Capítulo 32
O dia de sábado amanheceu quente e bonito. Marcos sugeriu à Ângela que eles conhecessem algumas das cachoeiras da ilha e assim eles trocaram a água salgada pela água doce que corria pela mata nativa. Passaram o dia percorrendo estradas com o jipe antigo de Jacir, fazendo trilhas, banhando-se e relaxando. Joana havia lhes preparado uma cesta com alimentos e bebidas e eles comeram na mata, em meio a um passeio e outro.
Estar em um local neutro onde a ordem do dia era aproveitar a natureza e esquecer-se dos problemas, fez com que o casal se aproximasse um pouco mais. Entre conversas leves e silêncios tranquilos os dois até se tocaram algumas vezes, sem precisarem estudar o momento certo de fazer isso.
À noite, após jantarem no centro histórico, caminharam com o filho à beira-mar. Vítor corria à frente, brincando, e os dois iam logo atrás, de mãos dadas.
Quando percebeu que o menino começava a dar sinais de cansaço, Ângela sugeriu que eles se sentassem em um banco próximo a um canteiro de flores e palmeiras que ficava perto do mar. Ela sentou-se no meio, com Marcos de um lado e Vítor, com a cabeça em seu colo, do outro. Marcos passou o braço por seus ombros, aconchegando-a contra o peito, e beijou seu cabelo — gestos simples que passaram despercebidos por eles devido à naturalidade em que se encontravam um com o outro após o dia que haviam compartilhado. Despreocupados, eles curtiam a noite sem pensar nos problemas e aborrecimentos que os cercavam.
Ao chegarem em casa, Ângela pôs Vítor na cama e se preparava para ir até a varanda — seu local preferido da casa — quando o celular apitou no criado-mudo. Verificou o que era e constatou que Marcos havia lhe enviado uma mensagem:
Que tal colocar um biquíni e vir nadar comigo?
Ângela pensou no que fazer. Sabia o que significava ir até lá e não tinha certeza se estava preparada. Algo em seu coração, no entanto, lhe impulsionava a esquecer tudo e mergulhar de cabeça naquela bolha particular onde eles não podiam ser incomodados por mortes, testamentos, pessoas e empresas.
Quando já havia se convencido de que ela não desceria, Marcos a viu surgir com um biquíni branco que contrastava com o bronzeado da sua pele.
Para não sofrer aos poucos, e também para espantar o nervosismo, Ângela mergulhou de uma vez, emergindo no meio da piscina.
— Que fria! — reclamou, dando algumas braçadas e se juntando a ele.
— Daqui a pouco melhora — Marcos comentou olhando para ela brevemente e desviando os olhos. — Quer beber alguma coisa? Temos cerveja, suco...
— Suco.
— Boa escolha. Então serão dois sucos.
Marcos serviu dois copos de suco de uva e tentou não pensar no quanto ela estava linda com aquele bronzeado. Ângela percebeu que ele estava sem jeito e sorriu para si mesma, feliz com o efeito que causara. Marcos não era do tipo que desviava os olhos primeiro, ele estava tentando fazer a coisa certa e indo devagar — o que fez com que ganhasse pontos preciosos com ela.
Eles apreciaram a companhia um do outro, mas o silêncio constrangedor logo se fez presente. Haviam passado o dia inteiro naquela aura de tranquilidade, mas ali, tão próximos, temiam fazer a coisa errada e davam vazão ao medo.
Sabendo que precisava fazer alguma coisa, visto que ele estava se contendo apenas para respeitá-la, Ângela tomou a iniciativa:
— Você é um mentiroso, sabia?
— Por quê? — Marcos ficou na defensiva e esperou por uma possível discussão. Achou estranho que ela escolhesse aquele momento para falarem de seus problemas, mas como vinha se preparando para isso, não ficou exatamente surpreso.
— Você disse que o frio passaria com o tempo, mas não era verdade porque estou congelando aqui — foi a resposta dela. Marcos relaxou o rosto em um sorriso tímido que era raro.
— É porque você está parada. Se estivesse se mexendo, talvez o frio passasse e conseguisse curtir mais.
— Hum, então é isso? — Ângela coçou o queixo. — Bem, se vou ter que me mexer, não aceito que fique apenas de espectador.
— Ah, é? E o que tem em mente? — ele perguntou, estreitando os olhos e diminuindo a distância entre eles. Ignorando o que sentiu com aquele olhar e desviando os olhos para não corar, Ângela apontou para o início da piscina.
— Vamos apostar: ida e volta duas vezes.
Marcos riu.
— Fala sério. Não seria justo com você.
— Se eu fosse você, não me subestimaria tanto, querido! — ela o provocou. Marcos quis agarrá-la naquele instante, porém, se conteve. Ela estava linda e não havia nada daquela indiferença forçada dos últimos tempos em seus olhos. Ali era a antiga Ângela, e ele, o antigo Marcos.
— Ei, está prestando atenção? — ela o tirou de seus devaneios. — Eu te desafiei e estou esperando uma resposta.
— Aceito o desafio. — Marcos nadou até o início da piscina. — Mas me recuso a competir de igual para igual, por isso te dou uma vantagem. Vá para o outro lado.
— Não sou orgulhosa, então aceito sua oferta — disse ela, nadando devagar até a outra ponta. Os dois se encararam, excitados com aquele jogo, contaram até três e no "Já", começaram a nadar. Marcos achava que ia ser fácil, mas se enganou. Ângela nadava rápido e parecia mesmo disposta a ganhar a disputa. Quando ele virou na outra ponta, ela estava para virar na sua. Ele percebeu que teria que dar tudo de si para ganhar e esticou os braços, puxando a água com força.
Da sua casa, o caseiro e a esposa os observavam da janela. O barulho intenso da água sendo agitada os tinha alarmado, até descobrirem que se tratava de seus patrões.
— Esses dois ainda não se desgrudam — comentou Joana, antes de se afastar com um sorriso. Jacir ainda ficou por lá para saber quem ia ganhar. Não dava para vê-los direito, mas podia ouvir tanto a água quanto os gritos deles.
Ângela se desesperou no último trecho e engoliu água enquanto Marcos a alcançava e batia na sua frente com um segundo de diferença.
— Eu ganhei! É, sou o melhor! Obrigado, obrigado! — ele comemorou, dando socos no ar enquanto ela tossia freneticamente. — Você perdeu — provocou, rindo, e se aproximando para ajudá-la. Ângela ria e tossia ao mesmo tempo quando ele a segurou.
— Calma, calma. Respira! — Marcos esperou até ela se acalmar e diminuir a tosse.
— Você ganhou, mas eu te dei trabalho e é isso que importa — Ângela balbuciou, ofegante e ainda sorrindo. Marcos não pôde mais se conter e a beijou, apertando-a em seus braços. Ela não ofereceu resistência, apesar de ainda ofegar um pouco, e o abraçou também, subindo as mãos por suas costas e embrenhando os dedos no seu cabelo. O beijo se aprofundou, mas ele não permitiu que ficasse urgente e desesperado porque queria curti-la, lhe dar prazer e fazer amor sem pressa. Desceu lentamente os lábios pelo seu pescoço, parando no meio dos seios, e beijou as partes macias que não estavam cobertas pelo biquíni, sem tirá-lo ou afastá-lo para aproveitar mais. Continuou a explorá-la, deixando as mãos passearem por sua barriga, nádegas, braços, pernas, pescoço...
— Marcos... — Ângela sussurrou, minutos após aquela doce tortura ter começado.
— Oi... — respondeu ele, com a voz rouca de desejo.
— Vamos sair daqui...
Eles saíram da piscina e se enrolaram cada um em uma toalha enquanto corriam e entravam na sala de estar. Marcos guiou Ângela até o grande sofá, sentou-se e a colocou de pé na sua frente, admirando-a enquanto a despia lentamente das poucas peças que a cobriam.
— Você é linda! — exclamou ao terminar. — Minha linda — afirmou para si mesmo, como um lembrete de que aquela bela mulher lhe pertencia.
— É verdade — ela concordou. — Eu sou sua.
Com essa declaração, Marcos a tomou nos braços e a beijou intensamente, deslizando as mãos hábeis por seu corpo febril e preparando-a para ser dele mais uma vez. Ângela correspondeu com toques e beijos ardentes, mostrando que o queria da mesma forma, e quando o desejo de ambos se tornou insuportável, fundiram-se em um só. Marcos conduziu o momento, amando-a devagar e depois com urgência. Seus corpos, tão conhecidos um do outro, se uniram até chegarem juntos ao ápice. Ao longo dos últimos meses, nas noites que haviam compartilhado, o sexo tinha sido algo mecânico que no final os deixava insatisfeitos, diferente do que acontecia naquele momento. Felizes, adormeceram nos braços um do outro com a esperança de reconstruir seu casamento restaurada e cientes que a distância que os atormentava havia se estreitado consideravelmente.
***
O domingo amanheceu quente e claro como o dia anterior, mas naquele dia ninguém se preocupou em acordar cedo. Quando desceram, pouco antes das dez, Joana havia feito um café da manhã reforçado e Marcos pediu a ela que preparasse novamente algumas coisas para viagem, pois ia levar a família para uma das praias que ficava na reserva e que era pouco movimentada. Percorreram mais de vinte quilômetros de estrada de terra para chegar à praia de Castelhanos, que, além de protegida e pouco movimentada, era considerada a mais bonita de toda a ilha. Seu formato destoava das praias comuns porque as areias de ambos os lados se uniam no meio formando um bico que a deixava com o formato de um coração. Também era a praia mais extensa da ilha, com dois quilômetros de distância de uma ponta à outra. Dela ainda partia uma trilha para uma das cachoeiras mais impressionantes da ilha, a Cachoeira do Gato, com uma queda impressionante de cerca de cinquenta metros de altura.
Em uma praia tão extensa, preservada, e com pouquíssimos banhistas, foi fácil para eles encontrarem um local exclusivo onde podiam sentir que estavam sozinhos e curtir a natureza, o filho, e a companhia um do outro.
Ângela tirou muitas fotos, tomou sol, construiu um castelo de areia com o filho e namorou o marido. Tudo estava tão perfeito que ela desejou que as horas passassem devagar e prolongassem aquele dia. Quando Marcos a olhava, era com amor. Eles sorriam com facilidade e não pensavam em nada que os aborrecesse.
No fim da tarde, eles voltaram e combinaram de partir após o jantar. Ângela foi a última a tomar banho e quando terminou, contemplou o vestido leve e estampado que havia separado sobre a cama. Vestiu-o, ignorando o medo crescente de que ao voltassem para a cidade grande a magia fosse se perder, e foi até a sacada uma última vez. Por mais que tentasse ignorar aquela sensação ruim ela continuava lá, como um pressentimento ou algo do tipo.
No jantar, assim como no caminho de volta, ela sorriu e lutou para arrancar aquele sentimento do peito. Marcos também parecia um pouco agitado e chegou a comentar sobre não querer ir embora. Muitos problemas os esperavam quando voltassem e eles não sabiam se estavam preparados para enfrentá-los.
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Viram como sou boazinha? Hoje teve dobradinha de capítulos
Agora sejam boazinhas e curtam e comentem bastante nesse capítulo fofura em meio a tantos outros difíceis. Já estava na hora de um pouco de love nessa história.
Será que Ângela e Marcos vão conseguir manter a proximidade adquirida na ilha ao voltarem para a cidade grande e para os problemas?
Os próximos capítulos serão decisivos. Preparem seus corações!!!
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