5° Dica: Não Tenha Lee Minho Como Crush
Corpos estavam espalhados pela casa, ocupando sofás, poltronas e até o chão, com alguns colchonetes jogados aqui e ali. Outros, sem tanta sorte, dormiam no chão duro mesmo. O ambiente exalava o caos de uma festa que atravessara a madrugada, marcado pelo cheiro de álcool, cigarro e suor.
Minho bocejou enquanto atravessava aquele mar de corpos adormecidos, o rosto carregado de cansaço. Vestia uma camiseta larga de Changbin, que subiu um pouco enquanto coçava a barriga, em um gesto preguiçoso. O sono era grande, mas a dor de cabeça parecia ainda maior. Arrastou os pés até a cozinha, onde encontrou Hyunjin.
O outro garoto estava usando apenas uma calça de moletom, emprestada por Jackson. O torso nu deixava à mostra algumas das tatuagens que decoravam sua pele. Hyunjin parecia surpreendentemente animado para alguém que, presumivelmente, também tinha enfrentado a noite passada.
— Bom dia! — Cumprimentou com um sorriso largo. Ele terminava de preparar o café e fechou a garrafa térmica com cuidado. — Felix saiu pra comprar o nosso café da manhã. Como foi sozinho, pode demorar um pouco. Jackson se recusou a ir e voltou pra cama, mas aproveitei e fiz café enquanto isso. — Ele ergueu a garrafa cheia, exibindo-a como se fosse um troféu.
— Bom dia... — murmurou Minho, com a voz arrastada e os olhos semicerrados pelo sono. A mente ainda estava lenta, processando as palavras de Hyunjin sem realmente registrá-las. Sem perceber, o olhar se fixou no peito nu e tatuado do loiro. — Que dor de cabeça do cacete... — resmungou, deixando escapar um suspiro pesado antes de se sentar em um dos bancos altos em frente à bancada.
— Imaginei que você estaria assim. Felizmente, o Jackson deixou uma caixa cheia de remédios pra esse tipo de situação. — Hyunjin respondeu, com o mesmo tom leve de antes. Pegou um comprimido e um copo d’água, entregando-os ao Lee, que parecia ainda mais perdido e desarrumado do que o esperado, com o rosto marcado pelo sono.
Hyunjin sorriu de canto, observando o estado caótico de Minho. Enquanto o outro tomava o remédio, flashes da noite anterior passaram por sua mente. Ele ainda se lembrava com clareza dos beijos roubados entre os dois e das gargalhadas cúmplices que compartilharam. Sabia, no entanto, que Minho provavelmente não se recordava de nada — ou, se lembrasse, não seria tão receptivo como fora durante a festa.
— Valeu. — murmurou Minho, com a voz rouca e carregada de sono, engolindo o comprimido junto com a água, na esperança de que isso ajudasse a aliviar ao menos um pouco a dor latejante.
— Então— — Hyunjin começou com um entusiasmo quase infantil, mas sua tentativa de puxar assunto foi abruptamente cortada pelo tom sonolento e impaciente de Minho.
— Vamos esquecer tudo.
— ...como é? — O brilho nos olhos de Hyunjin apagou-se instantaneamente. Era como se alguém tivesse estourado uma bolha de alegria, deixando apenas o silêncio pesado no ar. Seu sorriso sumiu junto com a leveza de antes, substituído por um olhar incrédulo. — Você só pode estar brincando comigo.
A indignação era nítida na voz de Hyunjin, quase tremendo de frustração. Ele estava exausto. Cansado de correr atrás de alguém que parecia rejeitá-lo a cada oportunidade, alguém que erguia muros onde ele apenas queria construir pontes. Mas, droga, era impossível controlar o coração, que insistia em disparar toda vez que Minho estava por perto.
— Depois de anos, Minho... depois de anos, a gente finalmente teve uma noite decente, sem brigas, sem provocações. Foi divertido, porra! A gente riu, a gente...— Ele parou, respirando fundo, tentando não deixar a emoção transbordar. — E agora você quer simplesmente apagar tudo? Quando é que você vai perceber que eu te amo pra caralho?! Que eu tô completamente ferrado por você? Que tudo o que eu quero é voltar a fazer parte da sua vida?!
Hyunjin engoliu em seco, o peito subindo e descendo com a respiração pesada. Sua voz carregava uma mistura de dor e desespero, como se aquela declaração fosse sua última tentativa de alcançar Minho antes de desistir de vez.
Os olhos pequenos de Minho se arregalaram em surpresa. Ele nunca tinha visto Hyunjin daquele jeito. Desde que se conheciam, o Hwang sempre fora a personificação da calma, tratando-o com uma delicadeza que às vezes chegava a irritar, como se ele fosse feito de vidro, pronto para se estilhaçar ao menor toque. Mas agora, vendo aquele desabafo emocional tão intenso, algo dentro dele se remexeu de um jeito inesperado.
E, para a total indignação de Hyunjin, Minho começou a rir.
Era uma risada alta e sincera, do tipo que ecoava no ambiente e parecia iluminar tudo ao redor. Ele nem percebeu como seus olhos puxados sumiam nas dobras do sorriso, ou como aquela covinha na bochecha direita aparecia de forma adorável. Hyunjin tampouco notou como Minho ficava ainda mais bonito rindo tão abertamente, algo que ele não via há tanto tempo. Não, Hyunjin definitivamente não reparou em nada disso.
— Então é engraçado pra você? — a voz de Hyunjin saiu embargada, carregada de dor e indignação. — É engraçado que eu tenha passado anos te amando pra você simplesmente me mandar esquecer uma das melhores noites da minha vida?! — Seus olhos brilhavam, não de raiva, mas pelas lágrimas que começavam a se acumular, ameaçando escorrer.
Minho sentiu uma pontada de culpa ao vê-lo assim, mas, ao mesmo tempo, não pôde deixar de notar o beiço adorável que Hyunjin fazia sem nem perceber. Era um gesto tão genuíno que o fez sorrir de lado, ainda sem saber muito bem como reagir a tanta intensidade.
— Não é isso, e eu nunca disse pra esquecermos a noite de ontem. — Minho falou, sua risada finalmente se dissipando. Hyunjin o olhou confuso, esperando pacientemente enquanto o outro recuperava o fôlego. — Quando eu disse pra esquecermos tudo, eu me referia ao nosso desentendimento. Àquela briga no ensino médio.
A confusão nos olhos de Hyunjin deu lugar a um choque silencioso. Ele ficou parado, sem emitir um som, enquanto Minho continuava, ainda com um sorriso divertido.
— A sua cara de idiota é impagável. — brincou Minho, mas logo seu tom tornou-se mais sério. — Olha, Hyun, eu sinto sua falta. De verdade. Mas eu não vou mentir... tô hesitante. Não vou fingir que superei tudo o que aconteceu ou que não tô magoado, porque ainda estou. — Ele desviou o olhar por um instante, as palavras saindo carregadas de uma honestidade que parecia pesar no ar. — Eu só... não quero me machucar de novo.
O silêncio pairou entre eles por alguns segundos. Hyunjin piscou várias vezes, processando cada palavra que Minho havia dito. O peso das emoções era evidente em seu rosto.
— Minho... — começou, mas foi interrompido pelo mais novo.
— Não é que eu não queira tentar. É só que, pra mim, confiança não é algo que se reconstrói da noite pro dia. Eu preciso de tempo. Quero ir aos poucos. — Ele respirou fundo, os olhos fixos nos de Hyunjin. — Não é sobre você provar algo pra mim. É sobre eu me sentir seguro de novo, sabe?
— E você acha que eu não tô disposto? — Hyunjin respondeu com um tom firme, mas carregado de emoção. — Eu sei que errei, e sei que te machuquei mais do que você merecia. Mas eu mudei, Minho. Eu prometo que mudei. Não sou mais aquele garoto impulsivo e egoísta de antes. Eu tô aqui, agora, e vou fazer o que for preciso pra te mostrar isso.
Minho cruzou os braços, a expressão cética, mas algo nos olhos dele denunciava um fio de esperança.
— E como eu sei que isso não é só conversa?
— Você não sabe. — Hyunjin admitiu, sem hesitar. — E é por isso que eu vou te mostrar, um dia de cada vez. Vou te provar que você pode confiar em mim de novo. Não importa quanto tempo leve.
Minho inclinou a cabeça, avaliando-o.
— Mesmo que isso leve duzentos anos? — provocou, com um leve sorriso.
— Mesmo assim. — respondeu Hyunjin, convicto, segurando as mãos de Minho. Ele as trouxe para perto e as encheu de beijos, em um gesto exagerado e quase teatral.
— Idiota... — Minho riu, balançando a cabeça em negação. — Vamos estar mortos daqui a duzentos anos.
— Então eu vou fazer valer cada segundo que a gente ainda tem. — Hyunjin respondeu, olhando-o nos olhos, o sorriso leve no rosto contrastando com a seriedade em sua voz.
Minho não respondeu de imediato. Mas, pela primeira vez em anos, ele sentiu o muro ao redor do coração começar a rachar, mesmo que fosse só um pouco.
— Na próxima vida, se eu não conseguir sua confiança de volta nessa, eu consigo na próxima! — Hyunjin garantiu com uma determinação quase comovente. Minho tentou conter um sorriso, mas a covinha que surgiu em sua bochecha o entregou por completo. O Hyunjin à sua frente parecia, de certa forma, o mesmo garoto por quem ele teve tanto carinho anos atrás, e não o adolescente egoísta que o magoou profundamente. Antes que pudesse reagir, Hyunjin o puxou para um abraço apertado, quase esmagador. Se aquilo era um sonho, Hyunjin não queria acordar nunca mais.
— Tá, tá, sem abraço, sai. — Minho resmungou, dando tapinhas no ombro do mais velho enquanto retribuía o gesto de forma desajeitada. Hyunjin riu ao afastar-se a contragosto, sabendo muito bem que Minho era seletivo quanto a contato físico. Ele prometeu a si mesmo que voltaria a ser um dos poucos privilegiados que o Lee permitia abraçar — e, quem sabe, dividir um cobertor em uma noite preguiçosa de filmes.
— Só vamos deixar tudo fluir naturalmente, Hyun. — Minho disse, com um tom calmo e sereno, sua voz agora mais leve. — Se for pra voltarmos a ser próximos, isso vai acontecer. Mas sem forçar nada, ok?
Hyunjin assentiu, seu sorriso permanecendo firme, ainda que um pouco tímido. — Tudo bem. Não vou forçar nada. Mas se prepare pra uma enxurrada de mensagens aleatórias de madrugada. — Sua voz tinha um tom brincalhão, embora o sorriso no rosto entregasse que ele talvez estivesse falando a verdade.
— Ouse atrapalhar meu sono e você vai precisar de muito mais que duzentos anos pra me ter de volta. — Minho respondeu, sua expressão carregada de falsa seriedade. Hyunjin apenas sorriu mais ao ouvir as palavras "me ter de volta". Ele sabia que Minho estava falando no sentido de amizade, mas isso não diminuía a alegria que sentia. Ainda assim, por dentro, ele queria mais.
— Não garanto nada! — Hyunjin respondeu com alegria genuína. Nada parecia capaz de abalar o bom humor dele naquele dia, nem mesmo o jeito resmungão de Minho em plena manhã de sábado e ressaca. Pela primeira vez em muito tempo, o Lee também parecia de bom humor, o que, para Hyunjin, era um pequeno milagre.
Se Hyunjin fosse fazer uma lista com dicas para conquistar Minho, a última, sem dúvida, seria "Não tenha um crush em Lee Minho." Não porque ele era uma pessoa difícil de lidar ou facilmente conquistável com doces, mas por uma razão bem simples: "Não tenha um crush no Minho, porque ele já é o meu, e em breve será meu namorado."
Claro, Hyunjin nunca deixaria Minho ler isso. O Lee provavelmente o atacaria com travesseiradas, vermelho de irritação. Mas, no fundo, ele sabia que Minho riria das suas "idiotices", e talvez, só talvez, aquele desejo se tornasse realidade algum dia.
Porque, no fim, eles ainda tinham uma vida inteira para reconstruir a relação especial que perderam anos atrás. E, se isso não fosse suficiente, tinham as próximas vidas inteiras para viver aquele turbilhão de sentimentos que Hyunjin sentia por Minho — sentimentos que, no fundo, ele sabia que nunca deixaram de existir.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro