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Capítulo 27

Em agosto foi comemorado o aniversário de cinco anos de Vítor. Apesar de o clima em casa não estar dos melhores, Ângela não conseguiu deixar de celebrar o aniversário do filho com uma pequena festa para poucos convidados no salão do seu prédio.

Marcos chegou direto da empresa, acompanhado por sua agora assistente pessoal, Gisele. Ricardo havia contado à cunhada que ao final do treinamento Dantas havia tentado remanejar a jovem para outro departamento, mas que Marcos não permitiu, alegando que precisava dela para mantê-lo por dentro de suas obrigações quando não estava por perto. Dantas se recusou a ceder, alegando que o salário dela era alto demais para um cargo que já não precisava, e Marcos resolveu a questão anunciando ao diretor interino que faria o pagamento da jovem por conta própria.

Ângela não tinha nada contra a "ex assistente-brilhante" de seu sogro e "atual assistente-brilhante" de seu marido, mas saber que ele havia lutado por ela como não vinha lutando para salvar o casamento deles do buraco negro que o estava engolindo, a aborreceu. Além disso, após várias brigas, a distância que havia se instalado entre os dois abrira espaço para sentimentos que não existiam antes, como a insegurança.

Quando Marcos se aproximou com Gisele, o coração de Ângela disparou. Fazia três dias que eles não se falavam, desde a última briga que não chegara a ser uma grande discussão, mas se acumulara às anteriores, fazendo-os desejarem dar um tempo um do outro. Ela ficou na expectativa de que ele tomasse a iniciativa, e como isso não aconteceu, o cumprimentou:

— Oi.

— Oi — Marcos respondeu automaticamente e desviou os olhos. — Onde está Vítor?

Boa jogada, pensou ela. Usando nosso filho para se livrar de mim.

— Ele deve estar brigando com a menina que deixei tomando conta dos presentes. Sabe como ele é, não tem paciência de esperar o fim da noite para abri-los — comentou com um sorriso, lhe oferecendo uma trégua. Marcos não retribuiu a cortesia e vasculhou o salão em busca do menino. Gisele, percebendo que ele não a introduziria na conversa, se aproximou da anfitriã com um sorriso e um pacote na mão.

— Olá, Ângela. Tudo bem? — perguntou enquanto a cumprimentava com um beijo no rosto.

— Tudo — Ângela respondeu, forçando-se a sorrir de volta. — E com você?

— Tudo bem. A festa está linda — comentou a assistente, olhando em volta.

— Obrigada! Você está ótima — Ângela disse com sinceridade, tentando sufocar o ciúme que sentia por saber que seu marido vivia para cima e para baixo com uma mulher jovem e bonita que chamava atenção mesmo trajando roupas formais.

— Eu trouxe isso para o Vítor, espero que ele goste — Gisele disse com cautela, como se percebesse que era alvo de seu ciúme.

— Pode entregar direto para ele. — Ângela apontou para o menino, que estava exatamente onde ela havia mencionado.

Gisele concordou com um sorriso contido.

— Vamos lá — disse Marcos, tocando no braço da assistente e se afastando. Ela ainda acenou para Ângela e recebeu um meio sorriso de volta.

Malu chegou logo depois com Carlos e Beatriz. Assim que as amigas se viram, fizeram o que sempre faziam quando se reencontravam após meses sem se ver: gritaram, se abraçaram, e deram pulinhos de alegria.

— Que saudade de você! — Malu comentou enquanto se abraçavam.

— Nem me fale! Você não faz ideia da falta que me faz — Ângela desabafou, prolongando o abraço e lutando contra o nó que havia se instalado em sua garganta. Não podia desabar ali, disse a si mesma; tinha que ser forte e demonstrar a todos que estava bem porque a noite era de Vítor, a criança extraordinária que havia colocado no mundo e que reinava entre os convidados com a roupa do Homem-Aranha, a capa preta e a máscara do Batman.

— Escolham uma mesa e aproveitem a festa — disse ao casal enquanto pegava a afilhada no colo e lhe dava um beijo demorado na bochecha. — Você cresceu tanto! Está parecendo uma princesa com esse vestido, sabia disso?

— Obrigada, madrinha! — disse a menina, abraçando o seu pescoço. — A mamãe me fez usar — confidenciou baixinho, sem saber que Malu a ouvia perfeitamente. — Eu queria usar bermuda para correr com o Vítor.

— Acho que sua mãe não vai se importar se você correr por aí. — Ângela piscou para ela, e ignorando o olhar atravessado que a amiga lhe dirigia, a pôs no chão.

— Mais tarde conversamos sobre isso — Malu disse enquanto se afastava, observando a filha correr pelo salão em busca do amigo.

— Ninguém mandou trazê-la de vestido. Sabe que ela vira um moleque quando está com Vítor.

Malu e Carlos se sentaram, e Ângela continuou se ocupando de entreter os convidados.

Melinda chegou alguns minutos mais tarde e abraçou a nora com força. Elas não se viam há meses, desde que ela anunciara que viajaria por um tempo. Seu plano era relaxar e tentar juntar seus pedaços ao redor do mundo.

— Você está com a aparência muito boa — Ângela reparou, observando o bronzeado que a sogra adquirira no Caribe.

— Obrigada! — Melinda olhou em volta. — Onde está o meu neto? Vou apertá-lo tanto que suas bochechas ficarão roxas.

— Segura a onda, vovó. Ele está com o pai ali no canto. Vamos lá.

Marcos segurava Vítor no colo e Gisele entregava ao menino o pacote que havia levado quando elas se aproximaram. Ângela percebeu que Melinda havia ficado séria, mas não disse nada. Notou também que os olhos de Marcos se arregalaram brevemente quando viram a mãe, e que antes de cumprimentá-la com um aceno de cabeça, sua expressão havia se tornado dura.

Vítor, que não tinha problemas com ninguém, praticamente pulou do colo do pai para o da avó.

— Vovó! — gritou com alegria. Os olhos da avó se encheram de lágrimas.

— Oi, meu amor! Eu estava morrendo de saudade de você — respondeu, apertando-o e beijando-o várias vezes. Afastou-se para olhá-lo melhor e não conteve a admiração. — Como você cresceu! O que sua mãe anda te dando para comer?

— Feijão — Vítor comentou após pensar um pouco.

— Quando eu consigo, não é, filho?

O menino olhou para a mãe e riu. Ambos sabiam como era difícil ele comer certas coisas e feijão era uma delas.

Marcos anunciou que iria cumprimentar Joel e se afastou com Gisele. Ângela esperou eles estarem a uma distância razoável e voltou-se para a sogra.

— Vai me dizer o que está acontecendo entre vocês?

— Não — respondeu Melinda, olhando para Vítor. — Acho que vai gostar desse — disse a ele, lhe entregando o pacote que tinha levado.

— Vocês estão brigados? — insistiu Ângela, cruzando os braços na altura do peito. Melinda suspirou, demonstrando irritação.

— Mais ou menos — respondeu sem dar indícios de que iria se estender sobre o assunto. Ângela sabia que era inútil tentar descobrir o que havia entre eles e tratou de se ocupar com a festa. Enquanto conversava com as mães dos amigos do filho e cuidava para que tudo saísse perfeito, ela discretamente reparava em Marcos. Ao lado da assistente, ele parecia outra pessoa, relaxado e divertido, mostrando um lado seu que há tempos ela não via.

Quando Ricardo chegou, Ângela o abraçou com carinho. Pela posição em que ficou, notou Marcos fechar a cara e sentiu uma pequena satisfação por ter provocado aquela reação.

Ricardo aproximou-se da mesa de Marcos e o cumprimentou de forma polida. Também cumprimentou Gisele, e preparava-se para perguntar por Vítor quando o ouviu gritar "Titio!" do outro lado do salão. Abriu os braços para ele, que correu na sua direção e se atirou em seu abraço com um grande sorriso.

— Nossa, que fantasia bonita! Que herói é você? ― perguntou, pegando-o no colo.

— Eu sou o Batman-Aranha — explicou Vítor com orgulho. Sua atenção foi desviada rapidamente para a caixa que Ricardo deixara na mesa. — O que tem no presente?

— O que você queria ganhar? — Ricardo abriu um sorriso e mexeu as sobrancelhas para cima e para baixo de maneira sugestiva.

— Um boneco do Homem-Aranha! — respondeu ele sem titubear, os olhos brilhando de alegria ao se lembrar do brinquedo que queria tanto.

— Hum... Acho que é isso mesmo que tem aqui. — Ricardo sorriu, e Vítor abraçou seu pescoço com tanta gratidão que seu coração quase derreteu.

— Mamãe, agora eu tenho um Batman e um Homem-Aranha! Deixa eu abrir!

— Você sabe que agora não é uma boa hora — Ângela respondeu, e diante do bico que ele fez, prosseguiu: — Que tal abrirmos a caixa na hora de dormir? Assim o Homem-Aranha poderá dormir com você. O que acha?

— Tá bom — respondeu ele, meio a contragosto, e para distraí-lo Ricardo o levou até a mesa do bolo e ficou lhe perguntando sobre os heróis espalhados por todo o salão.

Marcos observou a cena de cara feia. Seu olhar demonstrava ciúme e outros sentimentos que não passaram despercebidos por Ângela. Ao perceber que sua mulher o estava encarando, ele desviou os olhos e passou a se concentrar na conversa com os amigos. Ela entendeu o recado e se afastou.

Na hora do Parabéns, eles não puderam mais se evitar e se posicionaram lado a lado, com Vítor no meio, atrás da mesa do bolo. A alegria do filho abafou momentaneamente as feridas do casal e eles conseguiram curtir o momento. Depois das fotos, e de vários pedaços de bolo terem sido distribuídos, Ângela foi até um pequeno depósito escondido em um canto do salão pegar mais copos descartáveis. Aproveitou também para pegar mais guardanapos, e se preparava para sair quando ouviu a voz de Marcos e estacou.

— Por que não se senta um pouco — dizia ele para alguém. Antes que a voz respondesse, Ângela já sabia quem estava com ele.

— Aqui está bom — respondeu Gisele.

Alguns instantes se passaram sem que nenhum deles dissesse nada. Gisele foi quem quebrou o silêncio:

— Sua mãe está bonita. Ela parece melhor.

— É, parece — Marcos concordou. Ângela esperou que ela perguntasse qual o problema entre eles, mas ela não perguntou. Ainda assim, Marcos explicou:

— Nós brigamos há alguns meses e desde então não nos falamos mais. Fiquei puto porque ela vinha compactuando com meu pai há muito tempo, ficou do lado dele e não me disse o que estava acontecendo. Acabei explodindo e foi esse o resultado. A verdade é que estou sem tempo para isso, tenho coisas mais importantes com que me preocupar do que essas "briguinhas" familiares.

Ângela se perguntou se o relacionamento deles também se encontrava naquela categoria e concluiu que sim. Foi doloroso perceber que ele havia preferido contar para uma pessoa de fora algo que deveria ter compartilhado com ela há muito tempo.

— Seu filho é uma graça, sabia? — Gisele comentou para mudar de assunto.

— É... Ele é incrível, muito esperto... Ah, e genioso também — Marcos respondeu. Pouco depois, mudou de assunto: — Fique esperta que daqui a pouco vamos dar o fora daqui.

— Hoje não, Marcos! — protestou a assistente. — Se sairmos agora, podemos levantar suspeitas. Além disso, estou cansada e preciso dormir.

— Teremos tempo de sobra assim que eu estiver livre — argumentou ele.

Ângela sentiu o chão sumir sob seus pés ao ouvir aquilo. A ideia de Marcos estar tendo um caso com a assistente a fez ter náuseas e ela teve que se apoiar em uma prateleira para não desabar. Nos últimos tempos, o comportamento do marido, mais as brigas frequentes, a tinham deixado insegura, tanto que começou a cogitar a ideia de ele estar tendo um caso. Certa noite, no calor de uma discussão, cedeu ao impulso e o questionou abertamente sobre o assunto. "Fique tranquila, se acontecer você será a primeira a saber!", havia sido a resposta dele.

Mentiroso desgraçado!

— Está certo. Irei com você — disse Gisele. — Mas antes vou ao toalete — concluiu, se afastando.

Nervosa, Ângela não percebeu que havia derrubado alguns kits de copos, fazendo barulho, nem que a porta do depósito havia se aberto um pouco mais.

— O que está fazendo a... Ei, o que foi? — perguntou Marcos, tocando em seu ombro.

— Não toque em mim — conseguiu dizer, endireitando-se rapidamente como se tivesse levado um choque. Marcos recuou.

— O que aconteceu? — perguntou, entre assustado e cauteloso.

— E você ainda diz que não está tendo um caso? Como pôde fazer isso comigo?

— De que diabos está falando? — Marcos franziu tanto a testa que suas sobrancelhas quase se uniram.

— Não ouse mentir para mim! — Ângela vociferou, apontando o dedo no rosto dele e tentando não perder a cabeça de vez. — Acabei de ouvi-lo convidar a assistente para dar o fora daqui. Também ouvi quando disse que terão tempo de sobra quando estiver livre.

Marcos levou as mãos à cabeça e soltou o ar de uma vez. Seus olhos, ao encontrarem-se com os dela, não carregavam culpa, mas irritação.

— O que você ouviu... não é o que pensa que ouviu.

— Ah, sério? — Ângela apoiou o peso do corpo em uma das pernas e pôs a mão na cintura, num gesto deliberado de cinismo. — Você vai ter que ser muito criativo para se sair bem dessa. Vamos lá, faça a sua mágica. Sou toda ouvidos.

— Eu e Gisele estamos trabalhando juntos em um projeto — disse ele, a voz calma e pausada como se estivesse falando com uma criança.

— Qual? O do seu divórcio? — Ângela perguntou com os olhos apertados, orgulhosa de si mesma por conseguir ser tão sarcástica e irritante quanto ele era às vezes. — Você disse que me avisaria se estivesse me traindo, mas pelo jeito achou melhor provar a mercadoria antes de tomar uma decisão. Que projeto é esse, o de troca de esposas?

— Uma só já é demais — respondeu ele, devolvendo a provocação. — Agora, se já terminou o seu showzinho, gostaria de continuar.

Ângela fez bico e deu de ombros, parcialmente vencida. Marcos respirou fundo e, mais calmo, retomou a palavra:

— A Essence não anda muito bem. Os produtos que supostamente iriam melhorar a situação acabaram empacados nas prateleiras das perfumarias e supermercados. Dantas quis desenvolver uma linha barata de xampus imaginando que seria fácil entrar para o mercado das classes mais baixas. Provavelmente ele achou que as pessoas com menor poder aquisitivo eram burras e comprariam qualquer coisa apenas por ser barata, e é claro que não assumiu a merda que fez e jogou o fracasso nas minhas costas, dizendo que a campanha que desenvolvi com o pessoal da publicidade foi agressiva demais para um produto iniciante e de baixo custo. Sempre fui contra essa nova linha, mas ele conseguiu convencer meu pai a tentar, e quando entrei na empresa, tudo já estava sendo desenvolvido. O problema é que se a empresa não se recuperar desse fiasco e aumentar sua margem de lucro nos próximos meses, ficará em uma situação delicada. Em janeiro do próximo ano um grande grupo de funcionários será demitido, cerca de dez por cento do total de colaboradores. E se continuarmos no mesmo ritmo, em junho será a vez de outro grande grupo. A empresa pode acabar não resistindo, por isso tive a ideia de reunir um pessoal da minha confiança e desenvolver um projeto não apenas para uma nova linha de produtos, como também para a reestruturação de toda a empresa. Estamos quase terminando e em pouco tempo apresentarei uma proposta para a diretoria.

Ao final do relato, Ângela se sentia tonta com tanta informação, além de tola por ter feito a cena da esposa traída. Ficou levemente satisfeita por ele ter compartilhado o que andava fazendo, e chateada pela forma como aconteceu, sob pressão, quando grande parte dos problemas que eles andavam tendo se devia à falta de comunicação.

— Eu pensei que você não desse a mínima para a empresa — conseguiu dizer após algum tempo. Marcos pareceu confuso por um breve instante; por fim, ergueu os ombros.

— Não dou... quer dizer... um pouco... Ah, eu estou lá, não estou, todo santo dia? E se estou lá, preciso fazer alguma coisa, ou aquele filho da mãe pretensioso do Dantas vai afundá-la sozinho.

E você não deixará ninguém afundar a empresa do seu pai, pensou ela, mas não disse nada e por alguns segundos eles apenas se olharam. Fazia tempo que não tinham um momento cúmplice como aquele, por mais breve que fosse.

Quando Marcos desviou os olhos para o relógio em seu pulso, Ângela saiu do transe e voltou à postura fria de antes, dizendo:

— Se tem que ir, vá. Eu cubro a sua saída.

— Daqui a pouco eu vou. As pessoas estão começando a ir embora, acho que posso ficar até o final. Só tem mais uma coisa: Ricardo não pode saber de nada.

— E por que eu contaria a ele?

— Talvez porque vocês sejam tão amigos...

Ângela quis responder à provocação dele falando sobre a forma como ele tratava Gisele e até abriu a boca, mas no último instante desistiu.

— Não vou contar, fique tranquilo.

— Ótimo. — Marcos relaxou a postura, visivelmente aliviado. Ângela voltou a se concentrar no saco de copos descartáveis, e enquanto a observava, ele sentiu que deveria acrescentar alguma coisa e explicou: — É que Ricardo é muito certinho, e Dantas vive na cola dele.

— Já entendi. Não se preocupe — ela respondeu de forma áspera, virando-se em direção à saída. Marcos a segurou pelo braço antes que alcançasse a porta.

— Então... — murmurou, sem saber direito o que dizer. — Está tudo bem? — Como Ângela não respondeu, ele esclareceu: — Sobre o que você ouviu.

Corada pela lembrança da cena de minutos atrás, ela apenas assentiu.

— Você quer me fazer mais alguma pergunta? — arriscou ele.

Aquele era um momento raro, pensou ela. Marcos aberto e disposto a conversar era algo que não podia desperdiçar. Por tantos meses havia tentado falar com ele, sem sucesso, esperando respostas simples ou uma abertura para um diálogo e recebendo patadas. Devia aproveitar que ele estava sob o encanto da fala para saber tudo o que precisava, como o motivo real de ele e a mãe terem brigado. Lutara por aquilo por tanto tempo e, de repente — constatou com pesar —, não fazia mais diferença. Estava cansada de tentar entendê-lo.

— Está tudo bem — respondeu e saiu. Marcos arqueou uma sobrancelha e ficou parado, observando-a se afastar.

A cada passo que dava, Ângela sentia o coração murchar. Quando chegou novamente à mesa do bolo, Malu havia tomado a dianteira e colocado o marido para ajudá-la a servir os convidados. Seus olhares se encontraram brevemente e ela lhe fez um gesto de "Mais tarde conversamos", antes de pegar os copos da sua mão.

Depois que a festa acabou, as crianças já estavam dormindo e não havia mais nada a ser feito, as amigas se encontraram na sala de estar. Ângela se jogou na poltrona e Malu se acomodou no sofá.

— O que está acontecendo entre você e Marcos? — perguntou Malu, sem rodeios. As duas não tinham muito tempo juntas, precisavam aproveitar o pouco que tinham para conversar sobre os assuntos mais relevantes.

Ângela não queria falar sobre aquilo, mas, como cedo ou tarde teria que fazê-lo, tentou resumir em poucas palavras o que estava acontecendo:

— Meu casamento está afundando. — Suspirou fundo, esperando a amiga absorver o que acabara de dizer, e continuou: — É como cair em um buraco enorme. Você tenta se agarrar a algo e não consegue, e também não vê o fundo, o que significa que não tem como saber quanto ainda pode cair até se espatifar. Tem sido assim ultimamente: ladeira abaixo. Marcos é do tipo que ataca para se defender, só não consigo entender porque ele precisa se defender de mim. Quer dizer, quando foi que eu virei a inimiga?

— Eu sinto muito, amiga! Tenho notado você triste já faz algum tempo. Sei que esse período não tem sido fácil para você, e imagino que também não deva estar sendo nada fácil para Marcos. A vida dele passou por uma grande mudança, talvez ele precise apenas de um pouco de espaço.

— Eu compreendo que ele precise de espaço, a questão é: de quanto mais ele precisa? Nunca sei direito onde ele está, porque ele não me diz. Também não sei como ele se sente, porque ele se esconde atrás de uma fachada de irritação. Não sei o que ele pensa, nem onde eu me encaixo na sua vida nesse momento. Temos brigado tanto, que a essa altura já nem sei quem erra mais, se ele ou eu. Venho pedindo a Deus que me ajude a passar por tudo isso, porque é muito difícil me sentir tão sozinha tendo alguém que deveria me amar e ficar do meu lado em todos os momentos. Nós éramos amigos antes de tudo, agora parecemos dois estranhos vivendo sobre o mesmo teto.

Ao término do relato, Malu tinha o cenho franzido e seu olhar demonstrava preocupação. Antes de dizer qualquer coisa, segurou a mão de Ângela e a afagou, o que bastou para que ela vertesse as lágrimas que vinha segurando a noite toda.

— Você e Marcos são muito parecidos, os dois são teimosos. Se ele grita, você grita. Se você o despreza, ele a despreza para mostrar que sabe jogar o seu jogo. Na minha opinião é esse cabo de guerra que está acabando com a relação de vocês. Talvez, se um de vocês fosse um pouco mais maleável ou tentasse uma tática diferente...

— E esse alguém, é claro, tem que ser eu — Ângela afirmou, aborrecida.

— Sim, porque ele é burro demais para fazer algo tão nobre. — Malu piscou e exibiu um sorriso afetado que fez a amiga sorrir em meio às lágrimas. — Os homens são assim, é da natureza deles. Sempre dizem que o homem é a razão, e a mulher, a emoção. Pode até ser verdade em muitas áreas, mas no que diz respeito à condução de um relacionamento, as coisas são diferentes. Eles seguem o coração: se estão bem, maravilha, mas se estão mal, não conseguem tomar atitudes concretas para mudar o que está errado. A mulher, mesmo sendo mais sensível, consegue analisar a relação de uma forma mais lógica, entender o que está errado e tomar as atitudes necessárias para mudar o que é preciso.

— Talvez você esteja certa e eu deva tentar outra coisa. Estou tão farta de brigar...

— Tenha um pouco mais de paciência com seu marido neste ano complicado que estão vivendo. Até eu consigo sentir que ele não está bem desde a morte do pai. Os dois precisavam de mais tempo para resolver suas questões, e de repente tudo acabou... Não deve estar sendo fácil. Ele precisa de você...

— Sei que ele precisa de mim, o que me dói é eu também precisar dele. Como eu queria não precisar... Já dei tanto de mim por essa relação, e apesar de conhecer a regra do amor que diz que devemos amar sem esperar nada em troca, me sinto insatisfeita com o que tenho recebido.

— Eu sei, amiga, mas no casamento é assim: quando um perde o rumo, o outro tem que segurar as pontas e ser a fortaleza de que ele precisa. O tempo se encarregará de colocar as coisas de volta em seu devido lugar.

— E enquanto isso não acontece, o que eu faço para não enlouquecer? — Ângela perguntou, com um olhar triste e vulnerável que partiu o coração de sua melhor amiga.

— Enquanto não acontece, venha aqui e fique à vontade. — Malu deu batidinhas nas pernas, oferecendo o colo para a amiga deitar a cabeça e chorar.

Naquela situação, era tudo o que podia fazer. 

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Oi, amores, tudo bem?
Pobrezinha da Ângela, não está nada fácil para ela.
Apesar de não ser um capítulo feliz, gosto bastante dele, pela dinâmica dos diálogos.
Para mim foi muito difícil perdoar o Marcos por ter contado à Gisele algo que deveria ter compartilhado com a esposa. Mas é assim, durante uma crise, as pessoas preferem procurar auxílio em outras de fora, Ângela tem feito o mesmo com Ricardo.
E fiquem tranquilos, se o Marcos trair a Ângela eu acabo com ele. Posso fazer isso, afinal, sou a autora 😉
Continuem votando e comentando.
Beijos e uma boa Páscoa a todos 😘😘😘

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