Capítulo 29
Ângela chegou atrasada ao parque e se atrasou mais ainda por ter entrado pelo portão errado, e por não saber se localizar lá dentro. Enquanto caminhava em direção ao ponto de encontro, pensava no que sentiria quando ficasse cara a cara com Eduardo. Na frente do planetário, ele pensava a mesma coisa, olhando ansioso para o relógio e imaginando se ela havia desistido ou se estava atrasada. Pelo que conhecia dela, provavelmente estava atrasada, então havia decido esperar por pelo menos uma hora para começar a considerar outra opção.
Quando eles se avistaram, a certa distância, sentiram a emoção do reencontro. Ângela se aproximou e eles se abraçaram longamente.
— Você está linda! — ele comentou ao se afastar, admirado. Ela vestia uma calça legging, uma bata branca, botas marrons de cano alto, sem saltos, e um casaco de caxemira xadrez. Seu olhar continha um brilho que há muito tempo havia desaparecido, e ele percebeu de imediato — e com certo rancor — que tanto a cidade grande quanto o pai do filho dela estavam lhe fazendo bem.
— Você também não está nada mal — Ângela respondeu analisando-o. Eduardo vestia um jeans discreto, sapatênis e camiseta. Ele parecia mais seguro e menos tímido; estava muito bonito e sua fisionomia era a de um vencedor, saudável e equilibrado.
— E este bebê? — ele perguntou com carinho, tocando de leve a barriga dela.
— Só crescendo. E a sua empresa, como vai?
— Crescendo como o seu bebê.
Ela riu. Eduardo era maduro, gentil e cavalheiro, o verdadeiro "homem perfeito", como a ele se referia. Após uma semana isolada, triste e sozinha, estava feliz por estar com alguém de quem gostava e que lhe fazia bem. Apesar de já não pensar tanto nele quanto antes por conta dos tantos acontecimentos ocorridos no decorrer daqueles meses, ainda sentia falta dos velhos tempos.
Após lancharem eles visitaram o planetário e admiraram o universo com seus planetas e constelações estelares por um tempo. Depois saíram e caminharam, apreciando a natureza. Próximo ao lago, Ângela avistou um banco com uma bela vista e o puxou para lá.
— Você gostou daqui? — ele perguntou enquanto eles se sentavam.
— Se gostei? Eu amei. Isso aqui é a minha cara, Edu.
— Eu sei, por isso mesmo o escolhi.
— Você sempre soube me agradar — ela comentou com um sorriso.
— O que está achando de morar em São Paulo? — ele perguntou olhando em volta.
— Não é tão horrível como eu pensava. Na verdade, até que estou gostando. Claro que eu moro em um dos melhores bairros da cidade e ainda não tive nenhuma daquelas experiências horríveis com o trânsito, a violência ou as enchentes — ela suspirou, e continuou: — Mas é difícil se acostumar. Eu sinto falta de sair e reconhecer as pessoas na rua, dos meus amigos, e da paisagem da serra, que me animava quando eu voltava do trabalho em pleno pôr do sol. Felizmente, hoje descobri um lugar que me fez sentir mais perto de casa e te agradeço por isso. Virei aqui sempre que puder.
A expressão de Eduardo ficou um pouco mais séria, quase desconfortável, e percebendo sua hesitação ela imaginou qual seria a próxima pergunta.
— E o pai do seu filho? Como ele está reagindo com a gravidez?
— Ele está adorando — ela comentou com um meio sorriso e notou um sentimento de tristeza transparecer brevemente nos olhos dele.
— Como vocês estão, digo, como está o relacionamento de vocês? — ele quis saber.
— É tudo muito recente — Ângela comentou levantando os ombros. — Estamos nos conhecendo e indo devagar — mentiu, desviando os olhos. — E você com a Lúcia? — perguntou para desviar o assunto de sua vida para a dele.
— Estamos indo devagar também — ele respondeu pensativo, e acrescentou: — Sei lá, acho que fiquei mais cuidadoso com o tempo. Não me jogo mais de cara nas relações.
— Pode dizer a verdade, eu traumatizei você — ela afirmou apertando os lábios, virando o corpo para encará-lo.
— É verdade, traumatizou mesmo — ele respondeu sorrindo.
— Sinto muito — ela disse tocando na mão dele, que respirou fundo e olhou para ela.
— Não sinta. Talvez tenha dado errado porque não era para ser daquele jeito, ou talvez não fosse o momento certo... A questão é que há coisas que eu só entendo agora.
— Tipo o quê? — ela perguntou curiosa.
— Tipo o amor incondicional e a dedicação que você tinha pelo seu pai. Eu admirava, mas muitas vezes sentia ciúmes e não entendia.
— E agora entende?
— Sim. Você o amava, sabia que iria perdê-lo e não podia fazer nada a respeito, a não ser se ocupar dele pelo tempo que pudesse. E todo aquele amor não morreu com ele, permanece em você. Você entende a morte de uma forma que eu nem consigo imaginar, porque nunca perdi ninguém tão próximo a mim. Hoje eu sei que você não exagerava, que apenas fazia o que era preciso fazer. E te respeito por isso.
— É uma pena que tanto amor não serviu para mantê-lo aqui comigo — ela comentou mirando o lago. Sua garganta estava embolada; e seus olhos, marejados. Aquele ano mal tinha alcançado a metade e já estava sendo o mais intenso de sua vida. Era como se, em pouco tempo, tivesse vivido uma vida inteira, como se os quatro anos anteriores tivessem sido uma preparação para aquele último.
— É uma pena que ele tenha morrido, mas é a vida. — Desta vez ele pegou a mão dela e segurou entre a sua. — O curioso é que, no momento em que você iria perdê-lo e ficar sozinha, engravidou e ganhou uma família. Também é curioso como a vida acabou nos afastando.
— Ela escolheu por nós — concluiu Ângela com tristeza no olhar, pensando no que a vida queria para ela, fazendo-a engravidar de alguém com quem não tinha futuro e afastando-a daquele que podia fazê-la feliz.
Eles saíram do parque às 2 horas da tarde e foram para um shopping. Depois de almoçarem, caminharam pelas lojas e ele fez questão de comprar um presente para o bebê dela. À medida que o tempo passava, Ângela ia ficando angustiada. Estava se divertindo muito e não queria que o dia acabasse e ter que voltar a ficar sozinha no apartamento.
Enquanto observava Eduardo escolher coisas de bebê, ela pensou por um momento no quanto sua vida seria mais fácil se aquele filho fosse dele. Não haveria complicações, regras idiotas a seguir e nem uma vida de mentiras. Depois pensou em Marcos e se arrependeu. Estava aborrecida com ele, mas ele estava sendo ótimo para ela e aquele filho era dele. O que queria de verdade era que as coisas pudessem voltar ao que eram antes daquele beijo. Queria tê-lo de volta.
O dia voou e no fim da tarde Eduardo a levou para casa. Ela insistiu que ele subisse para conhecer o quarto do bebê e o lugar onde morava, e, um pouco relutante, ele aceitou.
Após mostrar o apartamento a ele, levou-o até o balcão da cozinha e começou a preparar um café.
Marcos chegou ao seu prédio e na garagem se deparou com o carro de Eduardo parado em uma de suas vagas. Estacionou na vaga ao lado e subiu, sabendo quem iria encontrar. Durante o trajeto no elevador, lutou para dominar seu ciúme sem fundamento e assumir uma fachada cordial. Afinal, Eduardo era o homem que Ângela amava, e se quisesse reconquistar a amizade dela deveria tratá-lo bem.
Ele entrou no apartamento e estacou. Não sabia o que Ângela havia dito a Eduardo sobre eles, portanto, não sabia como deveria se comportar.
Os dois logo notaram sua presença e olharam para as várias sacolas que carregava.
— Boa-tarde — Ele deixou as sacolas no sofá e se aproximou para apertar a mão de Eduardo. — Como vai?
— Bem — disse Eduardo. — Seu apartamento é muito bonito — comentou meio sem jeito. Ângela havia lhe dito que Marcos chegaria tarde e agora estava constrangido.
— Obrigado — Marcos respondeu e deu a volta no balcão para cumprimentar Ângela com um beijo no rosto.
— O que são aquelas sacolas? — ela perguntou para puxar assunto, pois estava tão tensa quanto os dois.
— Presentes para o bebê. Passei o dia todo comprando coisas para ele. E como foi o passeio de vocês?
— Foi ótimo, o parque é demais! — ela respondeu animada. Ele sorriu e olhou para Eduardo.
— Você vem sempre a São Paulo?
— Venho. Estou terminando uma pós-graduação que faço aqui.
Ângela olhava para a cafeteira e tamborilava nervosamente os dedos no balcão, temendo que Marcos fizesse ou dissesse alguma coisa que viesse a embaraçá-los.
— O que você faz? — ele perguntou para Eduardo. — Trabalha com o quê?
— Sou webmaster, crio sites. Eu me formei em Jornalismo, mas como na época o jornal carecia de funcionários, fui obrigado a me especializar nessa área e acabei gostando.
— É interessante como em pequenas empresas as pessoas acabam exercendo várias funções por falta de pessoal — refletiu Marcos.
— É verdade, não é fácil ser empurrado para uma função desconhecida, mas isso pode acabar ajudando o profissional a ampliar suas possibilidades — comentou Eduardo.
— E dá pra viver do que faz, digo, viver bem?
— Dá sim. Minha empresa está crescendo rápido e mal damos conta dos contratos atualmente. No começo eu corria atrás de clientes, agora já posso escolher com quem trabalhar.
— Estou muito feliz por você estar progredindo, Edu — disse Ângela. — Ele trabalha duro e é muito eficiente — completou para Marcos com orgulho, depois tornou a olhar para Eduardo. Estava tão nervosa que quase esquecera o quanto ainda estava brava com o pai do seu filho.
— Obrigado — respondeu Eduardo com um meio sorriso. — Também estou feliz por você — admitiu meio sem jeito.
Durante o restante do café Marcos observou os dois e cada reação que tinham quando um ou outro falava. Ângela sabia que ele a estava estudando e ficou ainda mais tensa, mas disfarçou o máximo que pôde.
Após um tempo, Eduardo anunciou que iria embora. Marcos ficou feliz porque aparentemente as coisas não haviam mudado, o que significava que Ângela não iria embora levando seu filho. Quando percebeu que não corria perigo de ficar sem eles, passou até a gostar de Eduardo. Despediu-se dele e saiu com a desculpa de que iria tomar um banho, deixando-os sozinhos. Ângela admirou seu comportamento e acompanhou Eduardo até a porta. Lá eles ficaram frente a frente e se olharam nos olhos.
— Eu me diverti muito — disse ele.
— Eu também. Foi muito bom te ver e saber que você está bem — afirmou ela. — Estou muito orgulhosa de você, com a sua empresa.
— E eu de você, por estar bem. Seu apartamento é muito bonito, e seu... é, o pai do seu filho parece ser um bom sujeito.
Ela assentiu, concordando, e eles se abraçaram.
— Você está linda, mais do que nunca — ele disse em seu ouvido.
— Obrigada, Edu. Desejo que você seja muito feliz — ela disse com os olhos úmidos.
— E eu desejo o mesmo a você. — Ele se afastou e olhou para ela novamente, com o coração apertado. — Me avise quando o bebê nascer, certo?
— Certo.
— Tchau Ângela.
— Tchau Edu.
Ele sorriu uma última vez, deu as costas e partiu. Ângela entrou e foi direto para o quarto, confusa e vulnerável. Desde que beijara Marcos, encontrava-se em uma montanha russa emocional, e a visita de Eduardo não havia amenizado as coisas. Após o banho, como vinha fazendo todas as noites, ela se deitou na cama. Enquanto pensava em sua vida, não notou Marcos se aproximar até ele se sentar próximo a ela.
— Oi — disse ele.
— Oi — ela respondeu seca, sem se virar.
— Até que esse Eduardo é um cara legal — ele comentou. — Isso explica porque você gosta tanto dele. E a recíproca é verdadeira, porque ele gosta de você.
— É verdade — ela concordou. — Mas não importa, porque nunca consegui abrir meu coração para ele. E por mais que tenha vontade, não sei se algum dia serei capaz de fazer isso. Qual é o meu problema? Como eu pude perder um homem desses?
— Você não tem problema nenhum. Você é uma garota linda, guerreira e interessante, que está passando por uma fase difícil. Com o tempo, irá se encontrar.
— Você acha? — Ela virou-se para encará-lo.
— Eu tenho certeza — ele afirmou com sinceridade. — Agora, chega de autopiedade, precisamos comer alguma coisa. Vou pedir o jantar.
— Não estou com fome.
— Não interessa, já basta ter saído de manhã sem comer direito. Então, o que vai ser? — ele insistiu autoritário.
— Ah, não sei. Alguma coisa leve, tipo... sopa.
— Sopa?
— É — ela respondeu se sentando ao lado dele.
— Tudo bem, então vai ser sopa para a senhora. Vou pedir e depois do jantar te mostro as coisas que comprei para o bebê.
— Quando foi que decidiu voltar a falar comigo? — ela perguntou quando ele fez menção de se levantar. Ele suspirou e olhou para ela.
— Na sexta, mas quando cheguei você já estava dormindo. No sábado eu pretendia vir mais cedo, mas tive um monte de imprevistos. Hoje planejei te levar para dar uma volta, mas o mala do seu ex me passou a perna e estragou tudo.
Ela riu pela forma como ele se referiu a Eduardo, depois ficou séria e bateu no ombro dele com a mão fechada.
— Nunca mais me ignore novamente — exigiu com uma carranca.
— Eu prometo. — Ele sorriu e esfregou o ombro.
— Você foi um idiota, sabia?
— Sim, me desculpe.
— Eu senti a sua falta...
— Também senti a sua...
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Own... Sou apaixonada por esse capítulo. Se bem que eu sou apaixonada por todos, rs.
O encontro Marcos-Ângela-Edu foi a maior saia justa, né?
E agora, o que vai acontecer?
#TeamMarcos ou #TeamEdu ?
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