2° Dica: Descubra Sobre O Que Ele Gosta
Capítulo dedicado a UmaFujoshiA2, feliz aniversário😙💕
-[…]-
— Mas eu já sei do que ele gosta. — Disse Noah para suas amigas ao ler a segunda dica.
— Vocês não têm uma conversa decente a três anos ou mais, as coisas mudam, Noah. — Hina apontou rodando um pirulito na boca.
— Ele gosta de desenhar, de dançar, de tocar... eu já sei as coisas que ele gosta. — Deu de ombros guardando a lista no bolso.
— Yuri mudou e os gostos dele também, ele ainda gosta disso tudo, mas agora ele é adulto, tem outras coisas que ele gosta. — Dessa vez foi Any que falou.
— Tipo...?
— Descubra sozinho. — Noah olhou indignado para Hina, não foi ela que se ofereceu para ajudá-lo? — Eu e Any não podemos te ajudar em tudo, nossa parte nós já fizemos escrevendo as dicas, agora se vire com o resto. Vamos, Any.
— Tchauzinho. — Any cantarolou acenando para Noah antes de segurar a mão de Hina e sair da sala de aula acompanhada da mesma.
— Tsc! Que ótimas amigas eu arrumei, hein? — Bravejou baixo terminado de guardar seus materiais, pôs sua mochila nas costas e saiu para o campus. — Descobrir sobre o que o Yuri gosta... não vai ser difícil. — Comentou para si mesmo, não percebendo alguém atrás de si.
— Skate. — Noah se assustou ao ouvir uma voz feminina atrás de si e virou-se imediatamente.
— Ahn... como?
— Skate, Yuri gosta de skate. — A garota respondeu ajeitando o gorro em sua cabeça.
— E você é...?
— Shivani, sou do curso de pedagogia, estudamos juntos no ensino médio, não lembra? — Noah negou com a cabeça. — Eu quebrei seu nariz depois que você quebrou meu skate de propósito.
— Ah! Claro! A Lil Shiv. — Lembrou do apelido que todos a chamavam no ensino médio, nunca foram amigos mas se conheciam. — Ah, e desculpa por aquilo. — Coçou a nuca sem graça, Noah e Shivani tinham tudo para serem amigos, mas Noah era idiota no ensino médio e Shivani era de difícil aproximação, os dois mais brigavam do que tudo.
— Tudo bem, éramos só adolescentes, normal, e desculpa por ter quebrado seu nariz. — Dou de ombros. — Eu ouvi você falar sobre descobrir o que Yuri gosta, se for de quem eu tô pensando, eu posso te ajudar.
— Sério mesmo? É o Yuri Yoshihara que cursa artes cênicas.
— Então é ele mesmo, nos conhecemos no ensino médio e somos amigos até hoje, fui eu que ensinei ele a andar de skate.
— Mas... por que quer me ajudar tão de repente? — Perguntou desconfiado, ele e Shivani nem se quer são amigos, não teria motivos para ela ajudá-lo.
— Eu tenho meus motivos.
— Quer algo em troca, né?
— Na verdade não, mas agora que você falou, sim. Me encontre na sorveteria perto da pista de skate daqui duas horas, minha ajuda vale um milkshake de ovomaltine do grande, espero que esteja com meu pagamento quando eu chegar. — Disse por fim pondo seu skate no chão, não esperou nenhuma resposta de Noah e saiu dali.
— Droga! Por que fui abrir a boca? — Bufou vendo a indiana se afastar com o skate, pelo menos é só isso que ela quer.
[…]
— E aí? — Shivani saiu de seu skate e cumprimentou Noah com um hi-five.
— Aqui seu milkshake. — Estendeu o copo de 700ml de milkshake para Shivani, que o pegou na hora e provou.
— Valeu. — Pegou um papelzinho de seu bolso e entregou a Noah. — Aí são algumas coisas que Yuri gosta, mas são coisas que todos que o conhecem sabem como desenhar, andar de skate, tocar instrumentos e escrever músicas. — Deu de ombros tomando mais do milkshake.
— Você sabe de mais alguma coisa que ele goste? Algo que ele começou a gostar depois dos quinze?
— Não sou tão próxima assim dele, somos parceiros na pista de skate, mas posso te ajudar a descobrir.
— E por qual motivo você tá me ajudando? Quer outro milkshake? — Guardou o papel em seu bolso após lê-lo, voltando a olhar para Shivani.
— Eu já disse que tenho meus motivos, e se você continuar perguntando vou querer sim. — Subiu em seu skate novamente arrumando o boné em sua cabeça. — Vamos, acho que sei onde ele está agora.
E assim Shivani saiu em seu skate e Noah foi logo atrás. O Urrea ainda não sabia o motivo da garota ajudá-lo, mas a essa altura nem ligava, desde que o ajudasse na missão de reconquistar seu amado, não questionaria nada.
[…]
O polegar do jovem deslizou pela tela do celular, seus olhos heterocromáticos passavam rapidamente pelas inúmeras músicas de sua playlist, mas nenhuma lhe parecia convidativa ou atrativa. Yuri suspirou pesadamente bloqueando a tela do celular, desistiu de procurar uma música que lhe desse inspiração para criar uma nova história, e as que ele já criou? Bom, essas ele continuaria procrastinando e ignorando os pedidos de seus leitores para que continuasse. Isso sem contar das inúmeras histórias que o Yoshihara escreveu apenas as primeiras cem palavras e depois abandonou o projeto sem ao menos dar um título, deixando apenas palavras aleatórias para não deixar vazio. Yuri realmente tinha que parar de fazer isso, mas não conseguia, ao invés de terminar suas histórias apenas começava outras, era um ciclo vicioso. Yuri estava tão entretido que nem notara outros dois universitários o observando de longe.
— Ele vem aqui de vez em quando, já passei de skate aqui algumas vez e o encontrei mexendo no celular, as vezes escrevendo algo no caderno mas geralmente no celular. — Relatou agachada ao lado de Noah atrás de um arbusto, fitando Yuri de longe. — Acho que ele fica escrevendo músicas já que ele curte, aqui deve ser algum lugar de inspiração.
— Mas ele estaria usando com algum instrumento, tipo o violão dele. — Noah virou a cabaça para olhar Shivani, que repetiu o ato do colega. — Talvez ele esteja escrevendo outra coisa.
— Tipo uma história?
— Talvez.
Os dois estavam tão distraídos conversando entre si que não notaram quando Yuri saiu do gramado e aproximou-se de ambos.
— Shiv? Por que tá encolhida aí? — Perguntou com o cenho franzido assustando tanto Noah quanto Shivani, que viraram na hora para olhar o dono da voz que os assustaram. Após desistir de escrever algo, Yuri percebeu de longe duas figuras familiares o observando.
— Ahn... é que... — Noah começou mas não conseguiu terminar, olhou para Shivani em busca de ajuda, não poderia simplesmente falar que estavam o vigiando.
— Nós estávamos procurando o meu anel que deixei cair enquanto andava de skate. — Shivani deu a primeira desculpa que passou pela sua cabeça pegando o anel que havia jogado no chão discretamente, felizmente ela já havia reclamado para Yuri que o anel estava largo e que várias vezes ele saía de seu dedo, então seria mais fácil dele acreditar nessa desculpa esfarrapada.
— Sei... — Observou ambos de cima por mais alguns segundos, suspirou dando de ombros. — Certo, e Shiv, cuidado pra não perder esse anel de vez.
— Certo. — Concordou com a voz baixa assentindo com a cabeça e observou o amigo se afastar, não acreditava que o Yoshihara tinha engolido totalmente essa história, mas ele não tinha motivos para pensar o contrário.
— Céus! — Noah soltou o ar que nem percebeu prender, seu coração batia forte só de estar perto de Yuri, sendo pego no flagra então fazia seu frágil coração quase sair pela boca. — Sinto que seguir ele não vai ser uma boa id-
— Karaokê! — Shivani falou alto interrompendo Noah.
— Como?
— Karaokê, ele vai pro karaokê agora.
— Que...? Como é que- — Calou-se quando Shivani virou seu celular para ele, mostrando o status do whatsapp de Any. — Me arrumando para ir ao Sing It Loud com Yuri e Hina... — Leu a legenda que Any colocou em uma foto dela com Hina seguido de um coração.
Sing It Loud é uma lanchonete com karaokê, lugar bem conhecido entre os jovens.
— Nós vamos pra lá também, vamos! — E em um piscar de olhos, a indiana já estava sobre seu skate se afastando de Noah, que ainda estava a processar a lógica de Shivani. — Anda logo, Noah! — Gritou arrancando Noah de sua bolha de pensamentos, agora com o moreno talvez tendo ideia do motivo de seus amigos o chamarem de lerdo e desligado.
— Ei! Espera por mim! — Gritou ao ver Shivani a metros de distância, não demorando mais a começar a correr atrás da skatista.
[…]
— Tem certeza que eles vêm mesmo? Estamos esperando a horas! — Reclamou inquieto e insatisfeito com a "demora" do trio. Shivani revirou os olhos desejando socar o rosto de Noah para ver se este ficava mais sossegado.
— Chegamos aqui não faz nem dez minutos, Urrea. — Respondeu com acidez em sua voz, já era a quinta vez que ele falava da "demora" das amigas e Yuri e isso já estava torrando a paciência de Shivani.
— Pra mim parece que estamos a duas horas.
— Mas não estamos! Estamos aqui a menos de dez minutos! — Rebateu irritada com a impaciência do outro, quase considerando a violência um bom acalmante. — Você fica quieto, não quero ouvir um piu de quer até eles chegarem.
Noah optou por ficar calado, não desejava receber uma skatada no meio da cara. Sua perna não ficou parada em nenhum momento, se mexendo a todo instante, uma ação que deixava sua ansiedade exposta, ficando assim pelos próximos dez minutos.
— Vai lá e arrasa, baixinho! — Noah passeou os olhos pelo salão em busca da voz que ele tanto conhecia, demorando alguns segundos até encontrar a dona da voz, Any.
— Ei, olha lá. — Indicou Shivani com a cabeça, Noah olhou para o palco onde estava quem ele tanto estava procurando, e que nem percebeu a chegada.
— Yuri... — Sua voz saiu como um sopro, seus lábios curvaram-se em um sorriso singelo. O cujo dito esteva no palco com um violão em mãos, os fios soltos caindo sobre seu rosto delicado, os lábios avermelhados, sua voz angelical anunciando que iria cantar uma música autoral dele... céus, parecia um anjo.
— Ela se chama "Berlin", espero que gostem. — Disse Yuri timidamente próximo ao microfone, olhou para a mesa onde Any e Hina estavam, as meninas sorriam para o garoto querendo transmitir segurança para o mesmo. Ele fechou os olhos puxando o ar, solto-o entre os lábios abrindo os olhos novamente. —Una lágrima que cae — Começou timidamente tocando o primeiro acordo em seu violão. Suas orbes passearam pelo salão, mas sem de fato focar nos rostos das pessoas. — Una sensación que hay que disimular
Porque aunque lo sé y lo sabes. — Algumas pessoas foram parando de falar aos poucos para prestar atenção no dono daquela voz encantadora e angelical, mas aquele que tinha maior foco era um jovem de 20 anos que se atende pelo nome de Noah Urrea. — Nunca fui capaz de hablar
Yo sé que fuiste tú
E
l que te fuiste, tú
Y si Madrid se queda sola
Eso lo hiciste tú. — Agora tendo foco total das pessoas, Yuri tinha todos os olhares em sua direção, agora ele cantava mais rápido em um ritmo mais animado.
Os olhos verdes de Noah analisavam cada detalhe visível de Yuri, suas sardinhas destacadas na pele, o cabelo preso em um meio rabo de cavalo com algumas mechas soltas sobre o rosto suave e expressão serena. Os olhos transbordando paixão pelo que estava fazendo, aquele castanho e aquele azul que Noah tanto amava... aquelas belas cores que faziam seu pobre e frágil coração ir a mil, aquelas belas cores que encaravam o verde dos olhos de Noah.
— Y no me importa si vas a llamarme
Yo quiero besarte, besarte y besarte. Ey
No sé qué pasará en Berlín, si esto va a ser el fin
Pero me jode más tener que esperarte — Agora Yuri tinha seu foco em uma única pessoa, o mais novo não conseguia desviar do rosto de Noah, seus olhos verdes, seus lábios entreabertos, seu cabelo levemente bagunçado e suas bochechas e orelhas avermelhadas ao perceber que também era encarado. — Qué pasará en Berlín, si tú no estás aquí
Tal vez, si vuelves, no seré lo de antes
Yo sé que fuiste tú
El que te fuiste, tú
Y si Madrid se queda sola eso lo hiciste tú
A lanchonete estava cheia, mas para Noah e Yuri, eles eram os únicos ali, apenas os dois com a música que Yuri cantava sendo um acompanhamento daquele momento.
— Y no me importa si vas a llamarme
Yo quiero besarte, besarte y besarte
Besarte y besarte
Y ahora me jode más tener que esperarte. — Yuri piscou os olhos três vezes seguidas rapidamente, desviou o olhar quebrando o contato visual e saindo daquele transe que havia entrado sem perceber. Noah sacudiu a cabeça voltando a si, estava tão distraído que nem percebeu quando seu pedido chegou. — Besarte y besarte
Y ahora me jode más tener que olvidarte.
— Bom vocês beberem algo, porque a secada que um deu no outro... — Shivani comentou recebendo a atenção do colega, mas durou apenas dois segundos já que a voz de Yuri roubou toda a atenção de Noah para si novamente.
— Dicen que amor de lejos, felices los cuatro
Si estás con alguien, pienso a cada rato
Y no son celos, ponte mis zapatos
¿Cómo nos damos besos por un iPhone?
No, sé que no
Servirá de nada y lo siento yo
Si te vas a ir, vete, por favor
Que tanta espera está peor. — As orbes heterocromáticas agora olhavam para a mesa onde estava Hina e Any, as amigas estavam cochichando entre si sobre algo que ele não conseguiu ouvir. — No sé qué pasará en Berlín, si esto va a ser el fin
Pero me jode más tener que esperarte
Qué pasará en Berlín, si tú no estás aquí
Tal vez, si vuelves, no seré la de antes. — Yuri olhava para a mesa onde se encontrava sua irmã e sua melhor amiga, para os lados, para as garçonetes, para qualquer lugar menos para a mesa de Noah e Shivani. — Yo sé que fuiste tú
El que te fuiste, tú. — Noah havia notado que Yuri estava o evitando, mas não ligava, ainda estava sob o efeito daquele transe, daquele olhar e daquela voz. — Y si Madrid se queda sola eso lo hiciste tú
Y no me importa si vas a llamarme
Yo quiero besarte, besarte y besarte.
— Vamos. — Hina se levantou junto de Any, as duas andaram juntas até a mesa de Noah e Shivani pondo as bandejas com os lanches sobre a mesma. — E aí? — Cumprimentou os amigos sentando-se de frente para Shivani, Any sentou ao seu lado.
— Besarte y besarte
Y ahora me jode más tener que esperarte
Besarte y besarte
Y ahora me jode más tener que olvidarte.
— Hina, Any. — Shivani cumprimento as duas com um aceno de cabeça, sorriu timidamente para Hina, as duas ainda se falavam de vez em quando, mas a relação delas nunca mais fora a mesma depois do término do namoro no ensino médio.
— Pra duas pessoas que fizeram teatro a infância e adolescência inteira, vocês dois atuam e disfarçam muito mal. — Any comentou rindo, seu olhar antes direcionado para Noah, agora estava sobre Yuri.
— Amor de lejos, felices los cuatro
Amor de lejos, felices los cuatro
Amor de lejos, felices los cuatro
Y ahora me jode más tener que olvidarte. — E assim a música chegou ao fim e os aplausos e assobios vieram.
— Há há, muito engraçado, Any Gabrielly. — Disse Noah sarcasticamente, observou Yuri descer do palco e ir até a mesa onde as meninas estavam, guardou seu violão no estojo de couro, suspirando pesadamente. Yuri olhou para a mesa onde Noah estava e foi até a mesma a passos lentos.
— Oi. — Cumprimentou Noah com um aceno de cabeça e Shivani com um hi-five.
— Arrasou, hein, baixinho. — Elogiou a skatista ajeitando seu boné.
— Senta aí, estávamos falando sobre como você e Noah são péssimos atores. — Any puxou Yuri para sentar-se ao seu lado, o deixando de frente para Noah.
— Não sei do que está falando. — Murmurou se ajeitando no banco, pôs o estojo no chão ao seu lado suspirando baixo.
— Que irônico, os dois que mais se destacavam no teatro no ensino médio não conseguem disfarçar o am- aí! — A Paliwal gemeu de dor ao receber um chute em seu pé vindo de Noah e um chute na perna vindo de Yuri. — Porra! — Mais um gemido de dor saiu de seus lábios, bufou baixo lançando um olhar de reprovação aos dois garotos.
— Bem... você cantou muito bem, Yuri. — Noah começou timidamente agora olhando para o motivo de seus típicos surtos-de-garota-adolescente-clichê-apaixonada. — Não sabia que tinha começado a cantar, antes você só tocava.
— Tem muitas coisas que você não sabe, Noah. — Respondeu, recebendo um olhar de reprovação das três garotas presente, mas não ligou.
Hina limpou a garganta e deu um gole em seu suco de laranja.
— Foi no fim do ensino médio, pouco antes de você também começar a cantar, Noah. — Hina respondeu pondo o copo de vidro sobre a mesa.
— Então... Er... — Noah começou, mas parecia que a cada vez que olhava Yuri, as palavras fugiam de sua boca. — A música... ele é muito boa.
— Obrigado... escrevi enquanto passava as férias em Madri no ensino médio. — Pegou um batata frita que estava dividindo com Hina, levando-o até a boca. — Foi pouco depois de... de nos afastarmos.
— Foi quando você, Josh e Savannah foram pra Berlim. — Completou Hina torcendo para que Noah percebe-se qualquer semelhança entre o evento e a música.
— Música sempre foi uma paixão sua, mas você sempre foi inseguro em relação a sua voz. — Noah olhava fixamente para o anel que ele brincava. — Fico feliz esteja mais seguro em relação a isso... você é muito talentoso. — Seus lábios curvaram-se em um pequeno sorriso, levantou seu olhar para Yuri, que o olhava de volta.
— Você... você também canta muito bem. — Respondeu Yuri desviando o olhar, não sabendo ao certo o que responder. — Gosto de escrever músicas sobre as viagens que faço... é meio que um hobby. — Deu de ombros olhando para seu copo de suco de abacaxi com hortelã.
— Você... você gosta de viajar?
— Sim, gosto de me aventurar em lugares novos, de conhecer novas culturas e línguas, de tirar fotos e escrever sobre, é algo que tomei gosto a um tempo.
As garotas entreolharam-se entre si, nem sabiam quando havia sido a última vez que os dois conversaram por mais de um minuto sem que Noah se atrapalhasse ou Yuri desse algum fora.
— Qual lugar você mais gostou de ir? — Noah perguntou querendo prolongar a conversa, além de também querer saber mais sobre sua paixão.
— A ilha de Bora Bora, na Polinésia Francesa, na época eu ainda não tinha esse gosto por viajar, mas é com certeza o lugar que eu mais gostei de ir. — Yuri não pode evitar sorrir com as lembranças, ele tinha treze anos, Noah e Hina quatorze e sua irmã mais nova ainda estava viva, com dez anos. Yuri teve experiências incríveis nessa viagem, brincou, se aventurou, se divertiu, teve seu primeiro beijo... foi uma viajem inesquecível.
— Eu lembro, foi realmente divertido, a gente fugia de casa pra vermos as estrelas cadentes e nossos pais ficavam uma fera quando descobriam. — Riu com a lembrança balançando a cabeça, ele e Yuri aprontavam todas quando estavam juntos.
— Realmente, foi lá que descobri minha paixão por conchinhas e passei a fazer artesanato com elas.
— Sério? Não sabia disso. — Parou de rir tomando o resto do seu sorvete. A resposta fez Yuri franzir o cenho, na época os dois eram bem próximos e não tinham segredos. Noah sabia que Yuri gostava de catar conchas, mas não de fazer artesanato com elas.
— Não? Achei que soubesse, eu até fiz um colar de concha pra você.
— Não, você não fez. — Dessa vez foi Noah que franziu o cenho, unindo suas sombrancelhas.
— Claro que eu fiz, Noah, eu até te entreguei junto de uma... ah. — A voz de Yuri morreu ao lembrar que nunca entregou o colar para Noah, nem o colar e nem a carta que escreveu.
— De uma...? — Incentivou Yuri a continuar, com as sombrancelhas erguidas aguardando uma resposta.
— Nada. — Negou com a cabeça. — Eu me enganei, desculpa, eu nunca cheguei a te entregar. — A animação antes presente na face de Yuri foi-se embora, dando lugar a uma expressão pensativa e distante. Por que não tinha entregado a cartinha mesmo? Ah, claro, Noah estava começando sair com Sina Deinert, uma das garotas mais populares da escola.
Mal sabia Yuri que Noah não sentia nada por Sina, e que apenas estava saindo com ela porque estava confuso, porque não queria acreditar que estava nutrindo sentimentos por seu melhor amigo, porque queria apagar o que estava sentindo saindo com outra pessoa.
I’m going crazy now, geotjabeul su eopsi nan
dasi tto i bameul jisae-unda
The moment when I close my eyes
All I see is red lights
O celular de Yuri começou a tocar, o nome "mãe" apareceu na tela junto de uma foto de Sumire e seu único filho juntos. Yuri pegou seu celular e o atendeu. Teve uma breve conversa com sua mãe, suas respostas eram curtas, apenas "uhum", "aham", "certo" e "estamos indo" vindo dele.
— Hina, a mãe disse pra irmos pra casa dela agora.
— Por que? Temos que ir agora mesmo?
— Sim, ela disse pra não demorarmos. — Respondeu levantando-se e pegando seu estojo. — Até mais, galera. — Despediu-se junto de Hina, depositou um beijo no topo da cabeça de Any antes de sair do estabelecimento.
— Mais tarde ligo pra vocês. — Any disse alto para ambos ouvirem.
Viajar, artesanato com conchas e cantar.
Noah pensou consigo mesmo, claro, já sabia da paixão de Yuri para a música, mas ficou em feliz em saber que agora ele estava mais seguro para cantar.
Já pouco afastado do estabelecimento e pilotando uma CB150R preta, Yuri repassava toda a viajem a Bora Bora em sua mente, desde o beijo que deu em Noah quando ninguém estava vendo, desde a sua conversa com sua mãe em relação aos seus sentimentos e sua sexualidade. Também pensava no colar de conchas que havia feito para Noah, Yuri iria entregar o colar junto de uma cartinha falando o que sentia.
Patético.
Yuri pensou virando a esquina, aquilo já passou e deve permanecer no passado, não adianta pensar no que teria acontecido caso ele não tivesse desistido, não adianta pensar que as coisas poderiam ter sido diferentes. Passado é passado e não tem como mudá-lo.
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