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I - A garrafa


A lua cheia refletia na água à minha frente e iluminava a areia ao meu redor, mas nem aquela luz prateada conseguia dissipar a escuridão que eu sentia por dentro.

Meus pés, mergulhados na areia fria da praia de Icaraí, banhados pelas ondas calmas, se recusavam a se mexer. Devo ter ficado ali por mais de uma hora, ignorando o movimento atrás de mim, que só aquela orla de Niterói podia oferecer durante a semana. Tirando algumas visitas quando criança, eu nunca tinha encostado naquelas águas, mas pareciam tão convidativas agora.

A respiração se misturava ao vento marítimo, com aquele cheiro salgado do oceano. Senti os pelos arrepiarem com a brisa gelada, que também trazia uma espécie de alívio. O som da água quebrando ao meu redor não diminuía o barulho da cidade. A noite era sempre agitada ali, assim como o dia.

Suspirei. Era mais fácil ignorar o som do mar do que o agito urbano. Pelo menos, na maior parte do tempo. Agora, eu só queria me concentrar na fluidez da água, indo e vindo com uma naturalidade que eu invejava. Era melhor do que pensar na minha vida. Mas talvez os orixás pensassem de forma diferente.

— Não tá pensando em mergulhar, né? — A voz que invadiu meu momento reflexivo fez surgir um quase sorriso nos meus lábios, que ainda sustentavam a leve cor rosa do batom à prova d'água que eu colocara de manhã.

— E se eu estiver? — perguntei, percebendo como aquilo parecia sombrio demais, até para mim.

— Não podia escolher uma praia melhor? Tem que mergulhar na Baía de Guanabara? Nessa sujeira toda?

O sorriso veio de vez. Eu era incapaz de ignorar o humor dele. Quando virei o rosto para a direita, encontrei Luan olhando o relógio.

— Ainda dá tempo de ir pra Itacoatiara — informou. Seus olhos encontraram os meus. Eram tão escuros quanto o mar que eu observava há poucos segundos. — Eu tô de carro.

Talvez eu devesse ter concordado, mas apenas suspirei e me virei de costas para meu melhor amigo, caminhando à beira-mar. Ele me seguiu, alcançando meus passos e andando do meu lado, entre mim e a areia que levava à orla.

— Esquece — respondi finalmente. — Tenho que ir pra casa fazer o jantar e tenho trabalho amanhã. Não sou autônoma como você, não posso escolher a hora que vou acordar.

— Eu não sou autônomo. — Olhei para Luan com uma sobrancelha levantada, o sarcasmo na ponta da língua, mas ele continuou: — Sou freelancer.

— E tem diferença?

— Não vou discutir isso com você de novo.

— Ótimo! Eu não quero ouvir mesmo.

Achei que ele fosse falar de novo. Luan estava sempre tagarelando, invadindo meu espaço com suas frases ininterruptas e entusiasmadas. Às vezes, eu me perguntava como ele aguentava ser meu amigo ainda. Foi o único que sobrou depois da minha fase de luto. Não que ela tenha realmente passado.

Fora ele, eu só tinha meu trabalho, completamente estressante, e meu namorado, que era uma questão complicada. Tão complicada que me mantinha ali, naquela praia onde eu nunca tomaria banho, caminhando descalça, com os escarpins em uma mão e a pasta na outra. Sabia que só estava enrolando para voltar pra casa.

Olhei de relance para Luan. Ele estava olhando para a frente, com o queixo erguido e aquele ar de quem não tem preocupações. As mãos enfiadas nos bolsos da bermuda; os pés protegidos no tênis da Nike. Por que eu tinha chamado ele mesmo?

Não chamei, na verdade. Depois que saí do escritório, querendo reverter um dia especialmente ruim com discussões acaloradas sobre pensões alimentícias e tutelas, caminhei até o fim da rua na direção da praia, esperando que olhar para o mar me acalmasse. Às vezes funcionava. Luan me ligou antes que eu alcançasse a esquina. Pensando bem, tinha quase certeza de ter dito que queria ficar sozinha na orla para pensar.

Mas ali estava ele. E eu. Por um instante, lembrei de quando nos conhecemos. Não foi na praia, mas na cachoeira. Eu tinha uns 14 anos, acho; ele, 16. Era outra época. Parece ter sido há um século e não há 14 anos. Tanta coisa aconteceu desde então...

Um vento mais forte soprou de repente, me arrepiando mais ainda e me trazendo de volta à realidade. Meus cabelos castanhos voaram na frente dos meus olhos, soltando do rabo de cavalo que já estava meio frouxo depois do dia inteiro. Enquanto eu tentava colocar tudo no lugar, Luan só passou a mão pelos fios lisos dele, tirando da frente dos olhos e dos óculos de armação fina, que lhe davam um ar intelectual. Meu amigo não tinha o cabelo longo, estava mais para o estilo Leonardo DiCaprio em Titanic, só que preto.

De repente, um leve impacto no meu pé interrompeu meus passos. Ou melhor, me fez tropeçar. Luan segurou meu braço para eu não cair, mas eu já estava estressada demais naquele dia para me lembrar de agradecer. Apenas virei e olhei para baixo, pronta para xingar uma concha ou qualquer lixo que os banhistas tivessem deixado por ali. E era lixo mesmo. Uma garrafa.

O "filho da p***" estava na ponta da língua, mas meus olhos treinados para encontrar as linhas miúdas dos contratos notaram a rolha, então a voz travou na hora. Curiosa, abaixei e peguei a garrafa. Já pensou se alguém jogou um bom vinho cheio fora? Podia até ser um vinho ruim, desde que estivesse cheio. Beber não era uma má opção para esse dia. Infelizmente, a garrafa era pequena demais para ser de vinho.

— Tem alguma coisa aí dentro? — Luan perguntou e eu só acenei que sim. Já estava vendo o pedaço de papel dentro do vidro transparente.

Coloquei a garrafa na altura dos meus olhos para ver melhor. Parecia um pergaminho enrolado. Abaixei a garrafa e comecei a puxar a rolha.

— Você vai abrir? — Nem me dignei a responder aquela pergunta idiota. Eu já estava no processo, poxa. — Sabe o que isso parece?

— O quê? — Minha voz saiu estrangulada pela força que eu estava fazendo para arrancar a rolha.

— Aquela cena de Uma carta de amor. Lembra desse filme?

— Nunca vi todo, só umas cenas.

— Mas viu a cena dela achando a garrafa?

— Você vai me ajudar ou vai ficar falando besteira? — Bati o pé, levantando o rosto para ele. Tínhamos menos de 10 cm de diferença, mas Luan ainda era mais alto que eu.

Ele estava com aquele sorriso despreocupado e as mãos nos bolsos de novo. Balançou o corpo para trás um pouco, apoiado nos calcanhares.

— E se for uma carta de amor aí dentro?

— Vou colocar de volta e jogar no mar. Não sou nenhuma Theresa da vida. — Tentei puxar a rolha de novo, estava bem travada ou eu era muito fraquinha. Provavelmente a segunda opção, já que tinha dificuldade de abrir os potes de palmito do mercado também.

— Vai abrir pra que então? — Luan finalmente tirou a garrafa das minhas mãos inúteis.

— Quero saber antes de jogar de volta.

Ele não falou mais. Vi seus braços retesarem enquanto fazia mais força do que quando abria os potes de palmito, mas teve sucesso, como sempre. Entregou-me a garrafa como se não quisesse saber, mas eu tinha certeza de que ele também estava curioso. Não era essa uma das poucas coisas que tínhamos em comum agora?

Estiquei o dedo mindinho dentro do vidro enquanto virava a garrafa de cabeça para baixo para alcançar o papel. Era mesmo um pergaminho, porque era de pele de animal. Nunca tinha tocado em couro de verdade, só sintético. Abri o pergaminho e imediatamente percebi que não era uma carta de amor.

Essas são suas missões:

Dizer adeus

Reunião

Ir para casa

Ser você mesma

Inverter

Não pule etapas e não desista.

— É o quê?! Quem coloca uma lista de tarefas em uma garrafa e joga no mar? — Estendi o pergaminho para o meu amigo, frustrada. Seria melhor se fosse uma carta de amor. E mais divertido também, mesmo que eu não fosse atrás de ninguém por causa dela.

Luan ignorou o meu processo e pegou o pergaminho da minha mão. Leu e me olhou de relance, depois leu o texto de novo. Então me entregou e deu de ombros.

— Parece apropriado.

— Do que tá falando?

— Esquece. Vai fazer o que com isso? — Até eu percebi que ele desconversou, mas preferi responder sua pergunta em vez de ficar escutando sua ladainha de sempre.

— Como eu vou saber? — Suspirei, olhando para a garrafa e o pergaminho em minhas mãos. "Por que esperei por algo extraordinário?" — Acho que vou só colocar tudo de volta e jogar no mar.

— E não vai seguir a lista?

— Por que eu faria isso? — Por um segundo, esperei uma resposta de verdade, mas Luan olhou nos meus olhos pelo que pareceu um minuto inteiro e depois deu de ombros.

Foi o toque do celular que desviou minha atenção daquela conversa estranha. Suspirei e peguei o celular no bolso, só para suspirar de novo. Atendi:

— Oi. Já tô indo pra casa.

— Agora?! — A voz grossa tinha aquele toque de impaciência. — Ficou enrolando o dia todo e precisa fazer hora extra? Por que não faz o trabalho na hora que tem que fazer?

— Eu fiz... — sussurrei tão baixo que sabia que ele não ouviria. — Eu já tô indo, tô chegando no ponto.

Olhei para a orla. O ponto de ônibus ficava perto de onde estava. Talvez eu tivesse inconscientemente caminhado nessa direção desde que Luan havia chegado. Também não podia mencioná-lo para não ouvir outras coisas. Olhei para meu melhor amigo, torcendo para que visse a súplica no meu olhar. Pelo jeito que seus olhos escuros se apertaram atrás da armação fina dos óculos, tive certeza de que ele entendeu.

— Não, vou te pegar. Me espera aí. — Talvez ele não estivesse tão bravo... — Se te esperar chegar, só vou comer amanhã.

O sorriso que estava começando a se formar nos meus lábios murchou lentamente.

A ligação foi cortada e eu parei de respirar por um segundo. Não queria suspirar de novo nem respirar profundamente. Com cuidado, deixei o ar entrar aos poucos em meus pulmões antes de olhar para Luan, que seguia com os olhos apertados. Não parecia mais aquele cara descontraído.

— Eu tenho que ir — falei, colocando automaticamente o que estava na minha mão dentro da pasta, exceto os sapatos, que eu tinha largado na areia.

— Vai correr pra casa? — Ele seguiu meus passos em direção ao ponto de ônibus. Não me perguntou mais sobre a garrafa e a lista de tarefas, era assunto esquecido por nós dois. — Eu te levo.

— Não! — Virei e coloquei a mão no peito dele, impedindo que continuasse andando. — Hugo tá vindo. É melhor você ir.

— Vou esperar com você até ele chegar — insistiu.

— Não precisa. Tá movimentado aqui, vou esperar no ponto. Vai ficar tudo bem. A gente se fala depois. — Tentei seguir adiante enquanto ele estava parado, mas ele segurou meu braço e eu parei de novo.

— Emília...

— Por favor, Luan. Só... vai pra casa.

Não consegui olhar em seus olhos. Mirei o mar atrás dele, já que eram da mesma cor. Era impossível encará-lo nessas situações. Por isso eu não entendia por que ainda éramos amigos. Puxei o braço sem me esforçar muito e Luan me deixou ir.

Não olhei para trás. Nem quando Hugo chegou e eu sentei no banco do passageiro do seu Logan Renault branco. Se eu olhasse para a praia e visse Luan, provavelmente teria que segurar as lágrimas no caminho de casa. Até o mar, que costumava me acalmar nos dias turbulentos, não seria páreo para a certeza de que, um dia, acabaria perdendo aquele amigo também. Aí, eu entraria em uma nova fase de luto.

P.S.: O capítulo tem 1966 palavras.

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