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~33~

Nick

É a Liza ali naquela cela, mas ela está morena e sem os óculos. E pelo que Dayane me falou ao telefone, ela precisa me contar muita coisa.

- O que está fazendo aqui? - ela questiona quando me aproximo das grades.

- Vim ajudá-las. - sorrio. - Dayane disse que você precisava de mim... Por que não me ligou antes? O que está acontecendo? E o que houve com seus cabelos? - gosto da Liza morena. Fica mais linda.

- Você deveria ter me dito que havia chamado Nick para vir aqui. - Liza repreende sua amiga.

- Ia adiantar alguma coisa se eu tivesse dito? Olha só a nossa situação! - Dayane se defende.

- Eu só quero entender o motivo dessa prisão, Liza. - Rosie se pronuncia. - Estou tão perdida quanto Nick.

- Eu tenho muita coisa pra explicar. - suspira. - A primeira delas é que meu nome não é Liza McPhee. 

- Como assim? - minha mãe cruza os braços. - Nick, você realmente tem um péssimo gosto para namoradas! - ela se vira para mim. - Está namorando uma mentirosa!

- Mãe, fica quieta!

- Que bagunça é essa na minha delegacia? - um homem gordo e baixinho, usando um paletó marrom com um distintivo preso ao peito, sai de uma sala onde provavelmente fica o seu escritório.

- Oi, boa noite. O senhor deve ser o delegado. - aperto sua mão. - Sou Nicholas Colin - me apresento. - , gostaria de falar em particular com... - olho para Liza por cima do ombro.

- Elizabeth Grace. - ela responde de maneira tristonha.

- Quero falar com a Elizabeth. - digo.

- O horário de visita é a partir das 9h. Volte quando o sol nascer. - o delegado afrouxa a gravata e se prepara para voltar a sua sala.

- Meu senhor, a situação aqui é um bem maior! - Rosie argumenta.

- Nick - minha mãe começa. - , vamos voltar para o reality. Essa tal de Elizabeth não tem mais nada haver com você.

- Mãe! - a encaro. - Chega!

Ela bufa com raiva por eu ter lhe repreendido e diz:

- Okay, okay. - ergue as mãos na frente do corpo. - Não digo mais nada e nem vou ficar aqui vendo você jogar sua carreira no lixo por causa de uma... - lança um olhar para minha namorada. - uma presidiária! - sai da delegacia.

Os ataques da minha mãe/empresária são o de menos agora, preciso resolver coisas mais importantes.

- Olha, delegado - o fito. - , eu sei que são quase 4 da manhã, mas tenho que falar com ela. Por favor, só quero conversar.

- E amanhã bem cedo nós voltaremos aqui com um advogado. - Rosie sorri para as meninas na cela. -

- Adoro essa mulher! - Dayane aponta a fazendo rir.

O delegado cruza os braços e nos encara por um tempo antes de dizer:

- Tudo bem. - se dirige a cela e a destranca. - Vamos lá - tira do bolso um par de algemas para colocá-los em Liza... ou Elizabeth. Nem sei como chamá-la.

- Isso é mesmo nescessário? - ela pergunta.

- Não force a barra com esses olhinhos tristes, menina. - ele balança a cabeça.

De qualquer forma, o delegado desiste de colocar as algemas e a guia para uma pequena sala ao lado de seu escritório. Vou atrás e digo a Rosie que espere por mim aqui fora.

- 10 minutos. Nada mais. - o delegado fecha a porta e corro para abraçar a garota assustada na minha frente.

- Não acredito que esteja aqui. - ela derrama algumas lágrimas.

- Eu estou. - sorrio ao ver seu rosto grudado em meu peito. - Ei - seguro em seu queixo a fazendo olhar para mim. - , não precisa chorar. Vamos cuidar de tudo isso. - seco suas bochechas. - Está pronta para me contar o que tem pra contar?

- Sim. - ela afirma e solta uma longa respiração pela boca. - É melhor sentarmos... história é longa, por mais que não tenhamos muito tempo.

- Então você vai precisar ser rápida e objetiva. - franzo as sobrancelhas de um jeito brincalhão e ela ri.

Sentamos à mesa fria de metal, um de frente para o outro. Seguro sua mão e a encorajo com meu olhar.

- Meu nome de verdade é Elizabeth Grace e Arlete e Frederica são minhas irmãs.

- Arlete e Frederica? - pergunto confuso.

- Sim. - ela assente. - Eu fui deixada em um orfanato quando era um bebê e passei boa parte da minha infância esperando ser adotada, até que uma família me quis. A família do Beto. - explica. - Ele era casado com Ivone que antes de conhecê-lo já havia tido duas filhas com o primeiro marido.

- Então Arlete e Frederica são suas irmãs adotivas?

- Isso. - continua: - os anos seguintes foram muito bons. Beto me tratava como uma filha de verdade e me senti parte da família, achei que finalmente tinha encontrado um lar... Mas Beto faleceu quando eu fiz 15 anos. - olha para cima tentando conter as lágrimas que querem vir a tona. - Ele sofreu um acidente de carro e se foi.

- Sinto muito por isso. - acaricio sua mão.

- Já faz muito tempo... Os problemas começaram a aparecer mesmo depois da morte dele; Ivone passou a me tratar muito mal. Ela já deixava bem claro que não gostava muito de mim antes do meu pai falecer, mas isso piorou com o tempo e ela arrastou as filhas pra isso... As três começaram a fazer da minha vida um inferno, Frederica nem tanto, ela era mais um pau mandado da mãe e da irmã, porém foram anos horríveis.

- Essa mulher precisa ir pra cadeia! - digo. - Não você!

- Eu sei. Mas Ivone armou tudo para que eu acabasse atrás das grades.

- Certo. - penso por um momento. - Dayane me contou que ela armou para parecer que você a roubou, mas tem algo que ainda não entendi.

- O quê?

- O disfarce. Foi para fugir de Ivone?

- Também. - dá de ombros. - A carapuça serviu. - diz. - Eu iria participar do reality sendo eu mesma, mas quando descobri que Arlete também havia conseguido entrar, tive que manter o disfarce até o final.

- Por que não me contou tudo de uma vez? Por que saiu da casa daquele jeito?

- Porque eu estava com medo... eu não sabia como você iria reagir e quando Ivone me ligou para me ameaçar dizendo que ia te enviar coisas sobre mim de verdade, entrei em pânico! Preferi voltar pra casa e enfrentar tudo isso que deixar você passar por algo assim... Se eu pudesse voltar atrás... - lamenta cobrindo o rosto com as mãos.

- Está tudo bem. - seguro suas mãos. - Já passou, agora eu já sei a verdade e estou aqui. Não estou, Elizabeth? - dou um sorriso.

- Está. - ela sorri de volta. - Mas pode me chamar de Lizzie.

- Lizzie. - digo a fazendo sorrir ainda mais. - Eu vou tirar você daqui, não se preocupa.

- Não vou mais me preocupar. - Lizzie diz com um tom de alívio. - Ah, tenho mais uma coisa pra contar.

- Meu Deus - fecho o olhos. - Muito bem, estou preparado. Pode falar.

Ela ri um pouco antes de dizer:

- Eu sou a garota do tênis. Aquele All Star cor-de-rosa é meu.

Arregalo os olhos.

- Então era você naquele dia no restaurante? Esse tempo todo era você? - solto uma risada. - Ah, Lizzie, tudo que eu mais queria era te encontrar e você estava bem ao meu lado. - balanço a cabeça. - É muita novidade pra um dia só, sabia?

- Eu sei. Desculpa não ter dito nada antes. - encolhe os ombros.

- Está tudo bem. - digo. - Você deixou minha vida muito mais interessante.

Lizzie

Depois de contar tudo ao Nick, de maneira resumida já que não temos todo o tempo do mundo, escutamos uma batida na porta e Rosie entra na sala. Ela se aproxima de mim e fico de pé para abraçá-la. É estranha a sensação de agora, de conforto e carinho ao mesmo tempo. Não sei explicar, mas ela parece poder me entender e me cuidar.

- Dayane me contou tudo lá fora. Essa Ivone é uma bruxa, ela vai ser presa assim que conseguirmos o depoimento da Frederica.

- Muito obriga por se preocupar tanto comigo. - agradeço. - Nunca imaginei que um dia estaria nessa situação.

- Logo a gente vai resolver isso. - Rosie me solta do abraço para me olhar. - Você vai ver. 

A diretora do reality me encara por alguns instantes e parece confusa ao dizer:

- Lizzie, agora sem o seu disfarce, você me parece familiar. Sem o cabelo ruivo e os óculos eu sinto que... a conheço de algum lugar.

- Acho que nunca nos vimos antes. - digo pensativa e Rosie segura em meus ombros. 

- Eu também acho que não, mas tem uma coisa... - ela parece triste. - Nick, você se importaria se conversássemos um pouquinho a sós?

- Não. Eu vou lá pra fora. - beija minha testa. - Vai dar tudo certo. - ele se vai.

- Lizzie, é assim que te chamam, não é?

- Sim. - afirmo.

 - Senta aqui, Lizzie. - ela segura minha mão. 

Vamos para a mesa e ela diz:

- Você me parece familiar porque... certamente parece com a minha filha desaparecida.

- O quê? - apoio os braços na mesa. - Como assim?

- Há muito tempo eu tive um bebê, mas ele sumiu. - seus olhos estão marejados. - Era uma menina, pesava 3 quilos e tinha lindos olhos castanhos como os seus.

- O que aconteceu com ela?

- É uma longa história... Eu engravidei do meu namorado na adolescência, tanto os pais dele quanto os meus não "adoraram" a novidade e tomaram medidas desesperadas. - fala com dificuldade. - Roberto foi mandado pra escola militar pra que ele não assumisse a responsabilidade e quanto a mim... minha mãe tirou minha filha de mim pouco tempo depois que ela nasceu e a mandou para um orfanato.

Sinto meu coração acelerar. As coincidências são tantas que não consigo pensar direito, minha cabeça estar dando mil voltas.

- Eu nem deveria estar falando essas coisas pra você. - ri nervosa. - Você não tem nada haver com essa historia... Eu faço isso sempre que encontro alguém parecida com a minha bebê. - enxuga as lágrimas que começam a cair. - Sinto muito.

- Por que... acha que sua filha teria a minha aparência? Ela era um bebê quando a tiraram de você. - me interesso por sua história, pois desconfio de que seja a minha também.

- Eu nunca parei de procurar pela minha bebê e há uns dois anos eu fui até um detetive particular. Um dos mais caros do país. - suspira. - Ele usou um programa de computador e com a única foto que tenho da minha filha, modificou a aparência dela através dos anos... Ela seria bastante parecida com você nessa idade. - Rosie tira do pescoço um colar com um pingente em formato de coração e o abre. - Essa é ela logo que nasceu. - me mostra.

- Que linda. - digo ao ver a recém nascida vestida com uma roupinha cor-de-rosa. - Rosie, sua história tem algumas semelhanças com a minha.

- Do que está falando? - ela fecha o pingente de coração quando lhe devolvo.

- Eu fui deixada em um orfanato de freiras quando era bebê e anos depois fui adotada por um homem chamado Roberto.

Ela pisca sem entender e engole em seco. Parece não ter acreditado no que acabei de dizer.

- O meu Beto? - Rosie põe a mão sobre o peito. - Você foi adotada por ele?

- Não sei se o meu Beto e o seu namorado da adolescência são a mesma pessoa... Tenho uma foto dele no meu bolso. - lhe entrego a fotografia dobrada que peguei do meu porta-retrato antes de fugir de casa.

Tremendo, Rosie desdobra a foto e começa a chorar de verdade.

- Minha bebê... - ela olha da foto para mim várias vezes, então se levanta ao mesmo tempo que eu e me abraça. - Minha filha... - diz entre soluços.

- Mãe? Você é mesmo minha mãe? - a abraço mais forte. - Mãe! - deixo o choro finalmente me dominar.

- Sou eu, Lizzie. Estou aqui agora. Estou aqui de verdade. - ela acaricia meus cabelos como se eu fosse uma criança em seu colo. - Só Deus sabe quanto tempo eu sonhei com esse momento, minha filha.

- Que choradeira toda é essa? - o delegado abre a porta e se depara com tal cena; duas mulheres adultas, se abraçando e chorando como duas crianças. - os 10 minutos acabaram, tá na hora de voltar para sua cela.

- Eu volto amanhã com um advogado. - ela segura em meu rosto e seca minhas lágrimas. - Vamos te tirar daqui.

Assinto com a cabeça e deixo o delegado me levar para longe da minha mãe que acabei de descobrir estar viva e bem debaixo do meu nariz.

- Vai ficar tudo bem. - ela sorri para mim e retribuo.

Posso estar em um momento péssimo, na cadeia, sendo acusada de um crime que não cometi, mas ter encontrado minha mãe e ter descoberto que Beto é meu pai biológico vai me fazer dormir com um sorriso gigante no rosto nessas poucas horas que me restam até o sol nascer.

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Aaaaaaaah, estamos chegando no capítulo final!!!

Mas calma, que ainda não acabou hahaha

Logo a gente já tem mais!

Fiquem ligadas! Obrigada por todos os votos e comentários ❤️

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