da bisavó de Jamie. Então era algo de família, e era bonito o bastante para que ganhasse a atenção da loira sentada no bar.
— Eu adorei o anel — ela acenou, um pouco antes de levar a taça até a boca e beber o resto do vinho que tinha estado ali.
— Oh, obrigada — Jamie ofereceu gentilmente um sorriso, e viu quando a garota sorriu de volta, como se tivesse tomado consciência de algo naquele exato momento.
— Eu acho que estou tentando lembrar de onde te conheço, mas é muito difícil fazer isso quando minha memória já parece uma bagunça completa por conta do vinho — ela brincou, e Jamie riu por um momento, como gentileza ou a mesma educação. A garota apoiou a mão na bancada do bar, mantendo o aperto na taça — Meu nome é Taylor.
— É, eu sei — Jamie disse, e então ela se apressou para continuar falando — Eu escutei sua música assim que coloquei os pés em Los Angeles. No rádio do táxi...
— Eu tento não imaginar que as pessoas me conheçam — Taylor confessou — Parece mais honesto. Mas, hm, qual música estava tocando?
— Aquela que é meio que a sua versão de "Positively 4th Street" de Bob Dylan.
— Acho que essa é a primeira vez que alguém compara "Mean" a "Positively 4th Street" — Taylor riu um pouco.
— Mas você entendeu o que eu quis dizer porque soube logo que música é — Jamie mencionou — Quero dizer, embora a ira de Dylan pareça ser direcionada especificamente a uma pessoa, e muito provavelmente alguém com quem ele se envolveu, você meio que faz isso se focando a alguém que, com quase certeza, te atacou em algum momento. É bem direto.
— Músicas assim acabam sendo uma discussão um tanto unilateral — Taylor comentou — Mas eu não estava esperando resposta, então... — ela deu de ombros — Eu estou bem com isso.
— Alguém realmente te irritou — Jamie brincou antes de levar o copo de cerveja até a boca e tomar um gole mínimo.
— É só que- — Taylor se interrompeu; ela suspirou, e então pareceu pensar bem no que queria dizer — Quando você faz o que eu faço, que no caso é você se expor para que muitas pessoas digam o que quiserem sobre isso, há um milhão de opiniões diferentes de um milhão de pessoas diferentes. Eu entendo que nem todo mundo vai gostar de tudo o que você faz, e eu entendo que não importa o que aconteça, você será criticado por alguma coisa. Mas também entendo que existem diferentes maneiras de criticar alguém. Há críticas construtivas. Há críticas profissionais. E então, essa pessoa me critiucou, mas foi completamente mau e estúpido fazendo isso. Há uma linha que você cruza quando começa a atacar tudo sobre uma pessoa, e há um cara que cruza essa linha repetidamente. Apenas sendo cruel e dizendo coisas que arruinam o meu dia, e ele sabe que arruinam... Ou pelo menos arruinavam. Isso acontecia sempre, por todo o último ano... E no fim, não importa o que você faça, não importa quantos anos você tem, não importa qual seja o seu trabalho, não importa qual seja o seu lugar na vida. Sempre haverá alguém para ser cruel com você. Lidar com isso é tudo que você pode controlar sobre essa situação. Então a música é sobre como eu lido com isso, e como eu penso sobre toda essa situação.
— Você recebeu uma resposta sobre isso?
— Sobre a música?
— É, sobre a música...
— Você sabe, o cara que falou merda sobre mim... — ela riu suavemente — Ele disse, depois que o álbum saiu, que eu sou possivelmente a "maior estrela na América" hoje em dia. Ele também falou que se os novos artistas não estivessem tentando replicar o meu sucesso recente, então eles estão em um beco sem saída. E eu ainda estou tentando entender se isso foi um elogio ou apenas uma crítica muito bem disfarçada.
— Parece um pouco ácido — Jamie comentou.
— Certo?! — Taylor soltou a taça com cuidado antes de levantar as mãos, como que aliviada que tivesse sido compreendida — E veja, eu nem estou pensando nisso, não mais. Acho que passei por esse momento — ela foi honesta — Ok, hm, chega de falar sobre mim. Você não me disse seu nome.
— Jamie.
— Jamie — ela repetiu — É um ótimo nome. Você é da Inglaterra?
— O que deixou isso claro? — a garota brincou.
— Ok, ok... — Taylor riu — Eu estive em Londres pela primeira vez no ano passado. Eu amei a maneira como vocês falam. Foi para o lançamento do meu último álbum, em um pocket show, então tinha essa garota gritando para que eu cantasse "Enchanted" e acho que fiquei uma semana inteira repetindo o nome da música dessa mesma maneira.
— Enchanted? — Jamie perguntou, falando o "chan" como era escrito, e não o "chen" que vinha com a pronúncia americana — Você quer dizer, a maneira certa de dizer a palavra?
— Eu vou fingir que não ouvi isso — Taylor brincou — Ei, você faz o quê?
— Eu atuo — Jamie respondeu — Eu estava no teatro até dois anos atrás, e agora estou nessa nova série da HBO, que sai em pouco menos do que dois meses.
— Eu conheço?
— Não tenho ideia — ela deu de ombros — O nome é Game Of Thrones. Com intriga política e um pouco de miticismo. Algo familiar?
— Acho que é uma ótima maneira de definir a história — Taylor disse e então sorriu de canto — Eu li os livros e, bem, agora eu sei de onde te conheço. Eu vi seu rosto na Sunset Boulevard. O anúncio enorme cruzando a avenida. Você sentada em um trono enquanto encara o absoluto nada da maneira mais dramática que já vi na vida.
— Eles imploraram pelo meu drama — Jamie brincou — E eu ainda estou me enganando, tentando não pensar no fato de que estou no meio dessa cidade, em um anúncio gigante.
— Você está fazendo um belo barulho — Taylor sugeriu — Quero dizer, tem um tempo desde que a HBO jogou as cartas tão diretas assim na mesa.
— Eles estão apostando na divulgação disso — Jamie falou — Eu queria virar e dizer que acho ótimo porque vejo muito potencial, mas não quero subir o tom de maneira idiota.
— Bem, você tem que acreditar no trabalho que faz.
— E eu acredito — Jamie disse — Eu tive a oportunidade de trabalhar com um elenco e uma equipe realmente incrível. Quero dizer, em um momento eu estava como uma personagem coadjuvante em uma peça em Trinity e em outro eu estava entrando em um set em Belfast para uma leitura de roteiro ao lado de Sean Bean. É uma coisa estranha, sabe?! Você fica visível e consciente disso por um dia, mas depois disso todos essas pessoas que você conhecia através da tela são apenas atores com quem você tem que trabalhar. Você tenta se dar bem com eles e pode até se tornar amigo deles. É tudo tão estranho e fora da realidade, e ao mesmo tempo tão normal.
— Você já pensou que se der certo vão ter muito mais anúncios com seu rosto estampado e muito mais momentos como esse, entrando em um set? — Taylor comentou brincando um pouco— Mas sério, o tipo de palco que se ganha com isso é um pouco absurdo.
— Eu sei, eu sei — Jamie disse — Mas veja, eu estou muito consciente de que estou seguindo para algo muito bom ou um fracasso inimaginável, então também estou tentando viver o momento, um passo de cada vez — ela explicou, seu olhar caiu sobre a mesa de uma forma que quase sugeria vulnerabilidade... quase demais; Taylor reparou nisso — Sou muito autodepreciativa e apenas às vezes me dou um pequeno momento de 'parabéns' ou um 'muito bem', mas isso é tão raro. Estou tentando melhorar isso. Então, não sei, acho que quero aproveitar bem o momento, se caso a série se sair bem, e eu espero que isso aconteça.
Jamie tinha caído para um espaço próprio falando sobre isso, e ela não queria mesmo ser tão aberta, então tentou mudar de assunto e Taylor resolveu seguir por isso. As duas então falaram sobre coisas mais simples. Taylor se animou contando sobre os lugares que já tinha estado e que Jamie nunca tinha pisado, e então elas se encontraram quando falaram sobre o amor em comum quanto à Irlanda. Na verdade, Taylor ainda não tinha visitado a Irlanda, mas faria isso no próximo mês, quando daria continuidade à Speak Now World Tour. Jamie então comentou sobre os lugares que Taylor deveria visitar quando estivesse em Dublin, e ela também entrou mais à fundo na razão pela qual gostava tanto do país.
A mãe dela tinha nascido na Irlanda, antes que os pais dela voltassem para a Inglaterra. Então a família de Jamie era inglesa, tanto pela parte do pai quanto da mãe, mas havia esse ponto interessante sobre o nascimento de Deborah e seus primeiros anos de vida. E além disso, Jamie também estudou em Trinity logo após se formar na escola. Ela passou os últimos três anos e meio na faculdade, cursando teatro e atuação, enquanto também se dividia, pelos últimos seis meses, entre Dublin e Belfast. Sua graduação estava marcada para o meio do ano, poucos dias depois do fim da primeira temporada de Game Of Thrones, o que significava que por esse tempo Jamie talvez já estivesse de volta a Belfast, gravando a segunda temporada - claro, se fosse confirmada. E a garota esperava que isso acontecesse. Ela daria um jeito de aparecer na própria colação de grau mesmo se as agendas batessem, e estava torcendo para esse arranjo porque por mais cheio que fosse pelo menos significava que ela tinha pelo menos um emprego para o qual voltar.
Talvez o álcool estivesse fazendo efeito - depois que Taylor pediu outra taça de vinho e Jamie finalizou sua cerveja - mas elas logo refletiram aquele espaço de conversa como algo seguro, e então houve uma mudança óbvia nos modos entre elas. Jamie ofereceu um cigarro para Taylor e, apesar da loira ter se recusado, dizendo que não fumava, ela se levantou quando Jamie disse que subiria para o terraço para fazer aquilo. As duas caminharam juntas, e foi lá onde Jamie começou a contar para Taylor sobre seus lugares favoritos em Camden e suas aventuras nos festivais de música no verão irlandês. Ela estava mais relaxada do que até mesmo alguns minutos atrás, e quando o cigarro quase chegou até o filtro e Jamie se livrou dele, lá estava ela brincando e provocando Taylor, enquanto recebia suas doses de provocação também - sempre em tom mais leve, beirando o flerte. Quando elas voltaram para dentro, Taylor pediu outra taça de vinho e Jamie teve a nítida sensação de que a madrugada de segunda-feira estava apenas começando.
Ela não estava tão errada, porque em algum momento Taylor a puxou para a pista de dança, e elas lentamente dançaram - em meio a tantas outras caras conhecidas - músicas rápidas que não combinavam em nada com os "dois passos para lá e dois passos para cá" que era a única coisa que Jamie parecia saber.
A inglesa fez Taylor rir, e elas se juntaram no photobooth logo ali ao lado para fotos que muito provavelmente sairiam na publicação online da Vanity Fair no dia seguinte. As duas voltaram ao primeiro assunto pouco tempo depois, quando saíram juntas e a loira perguntou para a inglesa sobre o anel que ela usava, no que a garota não se conteve e acabou se animando para explicar o significado da coisa toda. Então, mais tarde a festa se acalmou e o restante das pessoas que tinham aguentado até aquele meio de madrugada começaram a ir embora, e Taylor se mexeu para isso também, dizendo que tinha de estar dentro de um avião em pouco mais de cinco ou seis horas. Mas, honestamente, nenhuma das duas queria se despedir, e a conversa acabou se estendendo.
Taylor não soube dizer ao certo porque tinha mantido aquele tom mais arrastado entre a conversa, se demorando nos assuntos e pontuando suas brincadeiras enquanto implicava em um flerte muito óbvio com a garota que mal tinha acabado de conhecer. Ela nunca fazia aquilo, e não era como se estivesse sendo desonesta quando reconhecia o fato. Ela nunca fazia aquilo mesmo. Ainda mais em cirscustâncias como aquelas, em que a pessoa do lado contrário era alguém com quem Taylor mal tinha tido contato anteriormente.
Mas então havia esse ponto bem direto. Taylor tinha terminado seu relacionamento mais recente há pouco mais do que três semanas e enquanto Jake parecia muito bem passeando por Los Angeles e fingindo que nada tinha acontecido, ela ainda estava tentando juntar seus próprios pedaços enquanto colocava na estrada a sua turnê mais ambiciosa. Claro, por todo o tempo o que ela pensava era sobre o relacionamento falido, mas ali ela não queria saber como o mais velho estava ou mesmo pensar nas situações que os levaram até o momento em que ele terminou tudo. Pela primeira vez em algum tempo ela estava apenas se divertindo e se abrindo para alguém que parecia mesmo entender a maneira como seu pensamento caminhava. E não, Taylor não estava se apressando em nada. Ela não estava pensando no futuro - o que para ela era uma novidade -, mas estava querendo aproveitar a situação.
Então, imagine a surpresa dela quando no fim da "noite" tudo pareceu cair para um lado diferente. Ela se levantou com Jamie e as duas seguiram para a saída enquanto uma fila de pessoas se formava para entrar em seus carros enquanto um único homem tentava organizar a saída gritando os nomes das pessoas indicadas a cada novo motorista que chegava. Jamie tinha se perdido de Kit naquele ponto, mas ela tinha quase certeza de que ele ainda estava por ali, então não se importou em pensar em qualquer outra coisa enquanto seguia Taylor.
Elas já estavam do lado de fora esperando o carro de Taylor quando tudo pareceu desacelerar um pouco mais. O céu ainda estava escuro, muito escuro, e o clima parecia bem diferente do habitual. Havia um frio caminhando pelo espaço, e Taylor começou a se despedir quando mais à frente ela parou ao lado de seu carro. O motorista acenou do lado direito, enquanto o segurança no banco do carona abriu a porta e desceu antes de acenar para Taylor e passar por ela, abrindo a porta de trás para que ela pudesse entrar. Ele ficou ali, estático, e Taylor entendeu que era hora mesmo de dizer "tchau", de vez.
Ela mal soube dizer o que pensou no segundo seguinte, mas foi tudo tão rápido que a ação direta ao "tchau" foi ela se inclinando para um abraço e tomando coragem para tentar se inclinar para um beijo - como aqueles de fim de encontro em filmes, que ela tinha se acostumado a ver em cenas de romances, mas que só davam certo justamente porque aconteciam em filmes. Ela mal conhecia Jamie, e se sentiu um pouco estúpida quando a inglesa apenas sorriu e virou a cabeça para baixo rapidamente.
— Ok, eu... hm... acho que- — Taylor parou por um momento — Eu achei que estávamos... Você sabe... A noite inteira, e então-
— Você não entendeu isso errado — Jamie garantiu — É apenas que, bem, eu normalmente não beijo no primeiro encontro — ela brincou, e Taylor precisou de um momento para absorver o que tinha ouvido antes de deixar uma risada um pouco nervosa demais escapar — Não, garotas como eu não beijam no estacionamento de hotéis, por mais caros que eles sejam. Tem essa grande chance das pessoas quebrarem meu coração, então antes que elas façam isso eu acho que prefiro que me paguem um jantar antes.
Taylor conseguiu entender o tom de brincadeira de Jamie, beirando a ironia - com um fundo de verdade. Ela realmente não beijava nos primeiros encontros, ainda mais quando o primeiro encontro em questão não tinha sido realmente um "primeiro encontro".
— Isso quer dizer que... — Taylor gesticulou, como se fazer isso fosse deixar mais aparente o que ela queria realmente dizer — Você está esperando um jantar antes que eu, supostamente, parta seu coração? — ela perguntou gentilmente — O que faz você ter tanta certeza de que isso vai acontecer? Quero dizer, eu sei que pareço um pouco como a garota que vai fazer da sua vida um inferno no colegial, mas eu juro que sou legal.
— E eu não duvidei disso em momento algum — Jamie devolveu — Mas eu estou falando sério, a parte mais difícil já passou.
— A parte mais difícil? Você quer dizer a que eu tentei te beijar e você virou o rosto?
— Eu estava falando sobre a noite toda — ela especificou — Eu adorei a conversa que tivemos, e sei como ficou meio implícito que estávamos-
— Flertando a cada cinco segundos?
— Exatamente — Jamie concordou — Se vale de algo, eu adoraria retribuir o seu beijo, mas eu falei sério sobre não beijar nos primeiros encontros.
— E isso foi um primeiro encontro?
— Eu estou tentando ser legal e poupar você da coisa toda sobre organizar um primeiro encontro, então vou te deixar com o pensamento em organizar um segundo.
— Ok, então se eu quiser te beijar, acho que vou precisar te chamar para um "segundo encontro"? — Taylor riu um pouco e Jamie acompanhou — Eu tenho uma turnê e um voo para pegar em cinco horas. Eu imagino que você não vá ficar na cidade por muito mais tempo, certo?
— Eu vou embora em dois dias — Jamie disse — Se você quiser meu número-
— Não, não, não... — Taylor a interrompeu — Olha, o que você acha de se encontrar comigo no dia 31 de março? Eu estarei em Londres para um concerto na O2 Arena no dia anterior e preciso voltar para casa dois dias depois.
— Isso é quase um mês contando daqui.
— Eu sei.
— Vamos nos encontrar onde?
— Você conhece o Little Blue Door?
— Em Chelsea?
— Esse — Taylor falou — Podemos nos encontrar lá. Sete da noite soa bem?
— Dia 31?
— Daqui a quatro semanas — Taylor pontuou.
— E três dias — Jamie fez questão de acrescentar.
— E então?
— Eu estarei lá — a mais nova garantiu, e então sorriu suavemente, sustentando o olhar junto a Taylor. Os olhos dela estavam estranhamente mais claros, mas era um estranho agradável.
— Você é incrível — a americana acabou gravando isso no ar, soltando sem querer, sem realmente conseguir pensar direito antes de confessar — Estou tão feliz que você decidiu vir para essa festa hoje.
— Eu acho que você gostou muito de mim — Jamie brincou — Tem certeza que não quer parar aqui e pegar meu número?
— Tenho certeza — Taylor garantiu — Parece besteira, mas eu sei que você vai aparecer, e eu vou apenas contar os dias até lá.
— Bastante confiante, não é?
— Normalmente não tão confiante assim, se eu estiver sendo honesta — ela falou — De qualquer forma, não sei, acho que não quero passar as próximas quatro semanas e três dias mandando mensagens de texto como uma adolescente enquanto me afundo em antecipação. E eu sei que se pegar seu número vou fazer isso, e então esquecer de absolutamente tudo enquanto a encho de mensagens. É simplesmente... é simplesmente frustrante — ela suspirou — Porque eu sei bem o bastante sobre mim mesma para entender isso.
— Isso é absurdamente millenial da sua parte — Jamie a irritou, como uma brincadeira, e ganhou uma risada como resposta.
— Talvez um pouco — Taylor deu de ombros — A coisa é que, eu entendi o que você quis dizer sobre "primeiros encontros", e pensando, se pararmos para ver, você e eu em um bar escondido no meio de chelsea enquanto dividimos um pouco de vinho branco é como o "segundo/primeiro encontro" perfeito.
— O vinho pode ser tinto?
— Eu acho que posso abrir essa exceção para você.
Jamie se deu por satisfeita com isso, e ela sorriu, daquele mesmo jeito, como tinha estado sorrindo por todos os últimos minutos daquela conversa com Taylor, que mal parecia fazer sentido para quem pudesse ver de fora, mas que fazia muito sentido na linha de pensamento das duas garotas.
— Quatro semanas não é muito tempo — Jamie falou.
— Essas quatro semanas vão voar.
— Eu tenho certeza que sim... — a mais nova acenou, e sem realmente conseguir sustentar a própria ideia de minutos atrás, ela continuou, sussurrando: Eu realmente quero beijar você agora.
— Você me convenceu com a coisa dos primeiros encontros — Taylor comentou, e ela não falou como provocação. Ela tinha achado um tom próprio para aquilo, e fazia muito sentido. Além disso, de um jeito muito honesto, ela queria ter um momento propriamente especial com Jamie antes que qualquer coisa acontecesse, fosse isso um beijo desajeitado na porta de casa ou as duas caminhando de mãos dadas no fim de um encontro — Então acho que provavelmente não deveríamos fazer isso.
— Eu sei.
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