Capítulo 25
Nicole abriu a porta de seu luxuoso apartamento trajando um vestido curto marrom de mangas compridas e sapatos Ankle Boots da mesma cor. Marcos hesitou por um momento e entrou, sentindo-se desconfortável. Ela era rápida e logo entendeu que havia algo errado.
— Precisamos conversar — disse ele, e algo no estômago da loira se alterou. Ela sabia do que se tratava só de olhar para ele; mas não conseguia acreditar.
O que temos não mudaria assim, em tão pouco tempo. A menos que...
— Não podemos mais nos ver. Eu conheci alguém — ele disparou.
Nicole lutou para manter a compostura e o olhar gelado que sempre preparava para ocasiões como aquela. Marcos hesitou novamente. Odiava ter que mentir para ela, mas não podia dizer a verdade e não queria expor Ângela ao ridículo enquanto passeava com a sobrinha do chefe. Além disso, estava cansado de ser o brinquedinho de Nicole e só não tinha terminado ainda por falta de um motivo mais forte. Agora tinha o filho. Ele ainda nem tinha nascido e já estava redirecionando a vida do pai.
— Você está me dizendo que está apaixonado? — Nicole perguntou, com o máximo de sarcasmo que conseguiu reunir. Ainda estava em choque para dar o melhor de si, e só ela sabia o quanto podia ser cruel quando lhe convinha.
— É... mais ou menos isso — ele respondeu sem convicção, dando armas ao inimigo para feri-lo. Costumava ser tão sincero que quando precisava mentir parecia um garotinho, assustado e pouco convincente.
— Mais ou menos? — ela riu. — Pois eu duvido muito. Eu te conheço. Você não está apaixonado.
— E como sabe?
— Eu sei. Seja homem, Marcos. Se não me quer mais, é só dizer. Nós não temos um relacionamento sério, mas após todos esses anos, o mínimo que me deve é respeito.
— Você está certa — ele concordou. — Eu não te quero mais. A nossa história já deu o que tinha que dar.
— Jura? — ela perguntou com sarcasmo. Em seguida, para testar sua teoria, foi até ele e começou a provocá-lo.
— Quer dizer que você não me deseja mais? — Sussurrou em seu ouvido.
— Não. — Marcos respirou fundo. Precisava sair dali o quanto antes, mas primeiro tinha que finalizar aquela história de uma vez, o que era difícil com ela o provocando daquele jeito, beijando seu pescoço e mordiscando a sua orelha. Foi quando ela ameaçou abrir sua camisa que segurou as mãos dela e a encarou com firmeza.
— Eu vou ser pai — declarou. — E falei sério quando disse que estava com alguém. — O sarcasmo, a sedução e a raiva de Nicole deram lugar à surpresa. Ele foi embora, enquanto ela ficou pensando em como as coisas podiam ter mudado assim, tão de repente. Assim que se recuperou do choque, voltou a sentir raiva, mas por algum motivo não era dele que sentia e sim da mulher que lhe passara a perna. Estava muito interessada em conhecê-la e já tinha até data para o encontro. Ela que se cuidasse, pois ferira sua vaidade e orgulho profundamente.
Quando Marcos chegou em casa, Ângela dormia no colchão. Ele pegou uma cerveja, se jogou na poltrona e a observou pensando em Nicole, e no inevitável encontro que aconteceria em algumas semanas. Logo os três iriam estar numa saia justa, e embora estivesse preocupado, sorriu ao imaginar a cena.
Ele tomou um gole da cerveja e depois tornou a olhar para a companheira de mentira que carregava um filho seu de verdade. Sentiu pena, pois além do inevitável encontro com Nicole, havia alguém que com certeza iria acabar com ela: sua mãe.
Melinda não era fácil. Ele próprio nunca dera muita atenção às maluquices dela e eles sempre haviam se dado muito bem, mas sabia que com Ângela seria diferente. Primeiro porque ele era filho único e ela tinha aquele apego exagerado que as mães de filhos únicos têm; segundo, porque ela não aprovava o que ele estava fazendo. Após o divórcio, Melinda havia desaprendido a confiar nas pessoas. Ninguém era inocente até que provasse o contrário, e, no caso dele, a prova tinha que esperar o bebê nascer. Ela estava apavorada com aquela história porque, no fundo, queria muito que fosse verdade. O problema era que seu coração de pedra não lhe permitia acreditar. Odiava a nora antes de conhecê-la por deixá-la naquela situação aflitiva, e temia que ela estivesse dando o golpe da barriga.
Decidida a testar o caráter — e a paciência — da nora de todas as formas possíveis, ela aceitou prontamente o pedido do filho para que fosse com ela comprar os móveis novos para o apartamento enquanto ele viajava.
Marcos não queria ter apelado para a ajuda dela, porém, sentia que não deveria deixar Ângela zanzando sozinha, grávida e deprimida, por São Paulo.
Dois dias depois Ângela acordou sozinha no apartamento, pois ele havia viajado. No balcão da cozinha havia um talão de cheques, um cartão de crédito, algum dinheiro, e um bilhete que dizia: "Aprecie com moderação". Ela riu e foi tomar banho, depois se arrumou e deu uma última olhada no espelho. O vestido que escolhera era branco, florido, e lhe caía muito bem. Ela usava sapatilhas, um casaquinho, e uma bolsa preta de pano. O cabelo havia sido penteado molhado, porque ela estava com pressa, e a maquiagem era clara e delicada. Sentindo-se bonita, caminhou tranquilamente pelo corredor. Ao chegar à sala, deparou-se com Melinda e deu um pulo. Não imaginava que ela tivesse a chave do apartamento, muito menos que subisse sem lhe avisar.
Passado o susto, ela reparou na mulher que era um pouco mais baixa que ela, tinha cabelos castanho-avermelhados na altura do pescoço e perfeitamente escovados, vestia um tailleur branco com uma camisa preta por baixo, salto alto e segurava uma bolsa da Louis Vuitton.
Melinda também reparou na jovem e fez uma cara de desaprovação. Com essa carinha de sonsa você está cegando meu filho, pensou, sentindo uma ruga de preocupação se formar em sua testa, o que odiava. Aos cinquenta e cinco anos, sua pele era perfeita e com pouquíssimas rugas, resultado de um trabalho árduo e constante para atrasar os efeitos da idade.
— É... Bom dia. Tudo bem? — disse Ângela, estendendo a mão com um sorriso nervoso. Melinda a segurou com tanta delicadeza que mal dava para sentir o toque. Ela era linda, estava perfeitamente maquiada, de batom vermelho, e reparando em sua elegância, Ângela imaginou que ela parecia ter saído de um romance antigo.
— Você está pronta? Podemos ir? — perguntou Melinda, impaciente e parecendo aborrecida.
— Sim, vamos — Ângela respondeu com amabilidade. — Espera só eu pegar... – Ao se virar para o balcão a fim de pegar as coisas que Marcos havia lhe deixado ela descobriu que era tarde, pois Melinda já havia pegado tudo. Irritada, fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo. Seu dia murchou ali, no instante em que se viu refém daquela criatura antipática e bem vestida da alta sociedade paulistana, mas decidida a não se aborrecer voltou-se com um sorriso falso e a acompanhou para um longo e exaustivo dia.
Antes de chegar à primeira loja, as duas já estavam discutindo. Desde que entraram no elevador, Melinda estava interrogando Ângela sobre tudo, inclusive a noite que passara com Marcos, e que não era da sua conta. Em um momento a jovem perdeu a paciência e deu a ela uma resposta rude. Foi a oportunidade que Melinda esperava para acusá-la abertamente de estar dando o golpe da barriga.
— Pense o que quiser — disse Ângela, respondendo ao insulto. — Para mim o que importa é o que o Marcos pensa, e ele sabe que esse filho é dele e que eu não sou uma interesseira.
Melinda estreitou os olhos para ela, surpresa. Inacreditavelmente ela estava passando em seus primeiros testes, mas ainda haveria muitos. A nora era o seu novo brinquedinho e não descansaria até enlouquecê-la.
Ângela se arrependeu de ter explodido porque não queria brigar com a avó do seu filho. Ela era a única referência de avós que ele teria, visto que seus pais estavam mortos e que o pai do Marcos era ausente, aparentemente por escolha dele.
A vontade de não brigar, no entanto, durou pouco, pois com o poder de compra nas mãos, Melinda foi terrível e ignorou todas as suas sugestões, comprando propositalmente os móveis mais escuros, sérios e antiquados que em nada combinavam com o estilo jovem deles. Foi um jeito que ela achou de dar uma lição no filho também, por ele ter se recusado a ouvi-la quando ela lhe disse que aquilo era uma loucura.
Após um dia de sofrimento, Ângela foi deixada por Melinda na porta do seu prédio. A
Sogra despediu-se dela com um sorriso falso e combinou de voltar no dia seguinte para elas comprarem os tapetes, cortinas, e objetos decorativos que faltavam. Ângela entrou no apartamento bufando de raiva e se jogou na cama imaginando se aguentaria outro dia como aquele.
Minutos depois, sem conseguir se acalmar, ligou para Malu e lhe contou a história toda.
— Uma sogra que odeia a nora, mas que clichê! — disse a amiga quando ela terminou, rindo do outro lado da linha.
— Mas ela não perde por esperar, Malu. O que é dela está guardado — ameaçou a jovem. Malu riu mais alto, e aquilo a irritou.
— Posso saber por que você está rindo? O que é tão engraçado no fato de eu ter passado um dia dos infernos? — esbravejou.
— Você quer mesmo saber? — Malu perguntou, segurando o riso com dificuldade. — É ótimo te ver tão zangada, sabia?
— Você enlouqueceu, Malu?
— Olha pra você, com essa fúria toda. Te ouvindo assim, sabe o que eu senti?
— O que? — ela bufou.
— Que você está viva, amiga! Viva como há muito tempo eu não via.
Ângela não respondeu, mas após desligar o telefone ficou pensando sobre o assunto. Com o sangue correndo agitado por seu corpo era exatamente assim que se sentia: viva!
Horas depois ela continuava zangada. A fúria corria por suas veias como um veneno ágil, impedindo-a de se acalmar e atrapalhando seus planos já traçados para aqueles dias solitários. Desde que chegara a São Paulo, poucos dias antes, muita coisa havia mudado. A dor pela morte do pai ainda latejava em seu peito, mas até então ela não tinha tido tempo de ficar sozinha com ela. Com a viagem de Marcos, esperava manter-se ocupada durante o dia e, durante a noite, voltar à inércia confortável de antes, quando poderia remoer seu luto e sofrer em silêncio, sentindo-se a menor criatura do mundo. Mas Melinda estragara tudo, pois agora estava zangada demais para ficar triste.
No dia seguinte ela saboreou sua pequena vingança. Acordou mais cedo, se arrumou, e antes de sair, contemplou o cartão de crédito e a chave extra que roubara da Louis Vuitton da sogra, no final da tarde anterior. Como havia pegado o endereço de cada uma das lojas que visitaram, não teve dificuldades para encontrá-las e trocar todos os móveis pelos do seu gosto.
Marcos ligou no horário do almoço e ela brigou com ele. Ele se desculpou, depois disse que Melinda estava furiosa com ela.
— O que ela disse? — Ângela quis saber.
— Que você não tem classe e que mexeu na bolsa dela — ele respondeu dando risada.
— Só peguei o que precisava. Nunca mais tente me ajudar, Marcos. Você conhece o ditado "Antes só que mal acompanhado"? Pois isso se aplica a mim e à sua mãe.
— Pega leve com a coroa, ela não está acostumada a me dividir.
— Se ela fosse minha sogra de verdade talvez eu até pegasse, mas como não é, ela que me aguarde.
Ele riu alto, e por reflexo, ela riu também.
— Você não vai ser muito má, vai?
—Só um pouquinho...
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Ângela começando a sair do luto para travar uma guerra com a falsa "sogra".
Não sei não, mas estou sentindo que essas brigas farão bem à nossa protagonista.
E a Nicole? Eu não gostaria de ser alvo da ira dela. Deu pra sentir que a beldade não gosta de perder.
O que será que vai acontecer quando as duas se encontrarem pela primeira vez?
Contem para mim o que acharam das novas personagens e se estão gostando da história.
Bjs!
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