O caos tomou conta da sala. Meus pais agora transformados em lobisomens, avançaram com um rosnado ensurdecedor, seus olhos vermelhos brilhando com uma fúria incontrolável. Márcia e Fernanda, apesar de suas expressões de desespero, estavam prontas para enfrentar a ameaça que se aproximava.

“Rafaela! Gustavo!” Márcia gritou, seu rosto contorcido em um grimace de concentração e medo. “Vocês precisam fugir! Correm para a floresta agora!”

O som dos rugidos dos lobisomens e dos feitiços que as bruxas lançavam se misturava em um frenesi de batalha. Eu olhei para Rafaela, e ela me olhou de volta, seu medo evidente, mas também a determinação de sobreviver. Sem palavras, nós entendemos que a única chance que tínhamos era escapar.

Enquanto a batalha se desenrolava atrás de nós, corremos pela casa destruída, atravessando os destroços. O som da batalha se tornava cada vez mais distante à medida que nos afastávamos, mas o peso do que estava acontecendo ainda nos acompanhava.

Ao alcançarmos a floresta, a escuridão das árvores pareceu engolir o ambiente ao nosso redor. O som dos passos rápidos e desesperados ecoava no chão coberto de folhas secas. As árvores estavam silenciosas, como se a própria floresta estivesse observando a nossa fuga.

Rafaela estava ofegante, mas seus olhos estavam fixos à frente, procurando um caminho. “Temos que continuar, Gustavo. Não podemos parar agora.”

Eu estava tão cansado quanto ela, meu coração ainda batendo rápido de adrenalina. “Sim, precisamos nos afastar o máximo possível. Precisamos encontrar um lugar seguro.”

Através das árvores, consegui ver algumas luzes distantes, provavelmente a cidade ainda estava lá, mas tínhamos que nos manter longe dela. Rafaela e eu seguimos em frente, nossos passos agora mais silenciosos, tentando não fazer barulho.

As vozes de Márcia e Fernanda ainda ressoavam na minha mente. Eu não conseguia acreditar que tudo o que conhecíamos estava se desintegrando em uma luta desesperada pela sobrevivência. O peso da verdade, a traição, e a batalha que estava acontecendo atrás de nós eram quase insuportáveis.

Enquanto a noite avançava e a escuridão da floresta se tornava mais intensa, eu me agarrei à esperança de que conseguiríamos encontrar um refúgio, um lugar onde poderíamos pensar e entender o que fazer a seguir. Mas, por enquanto, o que importava era mantermos a calma e continuar correndo.

Após horas de fuga, com a floresta se tornando um labirinto de sombras e sussurros, avistamos uma pequena cabana isolada entre as árvores. A estrutura parecia há muito abandonada, mas era um abrigo temporário. Entramos, exaustos e ofegantes, e a pequena luz que entrava pelas janelas quebradas era nossa única companhia.

O interior da cabana estava coberto de poeira e teias de aranha, mas era o suficiente para nos dar um pouco de proteção. Rafaela se sentou no chão, encostada na parede, e eu me deixei cair ao seu lado, minha mente ainda girando com a intensidade dos eventos recentes.

À medida que a realidade se assentava, um sentimento profundo de tristeza começou a se instalar em mim. Meus pais eram lobisomens. Todo o tempo que passei com eles, todas as memórias que eu tinha, eram uma mentira, uma fachada para algo que eu nunca imaginaria. O fato de que nunca percebi nada e que eles nunca falaram nada sobre isso me fazia sentir uma dor cruel.

“Como... como eu não percebi nada?” minha voz saiu fraca, mal conseguindo articular as palavras. “Eu passei a vida inteira com eles, e nunca vi nada que me preparasse para isso.”

Rafaela se aproximou e, com um gesto suave, me envolveu em um abraço apertado. O calor e o conforto de seu corpo eram um alívio momentâneo para a dor que eu sentia. Ela sussurrou, sua voz calma e reconfortante.

“Gustavo, é normal se sentir assim. Tudo mudou de repente, e é difícil lidar com tudo isso. Mas, por favor, saiba que você não está sozinho nisso. Eu estou aqui com você. Nós vamos enfrentar isso juntos.”

Fechei os olhos, tentando me agarrar às palavras dela. O calor do seu abraço me fazia sentir que, apesar de tudo o que estava acontecendo, havia um fragmento de esperança e amor. Não tinha como mudar o passado, e a verdade era dura demais para ser enfrentada de uma vez só, mas eu podia sentir a força dela me sustentando.

“Eu só... eu só não entendo por que tudo isso teve que acontecer,” eu murmurei, minha voz ainda carregada de desespero. “Por que nossas famílias, por que tudo isso?”

Rafaela apertou um pouco mais o abraço, sua respiração era calma e controlada. “Eu também não entendo completamente, mas precisamos encontrar uma maneira de lidar com isso.

Eu respirei fundo, tentando me acalmar com a sua presença. A tristeza ainda estava lá, um peso constante no meu peito, mas o apoio de Rafaela era um fio de luz em meio à escuridão. Sabia que, por mais difícil que fosse, ter alguém ao meu lado fazia a luta parecer um pouco mais suportável.