Capítulo 9
Felipe discursou durante quinze minutos sobre a importância da empresa que havia criado e de todas as pessoas que nela trabalhavam, contando histórias sobre desafios que precisaram ser superados e citando colaboradores que foram cruciais em alguns momentos. Falou das grandes realizações ao longo dos anos e do que esperava para o futuro da Essence. Terminou falando sobre família, e como o trabalho deveria ser apenas um meio para conquistar sonhos em comum com aqueles que amavam.
― E nesse clima de união eu gostaria de chamar aqui no palco a minha família: minha linda esposa, meus filhos, minha nora e meu neto — disse ele, olhando em volta acenando para que eles se juntassem a ele.
Ângela sentiu náuseas ao ouvir o chamado do sogro e disse para si mesma que nem o Papa a faria sair de seu refúgio naquele estado, ainda mais para subir ao palco e ficar plantada na frente de todos. Àquela altura não estava apenas suja, como também descabelada. Os outros subiram ao palco e esperaram por eles, enquanto ela fazia o possível para manter o filho quieto afim de que ele não delatasse sua localização.
― Onde estão aqueles dois? ― perguntou Felipe.
― Na última vez em que vi a Ângela, ela estava procurando o Vítor ― Melinda respondeu. — Seja onde for, eles devem estar juntos.
Marcos pegou o microfone:
― Parece que a minha mulher fugiu com o meu filho. Se alguém souber do paradeiro deles, ofereço uma boa recompensa em troca da informação.
Os convidados riram.
― Talvez ela esteja no toalete ― disse Ricardo. Melinda ia saindo para procurá-la, mas Felipe a segurou.
― Espere um pouco. Tenho certeza de que ela já deve estar vindo para cá. Tragam o bolo, por favor! ― Sinalizou para o pessoal do bufê.
Um garçom pegou o bolo e o levou até a pequena mesa de vidro colocada no palco. Ele estava constrangido e, quando se aproximou, todos perceberam o motivo.
― Eu juro que não sei o que aconteceu ― murmurou o rapaz, olhando para o bolo cuja metade havia sido destroçada.
― Eu sei! ― Marcos olhou para o bolo, depois para o pai, e saiu do palco sem dizer nada. Chegou à mesa grande onde o bolo estava antes e levantou a toalha de uma vez, revelando uma Ângela descomposta e completamente constrangida.
― Papai! ― Vítor gritou empolgado, acreditando que o pai estava ali para brincar com eles. Ele tinha glacê até no cabelo e Marcos riu.
― Vem, filho, saia de baixo dessa mesa ― pediu, puxando-o devagar. ― Você também. ― Olhou para Ângela, reparando em sua expressão de pavor.
― Nem morta! ― ela respondeu com firmeza. — Ninguém me tira daqui até todos terem ido embora.
― Tarde demais, amor, todos já te viram. ― Marcos apontou para as pessoas que os observavam. Todos os olhos daquele salão estavam pregados neles.
― Graças a você! ― Ângela acusou, furiosa por ele tê-la revelado. Marcos a agarrou pelos braços e, ignorando seus protestos, tirou-a de lá. Assim que a viu melhor, emudeceu por alguns segundos e contemplou o estrago.
― Não está tão ruim ― mentiu descaradamente, fazendo-a estreitar ainda mais os olhos. ― Vamos lá! ― encorajou-a, adiantando-se em direção ao palco. Antes de dar o segundo passo, no entanto, foi agarrado pela mão e impedido de continuar.
― Não, por favor. Olha para mim, Marcos! É a empresa do seu pai, você nunca vem aqui... Eu não posso subir lá assim.
O desespero na voz de Ângela era genuíno. Ela estava à beira das lágrimas e Marcos se comoveu.
― Ei! ― Levantou o queixo dela com uma das mãos, obrigando-a a encará-lo. ― Está tudo bem. Quer saber de uma coisa? ― Sem dizer mais nada, ele a agarrou e lhe deu um beijo de cinema, daqueles em que o mocinho inclina a mocinha para beijá-la ao final da música. Ângela perdeu o rumo e se deixou levar na sensação familiar e maravilhosa dos lábios dele junto aos seus. Alguém assobiou e os outros aplaudiram, trazendo-os de volta à realidade. Marcos sorriu contra os lábios da esposa e a ergueu novamente, acariciando o seu rosto com uma das mãos e lhe dando uma piscadinha antes de soltá-la.
Ângela fitou o marido tentando encontrar uma resposta para aquela atitude, porém, tudo o que encontrou foi amor, desejo, e aquele ar brincalhão que surgia sempre que ele conseguia constrangê-la. Somente quando reparou melhor compreendeu o gesto, pois o paletó, a calça e a camisa dele estavam cobertos com a metade do glacê do seu vestido. Uma lágrima caiu de um de seus olhos, mas foi uma lágrima de amor e não de constrangimento. Voltou a abraçá-lo sem dizer nada, porque não conseguia formular nenhuma palavra, e Vítor coroou o momento abraçando-os pelas pernas. Marcos o pegou no colo para evitar maiores danos e estendeu a mão para Ângela, que a pegou confiante e caminhou com ele até onde a família os esperava.
Felipe olhou para eles e sorriu, assim como os outros. Ele beijou o neto, que passou a mão melada em seu rosto, e explicou ao microfone:
― Meu netinho tem um problema sério com glacê. Nunca deixem um bolo ao alcance dele.
Todos caíram na risada e aplaudiram novamente. Marcos passou o braço em volta da cintura da esposa e os dois permaneceram unidos e grudentos até o final da festa.
Em casa, após darem banho no filho e colocarem-no para dormir, eles foram para o quarto e se entreolharam. Estavam melados, com os cabelos desalinhados e as roupas manchadas.
— Olha só para nós — Ângela comentou, pensando no esforço que fizera para ficar bonita e elegante como a ocasião pedia.
— Pois eu estou te achando apetitosa com essa cobertura de glacê ― Marcos rebateu.
— Ah, é? — Ângela mordeu os lábios de forma sedutora. Seu humor estava nas alturas desde que ele a arrebatara e beijara na frente de todos.
— É sim, e para testar minha teoria, vou descobrir se está doce aqui. — Marcos inclinou-se e a beijou na região entre os seios. — Muito doce.
Ângela arfou e segurou o rosto do marido para beijá-lo nos lábios. Minutos depois, Marcos a pegou pela mão e a conduziu para o banheiro, dizendo-lhe que apesar do glacê ainda preferia seu sabor natural. Embaixo do chuveiro, eles fizeram amor de forma apaixonada e tomaram banho. Mais tarde, saciados, olhavam um para o outro em silêncio, cada qual em seu travesseiro.
— Senti muita saudade de você — disse Marcos. — Mais do que eu posso admitir.
— Eu também senti. É como se faltasse um pedaço de mim quando não está por perto. Fico contando os dias para você voltar, e tudo o que acontece, quero compartilhar com você. É irritante isso. — Suspirou com uma pausa afetada e o encarou. — Desde a última sexta, estou louca para te contar uma coisa:
— O quê?
— Consegui um emprego! Não é nada tão grande e especial como ser repórter do RSS News, mas é bem legal!
— Que ótimo! — disse Marcos, ignorando a provocação. — Onde vai trabalhar?
— Na Revista Belle. Você não deve conhecer...
Marcos pensou por alguns segundos e Ângela aproveitou para admirar a pequena ruga que sempre aparecia em sua testa quando ficava concentrado.
— Claro que conheço! — ele disse por fim. — É uma revista feminina, voltada para a faixa dos dezoito aos trinta e cinco anos... Não é grande, mas possui um número razoável de leitoras e está crescendo. É o lugar perfeito para você recomeçar. Parabéns! Tenho certeza de que se sairá muito bem.
Marcos se aproximou e Ângela se deixou abraçar.
— Obrigada! Eu estava tão ansiosa para te contar. Aí você chegou e ficou bravo comigo, me ignorou...
― Eu sinto muito, amor! Estava cansado e irritado por ficar tanto tempo longe de casa, queria ficar aqui com vocês e não sair para um desses encontros familiares que são sempre meio estranhos. ― Acariciou o rosto dela e buscou seus olhos. ― Isso não me dá o direito de me comportar feito um idiota e descontar em você. Me perdoe!
― Tudo bem. ― Ângela apoiou a cabeça no antebraço e o encarou. ― Fiquei muito irritada com a nossa briga, por isso, na festa, enquanto a mulherada babava em você, eu só conseguia pensar nos seus defeitos. Foi quando fez aquilo para me ajudar, que me lembrei porque eu te amo tanto.
― E por que você me ama?
― Porque você sempre me faz sentir melhor, independente da situação. Você se importa comigo, é meu amigo, e apesar de me tirar do sério com mais frequência do que eu gostaria, está sempre do meu lado. É isso o que eu mais amo em você.
Marcos a apertou contra si e suspirou.
― Estou feliz que tenha precisado de ajuda porque, detesto dizer, mas dessa vez eu ia perder feio. Não conseguiria ficar mais meia hora brigado com você. Eu te amo demais, e mesmo quando não tomo a iniciativa, estou sempre esperando por você.
Ângela sorriu contra o peito dele e ali mesmo adormeceu.
Uma imagem que representa o beijo do capítulo s2
Bom dia, gente!
Espero que tenham gostado desse capítulo. Confesso que é um dos meus preferidos de CA2. Tem muito amor envolvido, além de uma pegada sensual, enfim, só coisas que eu amo escrever e reler muitas vezes com um sorriso idiota na cara.
Aproveitem bastante, pois sinto o cheiro de tempestades se aproximando. Estão preparados (as)?
Comentem se gostaram, isso me ajuda muito e me deixa feliz!
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