A batalha final
Eu estava de pé, a porta da cabana à minha frente, e o silêncio que havia se seguido ao meu grito parecia interminável. O peso da tensão quase me fazia duvidar se minhas palavras haviam tido algum efeito. O rosnado baixo que ouvi em resposta parecia um aviso sombrio de que a situação estava prestes a se agravar.
De repente, o som de garras arranhando a madeira e um rugido feroz romperam o silêncio. Meus pais, Roberto e Cláudia, irromperam na cabana, e eu soube instantaneamente que não havia mais tempo. O medo me tomou de assalto, e eu percebi que Rafaela havia agido sem hesitar.
Com um último olhar para o interior da cabana, vi que estava vazio. Rafaela havia feito o feitiço de teletransporte. Uma onda de alívio e desespero se misturava em meu peito enquanto sentia a mudança ao nosso redor. A cabana, os rostos furiosos dos meus pais, tudo estava se distorcendo e se desvanecendo.
Em um piscar de olhos, nos encontramos novamente na floresta, mas a uma distância considerável da cabana. O calor da fuga ainda estava presente, e a adrenalina ainda corria em minhas veias. O som da batalha e o rugido dos lobisomens agora pareciam distantes, uma lembrança aterrorizante de onde havíamos estado.
Nossos passos eram silenciosos enquanto nos afastávamos do local, tentando encontrar algum tipo de abrigo na floresta densa. O som das árvores ao vento e os grilos noturnos eram quase uma melodia reconfortante em comparação com o caos que havíamos deixado para trás.
Eu me sentia perdido, tanto fisicamente quanto emocionalmente. A verdade cruel sobre meus pais e a luta para lidar com a maldição pesava sobre mim. Mas, ao olhar para Rafaela, eu vi a determinação em seu rosto. Mesmo com todas as dificuldades, ela estava lutando ao meu lado.
“Vamos encontrar um lugar seguro e depois pensar em um plano,” disse ela, tentando manter a calma. “Nós ainda temos tempo para resolver isso, e encontraremos uma forma.”
A floresta parecia interminável e sombria enquanto Rafaela e eu caminhávamos, tentando nos afastar do lugar da batalha e encontrar algum abrigo. O silêncio da noite era interrompido apenas pelo som de nossos passos apressados. A sensação de estar constantemente observados estava se tornando opressiva.
Então, do nada, um grito cortou o silêncio. Olhei para o lado e vi minha mãe, Cláudia, aparecendo entre as árvores, sua forma humana visível, mas sem roupas. Ela estava claramente perturbada e confusa, os olhos arregalados e um olhar de ódio no rosto.
Do outro lado, entre as árvores, meu pai, Roberto, surgiu, também em sua forma humana, mas com uma expressão decidida e feroz. Ele estava vestido apenas com o que restava de sua transformação. Seu olhar era fixo em mim, e suas palavras cortaram o ar como lâminas afiadas.
“Gustavo, saia da frente!” Roberto ordenou com uma voz carregada de raiva e determinação. “Vou acabar com isso de uma vez por todas. Nossa família ficará livre das bruxas!”
O medo se apoderou de mim. Meu pai estava furioso, sua expressão era de alguém que havia perdido toda a razão. Rafaela estava ao meu lado, seu rosto pálido e cheio de terror.
“Pai, por favor!” tentei falar, minha voz tremendo. “Há outra maneira de resolver isso. Não precisamos de mais mortes!”
Nesse exato momento meu pais iniciaram o ataque.
A luta começou em um frenesi de magia e raiva. Rafaela estava lançando feitiços com a velocidade de um relâmpago, tentando manter Roberto sob controle, enquanto ele avançava em nossa direção com uma determinação mortal. O som das explosões mágicas e o rugido dos lobisomens ecoavam pela floresta, criando um caos quase insuportável.
Eu me movia para proteger Rafaela, sentindo uma adrenalina intensa. Meu corpo estava em movimento, mas o medo e a dor estavam começando a se misturar com a tensão da luta. O coração batia forte no peito enquanto tentava ajudar Rafaela a manter meu pai afastado.
Rafaela, com uma concentração intensa, estava lutando para manter ele imobilizado com um feitiço. Seus olhos brilhavam com determinação, mas eu sabia que precisava de mais tempo para que o feitiço surtisse efeito. E então, de repente, minha mãe avançou em nossa direção, seus olhos cheios de uma fúria descontrolada.
“Rafaela, cuidado!” gritei, mas era tarde demais. Cláudia estava quase sobre ela.
Sem pensar, corri para a frente para tentar impedir o ataque de Cláudia. A dor de ver a minha mãe, em sua forma lobisomem, avançando me fez sentir uma mistura de terror e desespero. Eu me lancei na frente de Rafaela, na esperança de proteger a única pessoa que ainda tinha alguma esperança para nós.
Senti uma dor aguda e intensa quando a mordida de minha mãe atingiu meu abdômen. O impacto foi brutal e a dor era esmagadora. Eu caí no chão, a visão turva e o sangue começando a se espalhar ao meu redor. O chão estava coberto com a minha própria vida, e o medo tomou conta de mim.
“Rafaela...” murmurei, minha voz fraquejando. “Me desculpe...”
Os olhos de Rafaela estavam cheios de horror e desespero ao ver o que havia acontecido. Ela estava lutando para manter Roberto sob controle, mas a cena diante de mim era um pesadelo que eu mal conseguia compreender.
Enquanto a dor se tornava quase insuportável, algo estranhamente rápido apareceu na floresta, rompendo a escuridão com uma velocidade impressionante. A nova criatura lutou com meu pai Roberto, uma luta feroz e brutal que parecia tirar o próprio fôlego da noite. Eu estava em uma névoa de dor, meus olhos tentando entender o que estava acontecendo ao meu redor.
Minha mãe Cláudia, ao ver o que havia feito, voltou à sua forma humana e caiu de joelhos, lágrimas escorrendo pelo rosto, o desespero e a culpa evidentes. O combate entre a criatura e meu pai continuou, e eu podia ouvir os gritos e rugidos que ecoavam pela floresta.
Finalmente, a luta chegou ao clímax. A criatura, com uma agilidade sobrenatural, conseguiu conter meu pai, seu corpo caindo pesadamente ao chão. O silêncio que se seguiu foi um alívio e um terror ao mesmo tempo, meu pai estava morto.
A criatura se virou lentamente para nós. A luz da lua revelou um rosto familiar, um rosto que eu reconheci instantaneamente. Era João, numa forma estranha mas ainda sim parecia um ser humano.
João vem até nós e revela que é um vampiro. Ele parecia ter lutado com uma intensidade quase desesperada para salvar a situação. O olhar de João encontrou o meu e, embora sua expressão fosse de dor e cansaço, havia uma pitada de compreensão e pesar.
“João?” minha voz saiu como um sussurro, a dor me tornando quase incapaz de entender o que estava acontecendo. “Você... é um vampiro?”
Ele assentiu lentamente, o pesar em seu olhar misturado com um desejo de ajudar. “Sim, Gustavo. Tem muita coisa que vocês precisam saber, camila, Patrícia e Talia também escondem algo mas isso eu explico outra hora.”
A presença de João, a revelação de sua verdadeira natureza, era um misto de alívio e confusão. Enquanto ele se aproximava, o medo e a dor ainda estavam presentes, mas havia uma pequena esperança de que talvez ele pudesse nos ajudar a sair dessa situação com vida.
A dor era insuportável, uma agonia constante que me fazia sentir como se estivesse flutuando entre a vida e a morte. Eu estava deitado no chão da floresta, o sangue se misturando com a terra e as folhas. Rafaela estava ao meu lado, chorando desesperadamente. Seu rosto estava pálido, marcado pela dor e pelo medo.
As vozes de outras pessoas começaram a se aproximar, e eu vi as figuras familiares de Márcia e Fernanda surgindo entre as árvores, com olhares tristes e preocupados. Patrícia, Talia e Camila estavam com elas, suas expressões mostrando a seriedade da situação.
Márcia, depois de abraçar Rafaela e com uma expressão de pesar, se ajoelhou ao meu lado. “Gustavo, você tem pouco tempo de vida. O veneno da mordida é letal e não temos muito tempo.”
Rafaela chorava ao meu lado, segurando minha mão com força. “Não, Gustavo! Por favor, não desista! Eu não posso... não posso perder você!”
Fernanda, a mãe de Rafaela, se aproximou e começou a usar seus poderes para tentar estabilizar a situação. O brilho mágico ao redor de suas mãos era um contraste com o horror da cena. Ela olhou para Rafaela, e seu olhar mudou de preocupação para uma expressão de choque.
“Rafaela,” Fernanda disse com a voz trêmula. “Eu sinto... sinto algo estranho. Você está... grávida.”
As palavras de Fernanda foram um choque para todos. O silêncio tomou conta da floresta, e os olhares de todos se voltaram para Rafaela e eu, cheios de surpresa e confusão.
Rafaela olhou para sua mãe com um olhar de desespero. “Grávida? Isso... isso não pode ser... não pode estar acontecendo!”
A revelação parecia ter um impacto profundo em todos nós. Se eu morresse, a maldição ainda continuaria devido ao bebê que Rafaela estava carregando. A dor e o choque eram evidentes em seus olhos e nos rostos dos presentes.
Eu olhei para Rafaela, os olhos cheios de tristeza e desespero.
Rafaela estava chorando convulsivamente, suas lágrimas caindo sobre meu rosto. “Por favor, alguém, me ajude! Eu não posso perder você e nem deixar que a maldição continue!”
Nesse momento, João apareceu, sua presença abrupta trazendo uma nova onda de tensão. Ele parecia cansado, mas determinado. Seu olhar encontrou o meu e, mesmo em meio ao caos, havia uma aura de esperança em sua expressão.
“Eu posso ajudar,” João disse, com uma voz firme, mas cheia de pesar. “Mas ainda assim, Gustavo terá que morrer. Existe uma forma de salvar Gustavo e dar tempo a vocês para contornar a situação, mas não sem um preço.”
Rafaela olhou para João, seus olhos cheios de desesperança e curiosidade. “O que você quer dizer? Como isso é possível?”
João respirou fundo antes de explicar. “Eu posso transformar Gustavo em um vampiro. Isso pode curar o veneno e, ao mesmo tempo, fazer com que a maldição não continue. É um risco, e não será uma vida fácil, mas é uma chance de salvar vocês.”
As palavras de João se misturaram com o peso da situação. O preço da sobrevivência era alto, e a ideia de me transformar em um vampiro era aterrorizante e incompreensível. Mas, vendo a dor e a desesperança no rosto de Rafaela e de todos ao nosso redor, a proposta parecia ser a única chance de evitar um desastre ainda maior.
Rafaela se agarrou a mim, suas lágrimas ainda caindo. “João, por favor, faça o que for necessário. Se isso é a única maneira de salvar Gustavo e dar uma chance ao nosso filho, então faça.”
Eu concordei com a decisão. Mesmo com o medo e a dor, a única escolha era seguir em frente e enfrentar o que viesse. A esperança de salvar a mim e a Rafaela, e de mudar o futuro do nosso filho, estava em jogo, e, com um último suspiro, eu me preparei para o que estava por vir.
Com um último suspiro, minha visão se apagou e o mundo ao meu redor desapareceu. Então, a mordida de João veio como um choque elétrico, trazendo uma nova onda de dor, mas também uma sensação estranha de renascimento.
Enquanto João completava o processo de transformação, uma sensação de escuridão e frio envolveu meu corpo, misturada com uma energia nova e desconhecida. A dor foi substituída por uma estranha clareza, e eu senti como se estivesse despertando para uma nova realidade.
A verdade era que nossa luta estava longe de acabar. A maldição ainda pairava sobre nós, e o futuro era incerto. Mas agora, com a ajuda de João e nossos outros amigos e a força renovada que eu havia adquirido, havia uma nova esperança para resolver a situação e garantir um futuro para nossa família.
Com um último olhar para Rafaela, e a promessa de um futuro desconhecido à nossa frente, eu compreendi que a jornada estava apenas começando.
"Às vezes, as sombras mais profundas revelam a luz mais brilhante," eu disse, minha voz agora carregada com uma força nova. “E em cada final, há um novo começo esperando para ser descoberto.”
E assim, com o horizonte se abrindo diante de nós, um novo capítulo se preparava para começar, prometendo um futuro cheio de esperanças.
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