11 | ANJOS
AQUELA ERA A primeira vez que Mavis se sentiu daquela forma em toda sua vida. A maneira que o verde dos olhos do mais velho transcendia a realidade, fez com que um pequeno alvoroço se iniciasse na boca de seu estômago. As mãos de Dean eram quentes como o inferno e isso queimava sua pele... O flash de ter visto o pau dele parecia estar mais forte em sua consciência e ela sentia um aperto começar a se instalar pelas partes de seu corpo, algo que não sabia definir o que era.
Dean umedeceu os lábios, olhando fixamente para a boca da mais nova.
Ela estava em transe, paralisada. O tipo de coisa que acontecia apenas em momentos específicos, mas que nunca havia ocorrido em algo daquela forma. O pensamento de transar veio à cabeça de Mavis... E isso nunca havia ocorrido, não como agora. Era como estar infectada.
Os fios loiros do Winchester estavam colados na testa, enquanto algumas gotas de água ainda escorriam por ali.
— Porra... — Dean praguejou, levantando a mão para encostar no rosto dela.
Todos os instintos da mais nova implorava para que ela corresse. Fugisse o mais rápido possível daquela situação, que não deixasse aquele homem se aproximar de si daquela forma. O pavor começou a lhe atingir, ela não conseguia encontrar uma possibilidade em que aquilo daria certo. Todas as alternativas que fez em sua consciência deram erradas. Porém, seu corpo não a obedecia. Ela não se moveu.
A sensação de triunfo dançava pelas veias do mais velho. Ele estava excitado. Os olhos transbordando luxúria, a vontade de a foder...
Eu preciso disso. Eu preciso disso. Eu preciso disso.
Essas três palavras eram repetidas freneticamente na cabeça de Dean Winchester. Necessitava daquilo tanto quanto respirar e não aguentava mais a necessidade de não ter. O errado. O obscuro. O pecado. Era isso que o puxava para aquilo, o que o atraia. Impossível de resistir.
— Acho que sei onde Jack pode estar.
A voz conhecida do Winchester mais novo invadiu as paredes ocas daquele quarto de motel barato. O corpo de Dean saltou para trás em um instinto rápido, tentando esconder a ereção bastante evidente em sua calça. Os olhos de Sam demoraram alguns segundos para observar as outras duas pessoas presentes no ambiente, por isso não se deu conta muito bem do que estava ocorrendo.
Ele apoiou a sacola transparente com o jantar deles sobre a mesinha do quarto, erguendo os olhos para Dean e Mavis.
As bochechas da mais nova estavam vermelhas, os olhos sem focos encarando o chão e as palmas das mãos pressionadas no colchão.
— {...} Tem essa garota, Kaia...
E Sammy começou a explicação sobre sua pista, não percebendo que as outras duas pessoas do quarto tão pouco se importavam com aquilo naquele instante. Pois, estavam com os pensamentos presos no que tinha acontecido a segundos atrás.
Na tentativa de pensar em outra coisa, Mavis pegou o sanduíche da sacola, desembrulhando, dando a primeira mordida no pedaço. Isso foi totalmente percebido pelo Winchester mais velho, que já estava começando a se sentir seguro novamente para se levantar da cama —, com seu pau já no tamanho normal, quando mole. Também enfiou a mão na sacola puxando seu sanduíche.
— Quer ketchup? — perguntou a única garota presente.
Tinha apenas um sachê e ela estava segurando ele com a mão direita, olhando para Dean. Agora foi a vez das bochechas dele ficarem pouco vermelhas.
— O quê?
Quase gaguejou. Se sentindo um completo imbecil.
— O ketchup. — balançou o sachê para que ele visse.
— Ah. Não.
Dean havia entendido: quer que eu te chupe? As coisas estavam começando a sair fora de seu controle pessoal e isso não era nada bom.
☄️
Antes do dia marcar sete horas da noite, os três haviam acabado de chegar na clínica psiquiatra onde Kaia estava internada. Pelo visto ela também era andante de sonho e isso significava que Jack estava à procura dela. Os Winchesters estavam novamente usando seus ternos falsos, enquanto a garota vestia seu moletom vermelho vinho, calças jeans escuras e um all star velho e surrado. Seus fios escuros estavam presos em um rabo de cavalo, isso a fazia se sentir mais preparada —, se fosse preciso agir.
A feição em seu rosto era sempre indecifrável para Dean. Era algo que ele não conseguia parar de tentar entender, mesmo quando nada estava ocorrendo. Os três passaram pela ala principal do lugar, vendo os pacientes normais, dando a volta pelo fundo.
Foi então que pelo pequeno vidro da porta, Mavis o viu. Diferente de todas as outras vezes, ela não sentiu nada, não sentiu aquela coisa que havia a puxado para ele desde o início. Não, o sentimento que lhe atingiu foi de paz. Como ter um objetivo concluído.
— Jack! — gritou Sam, ao abrir a porta dos fundos.
A garota de cabelos cacheados que acompanhava o Nefilim deu um chute em sua perna, o derrubando, fugindo logo em seguida.
— Sam. — falou o mais novo — Ela me bateu. Ela está fugindo...
Mavis cortou o pequeno espaço que a separava do garoto, o abraçando de uma vez, inalando o perfume barato do shampoo que o Winchester mais novo havia dado a ele. Ficou tão preocupada com Jack nos últimos dias que não sabia quando o veria novamente, quando sentiria aquele cheiro de novo. Sabia que Dean tinha cem por cento de certeza de que Lúcifer estava envolvido com aquilo, mas não podia evitar. Mavis não ia deixar nada acontecer com Jack, mesmo que isso significasse que o diabo tinha feito sua cabeça.
— Mavis.
Ele a abraçou de volta, se sentindo contente por tê-la por perto daquela forma.
— Ela está fugindo — repetiu, se levantando e quebrando o abraço.
— Não chegará perto dela até se explicar. — rosnou Dean, segurando ele pelo braço.
— Eu preciso dela.
— Como você precisava do Derek? — perguntou Sam.
O tom de voz quase parecido com o do irmão, Mavis não gostou daquilo.
— Isso.
Dean soltou a mão do braço de Jack, mas mantendo ela em sinal de pare como se tivesse receio do que ele pudesse fazer. Tinha muita decepção estampada no rosto de Sammy e o Nefilim percebeu isso, a maneira que as sobrancelhas de Mavis estavam unidas e o semblante de raiva do loiro. Os três estavam diferentes, de uma forma que Jack nunca havia visto antes —, quase como medo.
— Vocês não... Eu tô fazendo isso por vocês.
Jack falou indignado, a confusão pairando em seu semblante.
— Matou o Derek por nós? — bramiu Dean.
— O Derek morreu?
— Espera um pouco, Jack. — começou Sam — Conta o que aconteceu. Conta tudo.
— Eu fugi para controlar meus poderes. — disse o mais novo — Eu queria provar que sou bom. Fui fazer uma coisa boa. Fiz o que vocês mais queriam. Eu experimentei. Tentei abrir portas para o outro mundo. Quase consegui. Cheguei bem no limite. Não consegui ver, só sentir, na escuridão. Eu precisava de olhos, de alguém que visse.
— Alguém que anda em sonhos. — Mavis deixou escapar.
Jack balançou a cabeça em concordância.
— Então, eu pesquisei como vocês me ensinaram. — olhou de relance para Dean — Foi como achei Derek. Eu não sabia se ia funcionar. Mas funcionou. Ele andou em sonhos e eu fui com ele ao mundo do Apocalipse. Eu podia ver o que ele via. E eu vi... Eu a vi.
— Viu quem? — perguntou Sam.
— Sua mãe. — se virou para Dean — Ela está viva. Mas corre perigo.
— Como assim? Que tipo de perigo?
Mavis indagou, cruzando os braços frente ao peito.
— É mais fácil mostrar a vocês.
Os três mais velhos se olharam, receosos sobre o que aquilo significava. Jack fez um sinal com a mão para que se aproximassem.
— Encosta no braço do Dean. — pediu o Nefilim para a garota.
Mavis balançou a cabeça em negação, pronta para protestar. Porém, o loiro foi mais rápido e segurou a mão dela junto a sua. Para que a ligação funcionasse, os quatro precisavam estar conectados para verem o que Jack queria mostrar. Dito e feito, assim aconteceu.
Flashs do outro mundo acertou a cabeça dos três. O cinza era a paleta de cor definitivamente daquele ambiente, estacas fincadas no chão, algo abominável. Pela visão, entraram em uma casa, seguindo pelos corredores até chegar no quarto principal. Os fechos de luzes entrava pelas madeiras e bem no meio, pendurada dentro de uma jaula estava Mary Winchester.
Jack tirou as mãos do rosto dos irmãos, ao mesmo tempo em que Mavis soltava a mão do mais velho e limpava o suor na barra da calça.
— Fiquei tão perto que eu podia tocá-la. — falou Jack — Mas, Derek não conseguiu manter a conexão.
— Então você não matou ele.
Confirmou Mavis, encarando os olhos do mais novo. Estava contente por não ter duvidado dele um segundo sequer.
— Não, eu parei. Derek não era forte o bastante. Mas ele conhecia alguém que era. Kaia, ela é a solução.
{...}
A partir daqui as coisas começaram a sair do controle. A única garota presente sentiu a maneira que a expressão no rosto do Winchester mais velho se tornou sombria, quase mórbida. Ele não esbolçava feição nenhuma, quase um robô.
Dean mantinha os dedos fixos no volante enquanto o Impala deslizava pela estrada molhada pela chuva. No banco de trás, Mavis e Jack dividiam o mesmo espaço, em completo silêncio. Enquanto Sam fazia ligações para seus contatos em busca da garota.
— A polícia está atrás dela. Temos que a achar logo. — comentou, após desligar a chamada.
— Você tinha razão. — a voz de Dean soou rude — Sobre a nossa mãe. Devíamos ter procurado por ela.
— Eu só tinha esperança. Eu não sabia. Não importa, agora sabemos...
— Vamos a encontrar. De qualquer jeito. — afirmou o loiro.
— Isso. — concordou Sammy.
Um segundo de silêncio reinou entre os quatro. Até Dean olhar brevemente para trás, voltando a encarar a estrada à sua frente mais uma vez.
— E você menino, está bem? — perguntou.
Ele não respondeu. Seus olhos estavam fixos em algum ponto específico do carro, preso em seus próprios pensamentos. O semblante vazio.
— Jack? — Mavis o chamou.
— Vocês acharam... — começou ele — Os três acharam que eu fui cruel... Que eu tinha matado o Derek?
Dean e Sam trocaram olhares no banco da frente.
— Jack, escuta...
— Eu não. — Mavis negou de prontidão — Eu nunca pensei nisso, nenhuma vez sequer. Não é Dean? Fala pra ele, eu não pensei isso eu...
— É, Jack. Ela... — o verde se cruzou com o castanho pelo retrovisor — te defendeu. Quase me bateu.
Um sorriso cúmplice apareceu nos lábios da garota em forma de agradecimento, sendo apreciada pelo retrovisor. Mavis se virou para o garoto ao seu lado, entrelaçando os dedos frios dele nos seus. Jack olhou para as mãos juntas, dando um sorriso amarelo em resposta. Sabia que tinha decepcionado os irmãos, mas a sensação de conforto que a garota lhe proporcionava era o suficiente para se sentir de verdade. Ele imaginava que aquilo que era amar alguém.
— Jack, ficamos preocupados, ok? — Sam foi sincero — Você sumiu e não sabíamos para onde tinha ido.
— Achei que tinha ido atrás de seu pai.
O Winchester mais velho foi ríspido e sincero. Atraindo os pares de olhos de Mavis para ele, como se tivesse indignada com ele dizer aquilo daquela forma.
— Quer dizer Lúcifer?
Isso fez com que um pequeno pesar se alastrasse pelo corpo da única garota presente, pois não gostava de ouvir aquele nome.
— Sim. — concordou Sammy.
— Eu estava com medo. Estava nervoso. Mas por que eu iria atrás dele? Ele não é nada para mim.
Mavis soltou a mão da dele, e o abraçou de lado, de uma forma desengonçada.
— Vocês, Castiel são minha família.
Três segundos de silêncio se instalou no interior da baby, todos refletindo o que o Nefilim havia acabado de confidenciar. Pelo retrovisor central Mavis viu o semblante do loiro, a forma como ele balançou a cabeça em concordância antes de dizer.
— É, nós somos. E procurar nossa mãe... — Dean se virou um pouco para trás — Fez uma coisa boa, garoto. Muito boa.
Desde que Jack conheceu Dean ser motivo de orgulho para o caçador havia virado um de seus propósitos de vida, e todas as suas tentativas anteriores disso ocorrer tinham dado erradas. Então, ouvir isso do Winchester nesse exato segundo —, fez com que um sorriso verdadeiro crescesse em seus lábios. Nenhum dos três sabiam o que tudo aquilo significava para o Nefilim. Jack foi jogado naquele mundo sem uma mãe, sem ser ensinado a nada. Teve que aprender do zero, como se já fosse adulto. Então, ele não tinha uma noção certa das coisas e da maneira que o mundo funcionava. Mas, Jack tinha Mavis, Castiel, Sam e Dean — e isso para ele significava tudo.
Só que nada ocorria da forma como todos gostariam. O sorriso involuntário que pairava nos lábios do mais novo de desfez, Jack gemeu de dor, alto e agudo, levando as mãos ao redor da cabeça.
— Jack!
Mavis e Sam o chamaram em uníssono. Dean pisou o pé no freio, parando o carro de uma vez, se virando para trás da mesma maneira que o irmão.
A garota apoiou a mão esquerda sobre o ombro do mais novo, preocupada.
— Foi a rádio dos anjos. — balbuciou Jack, grogue — Pegaram a Kaia.
☄️
Todo o caminho que Jack guiou os três até Kaia, fora o mais rápido que Mavis já vira o Winchester mais velho dirigindo. Quando chegaram na localização correta, perceberam que se tratava de um galpão enorme. A garota relutou entre entrar com os rapazes, mas não queria os deixar sozinhos.
O local estava vigiado por anjos, mas eles não eram páreos para os Winchesters. Dean fez um de refém, usando-o para adentrar o esconderijo.
— Solta a garota. — pediu Sam.
Tinha uma moça asiática, que Mavis jurou que parecia uma atriz de um dorama que viu na semana passada. Bom, aquela pelo menos era sua casca.
— Não é ela que queremos.
Os olhos da celestial passaram por Mavis, parando ali por alguns segundos antes de seguir para Jack.
— Jack, não quero machucar você. — falou — Eu quero ajudá-lo. Você deve ficar com os seus.
— Os meus? — bramiu o Nefilim — Essa gente que mata pessoas?
— Seu lugar não é com eles. Venha conosco. Venha para casa.
O silêncio se instalou pelas paredes do galpão abandonado. Batucando pelas suas fechaduras e os remendos nas paredes. Mavis estava atrás de Sam, o próprio havia colocado naquela posição de proteção. Dean mantinha a espada angelical no pescoço do anjo, e Jack estava no centro.
— Eu já estou em casa.
No minuto seguinte o anjo deu uma cabeçada em Dean. Fazendo com que o confronto se iniciasse. A chefe deles — a asiática — partiu para cima de Jack, não conseguindo causar efeito nenhum, pois ele usou os poderes contra ela, a arremessando do outro lado do galpão.
O anjo que a segundos atrás estava sendo refém do caçador, inventou as posições — pronto para feri-lo. Se não fosse por Jack, Dean teria sido atingido pela espada angelical. O Nefilim o salvou.
Em menos de dois minutos os dois anjos estavam mortos.
— O que foi aquilo? — alarmou Kaia espantada.
Jack se ajoelhou ao lado da cadeira, tentando a soltar da cadeira.
— Eram anjos.
— Anjos do mal. — falou Jack, completando a fala de Mavis.
— Somos caçadores, matamos tipos como esse. — se explicou Sam.
— E ele é o filho do diabo?
Kaia estava desesperada.
— Sim. Ele é. — confirmou Mavis.
— Vocês são loucos.
— Sim, o mundo todo é louco. Você se acostuma. — bramiu Dean, entrando novamente no galpão — É melhor irmos.
Os cinco saíram pela porta da frente do local abandonado, Sam e Dean trilhando a direção até o carro, Mavis atrás e logo em seguida Jack com Kaia.
— Iremos proteger você. — balbuciou o garoto.
— Acho que não.
Sam fez Dean parar de andar, quase atropelando Mavis com a parada brusca do corpo.
— Kaia. — começou Sammy — Sei que é muita coisa, mas preciso de você. Meu irmão e eu... Nossa mãe está presa em outro mundo. E se você disser a Jack onde, ele abrirá a porta...
O tom de voz do moreno era calmo, da maneira pacífica que Mavis já estava acostumada a vê-lo tratando as situações a sua volta. Porém, Dean quebrou o pequeno espaço que o distanciava do pequeno círculo e falou.
— E podemos salvá-la.
Sua voz soou seca. Mas, aquilo pareceu surgir um pouco de efeito em Kaia. Pois seus olhos trilharam entre Mavis, Sam, Dean e por fim Jack.
— Manda aí o teu plano.
O Nefilim balançou a cabeça em concordância, ao ouvir as palavras do loiro.
— Derek disse que já locais sagrados. Onde as paredes entre os mundos são finas, — começou Jack a explicar — e é fácil de atravessar. Eu ia levar Kaia as Cavernas de vento.
— As Cavernas de vento? — indagou perplexa.
Seus olhos escuros pairam sobre os outros presentes novamente.
— Vamos nessa. — diz Dean.
— Não. — Kaia negou de prontidão.
O ambiente pesou. Mavis percebeu a maneira intacta que o semblante do Winchester mais velho se tornou sombria novamente, mórbida.
— Salvamos a sua vida. — vociferou ele.
— Valeu, mas só me queriam por sua causa. — se dirigiu a Jack que estava ao seu lado.
— Kaia, precisamos que você ande nos sonhos.
Foi a primeira vez que Mavis se impôs naquela conversa. Os olhos fixos na garota à sua frente, como se implorasse para aquilo.
— Que use o seu dom. — completou Jack.
— Não é um dom, é uma maldição. — balançou a cabeça em negação — Derek se sentia livre. Ele podia ver coisas lindas. Ir a paraísos. Quem dera fosse assim comigo, mas não é. Só vou a um lugar. Ao lugar ruim. Lá só tem... Sangue, morte e monstros.
Kaia disparou a falar de uma vez, sem dar pausa para respirar.
— Parece um pesadelo eterno. — completou Dean.
— Pesadelo?
Ela se aproximou dos irmãos, puxando a manga da blusa até o cotovelo.
— Quando eu me machuco lá não acordo suando, acordo ensanguentada. Não tenho só está cicatriz.
Da posição que Mavis estava conseguiu ver o formato reto de algo parecido como um corte quase totalmente cicatrizado, no braço direito dela.
— Sinto muito pela sua mãe, mas não posso ajudar.
— Está bem... — Sammy começou a dizer.
Então, Mavis viu. Dean abaixou a cabeça relutando sobre alguma coisa.
— Podemos achar outro jeito, nós... — Mavis balbuciou, enfiando as mãos no bolso em moletom.
O barulho da arma sendo destravada atraiu os olhos dela, a fazendo parar de falar na hora.
— Entra no carro.
O mais velho ordenou, ríspido e seco.
— Dean. — Sam e Mavis falaram em uníssono, sendo ignorados.
Ele movimentou a arma em um sinal de vem.
— Entra no carro. — repetiu.
Kaia não se moveu.
Então, o que Mavis previa ocorreu. O semblante de Dean que estava tão negro anteriormente, se tornou irreconhecível. Mas, ela sempre soube que ele era daquela forma. Só que saber e presenciar eram coisas completamente divergentes.
— Entra no maldito carro. — gritou, se aproximando dela de uma maneira que a arma tocou em seu queixo.
O medo estampado nos olhos de Kaia. O pesar nos de Jack. E a forma como Mavis olhava assustada para Dean.
— Vamos para Dakota do Sul. — cuspiu as palavras.
☄️
Não era de hoje que Mavis sabia que Dean era especialista em transformar o clima no carro em um monte de merda pesada. E nesse exato instante não poderia estar diferente. Ela estava dividindo o banco da frente com os irmãos e estava muito tensa. Os nós dos dedos de Dean estavam brancos, pela forma como apertava firmamento o volante.
Sam por outro lado estava inquieto. Os olhos vagavam pela janela, vez ou outra parava na garota ao seu lado e depois tornava a olhar para o lado de fora.
A chuva acertava a lataria do Impala, tornando aquele ambiente muito mais tenebroso e impossível de ser suportado. Ela detestava quando coisas daquele tipo acontecia, principalmente que ficava em choque pela forma como as personalidades do loiro se distinguiam. Naquele momento não tinha nada do Dean de algumas horas atrás quando estava preocupado com o machucado em sua mão, não, agora tinha um Dean vazio e sério que não tirava os olhos da estrada.
{...}
Quando chegaram ao destino final daquela noite. Mavis estava agoniada.
— O que vamos fazer? — resmungou para os irmãos, cruzando os braços na frente do peito — Apontar uma arma para a cabeça dela e a obrigar a abrir o portal?
Dean franziu o nariz, ganhando uma expressão de desdém na feição. Mas, antes que pudesse dar uma má resposta a garota, Sam passou na frente.
— Está tudo bem, Mavis.
Os olhos claros transbordando compaixão. Porém, bem no fundo, a garota sabia que tinha algo que ele conseguia esconder muito bem.
— Os anjos estão vindo. Vamos. — rugiu Dean, abrindo caminho.
Ele puxou as malas de dentro do carro muito rápido, arremessando para o irmão e para a garota. A noite estava muito gelada, talvez por estarem em um cargueiro e perto da água. Conforme Mavis corria, acompanhando Jack que sentia dores fortes de cabeça por conta da rádio dos anjos —, ela agradecia mentalmente por ter escolhido o moletom como peça da sua roupa principal daquela noite.
Sam começou a pichar as paredes do navio com símbolos o quais Mavis nunca havia visto na vida.
— O que está havendo? — perguntou Kaia, nervosa.
— Relaxe, ficaremos bem.
Mavis revirou os olhos com a cena de Jack e sua tentativa inútil de confortar a garota.
— Estamos ferrados. Há muitos deles.
Dean entrou no navio, carregando a mochila nas costas, apreensivo. Se virou para Mavis, como se acendesse uma luzinha em sua cabeça e ele se desse conta de que a garota ainda estava ali.
— Você. Carro. — apontou para ela.
Mavis ergueu as sobrancelhas, apoiando o dedo indicador contra o próprio peito.
— Eu?
— Sim, você. — se virou totalmente para ela — Aqui não é seguro, os anjos eles...
— Você tá de sacanagem, mano? — Mavis elevou o tom de voz — Não vou deixar vocês sozinhos. Vou ajudar.
— Ajudar com o que? — bramiu o mais velho — Você não sabe usar uma arma sequer. É inútil.
A mais nova abriu a boca e fechou duas vezes seguidas ao ouvir a forma como foi agredida por palavras daquela forma.
— Vamos subir. Vamos. — Sam a puxou pelos braços, enquanto ela fuzilava Dean com os olhos.
Os cinco subiram correndo os degraus do navio para a parte de cima. Mavis sentindo o coração disparado contra o peito e a respiração ofegante.
— Quanto tempo dura a proteção? — perguntou, com falta de fôlego.
— Eu não sei.
Sam foi quem deu a resposta. Trilhando o caminho na frente, chegando rapidamente com sucesso no andar de cima.
— Aí Dean, vamos deixar eles entrarem, depois detonamos todos. — alarmou Sam, começando a pichar aquele andar também com os símbolos.
— Se entrarem, morremos.
Mavis odiava Dean e o seu pessimismo ambulante que estava afetando todos à sua volta.
— Jack, dá pra fazer alguma coisa? — vociferou o Winchester mais velho.
— Eles me atacarão com a rádio dos anjos.
Os símbolos desenhados na parede brilharam todos de uma vez com a pancada dos anjos lá fora.
— Então, vamos sair atirando. — rosnou o loiro.
— Mataremos quantos pudermos.
Aquilo estava assustando Mavis de uma maneira absurda. Era pior do que quando estavam aguardando Lúcifer no nascimento de Jack, aquilo ali eram muitos anjos. Não tinha uma possibilidade de vencer.
— Mavis, — Dean a chamou, a voz em um tom baixo, porém ainda apreensivo — desculpe por estar aqui. Essa luta não é sua.
A garota abriu os lábios, os umedecendo logo em seguida. Frente ao mais velho.
— Envolve vocês. Então é minha sim.
Ela levou a mão direita no automático para o cotovelo do Winchester, como se quisesse dizer que tudo aquilo ficaria bem. Só percebeu a ação quando as pupilas de Dean se dilataram com o toque inesperado.
— Se eles subirem, vão matar vocês e me levar. — clamou o Nefilim.
— Não. Não vão. Você disse que posso ajudar a achar a porta do outro mundo, não? — interrompeu Kaia — Vamos fazer isso e cair fora daqui.
Do lado de fora os banques dos anjos estavam mais forte. Eles batiam com a palma da mão direita sobre o chão, quebrando os selos pouco a pouco. Ao mesmo tempo em que Jack começava a tentar abrir o portão usando a mente de Kaia, os selos começavam a se quebrar um por um. O som agudo da batida se tornando mais forte. O pavor começando a correr pelas veias de Mavis.
Então, eles entraram.
Jack continuava tentando abrir o portal.
O primeiro corpo que foi arremessado foi o de Sam. Ele bateu as costas contra a parede fria do navio, ficando um pouco zonzo. Dean se moveu para ir até o irmão, ao mesmo tempo que os anjos entravam naquele andar. Tudo pareceu começar a se mover em câmera lenta aos olhos de Mavis. Conforme Dean tentava acudir o irmão, se virou de costas, ficando de costas para alguns dos angelicais.
Foi muito rápido as ações a seguir. Dois dos anjos se moveram com as espadas em mãos para cima do Winchester mais velho. Se Dean fosse atingido pelas duas lâminas, morreria na hora.
Mavis nunca se sentiu daquela forma anteriormente. O desespero e o medo te atingem como vermes. Ela se lembrou da maneira como paralisou a dias atrás e de como não conseguia fazer nada a não ser observar a catástrofe acontecendo. Sentiu o desespero de quando sua casa pegou em chamas e sua mãe morreu. Tudo aquilo lhe atingiu como um soco na boca do estômago.
Mavis se curvou para a frente com a dor.
Ao mesmo tempo em que um grito agudo saia por sua garganta, na tentativa de alertar o Winchester mais velho do golpe surpresa.
Mas, isso não aconteceu.
Um estrondo absoluto eclodiu naquele local. As paredes se iluminaram como uma luz alaranjada, tudo ficou incerto e turvo. Mavis se viu caindo de joelhos, ao mesmo tempo em que os corpos dos anjos eram arremessados para trás com o impacto, — quebrando a ação que iriam prejudicar sobre Dean.
O clarão quase cegou Mavis de tão forte que foi. Ficou abismada com a pressão que aquilo atingiu os anjos, os deixando exilados. Sentiu algo escorrer de seu nariz e uma fraqueza atingir seu corpo, mal a deixando focar os olhos. Foi quando ela se deu conta de que quem causou tudo aquilo foi ela mesma. Ela tinha eclodido bem diante aos olhos de Dean Winchester, que olhava a cena abismado.
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