Epílogo
Dayane
Eu trabalho em um lugar bem legal. Digamos que a gente meio que realiza sonhos, quase isso, não somos como aqueles apresentadores de programas de TV que passam nos dias de domingo e dão presentes pras pessoas, mas fazemos o que as fadas madrinhas precisam fazer. Somos os melhores nisso.
- Dayane!
Estou do lado de fora da sala do meu chefe e abro a porta quando o escuto me chamar.
- E aí, chefinho, de boa?
- O que já conversamos sobre esse linguajar? - o velhinho de olhos puxados levanta uma sobrancelha.
- Ah, seu Juvenal, me dá um desconto, hoje é meu dia de fama.
- Certo... - ele ri. - Trouxe seu último relatório?
- Claro! Vou ler para o senhor. - limpo a garganta, me preparando, e começo:
"Seria mega chato e clichê dizer 'blá, blá blá e eles foram felizes para sempre', até porque ninguém sabe o dia de amanhã, não é? Okay, mas vamos ser otimistas. Até o momento, Lizzie e Nick estão bastante felizes. Ela voltou para o reality com sua verdadeira identidade, e o show continuou. É claro que eu acompanhei tudo de pertinho!
Os últimos dias na casa foram loucos, quando voltamos, Beca, Kitty, Jane, Dan, Fleth, Marta e Margot nos receberam com abraços, sorrisos e corações tocados pela história da minha amiga. Infelizmente Lizzie passou por muita coisa para chegar até aqui, porém eu pude ajudá-la a encontrar seu caminho para a felicidade.
O Reality durou mais duas semanas, onde, na primeira, Marta foi a participante menos votada durante a eliminatória com o tema blues e foi para casa com sua irmã Margot. Depois disso restaram apenas Jane, Beca e Lizzie. Na última eliminatória as meninas tiveram que cantar músicas famosas de filme e a nossa queridinha Rebeca Gordon foi declarada como Garota Encantada ao levar o grande prêmio!
Nem preciso dizer que todos ficamos muito felizes por ela, que merecia muito vencer. Eu sei que alguns devem pensar "ah, a Lizzie deveria ter ganhado", mas esse nunca foi o seu destino, muito menos o de Jane.
É óbvio que logo Beca e Fleth acabaram admitindo que seu ódio gratuito era puro love, e ele mesmo faz questão de gravar e mixar as músicas da namorada na gravadora do pai, com a qual agora ela tem um contrato. Não é que ela deu um jeito no riquinho mimado? Por essa, nem eu esperava!
Kitty, como eu já shippava em segredo, está num relacionamento seríssimo com o ator do ano, Dan Curtis, que recentemente ganhou um prêmio bombástico por sua atuação como surdo no filme "O Coração Silencioso", nome clichê, mas chorei feito um bebê no final. O nosso galã mereceu seu final feliz e deixou a namorada mais que orgulhosa.
Agora vamos falar de Jane. Essa garota cheia de personalidade foi convidada para ser vocalista de uma nova banda de rock, os WAVELANDERS. Ela está realizada! Quando ela canta, não há um odiador de rock que possa continuar odiando. Jane tem um talento nato para atrair fãs!
Frederica, nossa mocinha revelação e heroína, - diga-se de passagem - quis mudar a sua vida de uma vez por todas. Ainda vivendo na casa da família, sozinha, prestou um vestibular e está cursando psicologia em uma das faculdades mais prestigiadas do país. Não que eu queira dar spoilers da vida dela nem nada, mas, futuramente, essa garota vai mudar o mundo a seu modo, fazendo tratamento psicológico de graça em orfanatos e para crianças recém adotadas de todo o Estado, para garantir que estejam sempre bem e a história de sua irmã não se repita. Essa garota vai ser mesmo meu orgulho!
Agora, Lizzie, minha amiga e afilhada, que realizou seus sonhos assinando um contrato com uma gravadora parceira da de Nicolas depois de começar a trabalhar de fato com a música. Rosie e Nick sempre quiseram ajudar, mas ela batalhou para conseguir seu próprio contrato de maneira independente. Agora com sua verdadeira identidade, Elizabeth Grace já está com os ingressos de seu terceiro show esgotados! Ah, e não posso esquecer de contar que boa parte da venda dos ingressos é doada para o orfanato onde cresceu e para outras instituições de caridade também; nada a deixa mais feliz. Além de tudo isso, Lizzie está morando com a mãe, Rosie. As duas estão radiantes, quem as vê nem imagina que estiveram separadas por tanto tempo. É uma competição amistosa entre Nick e Rosie para passarem tempo com a nossa nova estrela do pop. Quando eles a sufocam de tanto amor, eu a ajudo a fugir de fininho e ganhamos um bom sermão de Rosie depois, mas vale a pena."
- Como o senhor pode ver, está tudo bem e todos estão mais que felizes! - sorrio. - Agora eu tenho que correr!
- Por que tanta pressa? Não vá aprontar nada, menina! Magia não é brinquedo.
- Relaxa, seu Juvenal, eu sou um anjinho. Ou melhor dizendo, uma fada. - sorrio sem mostrar os dentes. - Ah, e eu queria falar um outro assunto com o senhor; sabe, estou pensando em me aposentar desse negócio de fada madrinha... Lizzie precisa muito de mim e nós funcionamos bem juntas. - vou saindo devagarinho da sua sala.
- Se aposentar? - meu chefe franze a sobrancelhas. - Dayane, você está tramando algo...
- É claro que não! Eu só estou me dando muito bem no plano dos mortais. - dou de ombros e abro a porta. - Além do mais, depois que descobrir sobre minha vingança vai querer me demitir. - sussurro e saio da sala antes que ele possa falar algo mais.
Eu não menti sobre não querer ser mais fada madrinha, pelo menos não de outras garotas. Conhecer a Lizzie me proporcionou várias coisas que eu nem sabia que era capaz! Fiz grandes amizades, participei de um reality, viajei e hoje lançarei meu primeiro livro: Princesa, não! - Invadindo Os Contos De Fadas. Sabe, não são muitas as fadas madrinhas que alcançam tantos objetivos no plano dos mortais. Na maioria das vezes precisamos ser cautelosas e misteriosas, sem realizar grandes coisas. E não estou nem um pouco a fim de deixar de ser famosa. Ganhei 50 mil seguidores no mesmo dia em que criei a conta. Isso é demais!
*
Antes de ir ao shopping para encontrar com toda a galera durante o lançamento do livro, tenho algumas contas para acertar com as pessoas mais odiosas, ridículas e nojentas que já conheci: Ivone e Arlete.
Num estalar de dedos, já estou na cela das duas, que ainda tiveram o privilégio de cumprirem pena juntas. Assim que me vêem surgir no cômodo escuro, soltam um gritinho de susto.
- Nossa, porque o susto? Achei que cobras não se assustavam tão fácil. - cruzo os braços e me recosto nas grades da cela.
- Como você... - Arlete começa.
- Não te interessa, filhote de jararaca. Vim aqui para ter uma conversinha com vocês. - começo a andar pela cela; os saltos das minhas botas pretas fazendo barulho. - Ivone, querida, você se lembra de quando fez Elizabeth limpar de cabo a rabo a casa enorme em que viviam um dia depois do pai dela ter falecido, além de lavar à mão todas as roupas sujas, que não eram poucas? Lembra que ela ficou com as mãos cheias de calos e pequenas feridas, além de cansaço extremo e dor nas costas? - ela pensa e sorri.
- É claro que sim! Esperei muito por aquele momento. - a desgraçada continua sorrindo e nesse momento eu quero, com todas as minhas forças, socar sua cara, mas me controlo.
- Arlete, lembra-se de quando fez sua irmã comer um patê cheio de camarão, sabendo que ela tem alergia, e ela passou dias com o rosto inchado feito uma bola de basquete além de quase ter morrido asfixiada? - ela dá de ombros, indiferente. - Lembram-se de quando a trancavam no porão, no escuro, sem comida, apenas com pão e água, caso ela se recusasse a fazer algum dos absurdos que lhe ordenavam?
- Aonde quer chegar? - Ivone, arrogante como de costume, perde a paciência.
- Calma aí, baranga, gostaria de lhe falar sobre uma das maravilhas do universo: o karma.
Elas se entreolham, confusas.
- Bom, vejam por si mesmas. - estalo os dedos fazendo com que faíscas flutuantes, feito purpurina prata, saiam deles e disparem direto para seus rostos. Em seguida, a magia se espalha por seus corpos desaparecendo em segundos, deixando Ivone e Arlete com mãos cheias de bolhas e feridas, curvadas, certamente pelo cansaço e com uma enorme dor nas costas, rostos desfigurados pelo inchaço alérgico descomunal e quando ouço suas barrigas roncarem e elas berrarem horrorizadas, olhando uma para a outra, eu rio - gargalho na verdade - levemente triste porque o efeito passaria em alguns dias, mas, como elas não sabem disso, digo:
- Aproveitem a eternidade assim, suas víboras! Estar atrás das grades ainda é muito pouco pra vocês!
Ouço Ivone gritar "Bruxa!", enquanto Arlete chora feito uma patricinha que perdera sua bolsa Prada e estalo os dedos, desaparecendo e surgindo num beco vazio, próximo ao shopping onde Lizzie, Nick e Rosie, me esperavam em frente à livraria onde faria o lançamento do meu livro.
Quase choro ao ver o tamanho da fila e minha amiga corre para me abraçar.
- Dayane, você demorou, as pessoas estavam ficando loucas aqui! - diz quando me solta e eu não contenho meu sorriso sádico. - Todo mundo quer um autógrafo da escritora mais badalada do momento.
- Eu me atrasei por um bom motivo. - explico.
Lizzie estreita os olhos para mim.
- Você e seus segredos.
Passo o braço por seus ombros, rindo.
- Um dia, te conto todos eles, mas agora, vamos dar a essas pessoas lindas o que querem. Ei, galera! - grito, e todos me olham. - A Fada Madrinha, chegou! - cômico meu nome artístico, mas, quem sabe assim, matam a charada, não é?
O público na fila aplaude e grita empolgado e nós seguimos para dentro da livraria, onde me acomodo na área dos autógrafos; uma mesa com alguns exemplares do meu livro e um poster com minha foto.
- Fleth me mandou mensagem - Nick me avisa. - Ele e Beca já chegaram. Estão estacionando.
- E ali vem Kitty e Dan - Rosie aponta. - Até parece que um boné vai escondê-lo. - ri.
Eles se aproximam e abraço os dois. Nesse momento, Frederica aparece cheia de livros nos braços.
- Eu vim correndo da aula. - ela está arfando. - Tenho duas provas amanhã e preciso ler 4 capítulos de Freud, mas eu não perderia esse lançamento por nada!
- Relaxa. - a abraço. - Você vai tirar uma boa nota.
- Só se você fizer mágica! - ela ri.
- Não duvide de Dayane, irmãzinha. - Lizzie balança a cabeça. - Às vezes parece que ela faz mesmo essas coisas.
Dou uma risada nervosa, não quero adicionar "fui descoberta" no meu relatório.
- E aí, gatinhas! - Jane vem até nós de mãos dadas com seu novo "passatempo", é assim que ela os chamas. Tadinhos. - Vocês já conhecem o Anthoni? Ele é amigo do guitarrista da minha banda.
- Oi, pessoal. - o rapaz sorri pra nós. Nem imagina que Jane logo vai enjoar.
- Eu dou duas semanas, - Lizzie sussurra para mim.
- Talvez três. - digo esperançosa.
- Eu disse que deveríamos ter chegado cedo! - A voz de Beca pode ser ouvida a distância. - Por sua culpa quase não conseguíamos uma vaga no estacionamento! - ela vem andando na frente, aparentemente chateada.
- Minha culpa? - Fleth rebate. - Você fica horas fazendo maquiagem e a culpa é minha? - aponta para si. - E aí, pessoal? - nos cumprimenta no instante em que Kitty faz alguns sinais.
- Ela disse que vocês formam o casal que mais briga na face da terra. - Dan traduz o que a namorada falou.
- Eu sei! - Beca e Fleth dizem juntos.
- Qual é? Não vamos discutir hoje. - Lizzie toma a frente. - É um dia especial!
- Isso aí. - Nick passa o braço pela cintura da namorada. - Vamos aproveitar.
- E depois desse lançamento todo mundo está convidado pra festa na casa do Anthoni! - Jane diz empolgada e o cara apenas concorda com a cabeça.
- Vamos dar início a sessão de autógrafos. - um rapaz alto e magro que usa uma camiseta azul com o nome da livraria no peito, se aproxima. - Vou liberar a passagem das pessoas da fila.
- Pode liberar tudo! - tiro minha caneta do bolso e atendo os leitores um a um.
Mas enquanto faço isso, observo a minha família de amigos. Cada um com sua história e saber que eu posso fazer parte disso me faz sentir como nunca me senti antes.
Você pode até não acreditar em conto de fadas e finais felizes, mas deve sempre estar preparado para a vida.
Palavras de uma fada madrinha.
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