12 | AQUELE LADO
NENHUM DAQUELES QUE foram sugados para dentro da fenda, sabiam explicar exatamente como aquilo aconteceu. Sam e Dean Winchester não perderam a consciência no processo, como alguns deles perderam. Talvez pelo bom porte físico ou pela imunidade boa, não sabem. Ao contrário dos irmãos, Mavis se ferrou todinha no processo. O líquido vermelho identificado como sangue pela morena, manchou boa parte da sua roupa no processo. Sua cabeça parecia que tinha sido atingida por um taco de beisebol tão forte, que ela mal conseguia se manter sã. Fora tudo muito rápido, seus pensamentos estavam embaralhados junto com os flashs do que havia ocorrido a pouco tempo. A maneira como eclodiu daquela forma, a sensação prepotente de ter algo tão poderoso escapando de seus dedos daquela maneira... Tudo para salva-lo, inconscientemente.
Mavis nunca pensou que a razão por ter vivido da forma como viveu, seguindo as palavras de sua mãe sem nem poder questionar nada, sempre estando em casa antes das nove da noite, saber tudo sobre a bíblia e a forma como cada um deles atuava na história. Ela nunca se questionou da razão por ter sido criada daquela forma, mas todas essas dúvidas começaram a pairar sobre sua cabeça após o que tinha acontecido.
Se sentia traída de alguma forma. Presa entre o limbo e a verdade. As respostas para as suas perguntas pareciam não existir naquele momento, mas suas dúvidas nunca estiveram tão fortes como agora.
— Mavis.
Ouviu sua voz ser chamada do além e demorou bastante tempo para dissociar que estava viva e não havia morrido. Sentiu braços pesados a puxarem para cima e antes que pudesse de fato abrir os olhos ela sabia que eram os do Winchester mais novo.
— Seu nariz. — balbuciou.
E no instante que a garota abriu os olhos, viu que estava correta. Os olhos claros e preocupados de Sammya transparecia todas aquelas emoções. Bem atrás dele estava Dean, os olhos presos em qualquer movimento de Mavis. Mórbidos, negros e impacivos. Ele a observava cauteloso, milhares de dúvidas pairando sobre sua cabeça.
Os três sabiam que não estavam em casa, o ambiente a volta mostrava isso. A primeira suspeita era o mundo pós apocalíptico e pela maneira que as árvores estavam mortas e as tonalidades da grama escuras.
Os primeiros pingos de chuva começaram a acertar os três. Dean cortou o pequeno espaço que o separava da garota, colando suas costas na árvore atrás dela.
— Dean! — Sam repreendeu o irmão.
Mas ele não estava o ouvindo. As batidas de seu coração estavam mais altas que sua própria audição, as pupilas dilatadas de Mavis encarando suas próprias órbitas.
— O que você é? — rosnou, a mantendo presa contra a árvore.
Ela piscou os olhos com dificuldade, sendo atingida mais forte pela chuva.
— Dean. — balbuciou, confusa.
Mas, era isso que ela esperava o tempo inteiro. Sabia o quanto ele abominava coisas daquele tipo, algo como Jack. Ela sempre teve medo do que pudesse acontecer quando ele descobrisse essas coisas estranhas que ela conseguia fazer, sem controle nenhum. Por isso não soube dizer nada, além de seu nome.
— O que você é?
Ele repetiu. Os dedos grossos e gelados segurando o cotovelo dela de uma maneira brusca. Estava irado, com raiva e bastante enfurecido. Mas, Dean não compreendia a razão por seu peito estar doendo daquela forma. Se sentia traído.
— Você... — Mavis gaguejou, lacrimejando — está me machucando.
— Dean!
Sam repreendia o irmão novamente, porém o loiro não estava dando a mínima.
— Como fez aquilo? — perguntou, sua voz soando enfraquecida.
Da posição que estava Sammy não conseguia ver a maneira que os olhos do irmão transitavam entre os olhos e a boca da mais nova, confuso, apreensivo, nervoso e perdido. Era o tipo de coisa que nunca havia sentido antes, um nó no estômago, um aperto no coração... Tantos sentimentos indefinidos de uma vez.
Nessa altura do campeonato a chuva já havia lavado todo o sangue do rosto de Mavis, fazendo com que ela começasse a sentir frio e o arrepio parasse sobre seu corpo. Pelo menos era por conta disso que ela estava tentando se convencer, não pelo fato de Dean estar a prendendo contra a árvore e conseguir sentir a respiração dele atingindo seu rosto.
— Eu não sei.
Mavis fora sincera, as lágrimas escorrendo pela face, se misturando com a chuva gelada. Os lábios roxos e a pele pálida, ela estava morrendo de frio e temendo as próximas atitudes do Winchester mais velho.
— Vamos nós esconder da chuva e bolar um plano para encontrar o portal e dar o fora daqui. — alarmou Sam, intervendo a tensão entre os outros dois.
{...}
Os dois obedeceram Sam Winchester sem questionar, porém a tensão entre Mavis e Dean era perfeitamente palpável, principalmente para o moreno que transitava entre eles.
Escureceu muito rápido, da mesma forma como a chuva tomou um proporção maior. Aquele lugar era horrível, ventava com força, o cheiro sempre beirando a algo queimado —, Mavis tentava não pensar muito nisso, mas podia apostar que era daquela forma que cadáveres cheiravam antes de apodrecer.
Por um milagre de destino com a ajuda de Sam, Dean conseguiu acender uma fogueira. Então, os três se juntaram ao redor delas. A única garota presente esticava as palmas das mãos na direção do calor, na tentativa de se aquecer por completo. O moletom vermelho estava encharcado, mas ela temia que se o tirasse pudesse ser pior. Era a única coisa que a impedia de congelar de frio, quando olhava na direção dos irmãos podia jurar que eles também pensavam a mesma coisa.
— Precisamos encontrar a fenda, antes que ela feche com a gente aqui. — Sammy quebrou o silêncio.
Mavis balançou a cabeça lentamente em um sinal positivo, sendo observada pelos olhos negros de Dean.
— Jack e Kaia, onde será que estão? — ela pensou em voz alta.
— Tenho certeza de que estão bem. — o moreno tentou apaziguar a situação — Vamos encontrá-los.
Dean tirou o espeto do fogo, onde continha um calango morto. Desviando finalmente os olhos da única garota presente, pegando um pedaço do bicho de uma maneira duvidosa. Sam e Mavis olhavam aquela cena abismados.
Ele arrancou o pedaço da carne do calango, relutou alguns segundos antes de enfiar na boca.
— Aí, vai um pedacinho...
— Não, não, não. — Sammy negou de prontidão, balançando a cabeça — Não diga que tem gosto de frango.
— Ou de carne.
Mavis entoou também, olhando a cena com nojo e desdém.
— Não, gente, isso aqui é um lagarto. — falou de boca cheia, apontando para o bicho morto — Tem gosto de lagarto.
A maneira que Sam e Mavis compartilhavam o mesmo olhar de nojo era engraçada, não conseguiam entender como o loiro estava comendo aquela coisa.
— Nós temos que continuar, buscar aquela porta.
O Winchester mais novo tocou sobre o assunto novamente, esfregando as palmas das mãos em uma tentativa inútil em se manter aquecido.
Dean fez uma careta, cuspindo um pedaço da carne do lagarto no chão.
— É. Se tiver uma porta.
— Na última vez que abrimos uma não fechamos. — continuo Sam.
— Por poucas horas. — refutou o mais velho — Estamos aqui há quanto? Dois dias e pouco? Bom, tomara que você esteja certo. Por que se não, a gente vai continuar nessa maldita Terra dos Monstros?
Mavis ergueu as sobrancelhas com a fala do loiro.
— E o pior é que não tem como nem alguém procurar a gente aqui, né.
— O que quer dizer, então? — Mavis se dirigiu a Dean pela primeira vez de verdade em horas.
Ele olhou para ela, pensativo. Sua raiva já havia se dissipado um pouco, estava preocupado com outras coisas no momento.
— O que quero dizer é que... — olhou a volta, erguendo o espeto — vai um lagartinho?
☄️
Mavis estava preocupada com Jack. Esse era o tipo de sentimento que estava usufruindo pelo garoto já a diversos dias, achou que tê-lo encontrado iria fazer isso se dissipar. Mas, pelo visto, Jack havia sido feito para se perder e sumir de suas vistas o tempo inteiro. Isso a deixava agoniada.
— Acha que vamos ficar presos aqui até enlouquecer como o Dean e começar a comer lagartinhos?
Mavis perguntou, enfiando as mãos no bolso do moletom já seco. Ela tentava acompanhar os passos de Sam Winchester, enquanto o mais velho trilhava na frente. Tinham ouvido um barulho se aproximando da caverna, então resolveram que seria melhor continuar a procura pela fenda.
— Não, acho que não. — riu do comentário da mais nova.
A morena balançou a cabeça negativamente, quase tropeçando em uma das pedras do chão.
— Fala sério, Sam. Pesquisas apontam que nós, seres humanos, conseguimos ficar apenas três dias sem comer, três sem beber água e três sem dormir. — desatou a falar de uma vez, sem interrupções — E pelos meus cálculos já estamos aqui a quase dois dias. Apesar de não saber como funciona o tempo aqui, parece durar menos do que o normal.
Sam esticou a mão direita para a garota, que pegou sem pensar duas vezes —, sendo ajudada a subir um dos troncos grandes que tinha no caminho. Ela soltou a mão da dele rapidamente ao conseguir subir com êxito, voltando a falar.
— Tô começando a pensar que não é só outro mundo, mas também um outro universo.
— Também penso isso. — concordou com ela — Não precisa ficar tão nervosa e preocupada. As coisas vão dar certo.
Mavis revirou os olhos, chutando as pedrinhas em seu caminho.
— É fácil falar, não foi você que explodiu e descobriu que tinha poderes sinistros. — resmungou.
O Winchester riu, as covinhas estampadas em cada bochechas e os olhos diminuindo.
— Então, deixa eu te contar da vez que eu era viciado em sangue de demônio. — apoiou a mão direita sobre o ombro dela.
— O que?
{...}
Quando a noite chegou novamente, após caminharem o dia inteiro atrás da fenda. Mavis já tinha milhares de conhecimentos sobre os irmãos Winchesters que jamais imaginou que pudesse ter acontecido.
Como eles não tinham mais nada para fazer além de cruzar aquele universo em busca de resposta, Sam contou muitas coisas a garota curiosa. Isso a deixou distraída o suficiente para que não choraminguasse o sumiço de Jack e o fato de estarem fadados a morrer naquele lugar.
Demoraram um pouco para encontrar algo parecido a um abrigo, que os protegesse do frio. Não era uma caverna como a da noite anterior, mas tinha troncos grandes e grossos de árvores que conseguiria impedir um pouco a ventania da noite.
Sammy ficou por montar algumas armadilhas ao redor do acampamento improvisado, enrolando cordas em latinhas vazias que pegou pelo caminho até ali. Não que isso fosse impedir monstros ou alguma coisa de os encontrar, mas aquilo ia os avisar de que algo estava se aproximando.
Dean ficou por acender a fogueira dessa vez. Apesar de relutar bastante em fazer tal coisa, pois uma fogueira fazia fumaça e fumaça atraia coisas.
— Quer ajuda?
Ofereceu Mavis, se agachando ao lado do loiro. Demorou alguns segundos para Dean erguer os olhos da sua tarefa e olha-lá. Não foi preciso responder alguma coisa, pois ela começou a montar os gravetos um por um.
— Não está com fome? — perguntou ele, quebrando o silêncio — Tem um...
— Eu não vou comer bichos, Dean.
Ela não viu a maneira que os lábios dele se curvaram, estampando pequenas covinhas em suas bochechas. Um pequeno sorriso. Dean notou a maneira como ela esfregava as mãos nos braços vez ou outra, indicando que estava com frio. Então, no automático ele ergueu um pouco o tronco —, tirando a jaqueta esverdeada que estava usando desde o dia em que caíram ali, ficando apenas com a blusa flanelada.
Jogou a jaqueta em seus braços, recebendo um olhar de surpresa.
— Não precisa...
— Não tô com frio. — mentiu.
O fogo se acendeu, fazendo assim com que ambos conseguissem ver o rosto um do outro com mais precisão. Iluminados pelas chamas da noite.
As mangas da blusa flanelada de Dean estava arregaçadas até os cotovelos, atraindo os olhos da menina ali para aquela região. Sem perceber sua própria atitude, Mavis tocou a parte inferior do braço direito de Dean. O corpo do mais velho deu um pequeno pulo para trás, sendo pego desprevenido, olhando confuso aquele ato.
— Era aqui que ela ficava? — perguntou.
Com o dedo indicador Mavis tocava o centro do braço do mais velho, sentindo a maneira que sua pele estava quente —, mesmo estando em um ambiente tão gelado.
— Ahm?
Os lábios dele se abriram em um O. Como se desejasse o toque dela daquela forma, inconscientemente.
— A marca de Caim.
Mavis viu a forma como Dean engoliu em seco. O pomo de Adão ficou mais visível, os olhos se desviaram dos dela e a boca ficou seca.
— Era. — foi a única coisa que conseguiu responder.
O verde de seus olhos se tornavam quase alaranjados, por conta das chamas. A mais nova viu a maneira como as pupilas dele se dilataram pouco a pouco.
Dean odiava aquele assunto. Odiava qualquer coisa que envolvesse a marca de Caim e todas as atrocidades que fez naquela época. Ele gostaria de apagar de sua memória tudo aquilo. As consequências que suas escolhas o levou a ganhar. A morte de Charlie. Ele não se perdoaria nunca por tudo que aconteceu. Era um assunto que ele gostaria que aquela garota ali, sentada ao seu lado, nunca soubesse. Mas, agora isso tinha ido por ralo abaixo. Ela sabia. E o olhar estampado em seu rosto fazia com o estômago do mais velho se revirasse.
— Deve ter sido muito difícil.
Mavis ainda mantinha os dedos finos sobre o braço do loiro, como se quisesse se certificar que aquele assunto não iria o incomodar.
— Eles dizem que Deus apenas nós da fardos que conseguimos carregar. — completou ela.
Os olhos fixos no Winchester. A maneira como seu corpo se inclinava automaticamente para perto dele, a forma como as chamas iluminavam as sardas espalhadas pelo rosto do mais velho, como constelações —, e o jeito como os lábios dele eram moldados. Foi a primeira vez que Mavis notou tal coisa.
— Então, ele deve ter achado que eu era muito forte.
Sua boca trabalhou mais rápido que seu cérebro, por isso Dean não pensou antes de responder. Mavis soltou os dedos do braço dele, mas deslizou inconscientemente até o dorso de sua mão — deixando seus dedos sentirem a tensão dos músculos dele.
Aquilo foi a deixa para Dean sentir um aperto súbito no peito. Era como receber duas pesadas de uma vez bem ali no centro, que o deixava sem ar. O tipo de coisa que ele não saberia descrever nem em um milhão de anos, o tipo de coisa que aquela garota ali com a metade da sua idade lhe proporcionava.
— Eu acho que você é. — balbuciou Mavis, os olhos fixos nos dele.
Dean quis a beijar.
Arrancar a roupa dela bem ali no meio de todo aquele mato, prender o corpo dela contra o chão e a foder com toda sua força. De um jeito que ela mal conseguiria andar no dia seguinte e que fosse preciso de sua ajuda para isso.
Ele podia simplesmente ter feito isso. Seu corpo implorava por isso, para tê-la. O pensamento de enfiar seu pau fundo na garganta dela piscava desesperadamente em sua cabeça.
Qual seria a sensação?
Mas, da mesma maneira que almejava por isso, o alerta vermelho piscava em seu consciente. O relembrando o quão nova ela era... Mas, tinha sido a primeira vez que não sentiu horror em alguém saber sobre seu passado. Aquilo estava o engolindo vivo.
— Acho que conseguiremos dormir pelo menos algumas horas. — comentou Sam, voltando para perto da lareira.
Mavis se levantou do lado do loiro, passando a jaqueta por cima dos ombros — ficando totalmente aquecida.
— Eu queria tanto, tanto uma pizza, Sammy.
Se jogou ao lado do moreno, clamando o apelido que sabia que ele não gostava. Tinha presenciado algumas vezes o Winchester mais velho fazer tal coisa e ela tinha gostado da maneira que ele soava de seus lábios.
O moreno afagou os cabelos da mais nova, em um gesto carinhoso.
— Tô começando a cogitar experimentar um dos lagartos do Dean.
Mavis fez careta, balançando a cara em negação.
— Não, Sam. Eca.
Os dois riram, tornando o ambiente mais agradável. Porém, ali do outro lado da fogueira o mais velho observava a cena cauteloso —, tentando ignorar o alvoroço que acontecia em seu peito.
Os três dormiram de mal jeito naquela noite, o principal motivo era por quê não sabiam o que os espreitavam na escuridão esperando o primeiro vacilo para os pegarem. Mas, pelo menos conseguiram descansar um pouco.
Nas poucas horas que dormiu, Mavis sonhou com sua antiga casa. As lembranças de sua mãe e a maneira como pegava pesado com seus estudos bíblicos e tudo o que deveria saber sobre aquele mundo. Na época não sabia que era tudo verdade, apenas achava que era uma obsessão temporária dela. Mas, pelo visto tudo havia se concretizado. Isso a deixava apavorada.
{...}
Quando o dia amanheceu os três voltaram a buscar pela a fenda. Parecia uma missão impossível, pois não faziam ideia da onde estavam.
— Eu tô com fome. — choramingou Mavis.
Sammy balançou a cabeça, concordando. Também se sentia da mesma forma, o estômago doía e as pernas estavam desejando falhar.
Dean tinha quase cem por cento de certeza de que os três estavam sendo seguidos. Por isso, vez ou outra olhava por cima do ombro, procurando a razão por estar tão aflito.
— Esse lugar é horrível. — resmungou Dean, apoiando a mão na árvore para olhar o sapato. Tinha pisado em côco, sem ver.
— É. — concordou os outros dois.
O primeiro barulho de folhas sendo amassadas do dia atraiu a atenção do trio.
— Quem tá aí? — gruniu o mais velho.
No segundo seguinte olharam para trás, vendo uma figura encapuzada com uma lança pontuda na ponta. O desconhecido acertou Sam primeiro, depois Dean e em seguida Mavis. Em menos dois segundos eles estavam no chão, desacordados.
☄️
Sam Winchester apenas recobrou a consciência quando ouviu seu nome ser chamado pelo irmão. Quando seus olhos ganharam foco, viu que Dean e Mavis estavam amarrados contra o tronco de uma árvore — assim como ele também.
— O que aconteceu? — perguntou, alarmado.
O mais velho olhava à sua volta, sem saber a resposta pela pergunta do irmão.
— Ei, Mavis. — chamou a garota ao seu lado.
Ela também demorou um pouco para acordar e quando conseguiu se arrependeu na hora, pois a dor se instalou pelo seu corpo com fervor. Não foi preciso levar a mão no nariz para saber que o líquido que escorria dali era sangue, novamente. Aquilo estava acontecendo com bastante frequência, ela não gostava.
— Onde estamos? — sua voz saiu grogue.
Porém, antes que pudesse responder a mais nova — os olhos de Dean foram atraídos para a figura encapuzada que se aproximava.
— Aí ô, Darth Vader depois da febre amarela.
A figura começou a bater contra algo parecido com um metal, que começava a ecoar pela floresta.
— O que tá acontecendo? — perguntou Sam, de novo.
— Sei lá, eu hein.
Então, eles ouviram. O barulho de algo rugir do meio da floresta, um grunhido muito alto.
— O batuque foi pra avisar que tá na hora da bóia. — ironizou o Winchester mais velho.
Tinha restos de ossos nos pés deles, comprovando a fala do loiro.
— Estão ouvindo isso? — choramingou Mavis.
— Porra.
Dean tentava soltar os braços das cordas, mas estava sendo completamente inútil. Então, se virou para a mais nova ao seu lado.
— Você não consegue...?
A frase morreu. As sobrancelhas da mais nova se ergueram, formando um vinco no meio da testa.
— O que? — perguntou.
Seus pulsos estavam muito amarrados, de uma maneira que tornava qualquer movimento seu quase impossível.
Dean elevou os lábios, dando de ombros.
— Tipo, sei lá, arrebentar as cordas? — supôs.
O silêncio se instalou, Mavis olhando para o rosto dele incrédula.
— O que você acha que eu sou? Um tipo de super-heroína?
O loiro pressionou os lábios, estampando as covinhas em suas bochechas. Se sentindo meio bobo por ter suposto tal coisa, mas não tinha conseguido pensar em outra possibilidade.
— Não sei como você controla...
— E você, Dean, acha que eu sei, porra? — rosnou a morena, impaciente.
Tentou não sorrir ao ouvir seu nome e o xingamento na mesma frase. Seu cérebro buscava maneiras daquilo se encaixar na fantasia de...
— E aí, gente.
Uma voz feminina se instalou pela floresta. Mavis se forçou a virar na direção, em busca de uma validação visual para ver sobre quem se tratava.
— Claire?
Dean foi quem identificou a salvadora da pátria. A loira desamarrou o mais velho, indo para o mais novo e por fim Mavis.
— É a minha heroína. — se vangloriou Dean.
Mavis revirou os olhos, pois não tinha ganhando um comentário daquele quando o salvou a dias atrás.
— Como chegaram aqui? — perguntou Sam.
Kaia também estava ali, junto a loira.
— A porta. Ela ainda está aberta.
— Se você está aqui... — Mavis se virou para ela, aflita — Onde está o Jack?
O silêncio reinou por alguns segundos, antes da garota pensar na resposta. Sabia muito bem que Mavis não gostaria de qualquer coisa que ela falasse, mas não podia omitir a informação.
— Acho que está em outro lugar, com a mãe de vocês. — Kaia respondeu, se dirigindo a Sam.
Dito e feito, a expressão no rosto de Mavis comprovou o que Kaia pensava que ela iria achar. Porém, não tinham tempo para rivalidades naquele momento.
Correram muito para chegarem até a fenda. E antes de pularem totalmente, Kaia foi acertada pelo desconhecido que usava a lança. Morrendo nos braços de Claire.
Foi muito rápido, da mesma forma que o barulho dos monstros se aproximando se alastrava.
— Vai, vai, vai. — Dean mandou o irmão para a fenda, notando a maneira como Mavis olhava a cena abismada.
Bem na escuridão tinha alguma coisa. Os olhos vermelhos como fogo, se aproximando em passos pesados. O rugido predominava seus poros, Mavis se sentiu impossibilitada de se mover.
— Mavis.
Dean tentou a puxar para sair, estava usando toda a sua força para a arrancar dali e jogar na fenda. Mas, algo prendia Mavis, algo não a deixava se soltar. Era como se fosse uma força gravitacional, a mantendo presa naquele lugar. O rugido se tornava mais alto e rouco, os puxões de Dean se tornavam mais brutos.
Quando o monstro saiu da floresta, ficando frente a frente com eles. Deu para ter uma perfeita noção do que se tratava. Ele era enorme, tão grande que ultrapassava as árvores. Metros e metros de comprimentos. Algo que nem Dean Winchester havia visto em toda sua vida como caçador, isso o deixou sem fôlego.
Foi quando ele deu o primeiro golpe, tão forte que quebrou três árvores. Mavis se sentiu perder as forças das pernas, desmoronando. Se não fosse pelos braços do loiro, ela teria caído no chão. Só assim, — com ela desmaiada — que Dean conseguiu fazer com ambos passassem pela fenda, segundos antes de fechar.
Quando pousaram do outro lado, o sangue escorria constantemente pelo nariz de Mavis.
— O que aconteceu? — Sam se aproximou do irmão.
Dean, mantinha ela nos braços, agachado no chão. Pois quando se deu conta de que estavam novamente seguros, se permitiu falhar ali por alguns segundos. Seus joelhos também doíam.
— Aquela coisa apareceu e...
O Winchester mais novo levou a mão até a cabeça da garota desacordada.
— Ela não foi atingida. — afirmou Dean, a segurando firme — Não foi. Eu não deixei. Não deixei.
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