~9~
Lizzie
Arlete e Frederica estão do outro lado do salão de festas. Dayane e eu tratamos de ficar longe delas o máximo possível e qualquer tipo de encontro com uma das minhas irmãs está fora de questão. Estou usando meu disfarce, mas ainda é perigoso.
Quando Nicholas Colin aparece no palco eu relaxo. Arlete e Frederica não estão mais nem aí para as outras meninas e só querem saber de observar o cara lá em cima. Mas preciso admitir, ele cantando ao vivo e acústico é bem melhor do que aquele treco mixado que toca na rádio. Esse Nicholas do palco não parece o mesmo que vejo nos videoclipes da TV.
Agora, cantando dessa maneira, ele pode ser sim um músico que eu admiro.
Após a canção e explicar algumas coisas que vão acontecer no programa, o café da manhã é servido. E agora estamos espalhadas entre cinco mesas no salão.
- Vocês já leram A Seleção? - uma garota baixinha, de olhos azuis e lábios grossos comenta à mesa em que Dayane e eu estamos sentadas juntas de mais quatro garotas.
- Eu já li! - Dayane levanta a mão.
- Eu também. - falo, mas estou mais concentrada em minhas panquecas.
- Isso que está acontecendo com a gente. - ela gesticula com as mãos. - Isso tudo; é igualzinho no livro. Um príncipe, uma seleção, várias garotas... estou nervosa.
- Nibolas bão é um príncibe. - falo com a boca um pouco cheia e lembro das boas maneiras. Engulo tudo. - Ele é um cantor. E nenhuma de nós vai se casar com ele. Isso seria maluquice. - solto uma risada, mas elas não riem como eu esperava. Apenas ficam me olhando de uma forma estranha e então passam a encarar algo atrás de mim. Fecho os olhos com força. - Nicholas Colin está aqui, não está?
- Bem aí. - Dayane aponta.
- Oi, meninas. - ele senta na cadeira vazia, entre mim e a garota baixinha, fã de A Seleção. - O que acharam das panquecas?
Sei que ele me ouviu dizer que casar com ele era maluquice. Sinto meu rosto ficar quente de vergonha.
- Estão ótimas! - elogia a loira do outro lado da mesa. - Minha prima e eu adoramos.
- E também adoramos você! - a prima da participante fala de maneira desesperada e tenho vontade de rir quando ela recebe um olhar reprovador da loira, mas não faço isso.
- Eu gostei bastante! - a garota de olhos azuis diz. - Estava falando com as meninas como isso tudo parece ter saído de um livro. - muda de assunto. - É como um conto de fadas.
- A seleção não é bem um conto de fadas. - falo. - Acontece um monte de coisas ruins. Tipo, muitas mesmo. É uma distopia.
- E qual história que não tenha vindo dos irmãos Grimm seria um conto de fadas pra você? - Nicholas me encara.
- O Diário da Princesa. - digo como se fosse obvio.
Ele afirma com a cabeça, concordando comigo.
- Você tem razão, Liza.
Ele decorou meu nome? Quero dizer, é um nome falso, mas mesmo assim decorou. Deve ser difícil esquecer uma garota metade Velma e metade Daphne.
- Você é... - ele se dirige a garota dos contos de fadas.
- Beca - ela diz antes que Nicholas termine a frase.
- Isso. Rebeca Gordon!
Nossa. Ele não é um cantor idiota pelo menos. Se deu o trabalho de saber nossos nomes.
- Quem é sua acompanhante?
- Esta é minha melhor amiga, Kitty, mas ela não fala desde os 8 anos. - Beca explica e faz alguns sinais com as mãos. Kitty se expressa através das mãos também e sorri para Nicholas. - Ela disse que é um prazer conhecê-lo. Disse que você é simpático e bonito.
- Obrigado, Kitty. - ele sorri sem jeito. Achei que astros como Nicholas Colin já estivessem acostumados com elogios.
Beca se volta para a amiga e traduz com suas mãos o que Nicholas disse. Kitty sorri tímida.
- Como sabe libras? - pergunto.
- Aprendi em um curso depois que conheci Kitty. Era a única forma de nos comunicarmos.
- Isso é demais. - Dayane diz. - Somente uma amiga de verdade faria algo assim.
Beca agradece sorrindo.
- Eu sou a Sam. - a loira se apresenta. - Esta é minha prima, Lola.
- Sim. Samantha Martínez, não é? - Nicholas dá atenção a dupla de garotas do outro lado.
- Martins. - ela corrige. - Imagino que sejam muitos nomes para aprender.
- É. Me sinto como um professor no primeiro dia de aula.
Rimos todos juntos.
- Bom, eu vou cumprimentar as meninas da outra mesa. Nos vemos depois. - ele fica de pé e coloca a mão em meu ombro antes de sair.
- Nossa! Ele é ainda mais lindo de perto! - Beca segura em meu braço e o acompanha com os olhos. Nicholas está agora sentado à mesa do lado. - Parece mesmo um príncipe!
Kitty, sua amiga, diz algo em libras e Beca concorda com a cabeça.
- Verdade, Kitty. - ela faz sinais. - Ele é educado como um príncipe. - as duas riem.
- Não sei se vou conseguir viver na mesma casa que ele sem querer abraçá-lo o tempo todo. - Sam solta um suspiro.
- Teremos que nos esforçar. - Lola diz, convicta. - Famosos não gostam de fãs histéricas.
Fala isso a garota que acabou de agir como uma fã histérica.
- No começo eu admito que estava nervosa com essa ideia de viver com um cantor, mas depois... - dou de ombros e contínuo comendo. - depois de tê-lo encontrado na primeira audição, fiquei mais tranquila com sua presença. Ele é um cara legal. Acho que tenho mais medo das câmeras.
- Ele é mais que um cara legal! - Lola arregala os olhos. - Ele é incrível!
- E fantástico! - Sam parece sonhar acordada.
- Nicholas deve estar empolgado. - Dayane ri. - Imagina como vai ser na casa. 10 participantes, 10 acompanhantes, todas tentando agarrá-lo e fazer dele seu príncipe encantado... Isso vai ser interessante.
- Ah, e como. - digo.
*
Uma semana depois estamos Ivone, Arlete, Frederica e eu no aeroporto internacional. No portão de embarque encontramos algumas das meninas do reality, e vejo Beca junto de sua amiga Kitty. Tenho vontade de acenar para ela, mas lembro que estou sem meu disfarce de Liza, então, por hora, ainda sou Elizabeth, apenas uma garota que está acompanhando três mejeras até Cancún.
O plano é o seguinte. Dayane e eu vamos embarcar no mesmo avião. Porém, vamos fingir que não nos conhecemos, é claro, e quando desembarcamos no México eu vou fugir de Ivone. Dayane vai estar me esperando no banheiro com meu disfarce, então Lizzie terá sumido do mapa e Liza McPhee vai para a casa do Garota Encantada junto com as outras.
É isso. Sei que vai dar certo.
Embarcamos no avião. Me acomodo em meu lugar, entre uma garota pequena e com bochechas redondas, ela é uma das participantes do reality, e uma senhora de cabelos brancos. Minhas irmãs e Ivone estão nos assentos do outro lado do pequeno corredor por onde passam as comissárias de bordo. Vejo a cabeça de Dayane uns assentos a frente e ela levanta o braço para fazer um sinal positivo com o polegar e eu simulo um espirro falso.
Esse é nosso código para: vamos lá, que comece a operação Liza McPhee!
Algumas horas de vôo mais tarde, o piloto avisa que vamos aterrissar e agradece por termos voado com ele e sua equipe. Quando os passageiros começam a desembarcar, procuro Dayane e ela pisca; a piscadela significa que ela está indo para o banheiro do aeroporto e vai me esperar. Marcamos de nos encontrar lá ao meio dia. São onze e meia agora.
Chegamos ao portão de desembarque, Arlete logo começa a se enturmar com as meninas do reality e Frederica faz o mesmo, por mais que só vá participar como acompanhante da irmã. Ótimo, as duas estão distraídas o bastante, agora preciso escapar dos olhos de Ivone.
- Vamos pegar as bagagens. - ela diz para mim. E com isso, sei que quer dizer "você vai pegar as bagagens".
Esperamos nossas malas aparecerem na esteira. Eu pego minha única mochila e a ponho nas costas. Já a bagagem das três, coloco no carrinho quando elas passam por nós, mas quase não consigo, pois são muitas e são bastante pesadas. Ivone nem tenta ajudar, apenas se olha no espelho do pó compacto e passa batom vermelho.
- Eu te ajudo com isso. - é Beca, do reality show. Ela está com sua amiga Kitty e as duas me ajudam a colocar no carrinho a mala só de sapatos de Arlete. - Sinto que já vi você em algum lugar. - ela me encara de maneira curiosa e fico petrificada na sua frente. Claro que ela me achou familiar, sentamos à mesma mesa no dia do café da manhã de boas vindas ao programa. A diferença é que agora estou sem a peruca e os óculos.
Kitty faz um sinal com as mãos e Beca diz:
- Minha amiga falou que tem a mesma sensação. - ri.
- Ah... as pessoas me dizem que tenho um rosto comum. - tento mudar a voz. - Obrigada pela ajuda. - sorrio para as duas.
- Elizabeth, vamos logo! - Ivone sai andando na frente.
- Tchau. - aceno e começo a empurrar o carrinho. - Estou bem atrás de você.
Ivone atende ao celular que estava tocando em sua bolsa e então penso que essa deve ser a oportunidade perfeita para escapar até o banheiro, me trocar e me juntar as meninas do reality para pegarmos o ônibus da produção. Ela está rindo, conversando com alguém sobre o fato de estar em Cancún, e olho para os lados. Como Arlete e Frederica já deve estar lá fora se acomodando no ônibus, não há como esbarrar com elas nesse aeroporto. Empurro o carrinho das malas para a frente e ele acompanha Ivone por alguns passos, corro para uma pequena loja de souvenirs e coloco um chapéu de Mariate na cabeça. Pego um óculos de sol que estava no rosto de um manequim e o ponho na frente dos olhos. Vejo Ivone pela vitrine do lado de dentro da loja. Ela ainda está ao telefone, o carrinho já parou de acompanhá-la, mas essa mulher nem se deu conta do meu sumiço.
Vou até a moça do caixa e pergunto onde fica o banheiro do aeroporto. Ela me responde em espanhol e tento entender algumas palavras. Ainda bem que nunca faltei as aulas de espanhol quando estava na escola. Dou mais uma espiada no movimento lá fora antes de sair e então observo Ivone andar de um lado para o outro me procurando quando percebe que desapareci. Meu celular começa a vibrar no bolso, vejo o nome de Ivone na tela e abro a tampa de trás do aparelho. Retiro o chip e o quebro ao meio. O número de Elizabeth não existe mais.
- O quê?! - Ivone grita tão alto que algumas pessoas param para olhá-la fazer um escândalo no meio do aeroporto. - Como assim o telefone de Elizabeth não existe?! Onde está você, Elizabeth?! - ela sai correndo em direção ao balcão do check in. Com certeza vai perguntar se alguém me viu.
Deixo o óculos e o sombreiro mexicano em qualquer lugar da loja e corro para o banheiro.
Ela não me vê.
Quando finalmente encontro com Dayane, meu coração alivia.
- Graças a Deus! - ela me entrega sua mochila cor-de-rosa com outras roupas, essa será a mochila de Eliza. - Estava começando a ficar preocupada.
- Consegui escapar da Ivone por um fio. - vou para uma das cabines e começo a me trocar. - Mas logo todos os seguranças vão estar procurando por mim. Podem olhar até as câmeras de segurança! - me visto com uma velocidade inacreditável e passo para Dayane, por cima da porta da cabine, a muda de roupas que usava antes.
- Vou jogar essas roupas fora. - ouço o barulho da lixeira sendo aberta. - A peruca. - ela me entrega a cabeleireira ruiva e falsa quando abro a porta.
Prendo o cabelo e coloco a peruca. Ela me ajuda com os últimos detalhes e por fim ponho os óculos fundo de garrafa na frente do rosto. Transfiro para a mochila cor-de-rosa todas as minhas coisas que trouxe em minha mochila marrom. Essa ideia de trocar as mochilas foi dela. Na verdade, quase todo o plano foi ideia de Dayane.
Quando termino com minha bagagem, ela tenta jogar minha mochila marrom e velha no lixo junto com as roupas, mas não deixo.
- Era do meu pai. - digo. - É praticamente a única coisa que tenho dele.
- Vou guardar na minha mala então. - ela faz o que diz. - Só não vamos deixar que Arlete e Frederica vejam enquanto estivermos na casa. Elas podem notar que é sua.
- Não vou deixar que isso aconteça.
Saímos do banheiro e acabamos passando por Ivone que segue para lá ao lado de dois seguranças.
- Ela tem essa altura... Cabelos pretos. Magrela e pálida. - me descreve de maneira desesperada enquanto entra no banheiro junto dos homens.
Dayane e eu rimos. Ela não notou de maneira alguma quem sou eu.
Do lado de fora do aeroporto, uma porção de meninas se amontoa na frente de um grande ônibus chique e elegante. Na lataria do veículo tem a logomarca da WETV e o poster oficial do Garota Encantada, com Nicholas Colin segurando meu All Star em uma das mãos. O rosto de nick está extremamente grande nesse ônibus.
- Vamos lá meninas. Vamos subir no ônibus porque esse reality começa oficialmente agora! - diz a mulher bonita que estava com Nicholas na primeira audição, a cantora pop.
Todas nós batemos palmas animadas e vejo Frederica e Arlete entre um grupinho. Elas já fizeram muitas amizades.
- Oi! - Beca se aproxima junto de Kitty. - Vi Dayane no avião, mas não vi você, Liza.
Eu engasgo com minha própria saliva.
- Ela quase perdeu o voo. - Dayane mente. - Também não vi quando ela entrou no avião.
- É. - dou de ombros. - Foi exatamente isso.
- Então, estão empolgadas? - Rebeca pergunta.
- Uhu! - solto um gritinho forçado para me misturar. - Muito!
Começamos a subir no ônibus, uma por uma, e vejo Ivone sair do aeroporto. Ela se aproxima das filhas e começa a falar com os olhos arregalados. Está contando que eu fugi. Arlete e Frederica se encaram e então cerram os punhos com raiva, devem estar mesmo zangadas já que não terão mais uma serva.
Por último, Ivone abraça as filhas para se despedir, entrega as malas das garotas e vai para um táxi. Ela vai ficar hospedada em um hotel perto da casa onde o reality será gravado.
Quando Ivone se vai, Dayane e eu vamos para o ônibus e nos sentamos nos lugares atrás de Beca e Kitty. As duas ficam de joelhos em seus assentos e se viram para nós.
- Liza, podemos ensaiar juntas para as audições, o que me diz? - Rebeca sorri. Eu gosto tanto dessa garota.
- Acho uma ótima ideia.
Kitty fala em libras e faz uma expressão de felicidade.
- O que ela disse? - Dayane pergunta curiosa.
- Disse que esse é o melhor dia da sua vida! Nós nunca saímos do país antes.
- Nem eu! - minha amiga me cutuca ao meu lado. - É muito bom ter amigos que te levam em uma viagem com tudo pago.
Nós quatro rimos e quando a cantora Hailey... Qual é o segundo nome dela? É isso que dar ser fã apenas de cantores que foram sucesso até os anos 90.
Storn? Não... Stiven? Também não é esse...
- Hailey Stacey é tão linda, não é? - Beca olha por cima do ombro.
Stacey! É isso!
- Ela é um mulherão mesmo. - concordo.
- Espero que todas já estejam acomodadas em seus lugares, pois a próxima parada é o Garota Encantada!
O ônibus todo grita e bate palmas. Me sinto como em um passeio da escola.
Nós caímos na estrada e durante o caminho todo me permito acreditar nas chances que minha vida está me dando.
Só tenho medo de uma coisa; que isso tudo seja como aquele conto de fadas da Cinderela.
Tenho medo que a meia noite chegue para mim e que minha carruagem vire abóbora.
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