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Capítulo - 2 🦋

" Se você buscar a verdade
poderá encontrar conforto no fim .
Se buscar conforto não o alcançará , e tampouco a verdade ,
mas apenas bajulações e ilusões no começo e desespero no fim . "

C. S . Lewis

Iniciava-se outra manhã , como sempre dolorosa , ou melhor , eu estava toda dolorosa . Os raios de sol novamente encomodavam meus olhos para me despertar para um novo dia de tormentos . Isso já havia virado rotina .

O dia anterior havia sido terrível , ouvir tudo e aguentar calada já se tornou minha especialidade . Eu sou escrava dos trabalhos domésticos da casa , Manuela reclama que suas roupas nunca são passadas corretamente e Larissa reclama que sua cama sempre fica desarrumada . Dona Helena insiste em dizer que por mais que eu lave roupas elas continuam sujas do mesmo jeito .

Ouço um som que vem da janela ao lado da minha cama . Como sempre a Lily entrava pela minha janela parecendo aquelas agentes secretas da CIA .

Marina - Na minha casa existe uma entrada chamada porta sabia disso ? - Digo franzindo o cenho .

Lily - A porta da sua casa não me interessa quando se é aberta por Helena maldonado. - Ela diz fazendo careta .

Marina - Nem me lembre disso .

Me cubro com o lençol pois ainda quero descansar aqueles famosos cinco minutos , mais Lily com sua persistência arranca o lençol de mim .

Marina - Deixa eu dormir mais por favor ! Só mais cinco minutinhos .

Choramingo .

Lily - Bom dia pra você também amiga . Mais é hora de levantar . Já são 6:58 da manhã e precisamos ir à um lugar chamado escola .

Marina- Aí tabom você venceu , eu levanto - reviro os olhos - Mas toma cuidado para a dona Helena não tirar você daqui a cabo de vassoura .

Lily - Acho que é melhor eu esperar lá embaixo mesmo .

Rimos .

Lily resolveu esperar fora de casa para previnir confusões com o cabo de vassora .

Resolvi tomar um banho o mais rápido possível para não me atrasar mais do que já estava .
Abro meu guarda-roupa e não vejo nada de novo para usar . Então uso novamente a minha calça jeans do ano anterior que já estava desgastada , uma blusa azul de mangas compridas para disfarçar os cortes em meus pulsos , meu all-star velho e meu óculos de fundos de garrafa que por um lado eu o amava. E logo em seguida desci à encontro de Lily .

Antes tive que deixar um bilhete para dona Helena avisando que já estava de saída para as aulas mais cedo com Lily .
Manuela e Larissa como sempre estudariam na mesma escola que eu , me recusaria a fazer companhia para elas , elas me odeiam , então começa por aí .

Ao descer a pequena escada que tinha na porta de casa , avistei Lily que estava sorrindo ao me ver quando sai . Quando olhou para mim , ou melhor , para a blusa de mangas compridas que eu estava usando seu semblante havia mudado totalmente . Ela de sorridente mudou seu estado para confusa , ela queria me questionar porque num dia tão quente alguém usaria um tipo de blusa como essas . Sua cara de espanto agonia meu ser e logo resolvo me impor antes de qualquer uma de suas palavras invadirem meus ouvidos .

Marina - Qual é Lily ? De novo não tá ? Não tô afim de falar sobre isso . Uso essas roupas porque quero é não ligo para os falatórios . Sabe que só tenho essas roupas e que ...

Lily me interrompe .

Lily - Não é isso Marina ! Você ... você ... - ela aponta para a blusa com mangas compridas e gagueja em suas palavras .

Sei muito bem em que assunto ela queria chegar , se eu havia me cortado no dia anterior e agora eu estava com meus braços as escondidas .
Ela sabia muito bem como qualquer outra pessoa que quando eu estava de blusas de mangas compridas algo tinha acontecido e ela se abatia ao me ver assim , ela dá sempre o melhor de si mesma para me ver livre desse tormento que me assola dia e noite , e quando ocorre o fato de eu cometer o erro de me alto mutilar , Lily diz que mais uma vez fracassou em me ajudar .

Sabia que ela orava por mim todas as noites , os joelhos marcados falavam por ela . Sentia muita pena dela , pois nada oque ela fazia me tirava desse caos . Seus convites para ir a igreja vinham sem cessar , mais negava todas as vezes . Acho que não estou preparada ainda para essa coisa de Deus , prefiro estar como estou . Não estou disponível a crenças religiosas no momento.

Eu vejo pequenas lágrimas saírem de seus olhos azuis . Já não aguentando ver ela naquele estado , resolvo protestar .

Marina- Me escuta Lily , sabe que eu fiz isso por motivos né ? Não me julga . Eu precisava . - Digo choramingando.

Ela anda em direção a mim e segura meu braço e tira a manga devagar para analisar meus pulsos e se assusta com tantos cortes e a profundidade que eles tinham . Ela pos a mão na boca e começou a chorar . Logo arrependida do que fiz olhos em seus olhos marejados e digo :

Marina- DESCULPA TÁ ?
EU FIZ ISSO PELO SIMPLES FATO DA MINHA VIDA SER UMA DROGA , VOCÊ MESMA SABE DISSO , VOCÊ É A PROVA DISSO .
E EU NÃO TINHA ALGUÉM ALI COMIGO E QUE ORASSE COMO VOCÊ SEMPRE FAZ , EU ESTAVA SOZINHA E SEM NINGUÉM . E MINHA VIDA ESTÁ INDO PARA O FUNDO DO POÇO SEM VISTA DE LUZ , NÃO SEI MAIS OQUE FAZER . - Digo libertando as lágrimas que estavam presas a mim como um nó doloroso em minha garganta . Aumentei o tom ao falar , estava exaltada .

Lily- SABE MUITO BEM QUE NÃO VOU TE CRITICAR MUITO MENOS TE JULGAR . AMO VOCÊ AMIGA COMO UMA IRMÃ QUE TENHO QUE CUIDAR E ESTAMOS JUNTAS NESSA CAMINHADA . E NÃO IMPORTA OQUE ACONTEÇA , VAMOS ATÉ O FIM E VOCÊ SERÁ LIVRE POIS CREIO EM JESUS .

Ela subiu o tom acima do meu .
Não me surpreendia , pois Lily tinha as palavras certas na hora certa .

Lily - Agora vamos lá garota , limpe essas lágrimas e ponha o seu melhor sorriso . Hoje tem escola e sempre nos primeiros dias conhecemos alguém novo , vai que ...

A interrompo .

Marina - Lily ... Não começa , não vou conhecer ninguém - Bufei .

Lily - Não existe o impossível amiga . - Ela pisca para mim e se recompõe.

Rimos .

Lily era daquelas garotas que esperava com tanta convicção de que algum dia eu encontrasse minha cara metade , coisa que estava tão longe quanto Deus em minha vida .

[...]

Meus passos são os mais rápidos possíveis . Lily caminha até meu lado até nossa respectiva sala onde ficaríamos no ano letivo . Os mesmos rostos do ano anterior eu contemplava , alguns olhavam para mim com cara de quem diz " Ela é tão esquisita " , " Ela é estranha " . Ligar para isso estava em último dos meus planos . Acho que já tinha me acostumado com esse tipo de coisa .

Por vontade minha ando olhando para baixo para não ter que aturar os olhares de certas pessoas , pela minha burrice acabo sofrendo as consequências .
Sinto meu corpo colidir com o chão e todos os meus livros parecem ter ganhado vida quando são espalhados pelos ares .
Olho para quem foi que me fez pagar mico em pleno primeiro dia de aula .

Ah , já era de se esperar !!!

Natasha e suas seguidoras , as patricinhas da escola . Suas seguidoras são nada mais e nada menos do que Manuela e Larissa , minhas irmãs portiças que me detestam tanto que se eu fosse uma barata me esmagariam facilmente .

Elas seguem em frente sem ao menos dizer as suas frases " Foi mal " ou " Ops ". E Lily me ajuda a levantar e a guardar meus livros .

Marina - Obrigado lily , não precisa ligar , já estou tão acostumada com isso quanto os cortes . acidentes acontecem né ? - Ironizo lembrando da sua fala .

Lily - Juro que se essa patricinha industrializada fizer mais uma vez isso com você ela vai se arrepender de ter nascido .

Natasha - Posso saber oque você acabou de dizer ? - Natasha volta e parece estar revoltada com que Lily acabara de dizer .

Lily - Escuta aqui ô garota , você ouviu muito bem , pois não é nem um pouco surda . E é melhor você parar por aqui com esse seu desfile sem graça de passarela pelo corredor da escola , não cola pra você .

Marina - Deixa pra lá Lily , os humilhados serão exaltados , Lembra ?

Natasha joga os cabelos para trás se dando por vencida .

Marina - Oque foi aquilo ? - Digo espantada .

Lily - Aquilo se chama defesa .

Marina - Se acalme mais da próxima vez ok ? Não precisa denegrir sua imagem por minha causa .

Lily - Você tem que me ensinar esse seu segredo de aturar isso todos os dias . Um dia ela engole do próprio veneno . E Marina , não somos perfeitos , estou em fase de mudanças.

Começo a rir pelo modo como Lily fica quando está zangada com alguma coisa .

[...]

Entramos na sala e ninguém me nota , estão tão ocupados com suas conversas alheias , isso parece ser ótimo .
Sento numa cadeira bem lá no meio da sala . As vagas que tinham no fundo já foram preenchidos por outros alunos da sala . Não queria ser o centro das atenções sentando nas primeiras fileiras .

Lily sentou ao meu lado direito para me fazer companhia , ela parecia intertida com um livro . Resolvi fazer o mesmo para passar o tempo . Viro me para ver se há algum livro na para que eu pudesse ler . Não consigo abrir minha bolsa , ela tinha engatado . Várias tentativas para abrir minha bolsa foram feitas mais todas elas não tiveram êxito.

XXX - Quer ajuda aí com a bolsa ?

Uma voz masculina irreconhecível apareceu bem na minha frente . Olhei para ver quem era . Nossa ! Não podia negar que o ser tinha olhos magníficos . Olhos azuis que me prenderam de uma tal forma que não consegui me desprender . Ele ainda olhava para mim esperando minha resposta é claro .

XXX - Ooiii ??? Quer ajuda aí com sua bolsa que não quer abrir ? - Ele insiste em me perguntar mais uma vez .

Marina - Não preciso da sua ajuda , eu consigo fazer isso sozinha . - Meu tom de voz saiu firme , me fazendo parecer ser grossa .

Eu ainda o olhava , nunca o tinha visto pelos corredores da escola . Deve ser mais um novato da sala .
Sou despertada de meus devaneios quando sinto Lily me cutucar com um lápis .

Lily- E aí , amanhã quer vir de novo para a Escola ? - Lily aponta com a caneta para o garoto que estava de cabeça baixa .

Sei que ela está falando ironicamente pelo menino com face de anjo que está logo atrás de mim .

Marina- Deixa de bobagens Lily , e para com essas suas ironias ! - Reviro meu olhos e dou uma gargalhada .

Eu estava com muita vergonha , pensei em até pedir desculpas para o garoto que estava atrás de mim , mais resolvi ficar na minha , pois ele pensaria que eu sou como todas as outras dessa escola que se oferece até para a formiga que passa no chão .

[...]

A aula foi super interessante , aqueles cálculos matemáticos por um segundo me tirava dos meus pensamentos de tormento . Conheci meus novos professores que por sinal era até legais , exceto o professor Francisco de História que ainda iria continuar dando suas aulas sem graças . Como de costume nos primeiros dias eles sempre se apresentam .

Até que enfim , o sino da escola toca , avisando que já estava na hora da saída . Ao virar para trás para pegar minhas coisas eu avisto novamente o garoto que me oferecera ajuda . Seus olhos estão centrados em mim , mais agora seu estado era de espanto.
O meu coração palpitava sem parar . E o medo tomou conta de mim .

Ai droga ! Não pode ser ... Cadê a lily , alguém me tira daqui ... Oque é que eu faço ?

Mateus 11 . 28 : "Vinde a mim , todos os que estais cansados e oprimidos , e eu vos aliviarei "

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