09 | SALÉM
QUANDO OS TRÊS entraram no quarto de hotel que iriam passar aquela noite, Mavis foi a primeira a capotar na cama. Recebeu dois comprimidos de dor em mãos por Sam, pois ela estava com uma enxaqueca desde que pisou os pés na própria cidade.
Agradeceu mentalmente o Winchester mais novo por ter a ajudado com aquilo, também era uma tentativa em dormir mais rápido e não pensar no que tinha acontecido. Isso incluía Dean Winchester e seus olhos incrivelmente verdes, os quais a prenderam a cada segundo da dança.
— Cara, — Sam franziu o cenho, vendo o irmão se sentar na cama da esquerda — como você sabia a coreografia?
Dean balançou a cabeça pensando na resposta. E ele simplesmente não podia ser sincero, ia ser a coisa mais patética e humilhante de toda sua vida. Então, apenas deu de ombros, puxando a coberta para baixo e se deitando na cama.
— Só improvisei, Sammy. — mentiu — Sou o rei do improviso.
O mais novo emitiu um riso baixo pelos lábios.
— Tá bom então, rei do improviso.
Claro que não acreditou naquilo, mas não queria piorar o humor de Dean. Ainda mais agora que ele estava mais propenso a aceitar as coisas a sua volta, isso incluía Jack ser filho de Lúcifer. O loiro por outro lado preferia dormir o mais rápido possível para que não tivesse tempo o suficiente para que sua consciência lhe recordasse o que havia acontecido a menos de uma hora atrás. Tinham conseguido o acesso para a casa da prefeitura no dia seguinte, isso significava que conseguiriam os diários da mãe de Mavis e já era um grande avanço para o lado deles.
Diferente das outras duas pessoas no quarto o Winchester mais velho demorou a dormir, justo ele que desejava apagar o mais rápido possível. Ficou rolando de um lado para o outro, pressionando o próprio rosto contra o travesseiro. Resmungando consigo mesmo, relembrando o momento de horas atrás enquanto tinha a mais nova entre seus dedos.
Tinha algo naquele situação que o deixava aflito. Pois, fazia mais de duas semanas que a coreografia daquela música estava rodando em seu notebook e ele não sabia como fazer parar. Sempre reiniciava o computador, mas vez ou outra o vídeo começava novamente. Como se algo o colocasse ali. Então, após duas semanas querendo ou não, os passos entraram no subconsciente de Dean Winchester. Não havia sido a merda de um improviso, ele sabia a coreografia — o quer era muito pior. Ninguém acreditaria naquilo.
Se tudo ocorresse como planejava, iriam ter respostas e talvez algo respondesse suas dúvidas sobre as coisas estranhas que vinham acontecendo no bunker. Dean almejava saber.
Por fim, só conseguiu dormir quando virou o corpo na direção oposta —, onde conseguia ver o rosto sereno de Mavis desmaiado de sono.
Ele não gostava de estar em sua presença.
{...}
Assim que o dia amanheceu o primeiro a estar de pé fora Sam Winchester, que tomou banho, escovou os dentes e se vestiu adequadamente. Logo em seguida Mavis se levantou, sonolenta, fez o mesmo processo que o moreno. Escolheu por vestir um short jeans, que combinava com sua blusa nova azulada. Quando saiu do chuveiro secando o cabelo na toalha, Dean estava se espreguiçando na cama —, também se obrigando a levantar. Isso era algo que tinham em comum, nenhum dos dois eram fã em acordar cedo.
Menos de uma hora depois o Impala já estava estacionando em frente a casa da prefeitura.
A imagem da casa era da mesma forma que a garota se lembrava. O casarão grande, claro. A pintura já não estava tão branca como Mavis se recordava, mas ainda era bonita. Os dois andares sempre a fizeram desejar ter uma casa como aquela quando se casasse um dia, algo que pelo visto não iria jamais acontecer.
Ela desceu do carro, trilhando o caminho até a entrada. Passando pela grama excepcionalmente verde, de uma forma que não era nada normal. Sempre se sentiu estranha ao ir naquela residência, talvez pelo fato do prefeito estúpido achar que era uma boa ideia guardar tanta coisa estranha ali.
Mavis passou pelos degraus, sentindo os irmãos atrás de si. Esperava que fossem os primeiros a chegarem, pois assim conseguiriam pegar o que precisavam e já vazar dali. Porém, no instante em que chegou no batente principal, os olhos achocolatados da garota bateram com os olhos azuis cristalinos de Megan Jacobs. Seus passos travaram ali na entrada, ela sentiu o coração disparar.
As lembranças ruins chegaram totalmente de uma vez. Era como ser teletransportada novamente para quando estava no colegial. Seus livros rasgados, os dinheiros roubados, as apostas sobre quem tinha coragem de ir até sua residência. Quando Megan roubou seu ex namorado Peter... O inferno que ela fez em sua vida.
— Mavis?! — sua voz soou esganiçada.
Um sorriso falso pairou em seus lábios, analisando a mais nova de cima abaixo. Mavis sempre odiou aquela cor de cabelo, o loiro quase branco deixava Megan muito feia. Mas, pelo visto, não era o que Peter achava quando ficou com ela...
Começou a se sentir novamente com quinze anos.
— Megan.
Cumprimentou a mais velha, forçando um sorriso no rosto.
— E esse é...
Os olhos da loira foram postos em quem estava atrás de Mavis. E pelo o que ela se lembrava era Sam, então antes que o ciúme começasse a agir Mavis fora mais rápida.
— Meu namorado. — se impôs.
Porém, no segundo, a mais nova se virou para puxar os braços de Sam até o seu lado. Que ele com certeza entenderia depois, quando ela explicasse a razão por ter feito aquilo —, ela se assustou ao ver que não era ele quem estava ali.
— Prazer, Dean.
O mais velho esticou a mão direita, apertando a mão da loira.
Aquela situação se tornou uma catástrofe em pequenos segundos. A forma maliciosa que Megan olhava Dean, deixou Mavis enojada. Viu por cima dos ombros do loiro, o Winchester mais novo andando até eles balançando o pé direito como se tivesse pisado em uma poça de água. Pelo menos não havia perdido o sapato.
☄️
Mavis odiava a presença de Dean. Ainda mais quando ele estava trazendo muita atenção para ela, quando queria apenas conseguir recuperar os diários de sua mãe e ir embora da cidade o mais rápido possível.
— Essa é uma das peças mais raras da cidade.
John Brandon apontou para o mostruário, onde tinha uma placa de bem vindo toda detonada. Mavis nunca ia conseguir compreender a razão por eles gostarem tanto de colecionar aquele tipo de coisa, ela não gostava de nada daquilo.
— Então, a quanto tempo estão juntos? — a voz de Megan a trouxe volta à realidade.
Moveu os olhos para a loira, que enviava olhares impiedosos a Dean que estava ao seu lado. Mavis deu uma leve respirada funda, recebendo os olhos calorosos de Sammy sobre os seus. Ele apertou os lábios, dando um pequeno sorriso. Aquilo acalmou seu coração um pouco.
— Há... — Dean respondeu de boca cheia, tinha acabado de enfiar dois biscoitos de uma vez — um tempinho já.
— Cinco meses.
Mavis respondeu, forçando um sorriso amarelo.
Os olhos claros de Megan eram irritantes, a forma como desdenhava a mais nova era totalmente explícita. Pelo menos para Sam Winchester, já que Dean não parecia estar prestando muita atenção nisso.
— Ei. — o moreno a chamou, tocando em seu ombro direito.
Antes de se afastar de Dean e Megan, Mavis deu uma última olhada para eles. Enojada totalmente. Eles combinavam.
— Enquanto você os distrai. — balançou o dedo ao redor — Vou entrar na ala privativa. Qualquer coisa me manda mensagem.
— Ah, Sam. Qual foi? — resmungou Mavis, fazendo uma careta — Vai me deixar aqui?
O Winchester sorriu, o tipo de sorriso que podia acertar milhares de corações. Ele tinha esse poder. O olhar de filhotinho era seu maior charme.
— Fica de olho no Dean. — pediu, apoiando a mão direita sobre seu ombro.
Aquele pequeno gesto fez o coração da mais nova acelerar um pouco. Sam estava muito bonito naquele dia.
— Acho que já ele já está sendo bastante olhado. — refutou a mais nova, lançando um olhar na direção do cujo.
Sammy pressionou os próprios lábios um contra o outro, em uma linha reta, estampando suas covinhas charmosas —, antes de deixar Mavis para trás.
{...}
— Dean estava me contando que é a primeira vez que vem a Salém. — balbuciou Megan, focando a lateral do braço do loiro — Estava escondendo ele de todos nós, Mavis?
A mais nova revirou os olhos tão fundo que jurou que podia ver o interior de seu crânio. Não era possível que aquele homem fosse tão ordinário daquela forma...
— Pois é. Moramos muito longe daqui.
Argumentou ela, enquanto acompanhava os passos de Megan —, conforme mostrava os mostruários.
— Depois do que houve com a sua mãe achei que nunca mais fosse te ver. — as palavras dela acertaram Mavis de uma vez — Sabe, como é. O caso está até hoje sem solução, muita gente achou que foi um incêndio culposo. Ainda mais quando não te encontraram.
Foi a primeira vez que o Winchester parou de comer para prestar atenção totalmente naquilo. Viu a forma como os músculos de Mavis se tornaram rígidos, o jeito que esfregou as mãos no short na tentativa de tirar o suor. Seus olhos se tornaram sem foco e lhe faltou palavras.
Dean ficou completamente incomodado.
— Oh, Megan. — sua voz soou cheia de sarcasmo.
A loira se virou para ele esperançosa, como se aguardasse algumas boas palavras para alimentar sua auto estima. Como se quisesse roubar outro homem de Mavis, para suprir sei lá o que ela estivesse sentindo.
O sorriso amarelo ganhou os lábios de Dean. As pequenas rugas se formavam ao redor de seus olhos, conforme ele sustentava o sorriso. Deu um passo para perto da loira, sendo observado por Mavis de longe.
— Se supor mais uma vez, que minha noiva teve algo haver com o incêndio daquele dia. Vou ter que tomar algumas devidas atitudes. — foi seco e ríspido — Acha que o pessoal ia gostar de saber o que o prefeito anda escondendo?
Os olhos da loira se arregalaram ao ouvir o que Dean dissera. E da posição que Mavis estava não foi o bastante para ouvi-los.
— Vamos.
Dean puxou a mais nova pelo pulso, andando por meio da multidão. Mavis não tinha força o suficiente para conseguir se livrar das mãos do loiro e aquilo começou a incomodar de uma maneira absurda. Como se tudo girasse à sua volta, como se apenas ele importasse.
— Dá para parar. — puxou o próprio pulso em um solavanco, conseguindo se soltar.
O Winchester olhou para trás, finalmente tendo os olhos da mais nova sobre si.
— O quê? — perguntou grosso, impaciente.
— Para de ficar chamando atenção para você. Para de ficar sendo o centro de tudo.
Mavis cuspiu as palavras, demonstrando o quanto estava chateada.
— Foi você que disse que eu era seu namorado. — refutou Dean, gesticulando.
Algumas pessoas que passavam por eles, observavam a cena.
— Porquê eu achei que fosse Sam que estava atrás de mim. E não você. — foi sincera.
Sua respiração estava entre cortada. Os olhos furiosos, transbordando algo que o Winchester não era capaz de descobrir.
Dean soltou uma risada sarcástica, cruzando os braços.
— Ah, sim. — ironizou — Aposto que realmente gostaria que ele estivesse atrás de você.
No segundo seguinte, Mavis levou a mão direita no rosto do Winchester. O estalo do tapa fez com que quase todas as pessoas que estavam à volta de ambos, ouvissem. O barulho ecoou pelas taças de vinho, os pratos feitos e os arranjos de flores.
Dean não acreditou no que havia acontecido. Apenas quando sentiu a ardência tomar conta de sua bochecha esquerda, que percebeu que tinha tomado um tapão da garota que tinha mais de vinte centímetros a menos que você. Ela saiu pisando firmemente para fora da convenção, deixando o loiro plantado com a mão na bochecha.
☄️
Dean não foi atrás dela. Pelo contrário, engoliu a raiva que dançava por suas veias e resolveu ir atrás do irmão na ala privativa. A maioria dos convidados estavam recepcionados no andar de baixo, onde ficava o mostruário e as outras coisas importantes da cidade.
— Ei.
Saldou, ao ver o irmão. Sammy estava enfiando alguma coisa dentro da mochila, todo apressado e sem jeito. Os fios de cabelos desgrenhados. Ele estava apreensivo.
— Cara. — levou a mão até o peito, em um susto — Cadê a Mavis?
O loiro revirou os olhos, balbuciando baixo.
— No jardim, provavelmente...
O barulho de passos soou no pé da escada. Como Sam estava próximo a porta da direita, entrou nela e Dean entrou na segunda esquerda. Se fossem pegos o disfarce acabaria na hora.
Com o corpo encostado na porta, ele conseguia ouvir os passos de alguém do outro lado. Se xingou mentalmente por ter subido ali. Dean colou as costas na porta, ficando de frente para o quarto. Foi então que ele notou as pinturas na parede. A maioria estava queimada, porém, algumas davam para ver os indícios de algo. Ele se aproximou, saindo da porta.
Demorou um pouco para entender que aquela eram as pinturas encontradas na residência onde Mavis morava. Bem no pé do desenho dava para ver a inicial de seu nome... Todas da mesma forma. Só que uma pintura em específico chamou sua atenção, a forma do rosto do garoto o lembrava de Jack.
Dean anotou mentalmente que ela gostava de pinturas, antes de ver que o caminho para sair do quarto estava livre.
{...}
Quando Mavis viu a figura dos dois irmãos atravessando o gramado para chegar ao seu alcance, não conseguiu evitar o sorriso voluntário que cresceu em seus lábios.
— Conseguiu? — indagou de imediato a Sam.
Ele balançou a cabeça em concordância, olhando por cima dos ombros apreensivo.
— Temos que ir. — Dean soou firme.
Seus olhos bateram por apenas dois segundos sobre o da mais nova, desviando ao lembrar da ardência em seu rosto a poucos minutos atrás.
— Sobre isso... — Mavis se levantou do chão, ainda permanecendo embaixo da sombra — Acho que tem alguma coisa rolando na cidade.
Os olhos de Sammy novamente olharam ao seu redor, antes de balançar a cabeça em concordância.
— Ok. Vamos falar disso em outro lugar.
Em menos de cinco minutos os três já estavam novamente dentro do carro, dessa vez Dean e Mavis evitando o contato visual. O clima entre eles estava uma merda desde a pequena discussão que tiveram a pouco.
Por outro lado, apesar de Sam conseguir sentir o quão incomodado ambos estavam pela presença um do outro —, ele ignorou, pois tinham coisas mais importantes para se focar.
Enquanto Dean arrancava o Impala pelas ruas pouco movimentadas de Salém, Sammy estava com o notebook aberto sobre o colo, bem no site sugerido por Mavis.
— Aqui diz que doze crianças foram feridas por conta de um desafio na internet. — moveu os olhos para a morena no banco traseiro — Mas especificamente, cortadas.
— Tipo, baleia azul? — perguntou Dean, mantendo os olhos na estrada.
Mavis apoiou o corpo sobre o banco da frente, ficando entre os irmãos —, na tentativa de ler o que estava escrito na tela do notebook.
— Três mortos. — falou em voz alta — Grimcutty.
Dean soltou o ar pelos pulmões, rindo do nome bobo.
— Os pais estão tirando os aparelhos eletrônicos dos filhos, com medo de que eles cometam suicídio também.
Mavis franziu o cenho, parando para pensar sobre.
— Porquê apenas três mortos? — pensou alto — Não faz muito sentido.
— Espírito vingativo?
O loiro sugeriu, virando a cabeça, meramente para a garota no banco traseiro.
— Espíritos vingativos normalmente matam todas suas vítimas. Porque poupar doze crianças? — Sam negou a sugestão, balançando a cabeça em negação.
— Não acha que seria uma boa falar com os pais das vítimas? — perguntou Mavis, se virando para o moreno.
Sem tirar os olhos do notebook, Sam concordou em um balanço de cabeça. Ficando mais imerso nas abas abertas em seu notebook, cada uma com um acontecimento diferente.
☄️
— O lance é o seguinte: — Dean parou a frente da garota, gesticulando — os pais não querem falar com a gente.
Os Winchesters estavam usando ternos pretos e caros. Tentando se passar por psicólogos infantis. Pelo visto o pessoal de Salém não era nenhum pouco receptivo, Dean pensou que talvez fosse por isso que Mavis era do jeito que era.
— E como vamos saber direito? — resmungou a mais nova, fechando a cara.
Antes que o loiro pudesse responder, Sam saiu de dentro do hospital com algumas pastas em mãos.
— A profundidade dos ferimentos são iguais. — apoiou a primeira pasta sobre o capô do carro — Todos feitos por faca.
— As três mortes foram por corte na traquéia.
Silibou Dean, fazendo o sinalzinho com o dedo no próprio pescoço. Quando percebeu que nenhum dos outros dois riram de sua piada, ficou sem graça —, pegando uma das pastas.
— Como está a relação deles com as crianças machucadas? — perguntou Mavis.
— Como eu disse antes, — Sam começou a explicar — tiraram os eletrônicos. As crianças, adolescentes estão todos isolados.
— Bom. — entoou o loiro, em seu tom de voz de sempre — Na minha época, se tirasse meu walkman eu ia ficar p da vida.
Mavis franziu as sobrancelhas, se virando para ele.
— E já tinha na época dos dinossauros?
A expressão no rosto do Winchester fora impagável. Não estava esperando um insulto daquele por Mavis, então não conseguiu disfarçar a própria feição.
Sammy que não estava prestando atenção em nenhum dos dois, reuniu as pastas que estavam espalhadas sobre o capô e entrou no banco do passageiro. Sendo acompanhado logo em seguida pelos outros, porém antes de enfiar a chave na ignição Dean soltou.
— Temos que passar na farmácia antes.
A garota que se acomodava no banco traseiro não entendeu. As sobrancelhas de Sam se juntaram, olhando para o irmão confuso. Então, o loiro prosseguiu.
— As fraldas da Mavis acabaram.
Seu próprio riso preencheu o ambiente do Impala. Suas bochechas se tornaram vermelhas e as rugas voltaram a se estampar ao redor de seus olhos. O rosto do moreno ao seu lado estava estampando em interrogações, enquanto a mais nova atrás estava perplexa com uma piada tão ruim.
— Ha-ha. — fingiu uma risada — Se esqueceu que os velhos usam fralda também, otário?
Dessa vez sim Sam gargalhou alto por conta da expressão no rosto do irmão.
— Não quero papo com vocês. — resmungou Dean, enfiando a chave na ignição.
{...}
O clima entre os três estava agradável. Era como se um complô entre Sam e Mavis tivesse se formado para irritar o dia do Winchester mais velho.
— Nas lendas locais diz que Grimcutty se posa nas raivas pessoais. — comentou a garota.
Estavam descansando na beira da praia. O tempo estava nublado, a areia fria, o mar estava turbulento. Ondas e mais ondas quebrando na orla.
Mavis estava com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo, usando um moletom surrado do AC/DC que Dean tinha jogado em seus braços. Perto da praia sempre fazia mais frio do que o normal, ela tinha se esquecido disso. Ao lado dela estava Sammy, com sua roupa casual de sempre em tons claros e flanelados —, o notebook ainda estava aberto sobre seu colo e diversas abas de pesquisas por ali.
— Não tem uma data específica de quando esse rumor começou.
A respiração ofegante de Dean entrou no campo de visão dos outros dois. Vinha balançando as mãos, buscando por uma lufada de ar.
— E se for como uma crença? — perguntou sem fôlego.
— Teríamos que descobrir a fonte. Quem inventou. — balbuciou Sam, erguendo os olhos para o irmão — Cara, por que você tá suando?
Dean balançou a cabeça em negação, deixando um riso baixo escapar.
— Eu odeio o mar.
A mais nova puxou o moletom até o nariz, se arrepiando quando uma brisa de ar acertou seu corpo.
— O que o mar te fez? — indagou Sammy, fechando o notebook.
— Foi onde a vaca da Rose deixou o Jack pra morrer.
Uma piada sobre ser um filme tão antigo atingiu a consciência de Mavis. Porém, ela se esforçou a não dizer aquilo. Já tinha tirado sarro demais dele por um dia, pelo menos era o que estava tentando se convencer —, para que não fosse preciso lembrar da sensação que ele lhe causou quando estavam dançando.
Depois de muita pesquisa, Sam Winchester encontrou a fonte daquele caso. Mas, pelo o que tudo indicava, Grimcutty era o fantasma de Henry Patrick o fundador de Salém.
— Isso não faz o menor sentido, esse povo inventa cada coisa. — murmurou Mavis, observando os irmãos ao longe.
Estava escurecendo, a cova do fundador era daquelas mais caras e cobertas possíveis. Levariam horas e horas para desenterrar, por isso trataram de começar já.
— É a primeira vez que presencia a violação de um túmulo? — perguntou Dean, quando a mais nova se aproximou deles.
— Ha-ha.
— Mavis, pega o sal na mala do carro por favor. — pediu Sam, fazendo olhinhos de cachorro.
A menina voltou para o carro, vasculhando até encontrar o que o moreno tinha pedido. Quando voltou para perto do túmulo antes de entregar o sal para o Winchester, seu corpo foi arremessado para trás em um solavanco.
Se não fosse pelo gramado do cemitério, Mavis teria perdido a consciência ao bater com a cabeça no concreto. Mas, isso foi o bastante para a deixar machucada.
— Merda.
Conseguia ouvir os praguejou dos irmãos, já tentativa de cavar o túmulo mais rápido. Ainda faltava uma boa parte. Dean deslizou pelo chão pegando seu rifle com balas de sal, atirando contra o fantasma de Grimcutty.
Mavis se forçou a abrir os olhos novamente, enxergando pela primeira vez uma aparição sobrenatural. Ele era enorme, seu corpo totalmente desproporcional para sua cabeça enorme. As mãos eram extensas como garras, a pele escura como o frio da noite. Os olhos eram tão redondos e vermelhos, que pareciam ter saído de um Cartoon infantil. Mas o sorriso... Ah, o sorriso foi o quê fez o estômago da garota se embrulhar.
Era enorme. Maldoso e feio.
Quando ele se virou na direção de Mavis, após ter sido atingido pelo loiro. Ela sentiu que não saberia agir em uma situação como aquela e que não tinha nada haver com aquilo de caçada.
— Ei. Filho da puta. — ouviu a voz de Sam chamar o fantasma.
Mas, ela não conseguia se mover. Era como estar petrificada no mesmo lugar, a primeira vez que um sentimento daquele acertava seu corpo. Completamente diferente de quando sua casa pegou fogo e sua mãe morreu, o único sentimento que tinha era de correr e fugir. Agora aquela sensação era diferente.
— Salga a porra do cadáver, Sammy!!!!!!
Berrou Dean ao irmão, enquanto sofria ataques pelo Grimcutty. Seu corpo era arremessado para todos os lados do cemitério, recebendo mais pancadas do que imaginaria. Sua cabeça girava, porém ele se levantava na mesma velocidade que caia.
Foi quando duas mãos agarraram os ombros de Mavis. Ela tomou um susto tão grande que imaginou que morreria nesse exato momento, se preparou para gritar mas os pares de olhos conhecidos perfeitamente azulados —, entraram em seu campo de visão.
— Jack.
Se jogou nos braços do mais novo, inalando todo o perfume de sua jaqueta. O Nefilim a abraçou de volta, completamente grato por nada ter acontecido com ela.
— Como você... Como... — Mavis deixou a frase morrer, ao afastar o rosto e levar as mãos até o rosto dele.
Jack sorriu.
— Consigo te sentir, lembra.
Mavis nunca ficou tão feliz em ver alguém, como tinha ficado naquele momento. Foi ajudada a ser posta de pé, observando a maneira que o corpo de Dean continuava sendo arremessado pelo fantasma. Era um milagre ele ainda estar consciente.
O Nefilim levantou a mão direita, parando a aparição no ar. Os fechos de luz amarelados em tons como laranja, escapavam por seus dedos. Sam conseguiu finalmente sentir o ar entrando em seus pulmões, se esgueirando pelo chão para pegar o esqueiro.
A garota viu a cena com êxito.
Sam acendeu o esqueiro e jogou nos ossos já salgados de Henry Patrick. No segundo seguinte, o fantasma que Jack estava segurando com seu poder, pegou fogo como uma árvore cheia de bichos.
— Mandou bem garoto.
Dean agradeceu, se levantando do chão fraco. Havia cortes em sua sobrancelha direita, corte sobre o lábio inferior, um roxo em sua bochecha esquerda e ele jurou que seu dedo indicador poderia estar quebrado. Cambaleou até o irmão, ajudando Sam a se levantar.
— Jack. — Mavis o chamou, o abraçando novamente — Você está bem?
Porém, a feição no rosto do Nefilim era diferente. Não tinha mais um sorriso ali como antes, ele parecia confuso, fraco e com medo.
— Eu preciso... Eu preciso ir.
Quebrou o abraço, evitando os olhos de Mavis.
— Jack. — Sam deu um passo em sua direção, pronto para abraçar o garoto também.
Porém, no exato segundo seguinte ele desapareceu. Os três se olharam confusos e olharam a sua volta, a procura do menino. Mas, a dor física começou a se instalar pelo peito de Mavis — quando sentiu que a conexão com Jack havia sido quebrada.
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