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Prólogo 🦋

"Amanhã não é uma promessa, mas uma chance que você tem pra começar uma reação em cadeia."

- Uma vida com propósito

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Eu dedico este livro a quem busca pelo diferencial de uma vida. Dedico também a todos aqueles que algum dia já foram feridos sentimentalmente, psicologicamente, verbalmente ou fisicamente. Dedico este livro a todos os que algum dia se sentiram abandonados por quem amaram e choraram silenciosamente sem que ninguém soubesse de uma lágrima sequer. Dedico a quem já se sentiu sozinho e precisou de uma companhia pra compartilhar uma boa conversa, precisou ser ouvido e compreendido. Dedico a você que talvez tenha perdido a sua fé em Deus e deseja retornar ao Senhor de todo o seu coração e só não sabe como. Dedico a você a quem só quis sumir mundo a fora pra pensar na vida e nunca mais voltar a viver o velho eu. Este livro é pra você. Este livro é pra nós. Este livro é pra todos.

Com amor, Maryana.

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Em Portland, Maine, o verão é agradável; o inverno é gélido e de ventos fortes. Durante o ano inteiro, o tempo é de céu parcialmente encoberto de nuvens cinzas e aparentemente tristes. Não havia muito a se fazer naquela cidade pacata e eu já não esperava nenhum acontecimento importante naquele lugar onde grupos eram formados de acordo com suas características e eu aparentemente não me encaixava em nenhum. Eu gostava de olhar as margaridas da senhorita Brooke, tomar chá com o senhor George e comentar sobre o clima com o senhor Benson, claro, não poderia esquecer do sorriso puro de Maggie na janela do seu quarto.

Apertei os olhos antes de me levantar vagarosamente. Meus planos foram à falência mais uma vez quando percebi que não obtive sucesso em meus resultados, os remédios não fizeram o efeito esperado que eu gostaria que tivessem feito e acabaram me fazendo dormir pela milésima vez. Os braços obviamente doloridos pelos cortes da noite anterior ardiam e ainda sangravam lentamente, mas alguns deles feitos na semana passada estavam começando a cicatrizar. Procurei desesperadamente as lâminas de apoio em meio aos lençóis para não ser pega no flagra e ao achar, o suspiro em meio ao nervoso é imediato. Mas, para outros momentos como este, resolvi guardá-la numa meia no canto da gaveta.

O espelho conspirava contra mim. Talvez fossem os cacos de vidro quebrados que mostravam várias partes de mim numa visão deformada me dando a real visão de quem eu era. Os olhos cansados, a pele um tanto pálida e os lábios ressecados eram minhas características naturais e não havia tanto a se mudar em mim. Os olhos eram da minha mãe e o nariz era do meu pai, assim como o sorriso e toda a personalidade boa que eu adquiri com ele enquanto ainda podia acordar todos os dias com o seu chocolate quente e suas histórias intrigantes e diferentes que só ele sabia contar. Sua última história contada foi sobre a gata borralheira que virou princesa no final e que é tão conhecida como Cinderela, a moça da carruagem de abóbora, sapatinhos de cristal e mágica de meia noite.

Fui surpreendida com Rissa batendo na porta desesperadamente reclamando e fazendo protesto contra a minha tardia em fazer o café para a vossa gentileza. Elas gostavam de café, torrada com geleias de morango, cereais com leite e suco de laranja. Ella estava bufando ao saber que faltavam apenas 20 minutos para Brandon Scott passar na porta da sua casa para a carona dos sonhos com a Mercedez vermelha. Me apressei rapidamente para lavar o rosto e descer as escadas, estava cambaleando de sono quase me debruçando sobre a escada. Ao chegar na cozinha, o bilhete com os afazeres já me era esperado, minha madrasta não perdia tempo quando se tratava de colocar toda a limpeza da casa sob minha responsabilidade. O bilhete era claro e específico, grande o suficiente para fazer com que eu não tivesse uma vida normal, afinal, era esse o seu objetivo de vida quanto a mim.

- Ah, você já encontrou. Mas antes que eu possa sair, devo lembrar-lhe mais uma vez que a lavanderia estará abertas às duas horas da tarde, tem a lista de compras que fará no supermercado, deve aspirar a casa, tirar as cortinas para deixar que o sol entre nessa casa abafada, lavar os banheiros, espanar cada canto para tirar as teias de aranhas e deixar uma refeição pronta à noite. Consegue fazer isso ? Eu sei que consegue - Ela pisca dando um sorriso com ar de malícia.

- O que foi que eu não consegui até agora, não é mesmo ? - Dou um sorriso desconfortável.

- Ótimo - Disse com desdém.

Helena Maldonado era CEO de uma das melhores e maiores empresas de negócios em Portland, um tanto gananciosa fazendo seus desvios de dinheiro e pisando em cima de quem descordar de suas opiniões. Mãe de Rissa e Ella Maldonado, as quais adoravam me importunar e me desprezar em qualquer hora e qualquer lugar seja qual for a situação. Helena casou com meu pai ao descobrir que ele tinha planos e investimentos o suficientes para arcar com suas despesas e desejos de uma mulher gananciosa, o que não demorou tanto assim quando meu pai sofreu um acidente de carro em sua última viagem de negócios para Nova York. O testamento dele e todas as cartas que estavam em sua pasta de negócios, foram queimadas no incêndio do acidente e com isso, Helena herdou a empresa, a casa, os carros, os bens e todos os direitos ao dizer que eu era apenas uma filha adotada. Meu pai não tinha contato com sua família, tendo em vista que os irmãos mais velhos também tiveram seu próprio negócio e o objetivo de cada um era pura luxúria. Em troca de comida, casa, estudos e mantimentos de sobrevivência, escolhi conviver com Helena e suas filhas, embora eu soubesse que tudo aquilo era meu e algum dia teria a chance de conquistar.

Após ter feito o que esperavam que eu fizesse para um bom café da manhã, faltavam apenas 20 minutos para que eu estivesse pronta e dentro do ônibus em direção à escola. Correr todos os dias já havia se tornado a minha especialidade devido aos atrasos constantes e o motorista não entenderia minhas súplicas. Naquela manhã não fazia ideia do que iria vestir, mas a blusa de mangas compridas com certeza seria incluída na minha lista de moda, assim como uma calça jeans larga e um tênis um tanto usado. Estava prestes a correr mais uma vez atrás do ônibus escolar, mas para a minha surpresa e alívio, o senhor Joe fez a gentileza de parar e abrir a porta.

- O senhor não vai se arrepender por isso, trouxe suas batatas favoritas - Pisquei ofegante.

- Podemos fazer uma troca justa assim todos os dias, cubro os seus atrasos pelas batatas - Ele gargalha.

- Está feito - Apertamos as mãos e sorrimos.

O ônibus escolar não era tão diferente do que costumamos ver nos filmes adolescentes, cada um sentava com a pessoa com quem mais se identificava. Os góticos conversavam sobre rock, as meninas que usavam rosa comentavam sobre maquiagem e os últimos lançamentos de moda da revista. Os ambientalistas falavam a respeito de reciclagem, a dupla de ciências criavam seus projetos mirabolantes para a próxima feira de Astronomia, os rappers tinham seus rádios e Lilly tinha a sua Bíblia e mesmo que fosse reconhecida como uma pessoa religiosa, as pessoas a admiravam por sua boa conversa, sua beleza, doçura e inteligência.

Lilly Mendonça era a louca por tudo o que se remetia a Jesus e andava com a bíblia na bolsa por onde ía em caso de poder usá-la em momentos especiais. Costumava falar dos milagres que tinham acontecido em sua vida e convidava a todos para sua igreja local. Filha de pastor e participante do coral da igreja, Lilly era espontânea e não se importava com os comentários a seu respeito quanto à sua fé. Sempre estava viajando em missões e fazendo doações aos necessitados quando podia, assim como saía oferecendo orações a todos que pareciam desolados aos seus olhos. Ela me olha e acena eufórica apontando para o lugar que havia guardado para mim ao seu lado.

- Eu estava torcendo para que você pudesse pegar o ônibus hoje sem atrasos - Ela suspira.

- Ah, então foi você ? Já era de se esperar - Sorri.

- Trouxe capuccino pra você e biscoitos de chocolate, minha mãe quem fez e mandou eu entregar - Ela entrega uma caixa em minhas mãos.

- Obrigada, mas não precisava de tanto - Suspiro - Acabei não tenho tempo nem para pensar no que eu gostaria de comer esta manhã. Talvez uma pizza, um hambúrguer, um copo de leite quente e salgadinhos de presunto amanteigados.

- Nem acredito que vamos nos formar esse ano. Já sabe em que universidade você vai se inscrever ? Estive tentando para medicina em Harvard, mas ainda estou um tanto em dúvida - Ela cruza os braços pensativa.

- Ainda não sei o que eu deveria escolher, talvez eu não escolha nada. Não me sinto vivendo como uma Universitária no meio de tanta gente diferente de mim, numa vida cheia de livros, noites em claro, chorar por provas e festas acadêmicas, garotos irritantes pedindo o seu número e formaturas sem família alguma para me assistir conquistar uma profissão que irei trabalhar duro para pagar impostos caros e virar uma velha chata que só lê jornal e toma chá. Não consigo enxergar algo além de tudo isso - Olho para a janela.

- Marina, pense que você foi designada para algo extraordinário. Quem sabe você escreva um livro sobre sua Biografia e fique famosa por toda a Inglaterra ou talvez você seja uma grande bióloga especialista em baleias do Atlântico ou Margaridas. Já pensou em ser uma administradora e ganhar a vida como uma CEO da própria empresa ? Você tem tantas possibilidades e deveria lutar por cada uma delas - Lilly segura minhas mãos fortemente tentando me motivar.

- Eu poderia estar disposta a tentar se eu tivesse ao menos uma gota de esperança, Lilly. Há um esteriótipo mundial onde jovens crescem, estudam, trabalham, se casam e viram pais e acompanham o crescimento dos seus filhos, envelhecem e morrem. Se eu tivesse de viver por algo maior, tenho certeza de que seria algo que nunca ninguém sequer imaginou ou pensou em viver. Não tenho família e muito menos uma boa característica social, essas coisas não funcionam pra mim - Mais uma palavra e eu iria chorar. Nunca gostei de chorar na frente das pessoas e mostrar o meu lado mais sensível.

- Eu entendo você - Uma lágrima rolou por suas bochechas coradas.

- Eu duvido que me entenda - Desdenhei

- Um dia eu te conto, eu prometo. Mas que tal fazermos uma troca justa ? - Ela sorri.

- Assim tão aleatório ?

- Sim. Jura juradinho ? - Ela levanta o dedo mindinho.

- Não me faça fazer isso, é tão clichê - revirei os olhos, mas resolvi ceder.

- Minha proposta é suas lâminas de apoio em troca de um livro, por uma semana.

- Não posso fazer isso - Fechei a cara - Você sabe que eu preciso delas.

- E se eu te devolver depois que nosso contrato acabar ? - Pisca

- Posso pensar no seu caso, mas é bom que seja um livro interessante. Qual o assunto ? Aventura ? Ficção científica ? Alienígenas ? Criaturas mágicas ? Romance ? Este último por favor, não - Bufei - Odeio Romances

- Na verdade, eu comprei um pra você. Este é seu, mas abra apenas quando chegar em casa. Não precisa me devolver e espero que faça bom proveito dele, estarei orando por isso. Aliás, o livro é baseado em fatos reais e você vai adorar as histórias contidas nele - Ela fica eufórica ao me entregar o presente.

Por último, entreguei as lâminas de apoio nas mãos de Lilly e me assegurei que elas estivessem novamente em minhas mãos quando acabasse o nosso contrato. O ônibus parou e tive de me certificar se alguém teria ouvido a minha conversa e meus desabafos. Lilly teria ido cumprimentar outras colegas que faziam parte de sua igreja local e nos despedimos com o nosso toque e aperto de mãos.
Caminhava rapidamente pelos corredores esticando as mangas da minha blusa marrom sem que houvesse perigo de parecer qualquer vestígio de meus machucados, sentindo alguns olhares de desconforto e incômodo vindos em minha direção. Não era tão boa em cumprimentar as pessoas como a Lilly, então todos costumavam me ignorar em seus grupos formados por pessoas de seu interesse próprio.

- Atrasada novamente, senhorita Willow - O senhor Dickerson cruzou os braços.

- Hoje eu consegui chegar mais cedo que ontem - franzi o cenho - Tenho permissão para entrar ?

- Já para a diretoria - Ele aponta o dedo para fora de sala e respiro fundo.

Não tive escolha. Meus dias eram ser repreendida por minha madrasta de uma personalidade caótica, todos os professora do primeiro tempo e pela diretora Rogers. A porta como sempre ficava entreaberta, já que a patroa geral sabia que algumas ocorrências aconteciam com frequência relacionadas aos atrasos de alunos, brigas e questões mais extremas.

- Novamente, Willow ? - O capitão do time de basquete e seus seguidores de cochicho até que eu entre na diretoria.

- Ora ora ora, disse quem faz da diretoria a sua segunda casa, não é mesmo, Dave ? Ao menos o meu atraso é uma justificativa viável. Qual o seu ? Briga ou uma tentativa de assédio contra alguma líder de torcida ? Joguei minha bolsa no chão e assentei à cadeira.

- Marina, não sei mais o que fazer com você. Só ouço reclamações de atraso e desrespeito aos professores - Ela pausa por interrupção.

- Com licença, falo com a diretora Rogers ? - A voz era masculina.

- Sim, claro - Por um momento ela se transformou em uma fada.

- Fui transferido e gostaria muito de informações.

- Por incrível que pareça, soube do seu caso de transferência e vou pedir que acompanhe essa moça que é da sua nova sala. Por favor, Willow, acompanhe o jovem até à sua sala e você está dispensada - Ela olha para mim como uma expressão de misericórdia, perdão e " não me apronte mais " - Conversaremos em outro momento - Ela me entrega papéis para assinatura de suspensão - Enquanto a você, Felipe, tenha um bom dia e espero que goste da High Way.

Levanto sem pensar duas vezes ainda com o presente de Lilly em mãos. O garoto fez questão de me seguir e isso me incomodava, mas coloquei meus fones no máximo para que ele não tivesse nenhuma chance de me perguntar nada sobre aquela escola. Mas tudo foi em vão a partir do momento em que ele começou a cutucar o meu braço e aquilo já estava começando a me deixar extremamente irritada, então decidi tirar os fones de ouvido e olhar pra ele tão seriamente para que soubesse que eu não estava nada feliz.

- Ouvir tão alto assim pode prejudicar sua audição, sabia disso ? Você possui uma membrana timpânica e ela é sensível a altos decibéis. Se você não parar de ouvir neste volume, você pode estourar seus ouvidos. Isso é comprovado cientificamente, minha mãe é Fonoaudióloga - Ele colocou a mão sobre meus ombros.

- Parabéns para a sua mãe e obrigada pela dica, mas não preciso dos seus ensinamentos anatômicos agora - Sorri com desprezo.

- Desculpe, eu só queria ajudar. Mas se algum dia precisar de um aparelho auditivo quando estiver surda, pode falar comigo - Ele dá tapinhas leves na minha costa e inclina a cabeça como se estivesse ganhando no argumento. Reviro os olhos e sigo adiante.

A aula era de história e era a única disciplina que eu conseguia me interessar mesmo não gostando tanto do senhor Dickerson que me mandava ir pra diretoria todos os dias, mas neste dia eu me encontrava dispersa e com os pensamentos longe. Faria aniversário daqui há duas semanas e tudo o que eu havia planejado até então tinha que dar certo, a minha morte. Planejar o próprio suicídio no dia em que ganhei vida, eu chamaria de aventura e adrenalina. Fiz rabiscos e anotações em meu caderno de ideias que surgiam em minha cabeça quanto aos meus planos e não sabia qual deveria escolher. Em meio a tantos pensamentos, esqueci que meu sono estava acumulado e dormi nos livros sem ouvir o sino tocar.

- Uma corda ? Pular na frente de um carro ? Se jogar da ponte... - Meus ouvidos foram atraídos pelo desespero, me despertando do sono e fazendo com que eu tomasse de forma brutal os papéis das mãos de Felipe.

- Como você ousa tocar em minhas coisas ? - Falei irritada.

- Na verdade, eu protegi você. Minutos depois de você ter caído em cima dos seus rabiscos, o professor veio saber qual era o motivo de sua concentração enquanto estava acordada. Antes mesmo que ele pudesse achar todo o seu plano arquitetado para o próprio suicídio, eu coloquei seus papéis debaixo dos meus livros e troquei nossos rabiscos - Ele parecia irritado tanto quanto eu - Você tem noção do que estava escrevendo ? Tem noção das marcas que guarda debaixo da blusa ? Tem noção do que está prestes a fazer ? - Sua voz ficava trêmula - Olha, eu perdi minha mãe para as pílulas e sei como é enfrentar um luto. Você não pensa na dor das pessoas ?

- Eu não pedi sua ajuda, muito menos os seus sermões. Se você acha que pode opinar nas minhas decisões está muito errado - Minha respiração estava ofegante como se estivesse corrido uma maratona.

- Eu não vou deixar você fazer isso, ou não me chamo Felipe Mirello. Eu não quero que goste de mim, você não precisa fazer isso, aliás, sou um estranho pra você. Mas, se eu algum dia não consegui salvar a minha mãe, eu não posso perder a oportunidade de ajudar a salvar outras pessoas para redimir a minha pena - Ele aperta os meus pulsos com firmeza - Eu vou te arranjar um emprego e você terá que frequentar lugares comigo - Franzi o cenho.

- O que ? - Arregalo meus olhos - Eu não...

- Posso te pegar todos os dias em casa para que não se atrase para o colégio e te ajudar em história já que perdeu muitos conteúdos. O que gosta de comer ? Posso te levar a alguns restaurantes pra jantar.

- Eu não estou interessada - puxei meu braço para trás e seu corpo veio em direção ao meu.

- Vamos ver se não está realmente interessada, Senhorita Willow, morrer não é a sua opção, eu sei disso. Então não adianta planejar, eu vou fazer você desistir em uma semana - Ele pisca.

- Mais uma troca justa em uma semana ? Quem você pensa que eu sou ? Acha que não tenho personalidade própria pra escolher o que eu quero ? Eu não preciso de você e não preciso que suas escolhas estejam baseadas na minha vida.

- Eu fiz uma promessa para a minha mãe, Willow e eu vou cumprir - Felipe se retira da sala.

Respiro fundo para processar tudo aquilo que me estava acontecendo logo pela manhã, mas minha cabeça não estava me concentrando em algo só. A casa para manter tudo no seu devido lugar, o presente da Lilly para abrir, o Felipe me pressionando e todo o desespero de ter meus planos descobertos. Alguns têm motivos para não desistirem de suas vidas, mas eu não tinha algum legado ou um motivo forte que me motivasse a continuar a ter esperanças. Um filme passava pela minha cabeça e com certeza não seria um filme de comédia romântica, mas sim de drama e suspense. Os anos se passavam cada vez mais lentamente, me matando por dentro. E eu só queria que tudo voltasse aos meus 5 anos de idade.

Por um momento minhas memórias se voltam para um Dezembro Natalino, onde minha mãe dava o ar de sua graça com sua voz e seus dotes culinários. Minha mãe havia sido diagnosticada com câncer já num estado avançado e foi preciso ser forte o suficiente para aceitar que seu destino seria ter que enfrentar uma doença e ao mesmo tempo pensar numa luta contra a morte. Meus pais se amavam intensamente e era perceptível a cada olhar e a cada toque, gestos e sentimentos. O objetivo era de passar amor de geração a geração e construir uma forte base familiar que pudesse deixar um legado que impactasse pessoas que conhecesse nossa história.
Minha mãe era energética, risonha e criativa e meu pai por vez, um tanto calmo e reflexivo sobre a vida, assim como também um bom negociador inteligente.

- Que tal mais uma noite de histórias antes de dormir ? - Papai entrava com seus livros infantis nas mãos.

- Qual a história de hoje, papai ? - Me cobria com o cobertor.

- Que tal ouvirmos sobre a Cinderella hoje ? - Se senta ao meu lado e abre o livro.

- Quem é a Cinderella ? - Deitei em seu braço.

- Uma jovem muito bonita que morava com sua madrasta e suas duas irmãs postiças. Essa moça era uma gata borralheira de sua casa, lavava, passava e arrumava tudo. Mas um dia, o Rei fez um convite à todas as moças daquele Reino, sobre um baile que iria acontecer e o príncipe iria escolher a moça mais bonita dentre todas elas para dançar. Essa bela jovem foi impedida por sua madrasta de ir ao baile e ficou presa em casa chorando e chorando. Até que uma fada madrinha veio realizar os sonhos dela e fez uma abóbora se transformar numa carruagem mágica e lhe deu um vestido de princesa e sapatinhos de cristal. Cinderella foi para o baile e o príncipe a chamou para dançar, pois ela era a mais bonita de todas. Ela dançou e dançou com ele, mas a mágica acabaria à meia noite, então precisava correr. Ao correr, acabou deixando um sapatinho para trás, foi tudo o que o príncipe conseguiu guardar dela. A mágica acabou e ela retornou para a casa e para a sua vida. Mas o príncipe não conseguia tirar a moça bonita que dançou com ele no baile, então mandou que fossem todos procurar por essa princesa e o sapato que coubesse, seria a jovem escolhida. O sapatinho não coube em ninguém do Reino, até que chegou a vez de Cinderella experimentar e adivinha o que aconteceu ? Era o sapatinho dela. O príncipe levou ela para o castelo e eles se casaram. Cinderella virou uma grande princesa e viveram felizes para sempre.

- Papai, a fada madrinha existe ? - Olhei confusa.

- Não, meu amor. Fadas madrinhas não existem - Ele fez um cafuné em meu cabelo.

- Então, como meus sonhos podem se realizar ?

- Escute, Marina. Deus é o criador das estrelas, o criador das flores, o criador dos animais e de tudo o que existe no mundo. Sabem quem mais ele criou ?

- Quem, papai ?

- Eu e você. Deus é quem realiza todos os nossos sonhos e sabe de uma coisa ? Esses sonhos não duram só até à meia noite, esses sonhos duram uma vida inteira. Quando você chorar, peça para que Deus esteja com você em todos os momentos difíceis e Ele vai te dar uma saída. Nunca esqueça de orar e ser forte, você é uma princesa. Não precisa de um príncipe, de um castelo, de vestidos, carruagem ou até mesmo um sapatinho de cristal, você já é uma princesa, por ser filha de um Rei.

- Você é um Rei, papai ?

- Somos príncipes e princesas, Deus é o Rei.

- E Ele vai me dar um príncipe ? - Sorri.

- Espero que Ele te dê um príncipe somente quando você completar seus 40 anos de idade - Fez cócegas em minha barriga, me deu beijos de boa noite e desligou a luz.

Não consegui conter as lágrimas e abri o presente de Lilly ainda em sala de aula. Era uma bíblia cor de rosa. Já me era esperado tal presente e embora eu não gostasse de Rosa, eu poderia deixar na minha estante sem ao menos me importar em ler um milhão de páginas. Olhar para aquele livro me fez pensar em meu pai e em todas as suas histórias e lições de moral, eu poderia ter guardado no coração e ter feito jus, mas guardar no coração foi tudo o que consegui fazer, pois fazer jus era tão difícil quanto viver. A dor de uma perda, a dor de uma rejeição, a dor de uma humilhação é sangrenta e faz você se retrair num casulo insubstituível.

Cheguei em casa depois de um caminho turbulento em chuvas, mas consegui manter tudo em ordem como sempre ao som de músicas dos anos 60, 70 e 80. Mesmo que fossem tantos trabalhos a serem feitos, estar sozinha me fazia pensar em viver para aproveitar mais um pouco de minha companhia. Quando as dores não batiam na porta, eu dava lugar às oportunidades de dançar no chuveiro ao som de antiguidades, comer o que eu sentia vontade e ler alguns livros de investigação policial. A vida tinha alguns prazeres para mim, um tanto superficiais que não poderiam preencher minhas lacunas vazias.
Ao terminar todas as coisas, fui para onde mais gostava de estar... o meu quarto. Era um lugar simples e vintage. Os tons de azul, bege e verde musgo preenchiam o ambiente e algumas fotos dos meus pais pela estante eram meu significado de me suster por mais um dia. Deixei a bíblia em minha estante e assim que eu pudesse deixar ouço algo em minha janela. Pedras. Então percebo que era Felipe.

- Você pode por favor me explicar o que está fazendo na minha casa uma hora dessas ? Minha madrasta e as meninas podem te ouvir e me matar - Bufei - Aliás, como descobriu onde moro ? Você vai me pagar janelas novas se quebrar.

- Eu moro na casa da frente e eu estou aqui pra me certificar de que você não está realizando nenhum planejamento obscuro de tentar sumir do planeta - Ele sorri.

- Você é louco ! - Fechei a janela e continuava a jogar pedras.

- Felipe, você quer me deixar em paz ?

- Não !

- É a resposta que eu esperava. Além de estar na mesma escola, qual o motivo de se mudar para cá ?

- Meu pai é pastor de uma igreja local aqui perto e ele conseguiu a casa com um casal de amigos nossos - Sorriu.

- Muito interessante a sua história, mas agora pode ir embora. Não preciso de um guarda costas - Fechei a janela e mais pedras são jogadas.

- Será que eu vou ter que chamar a polícia, ou melhor, o seu pastor para te tirar daqui ?

- Precisa assistir um filme " Uma vida com propósito ".

- Eu não vou assistir nada. Eu gosto de investigação policial.

- Interessante, você é uma moça de bons gostos. Mas, vai por mim, é um ótimo filme.

- Você me paga quanto ?

- Gosta de comida Japonesa ?

- Odeio comida Japonesa.

- Gosta de Hambúrguer ?

- É uma boa, mas não sou tão fã assim.

- Chocolate ?

- Em dias específicos.

- Do que você gosta ?

- Pizza.

- Pizza ? Tá de brincadeira.

- Não posso gostar de pizza ?

- Trato feito ? - Ele estende as mãos.

- Vou pensar no seu caso.

- Pizza de graça não é um bom motivo para se pensar em aceitar um filme ?

- Isso é chantagem.

- Uma chantagem boa, não ?

- Discordo !

- Mulheres !

- Homens !

- Vai assistir ou não ?

- Odeio filmes.

- Odeia filmes ? Em que mundo você vive, garota ?

- Num mundo que não é problema seu.

- Você é infantil.

- E você um tanto persistente.

- Marina, eu te pago.

- Qual o intuito ?

- Tirar os pensamentos da sua cabeça.

- Você vai parar de tacar pedras na janela ?

- Por horas infinitas.

- Trato feito.

Por livre e espontânea pressão acabei assistindo o tal do filme recomendado, mas não consegui focar ao me surpreender que tenho um vizinho irritante como Felipe. O Filme relatava a história do Massacre de Columbine, tendo uma jovem cristã como personagem principal. Uma história intrigante de como viveu em prol de ser diferente. Mas, desliguei a tv ao perceber que estava sendo captada pelo roteiro e quase deixando algumas lágrimas escaparem e me odiando por ter aceitado uma aposta estúpida, me envolvendo com algo que aceitei sob pressão. Mas eu acabei me identificando em muitas partes do filme com a garota principal. Então me deitei e refleti sobre o que talvez poderia aprender com tudo aquilo. Meu pai se orgulharia disso.

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Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês , diz o senhor , planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano , planos de dar-lhes esperança e um futuro . Então vocês clamarão a mim , virão orar a mim , e eu os ouvirei . Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração . Eu me deixarei ser encontrado por vocês , declara o senhor , e os trarei de volta do cativeiro "

- Jeremias 29:11-14 .


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