— Mas eu já sei do que ele gosta. — Disse Hyunjin para suas amigas ao ler a segunda dica.

— Vocês não têm uma conversa decente a três anos ou mais, as coisas mudam, Hyunjin. — Jennie apontou, rodando um pirulito na boca.

— Ele gosta de desenhar, de dançar, de tocar... eu já sei as coisas que ele gosta. — Deu de ombros guardando a lista no bolso.

— Minho mudou e os gostos dele também, ele ainda gosta disso tudo, mas agora ele é adulto, tem outras coisas que ele gosta. — Dessa vez foi Lisa que falou.

— Tipo...?

— Descubra sozinho. — Hyunjin olhou indignado para Jennie, não foi ela que se ofereceu para ajudá-lo? — Eu e Lisa não podemos te ajudar em tudo, nossa parte nós já fizemos escrevendo as dicas, agora se vire com o resto. Vamos, Lisa.

— Tchauzinho. — Lisa cantarolou acenando para Hyunjin antes de segurar a mão de Jennie e sair da sala de aula acompanhada da mesma.

— Tsc! Que ótimas amigas eu arrumei, hein? — Bravejou baixo terminando de guardar seus materiais, pôs sua mochila nas costas e saiu para o campus. — Descobrir sobre o que o Minho gosta... não vai ser difícil. — Comentou para si mesmo, não percebendo alguém atrás de si.

— Skate. — Hyunjin se assustou ao ouvir uma voz feminina atrás de si e virou-se imediatamente.

— Ahn... como?

— Skate, Minho gosta de skate. — A garota respondeu ajeitando o gorro em sua cabeça.

— E você é...?

— Soyeon, sou do curso de pedagogia, estudamos juntos no ensino médio, não lembra? — Hyunjin negou com a cabeça. — Eu quebrei seu nariz depois que você quebrou meu skate de propósito.

— Ah! Claro! A Lil Soyeon. — Lembrou do apelido que todos a chamavam no ensino médio. Nunca foram amigos, mas se conheciam. — Ah, e desculpa por aquilo. — Coçou a nuca sem graça, Hyunjin e Soyeon tinham tudo para serem amigos, mas Hyunjin era idiota no ensino médio e ela era de difícil aproximação, os dois mais brigavam do que tudo.

— Tudo bem, éramos só adolescentes, normal, e desculpa por ter quebrado seu nariz. — Dou de ombros. — Eu ouvi você falar sobre descobrir o que Minho gosta, se for o Minho que eu tô pensando, eu posso te ajudar.

— Sério mesmo? É o Lee Minho que cursa artes cênicas.

— Então é ele mesmo, nos conhecemos no ensino médio e somos amigos até hoje, fui eu quem ensinei ele a andar de skate.

— Mas... por que quer me ajudar tão de repente? — Perguntou desconfiado, ele e Soyeon nem se quer eram amigos, não teria motivos para ela ajudá-lo.

— Eu tenho meus motivos.

— Quer algo em troca, né?

— Na verdade não, mas agora que você falou, sim. Me encontre na sorveteria perto da pista de skate daqui duas horas. Minha ajuda vale um milkshake de ovomaltine do grande, espero que esteja com meu pagamento quando eu chegar. — Disse por fim pondo seu skate no chão, não esperou nenhuma resposta de Hyunjin e saiu dali.

— Droga! Por que fui abrir a boca? — Bufou a observando se afastar com o skate.

[…]

— E aí? — Soyeon saiu de seu skate e cumprimentou Hyunjin com um hi-five.

— Aqui seu milkshake. — Estendeu o copo de 700ml de milkshake para Soyeon, que o pegou na hora e provou.

— Valeu. — Pegou um papelzinho de seu bolso e entregou a Hyunjin.

— Aí são algumas coisas que Minho gosta, mas são coisas que todos que o conhecem sabem como desenhar, andar de skate, tocar instrumentos e escrever músicas. — Deu de ombros tomando mais do milkshake.

— Você sabe de mais alguma coisa que ele goste? Algo que ele começou a gostar depois dos quinze?

— Não sou tão próxima assim dele, somos parceiros na pista de skate, mas posso te ajudar a descobrir.

— E por qual motivo você tá me ajudando? Quer outro milkshake? — Guardou o papel em seu bolso após lê-lo, voltando a olhar para Soyeon.

— Eu já disse que tenho meus motivos, e se você continuar perguntando, vou querer sim. — Subiu em seu skate novamente arrumando o boné em sua cabeça. — Vamos, acho que sei onde ele está agora.

E assim Soyeon saiu em seu skate e Hyunjin foi logo atrás. O Hwang ainda não sabia o motivo da garota ajudá-lo, mas a essa altura nem ligava. Desde que o ajudasse na missão de reconquistar seu amado, não questionaria nada.

[…]

O polegar do jovem deslizou pela tela do celular, seus olhos escuros passavam rapidamente pelas inúmeras músicas de sua playlist, mas nenhuma lhe parecia convidativa. Minho suspirou pesadamente bloqueando a tela do celular, desistiu de procurar uma música que lhe desse inspiração para criar uma nova história, e as que ele já criou? Bom, essas ele continuaria procrastinando e ignorando os pedidos de seus leitores para que continuasse. Isso sem contar das inúmeras histórias que o Lee escreveu apenas as primeiras cem palavras e depois abandonou o projeto sem ao menos dar um título, deixando apenas palavras aleatórias para não deixar vazio. Minho realmente tinha que parar de fazer isso, mas não conseguia, ao invés de terminar suas histórias apenas começava outras, era um ciclo vicioso. Ele estava tão entretido que nem notara outros dois universitários o observando de longe.

— Ele vem aqui de vez em quando, já passei de skate aqui algumas vez e o encontrei mexendo no celular, às vezes escrevendo algo no caderno mas geralmente no celular. — Relatou agachada ao lado de Hyunjin atrás de um arbusto, fitando Minho de longe. — Acho que ele fica escrevendo músicas já que ele curte, aqui deve ser algum lugar de inspiração.

— Mas ele estaria usando com algum instrumento, tipo o violão dele. — Hyunjin virou a cabaça para olhar Soyeon, que repetiu o ato do colega. — Talvez ele esteja escrevendo outra coisa.

— Tipo uma história?

— Talvez.

Os dois estavam tão distraídos conversando entre si que não notaram quando Minho saiu do gramado e aproximou-se de ambos.

— Yeon? Por que tá encolhida aí? — Perguntou com o cenho franzido assustando tanto Hyunjin quanto Soyeon, que viraram na hora para olhar o dono da voz que os assustaram. Após desistir de escrever algo, Minho percebeu de longe duas figuras familiares o observando.

— Ahn... é que... — Hyunjin começou mas não conseguiu terminar, olhou para Soyeon em busca de ajuda, não poderia simplesmente falar que estavam o vigiando.

— Nós estávamos procurando o meu anel que deixei cair enquanto andava de skate. — Soyeon deu a primeira desculpa que passou pela sua cabeça pegando o anel que havia jogado no chão discretamente, felizmente ela já havia reclamado para Minho que o anel estava largo e que várias vezes ele saía de seu dedo, então seria mais fácil dele acreditar nessa desculpa esfarrapada.

— Sei... — Observou ambos de cima por mais alguns segundos, suspirou dando de ombros. — Certo, e Yeon, cuidado pra não perder esse anel de vez.

— Certo. — Concordou com a voz baixa assentindo com a cabeça e observou o amigo se afastar, não acreditava que o Lee tinha engolido totalmente essa história, mas ele não tinha motivos para pensar o contrário.

— Céus! — O Hwang soltou o ar que nem percebeu prender, seu coração batia forte só de estar perto de Minho, sendo pego no flagra então fazia seu frágil coração quase sair pela boca. — Sinto que seguir ele não vai ser uma boa id-

— Karaokê! — Soyeon falou alto interrompendo o outro.

— Como?

— Karaokê, ele vai pro karaokê agora.

— Que...? Como é que- — Calou-se quando Jeon virou seu celular para ele, mostrando o status do whatsapp de Lisa. — Me arrumando para ir ao Sing It Loud com Minho e Jennie... — Leu a legenda que a tailandesa colocou em uma foto dela com Jennie seguido de um coração.

Sing It Loud é uma lanchonete com karaokê, lugar bem conhecido entre os jovens.

— Nós vamos pra lá também, vamos! — E em um piscar de olhos, Soyeon já estava sobre seu skate se afastando de Hyunjin, que ainda estava a processar a lógica dela. — Anda logo, Hwang! — Gritou, o arrancando  de sua bolha de pensamentos, agora com o loiro talvez tendo ideia do motivo de seus amigos o chamarem de lerdo e desligado.

— Ei! Espera por mim! — Gritou ao ver Soyeon a metros de distância, não demorando mais a começar a correr atrás da skatista.

[…]

— Tem certeza que eles vêm mesmo? Estamos esperando a horas! — Reclamou inquieto e insatisfeito com a "demora" do trio. A mais baixa revirou os olhos desejando socar o rosto de Hyunjin para ver se este ficava mais sossegado.

— Chegamos aqui não faz nem dez minutos, Hwang. — Respondeu com acidez em sua voz, já era a quinta vez que ele falava da "demora" das amigas e Hyunjin e isso já estava torrando a paciência dela.

— Pra mim parece que estamos a duas horas.

— Mas não estamos! Estamos aqui a menos de dez minutos! — Rebateu irritada com a impaciência do outro, quase considerando a violência um bom acalmante. — Agora fica quieto, não quero ouvir um piu se quer até eles chegarem.

Hyunjin optou por ficar calado, não desejava receber uma skatada no meio da cara. Sua perna não ficou parada em momento algum, se mexendo a todo instante, uma ação que deixava sua ansiedade exposta, ficando assim pelos próximos dez minutos.

— Vai lá e arrasa, Min! — Hyunjin passeou os olhos pelo salão em busca da voz que ele tanto conhecia, demorando alguns segundos até encontrar a dona da voz, Lisa.

— Ei, olha lá. — Indicou Soyeon com a cabeça. Hyunjin olhou para o palco onde estava quem ele tanto estava procurando, e que nem percebeu a chegada.

— Minho... — Sua voz saiu como um sopro, seus lábios curvaram-se em um sorriso singelo. O cujo dito esteva no palco com um violão em mãos, os fios soltos caindo sobre seu rosto bem marcado, os lábios avermelhados, sua voz angelical anunciando que iria cantar uma música autoral dele... céus, parecia um anjo.

— Ela se chama "Berlin", espero que gostem. — Disse Minho timidamente próximo ao microfone, olhou para a mesa onde Lisa e Jennie estavam, as meninas sorriam para o garoto querendo transmitir segurança para o mesmo. Ele fechou os olhos puxando o ar, solto-o entre os lábios abrindo os olhos novamente. — "Una lágrima que cae" — Começou timidamente tocando o primeiro acordo em seu violão. Suas orbes passearam pelo salão, mas sem de fato focar nos rostos das pessoas. — "Una sensación que hay que disimular.
Porque aunque lo sé y lo sabes". — Algumas pessoas foram parando de falar aos poucos para prestar atenção no dono daquela voz encantadora e angelical, mas aquele que tinha maior foco era um jovem de 20 anos que se atende pelo nome de Hwang Hyunjin. — "Nunca fui capaz de hablar Yo sé que fuiste tú
E l que te fuiste, tú
Y si Madrid se queda sola
Eso lo hiciste tú." — Agora tendo foco total das pessoas, Minho tinha todos os olhares em sua direção, agora ele cantava mais rápido em um ritmo mais animado.

Os olhos escuros de Hyunjin analisavam cada detalhe visível do Lee, sua pele perfeita e lisa como porcelana, o cabelo solto e uma expressão serena. Os olhos transbordando paixão pelo que estava fazendo, aquelas jabuticabas que Hyunjin tanto amava... aquelas belas orbes que faziam seu pobre e frágil coração ir a mil, as mesmas que encaravam a escuridão dos olhos do Hwang.

— "Y no me importa si vas a llamarme
Yo quiero besarte, besarte y besarte. Ey
No sé qué pasará en Berlín, si esto va a ser el fin
Pero me jode más tener que esperarte" — Agora Minho tinha seu foco em uma única pessoa, o mais novo não conseguia desviar do rosto de Hyunjin, seus olhos verdes, seus lábios entreabertos, seu cabelo levemente bagunçado e suas bochechas e orelhas avermelhadas ao perceber que também era encarado. — "Qué pasará en Berlín, si tú no estás aquí
Tal vez, si vuelves, no seré lo de antes
Yo sé que fuiste tú
El que te fuiste, tú 
Y si Madrid se queda sola eso lo hiciste tú"

A lanchonete estava cheia, mas para o Lee e Hwang, eles eram os únicos ali. Apenas os dois com a música que o mais novo cantava sendo um acompanhamento daquele momento.

— "Y no me importa si vas a llamarme
Yo quiero besarte, besarte y besarte
Besarte y besarte
Y ahora me jode más tener que esperarte."  — Minho piscou os olhos três vezes seguidas rapidamente, desviou o olhar quebrando o contato visual e saindo daquele transe que havia entrado sem perceber. Hwang sacudiu a cabeça voltando a si, estava tão distraído que nem percebeu quando seu pedido chegou. — "Besarte y besarte
Y ahora me jode más tener que olvidarte."

— Bom vocês beberem algo, porque a secada que um deu no outro... — Soyeon comentou recebendo a atenção do colega, mas durou apenas dois segundos já que a voz de Minho roubou toda a atenção de Hyunjin para si novamente.

— "Dicen que amor de lejos, felices los cuatro
Si estás con alguien, pienso a cada rato
Y no son celos, ponte mis zapatos
¿Cómo nos damos besos por un iPhone?
No, sé que no
Servirá de nada y lo siento yo
Si te vas a ir, vete, por favor
Que tanta espera está peor." — As jabuticabas agora olhavam para a mesa onde estava Jennie e Lisa, as amigas estavam cochichando entre si sobre algo que ele não conseguiu ouvir. — "No sé qué pasará en Berlín, si esto va a ser el fin
Pero me jode más tener que esperarte
Qué pasará en Berlín, si tú no estás aquí
Tal vez, si vuelves, no seré la de antes." — Minho olhava para a mesa onde se encontrava sua irmã e sua melhor amiga, para os lados, para as garçonetes, para qualquer lugar menos para a mesa de Hyunjin e Soyeon. O loiro havia notado que o mais nova estava o evitando, mas não ligava, ainda estava sob o efeito daquele transe, daquele olhar e daquela voz.

— Vamos. — Jennie se levantou junto de Lisa, as duas andaram juntas até a mesa de Hyunjin e Soyeon pondo as bandejas com os lanches sobre a mesma. — E aí? — Cumprimentou os amigos sentando-se de frente para a Jeon, Lisa sentou ao seu lado.

— Jennie, Lisa. — Soyeon cumprimentou as duas com um aceno de cabeça, sorriu timidamente para Jennie. As duas ainda se falavam de vez em quando, mas a relação delas nunca mais fora a mesma depois do término do namoro no ensino médio.

— Pra duas pessoas que fizeram teatro a infância e adolescência inteira, vocês dois atuam e disfarçam muito mal. — Lisa comentou rindo, seu olhar antes direcionado para Hyunjin, agora estava sobre Minho.

— Amor de lejos, felices los cuatro
Amor de lejos, felices los cuatro
Amor de lejos, felices los cuatro
Y ahora me jode más tener que olvidarte. — E assim a música chegou ao fim e os aplausos e assobios vieram.

— Há há, muito engraçado, Lalisa. — Disse Hyunjin sarcasticamente. Observou Minho descer do palco e ir até a mesa onde as meninas estavam, guardou seu violão no estojo de couro, suspirando pesadamente. Minho olhou para a mesa onde Hyunjin estava e foi até a mesma a passos lentos.

— Oi. — Cumprimentou Hyunjin com um aceno de cabeça e Soyeon com um hi-five.

— Arrasou, hein, baixinho. — Elogiou a skatista ajeitando seu boné.

— Senta aí, estávamos falando sobre como você e Hyunjin são péssimos atores. — Lisa puxou Minho para sentar-se ao seu lado, o deixando de frente para Hyunjin.

— Não sei do que está falando. — Murmurou se ajeitando no banco, pôs o estojo no chão ao seu lado suspirando baixo.

— Que irônico, os dois que mais se destacavam no teatro no ensino médio não conseguem disfarçar o am- aí! — A Jeon gemeu de dor ao receber um chute em seu pé vindo de Hyunjin e um chute na perna vindo de Minho. — Porra! — Mais um gemido de dor saiu de seus lábios, bufou baixo lançando um olhar de reprovação aos dois garotos.

— Bem... você cantou muito bem, Minho. — Hyunjin começou timidamente agora olhando para o motivo de seus típicos surtos-de-garota-adolescente-clichê-apaixonada. — Não sabia que tinha começado a cantar, antes você só tocava.

— Tem muitas coisas que você não sabe, Hyunjin. — Respondeu, recebendo um olhar de reprovação das três garotas presentes, mas não ligou.

Jennie limpou a garganta e deu um gole em seu suco de laranja.

— Foi no fim do ensino médio, pouco antes de você também começar a cantar, Hyunjin. — Jennie respondeu pondo o copo de vidro sobre a mesa.

— Então... Er... — Hyunjin começou, mas parecia que a cada vez que olhava Minho, as palavras fugiam de sua boca. — A música... ela é muito boa.

— Obrigado... escrevi enquanto passava as férias em Madri no colégio. — Pegou uma batata frita que estava dividindo com Jennie, levando-a até a boca. — Foi pouco depois de... de nos afastarmos.

— Foi quando você, Yuri e Chic foram pra Berlim. — Completou Jennie, torcendo para que Hyunjin percebesse qualquer semelhança entre o evento e a música.

— Música sempre foi uma paixão sua, mas você sempre foi inseguro em relação à sua voz. — Hyunjin olhava fixamente para o anel com o qual brincava. — Fico feliz que esteja mais seguro em relação a isso... você é muito talentoso. — Seus lábios curvaram-se em um pequeno sorriso, levantou seu olhar para Minho, que o olhava de volta.

— Você... você também canta muito bem. — Respondeu Minho desviando o olhar, não sabendo ao certo o que responder. — Gosto de escrever músicas sobre as viagens que faço... é meio que um hobby. — Deu de ombros olhando para seu copo de suco de abacaxi com hortelã.

— Você gosta de viajar?

— Sim, gosto de me aventurar em lugares novos, de conhecer novas culturas e línguas, de tirar fotos e escrever sobre, é algo que tomei gosto a um tempo.

As garotas entreolharam-se entre si. Nem sabiam quando havia sido a última vez que os dois conversaram por mais de um minuto sem que Hyunjin se atrapalhasse ou Minho desse algum fora.

— Qual lugar você mais gostou de ir? — Hyunjin perguntou querendo prolongar a conversa, além de também querer saber mais sobre sua paixão.

— A ilha de Bora Bora, na Polinésia Francesa, na época eu ainda não tinha esse gosto por viajar, mas é com certeza o lugar que eu mais gostei de ir. — Minho não pôde evitar sorrir com as lembranças. Ele tinha treze anos, Hyunjin e Jennie quatorze, e sua irmã mais nova ainda estava viva, com dez anos. Minho teve experiências incríveis nessa viagem, brincou, se aventurou, se divertiu, teve seu primeiro beijo... foi uma viagem inesquecível.

— Eu lembro, foi realmente divertido, a gente fugia de casa pra ver as estrelas cadentes e nossos pais ficavam uma fera quando descobriam. — Riu com a lembrança, balançando a cabeça. Ele e Minho aprontavam todas quando estavam juntos.

— Realmente, foi lá que descobri minha paixão por conchinhas e passei a fazer artesanato com elas.

— Sério? Não sabia disso. — Parou de rir, tomando o resto do seu sorvete. A resposta fez Minho franzir o cenho. Na época, os dois eram bem próximos e não tinham segredos. Hyunjin sabia que Minho gostava de catar conchas, mas não de fazer artesanato com elas.

— Não? Achei que soubesse, eu até fiz um colar de concha pra você.

— Não, você não fez. — Dessa vez, foi Hyunjin que franziu o cenho, unindo suas sobrancelhas.

— Claro que eu fiz, Hyunjin, eu até te entreguei junto de uma... ah. — A voz de Minho morreu ao lembrar que nunca entregou o colar para Hyunjin, nem o colar e nem a carta que escreveu.

— De uma...? — Incentivou Minho a continuar, com as sobrancelhas erguidas, aguardando uma resposta.

— Nada. — Negou com a cabeça. — Eu me enganei, desculpa, eu nunca cheguei a te entregar. — A animação antes presente na face de Minho esvaiu-se, dando lugar a uma expressão pensativa e distante. Por que não tinha entregado a cartinha mesmo? Ah, claro, Hyunjin estava começando a sair com Karina, uma das garotas mais populares da escola.

Mal sabia Minho que Hyunjin não sentia nada por Sina, e que apenas estava saindo com ela porque estava confuso, porque não queria acreditar que estava nutrindo sentimentos por seu melhor amigo, porque queria apagar o que estava sentindo saindo com outra pessoa.

O celular de Minho começou a tocar, o nome "mãe" apareceu na tela junto de uma foto de Hyori e seu único filho juntos. Minho pegou seu celular e o atendeu. Teve uma breve conversa com sua mãe, suas respostas eram curtas, apenas "uhum", "aham", "certo" e "estamos indo" vindo dele.

— Jennie, a mãe disse pra irmos pra casa dela agora.

— Por que? Temos que ir agora mesmo?

— Sim, ela disse pra não demorarmos. — Respondeu levantando-se e pegando o estojo do violão. — Até mais, galera. — Despediu-se junto de Jennie, depositou um beijo no topo da cabeça de Lisa antes de sair do estabelecimento.

— Mais tarde ligo pra vocês. — Lisa disse alto para ambos ouvirem.

Viajar, artesanato com conchas e cantar.

Hyunjin pensou consigo mesmo. Claro, já sabia da paixão de Minho pela música, mas ficou feliz em saber que agora ele estava mais seguro para cantar.

Já pouco afastado do estabelecimento e pilotando uma CB150R preta, Minho repassava toda a viagem a Bora Bora em sua mente, desde o beijo que deu em Hyunjin quando ninguém estava vendo, até a sua conversa com sua mãe em relação aos seus sentimentos e sua sexualidade. Também pensava no colar de conchas que havia feito para Hyunjin, Minho iria entregar o colar junto de uma cartinha falando o que sentia.

Patético.

Minho pensou virando a esquina. Aquilo já passou e deve permanecer no passado. Não adianta pensar no que teria acontecido caso ele não tivesse desistido, não adianta pensar que as coisas poderiam ter sido diferentes. Passado é passado e não tem como mudá-lo.