Capítulo 33
Dessa vez, meu comentário virá antes.
Segurem os forninhos, porque a coisa vai ficar feia. Fortes emoções aguardam vocês!
Não esqueçam de votarem no capítulo e comentarem. Amo seus comentários, respondo todos. Tenho achado muito enriquecedor o debate acerca do comportamento do Marcos. Porque esse livro é diferente. Enquanto o primeiro era sobre enfrentar barreiras e encontrar o amor, esse é sobre como a falta de comunicação de o fechamento de uma pessoa pode destruir tudo aquilo que foi construído, independente do tamanho desse amor. É uma história realista, pois muitos casais se afastam de maneira parecida, por pura falta de diálogo.
Mas vamos torcer para esses dois, para que depois de tudo ainda reste amor e o desejo de mudar para reconstruir o que se perdeu nessa reta final.
Beijos e uma ótima semana a todos!
Capítulo 33
Nos dias seguintes à viagem, Ângela observou seu casamento entrar em uma nova fase: nem tão ruim como antes, nem tão boa como naquele fim de semana. Ao menos ela e o marido estavam se esforçando para passar algum tempo juntos e conversavam sobre várias coisas, menos sobre os problemas que tiveram ao longo do ano ou suas angústias atuais.
Marcos, por exemplo, não dizia como se sentia confuso em relação à Essence e sua carreira no jornalismo, nem sobre a ansiedade de não saber o que aconteceria. Pela primeira vez, ele não tinha um plano traçado para o futuro e não fazia ideia do que o destino lhe reservava. Ângela, por sua vez, não mencionava o fato de estar procurando um novo emprego. Ele tinha problemas demais para se preocupar com suas bobagens, justificava para si mesma como fizera por anos, exceto que agora era impossível não sentir certo rancor com isso. Ela se sentia o tempo todo engasgada, tinha ciúmes de Gisele e tentava não se incomodar com o fato de Marcos estar angustiado e não lhe dizer nada. Na ilha eles estavam distantes dos problemas e fora relativamente fácil esquecerem-se de tudo; em casa era bem mais difícil, o que tornava seus momentos compartilhados agradáveis, porém, artificiais.
Faltando alguns dias para o Natal, Ângela precisou sair da cidade para entrevistar uma neurocirurgiã renomada em seu consultório, em Campinas. Ela não conseguia entender o motivo de Renata ter lhe dado a matéria de capa àquela altura, quando já havia entregado os pontos e desistido de se provar naquele trabalho. Talvez a chefe desconfiasse que estava para sair e quisesse que ficasse, talvez não tivesse ninguém disponível para escrever a matéria, visto que vários colegas estavam de férias; não importava o motivo, era uma boa matéria e não iria desperdiçá-la.
— Bom dia! — disse a Marcos naquela manhã, surpresa por encontrá-lo na cozinha. — Já de pé?
— Pois é. Tenho umas coisas para resolver antes do início do expediente — Marcos comentou sem dar detalhes enquanto abria a geladeira e pegava algumas coisas para o café da manhã. — Eu fiz o café.
— Que bom! Gosto mais do seu café do que do meu.
— Nem imagino o motivo. Nunca sigo as proporções, encho algumas colheres sem prestar atenção à quantidade de pó e jogo na cafeteira de qualquer jeito.
— É por isso mesmo que eu gosto — Ângela respondeu, passando por ele para pegar uma xícara. — Meu café tem sempre o mesmo gosto, mas o seu, cada vez é uma experiência diferente. — Sentou-se numa das banquetas do balcão e observou ele encher uma xícara para si e sentar-se do seu lado com um jornal. Os dois estavam agitados, distraídos, e ficaram em silêncio. Ângela pensou em comentar sobre sua nova matéria de capa e expor suas expectativas para a entrevista daquele dia, mas achou que ele estivesse com a cabeça cheia e que aquilo poderia acabar sendo uma distração, portanto, não disse nada. Se ele estivesse atento, teria notado que ela vestia o seu melhor tailleur, aquele que usava apenas em ocasiões de trabalho especiais. Obviamente ele está ocupado demais para reparar, refletiu. — Meu carro sai da revisão agora de manhã — comentou, na tentativa de iniciar uma conversa.
— Quando você o deixou na concessionária? — Marcos perguntou, sem tirar os olhos do jornal.
— Ontem, depois do almoço.
— E como vocês vieram para casa?
— De metrô. Foi Vítor quem escolheu e eu gostei. Não quero que ele cresça burguês demais, quero que aprenda a se virar e que tenha independência para andar pela cidade quando for mais velho.
Marcos sorriu com o canto dos lábios, em seguida olhou para o relógio de pulso e consultou as horas.
— Tenho que ir agora. Quer uma carona?
— Não precisa. Ainda tenho que acordar o baixinho e não quero te atrasar. Vou deixá-lo na casa da sua mãe hoje com a Juliana. Agora que as aulas terminaram, vou ter que me virar nos trinta — comentou, sem notar que havia dito nas entrelinhas que precisava se virar sozinha. Marcos percebeu, mas não disse nada a respeito.
— Por que minha mãe não vai ficar com ele? — perguntou, tentando não pensar em seus problemas conjugais. Não era o momento de ficar se culpando. O ano estava acabando e logo poderia reorganizar sua vida, principalmente no âmbito pessoal.
— Ela tem um evento de caridade para organizar e concordamos que ele estará melhor em casa. Ainda não sei se ele superou aquele problema com glacê — brincou.
— Entendi. Então, eu já vou. — Marcos ficou de pé e se virou para sair.
— Ei! — Ângela reclamou, segurando-o pela manga do paletó e o puxando para lhe dar um beijo com aroma de café. — Tenha um bom dia!
— Você também.
Assim que Marcos partiu, Ângela foi até o quarto de Vítor. Ele parecia cansado, por isso decidiu levá-lo adormecido para a casa da avó. Para seu desânimo, Melinda havia levado Juliana para o seu evento e deixado Bárbara, a nova empregada de dezenove anos, para ficar com o menino. Ela era a única que estava na casa, e apesar de não gostar muito de deixar o filho com uma quase estranha, Ângela sabia que a jovem era uma boa pessoa e lhe passou todas as informações sobre ele antes de sair.
Algumas horas depois, esperava no consultório da Dra. Sarah Escobar, que estava atrasada devido a um imprevisto no hospital, quando seu celular tocou.
— Ângela, desculpe eu ligar para a senhora, mas Vítor não me parece muito bem — disse Bárbara, parecendo um pouco ansiosa.
— O que ele tem? — perguntou, entrando em estado de alerta.
— Ele está amuado, chorando, e reclamando de dor no corpo... Nem quis ir para a piscina quando ofereci e só quer ficar deitado, vendo TV.
— Será que é gripe? — Ângela alarmou-se, pensando no fato de que na noite anterior ele quis dormir mais cedo que de costume, algo raro de acontecer.
— Acho que é gripe sim. Desculpa eu ligar, sei que está ocupada.
— Não, você fez bem. Por favor, passe o telefone para ele — pediu.
— Tudo bem.
— Mamãe, vem pra casa! — Vítor pediu com a voz dengosa, assim que pegou o telefone.
— Eu estou no trabalho agora, querido, mas prometo terminar bem rápido para ficar com você.
— Vem agora — choramingou ele. Ângela sabia que mesmo que cancelasse a entrevista, demoraria pelo menos uma hora e meia para voltar. No mínimo, chegaria por volta da hora do almoço.
— A mamãe está um pouco longe, amor — explicou, falando de si mesma na terceira pessoa como fazia quando ele era bebê. — Onde dói?
— Dói tudo — ele respondeu, dessa vez chorando um pouco mais alto. — Eu quero você, mamãe. Vem ficar comigo!
Ângela pensou seriamente em desistir e voltar para casa, mas além da pressão de aquela ser uma matéria de capa e não haver mais tempo para mudanças, ouviu a secretária falando com a doutora por telefone e confirmando através de sinais que ela já estava chegando. Assim, decidiu que esperaria mais um pouco e que agilizaria a entrevista para terminar o mais rápido possível.
— Eu já vou, filho, prometo! Passa o telefone para a Bárbara, por favor. — Esperou até a empregada pegar o telefone e perguntou: — Ele está mal de verdade?
— Acho que não. No instante em que peguei o telefone, ele parou de chorar e agora está com os olhos fixos na TV. Deve ser só uma gripe — respondeu Bárbara, examinando o menino com os olhos.
— Não sei se consigo chegar logo aí — Ângela divagou.
Ao perceber sua preocupação, Bárbara tentou tranquilizá-la:
— A senhora sabe que criança faz manha para a mãe, ainda mais se não estiver se sentindo muito bem. Pode continuar seu trabalho. Qualquer coisa, eu ligo e te aviso.
— Certo. Vou fazer o possível para terminar logo e voltar correndo para casa. Não deixe de me ligar se notar qualquer coisa diferente.
Ângela desligou o telefone e esperou cerca de vinte minutos até ver a bela mulher de feições suaves entrar pelo consultório. Ela falou com a secretária, cumprimentou a jornalista e se desculpou pelo atraso, depois pediu que esperasse um pouco mais enquanto se organizava para recebê-la. Por fim, quando a chamou, Ângela sentou-se e tentou não parecer ansiosa enquanto ligava o gravador para entrevistá-la. Começou fazendo uma introdução com um breve resumo sobre suas conquistas, esperando que ela concordasse ou discordasse de algo, e ao confirmar que estava tudo certo sobre o que sabia e conseguir informações adicionais, partiu para as perguntas. Sarah respondia tudo com objetividade, apesar do brilho nos olhos ao falar da carreira. Ângela conduzia a entrevista com destreza e foco, tentando não pensar no fato de Vítor não estar se sentindo bem e assim terminar mais rápido para ir embora. Seu celular tocou de repente, e ao ver o número da casa de Melinda, pediu licença para atender.
— Sinto muito. Podemos fazer uma pequena pausa?
— Tudo bem — disse Sara, consultando o relógio e pensando em seus compromissos. Era uma mulher ocupada, para quem cada minuto era importante. Contudo, estava sendo simpática com a jornalista que chegara pontualmente para a entrevista e a esperara por algumas horas. Não precisava conhecê-la para ver que aquela ligação era importante. — Estarei aqui quando precisar.
— Obrigada!
De volta à recepção, Ângela atendeu o celular e foi informada por Bárbara que Vítor continuava amuado e que a sua temperatura estava subindo. Para não preocupá-la muito, a jovem afirmou que, apesar da febre, ele não estava chorando, apenas não queria comer nada e continuava reclamando. Ângela insistiu que ela o fizesse comer alguma coisa e disse que pediria a Marcos para ir vê-lo.
Assim que desligou, ligou para a Essence e tentou falar com o marido, mas foi informada de que ele estava em uma reunião e que havia pedido para não ser incomodado por ninguém. Quis gritar com a telefonista e dizer que não era qualquer pessoa, e mesmo que ele ficasse irritado se tivesse que ir ver Vítor e ele estivesse apenas resfriado, como parecia ser o caso, arriscou ligar para o seu celular. Se ele a atendesse, explicaria o que estava acontecendo e torceria para ele passar lá para ver o filho e acalmar seu coração de mãe. Após três toques a ligação caiu. Ele havia desligado.
— Droga! — murmurou irritada. Tentou outras duas vezes e nada. Não podia ficar tomando o tempo da doutora, então digitou rapidamente uma mensagem e torceu que ele a visse e fosse ver Vítor, ou, que pelo menos, ligasse de volta. Entrou novamente no escritório, um pouco mais calma por ter recebido notícias mais recentes do filho e esperançosa de que o marido fosse ajudá-la. Religou o gravador e retomou as perguntas.
Trinta minutos se passaram até que Bárbara ligou novamente. Dessa vez Ângela se desculpou com a doutora, interrompendo-a no meio da fala, e atendeu ali mesmo.
— Bárbara, como ele está? — perguntou.
— Ângela, a senhora precisa vir para cá — disse Bárbara, parecendo aflita. — Vítor começou a chorar de novo. Não consegui fazê-lo comer nada e ainda há pouco ele vomitou.
— Eu estou indo — disse ela, levantando-se. — Ligue para Melinda e peça para ela ir vê-lo. Agora!
— Não dá, ela esqueceu o celular.
— O quê? Eu não acredito. O que ela tem na cabeça? — Ângela reclamou. — Certo. Faça o seguinte: dê água para ele se hidratar, e caso ele vomite novamente, dê soro caseiro. Vou ligar para o Marcos e pedir que ele vá vê-lo imediatamente. — Desligou o telefone e encarou a doutora.
— Eu sinto muito, mas preciso ir. É meu filho, ele não está bem. Podemos terminar em outro momento? Quem sabe por telefone?
— Claro. Problema nenhum. Vá cuidar do seu filho. — Sarah levantou-se com um sorriso, apertou a mão da jornalista e a conduziu até a porta, lembrando-a antes de pegar o gravador que ela estava esquecendo.
Ao entrar no carro, Ângela ligou para o celular de Marcos. Como ele não atendeu, ligou para a empresa e exigiu falar com ele, dizendo ser importante. Alguns momentos depois o ouviu do outro lado da linha.
— Marcos, que bom que atendeu. Olha, preciso que dê uma passada para dar uma olhada em Vítor, porque...
— Amor, sinto muito, mas não posso falar agora — disse ele, desligando o telefone sem dar a ela a chance de dizer qualquer outra coisa.
Chocada, Ângela ligou o carro e partiu, sabendo que teria que contar apenas consigo mesma.
***
— Como eu estava dizendo — Marcos voltou-se para os membros da diretoria —, precisamos reformular os processos da empresa antes de qualquer coisa. Depois entraremos com os novos produtos, e só então poderemos pensar em medidas de crescimento.
Dantas pigarreou, como sempre fazia antes de iniciar um discurso, e se levantou.
— Todo esse planejamento parece muito bom na teoria — afirmou com desdém, apontando para a parede onde estava projetada a apresentação de Marcos. — Na prática sabemos do que isso se trata: reestruturação total da empresa. Não temos recursos para isso, precisamos seguir com nosso plano de crescimento através de franquias.
— De que adianta pensar em crescimento quando o negócio não está devidamente estruturado? Seus novos produtos foram um fiasco e os outros saíram de moda ou estão perdendo a concorrência para produtos mais novos e melhores do mercado. A empresa está em crise, e só voltará a crescer com qualidade se passar por um bom processo de reestruturação — rebateu Marcos.
— Seria muito fácil fazermos isso se tivéssemos tempo e recursos ilimitados. Poderíamos derrubar tudo e recomeçarmos do zero — disse Dantas, desafiando o jornalista. — Você nunca trabalhou em uma empresa desse porte e não tem a menor ideia de como é difícil o que está nos propondo.
— Não me venha com esse papo de que eu nunca trabalhei aqui e que por isso não entendo nada, porque não sou burro. Observei todos os processos e descobri muitos erros conforme aprendia. Até um leigo pode ver que a gestão da Essence não tem sido das melhores. A diferença entre nós dois é que eu não tenho medo de mudanças, quando elas se mostram tão necessárias.
— Você está desmerecendo o negócio que o seu pai construiu com muito trabalho, e pelo qual deu a vida por tanto tempo — apelou Dantas.
— Meu pai não sabia tudo. E como você mesmo disse, eu sou de fora, talvez por isso tenha facilidade em enxergar o que precisa ser mudado. Ele sabia que eu faria as coisas de um jeito diferente, por isso insistiu tanto que eu assumisse seus negócios.
Marcos sentia que vários homens do conselho começavam a concordar com ele. Dantas estava perdendo e seu rosto ficava cada vez mais vermelho.
— O que está nos propondo é um grande passo. A questão é: quem estará aqui para executá-lo? Se bem me lembro, você deixou claro quando entrou que é jornalista e não empresário.
Marcos olhou brevemente para Ricardo, que assistia a tudo com o semblante fechado e olhar impassível.
— Realmente não sei se continuarei aqui por muito tempo, mas o que estou propondo é necessário e vocês sabem que estou certo.
— E qual o ponto do seu grande plano de reestruturação, se não estará aqui para nos ajudar a executá-lo? Devemos ouvir alguém que não estará por perto quando as coisas derem errado?
Pela primeira vez, Marcos não teve resposta. Podia continuar com aquele cabo de guerra com Dantas o dia todo, o problema era que ele havia tocado num ponto importante. Não sabia se de fato estaria por ali para executar qualquer coisa.
Ao terminar a apresentação, ele não tinha certeza se sua proposta havia sido bem recebida e foi invadido por um sentimento já conhecido de impotência. Foi para a sua sala e olhava pela janela pensando em tudo — especialmente nos pontos desconexos da sua vida — quando notou alguém abrir e fechar a porta. Virou-se, acreditando ser Gisele, e se deparou com Ricardo.
— Foi uma bela apresentação — disse o ex-professor. Marcos notou o sarcasmo em sua voz, assim como a irritação em seus olhos.
— Obrigado.
— O que pretendeu com ela? — quis saber Ricardo, cruzando os braços na altura do peito, sem se aproximar demais.
— Mostrar para os homens que comandam essa empresa que ela precisa de mudanças — Marcos respondeu. — Você estava lá e tenho certeza de que me ouviu.
Ricardo considerou a resposta por um instante.
— Está pensando em ficar?
— Não sei. Por quê? Você se incomoda que eu fique? — Marcos perguntou com animosidade.
— No momento não sei dizer — Ricardo respondeu. Havia civilidade em sua voz, mas seus olhos estavam em chamas. — Se eu acreditasse que você realmente quer o melhor para a empresa, talvez eu não me incomodasse, mas além de não acreditar, concordo com Dantas que não há sentido nesse seu projeto se não tiver interesse em ficar para aplicar todas essas mudanças. No fundo acho que você não sabe o que quer e está fazendo tudo isso apenas para me provocar.
— Te provocar? — Marcos riu. — Quantos anos acha que eu tenho? Fiz isso pela empresa, não por uma rixa imaginária com você — afirmou, embora aquilo não fosse cem por cento verdade. Havia pensado primeiro na empresa, de fato, mas ganhar de Ricardo ao menos uma vez faria maravilhas pela sua autoestima.
— Se é assim, porque não me contou sobre seu projeto?
— Simplesmente porque eu não confio em você.
Foi a vez de Ricardo rir alto.
— VOCÊ não confia em mim?
— Não, porque, por mais metido a inteligente que seja, você não passa de um capacho do Dantas. Ou não percebeu que ele está te usando para continuar no poder?
— Qual é o seu problema comigo? — Ricardo finalmente perguntou aquilo que sempre quis saber.
— Eu não tenho problema nenhum com você — Marcos respondeu com desdém.
— O cacete que não tem! — Ricardo elevou a voz, abandonando o controle e surpreendendo tanto a si mesmo quanto ao outro. — Você menosprezou o projeto de crescimento que eu passei o ano desenvolvendo, agiu pelas costas de todo mundo, e nem vai ficar. Nunca quis estar aqui, para começo de conversa.
— E você quis?
— Não, mas eu me dediquei. E muito.
— Acha que eu desenvolvi todo aquele trabalho em um dia? — Marcos perguntou, começando a se irritar. Já estava cansado de tanta cobrança; havia feito uma coisa boa e acreditava que merecia créditos por isso, e não críticas.
— Como eu disse antes, concordo com Dantas que, se não for ficar, tudo o que fez não vale nada. Quer saber o que eu penso? Você não fez tudo isso porque se preocupa com a empresa, fez para provar ao nosso pai que conseguiria, a despeito do que todos pensavam. Fez por você mesmo, como sempre. Tudo o que faz, todas as suas ações, são baseadas em uma briga antiga que não conseguiu superar.
Trincando os dentes e cerrando os punhos ao lado do corpo para não avançar em direção ao outro e fazê-lo engolir suas palavras, Marcos respondeu:
— Em primeiro lugar, não existe "nosso" pai. Eu não tenho nada em comum com você. Para ser sincero, até gostei de te ver irritado, porque aguentar essa sua cara de merda não é fácil. Diga a verdade, que está puto da vida por eu ter me saído melhor que você. E não perca seu tempo me analisando porque você não me conhece.
— É verdade. Eu tentei te conhecer, porque, goste ou não, nós somos irmãos; tivemos o mesmo pai e temos o mesmo sangue. Mas você conseguiu me convencer de que não vale a pena. O único merda nesta sala é você, que magoou meu pai durante anos e o tratou feito um cão sarnento.
— Você não sabe nada sobre mim nem sobre o que aconteceu — disparou o jornalista.
― Ele te magoou e até hoje você não superou, daí desconta nas pessoas à sua volta. Não é difícil te desvendar. Acha que a minha vida é perfeita, quando a única vantagem que tenho sobre você é não desperdiçar as chances de ficar perto das pessoas que me importam. Você me odeia porque eu não o afastei como fez; pelo contrário, procurei entendê-lo e me aproximei dele.
— Que bom para vocês — Marcos respondeu, as veias saltando em suas têmporas. Ouvir aquelas coisas era ruim, ouvir de Ricardo era bem pior.
— Eu nunca quis o seu lugar — Ricardo enfatizou para deixar sua posição clara.
— E por que iria querer? Não é mais fácil ser o filho legal, que é adorado por todos e não guarda ressentimentos de ninguém? Quem gostaria de ser o filho traído, revoltado com a vida?
— A escolha foi sua. Conviva com ela. Não tenho culpa do que aconteceu e se as pessoas gostam de mim é porque faço por merecer, porque permito que se aproximem, diferente de você. Nem a sua mulher você deixa se aproximar. Ela se preocupa e você a afasta sem a mínima culpa; age como se o casamento de vocês fosse responsabilidade exclusivamente dela ou como se ela não existisse. Deve ser por isso que até ela prefere conversar comigo!
— Desgraçado! — Tomado por uma raiva cega, Marcos disparou na direção do meio-irmão e lhe deu um soco que fez estalar os ossos do seu rosto. Ricardo cambaleou, e quando ia levar o segundo golpe, desviou e usou a força do impulso do jornalista para jogá-lo contra a parede, que tremeu com o impacto. Voltando a se equilibrar, Marcos avançou, desferindo outro soco e acertando um dos olhos de Ricardo, que cambaleou para trás. Tomado por adrenalina, ele se recompôs rapidamente e acertou Marcos com força no canto da boca, pouco antes de levar um chute nas costelas.
Dois seguranças entraram acompanhados de Gisele, e apesar dos chutes e socos perdidos que receberam no caminho, conseguiram, enfim, separá-los. Ricardo foi agarrado pelo colarinho e imprensado contra a parede, enquanto Marcos levou uma chave de pescoço. Eles resistiram por algum tempo, mas os homens, treinados para aquele tipo de situação, não os soltaram.
Ricardo foi o primeiro a desistir, respirando fundo e fazendo um gesto para que o homenzarrão à sua frente o libertasse.
— Droga, me solta! — Marcos disse logo depois, parando de se debater, e quando o segurança o soltou, olhou para ele com raiva, antes de voltar a encarar Ricardo.
Por alguns segundos, os irmãos apenas se olharam, ignorando as outras pessoas presentes na sala.
— Quer saber? Que se dane! — Marcos disse de repente, cuspindo um pouco do sangue que se acumulara em sua boca. — Você está certo, eu não quero nada disso. Não quero ter nada a ver com meu pai e definitivamente não quero ter nada a ver com você. Vocês é que eram amiguinhos, e era você que estava sempre por aqui, aprendendo sobre negócios e o levando para almoçar. Você sabia tudo o que acontecia com ele, não sabia? — Marcos fez uma pausa e sua expressão se tornou sombria. — Era você naquela droga de hospital quando ele morreu. Porque eu, o filho mau, estava em casa dormindo, sem fazer a menor ideia do que estava acontecendo. Para o inferno com tudo isso! Eu abro mão de qualquer coisa ligada a ele para não ter que ver a sua cara outra vez!
Ricardo finalmente entendeu do que se tratava, porque Marcos de repente havia passado de um pouco distante para uma rocha. Por um momento, sentiu pena dele e quis lhe dizer que estava no hospital porque havia descoberto sozinho sobre o estado de saúde do pai, e que ele o fizera prometer não dizer nada ao irmão. Chegou a abrir a boca, mas o olhar de Marcos demonstrava que, não importava o que dissesse, não faria diferença. Além disso, estava cansado de ser rechaçado pelo irmão.
— Se é isso que você quer, não terá que se preocupar em me ver de novo — respondeu enquanto Marcos saía sem olhar para ninguém e deixava tudo para trás, incluindo o celular para onde Ângela tentava desesperadamente ligar.
---
Voltei aqui só para saber o que vocês acharam. O que será que vai acontecer com o Vítor?
Ângela conseguirá dar um jeito de falar com Marcos para socorrer o filho? Algo me diz que o tempo é muito precioso para ele nesse momento.
Bjs e até quinta!
Amo vocês!
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