Capítulo 55
Athena desceu as escadas segurando a última caixa debaixo do braço. Seus olhos azuis apontaram para a sala de estar vazia. Ela lembrou de que, quando retornasse, os móveis ainda estariam no lugar. As paredes ainda teriam os quadros da nova família emoldurados. Seu lugar na mesa de jantar ainda estaria esperando por ela. Aquelas eram todas provas de que os heróis haviam vencido.
Ela foi até a porta de entrada e, ciente de que não era a última vez, não olhou para trás.
As cores de setembro se alinharam ao sol da tarde, produzindo um filtro laranja sob a família esperando na frente do carro. As folhas do outono eram as favoritas de Athena.
Will pegou a caixa da mão de Athena e entregou-as para Anna, que as acomodou com as outras no porta-malas, e Robert fechou o compartimento.
Anna indicou o quintal dos fundos com a cabeça.
– Vamos. Tem mais gente esperando para se despedir.
Athena abriu a portinha da cerca que dava para o gramado nos fundos da propriedade. Não havia flores ou um bolo, apenas pessoas conhecidas, e isso era muito melhor.
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Todos seus amigos esperavam em uma fila desordenada para falar com ela. Um deles, entretanto, um garoto de olhos castanhos que há muito tempo tinha cruzado seu caminho, não estava na fila. Separado dos outros, London aguardava pacientemente sua vez.
As bochechas de Cameron estavam levemente vermelhas.
– Não gosto de despedidas – ele disse.
Athena sorriu com sinceridade. Era fácil perceber que Cameron tinha evoluído muito nos últimos meses. Um garoto tímido com a força desproporcional à personalidade e tamanho favorável ao coração, ele não hesitou em proteger os amigos durante a batalha final. Muralha nunca tinha sido uma escolha ao acaso, assim como não foi aleatória a gentileza de Cameron no primeiro dia de aula de Athena.
– Eu também não – ela respondeu. – Mas não tem problema. Porque isso não é nem de longe uma despedida.
Liana cruzou os braços.
– Eu sabia que você agitaria essa cidade monótona – disse. – Acho bom você visitar.
Ao contrário do irmão, Liana nunca tinha duvidado de si mesma, contando com o bom humor e a confiança para seguir com a vida. O potencial como a heroína Cerise era tão grande quanto a auto-estima, e maior ainda era sua dedicação às amizades. Os amigos sabiam que ela era uma garota de poucas palavras e pequenos gestos de grande significado. A saudade estava contida em suas palavras de despedida.
– Também vou sentir a sua falta, Liana.
Os Rose foram embora primeiro, despedindo-se de Athena com um abraço apertado, e deram lugar a Jasper.
– Você estava certo, sabe – falou Athena. – Sobre os Robbins.
– Às vezes você só precisa de um empurrãozinho para chegar ao lugar certo.
– Eu prometo que, algum dia, vou assistir a um show seu, Jasper.
– Eu espero ansiosamente. Vem cá, sardenta.
Jasper puxou Athena para um abraço. Depois, ele guiou Bella para a frente.
– Estarei esperando no carro – ele falou.
– Tudo bem – Bella respondeu.
Ela ergueu o olhar para Athena, não mais atuando. Com ela, poderia ser verdadeira.
– Quero que saiba que sou muito grata por confiar em mim mesmo depois de tudo que eu aprontei – disse Bella. – Me desculpa mesmo por ter causado problemas para você.
– Consertamos depois, não foi? Você mereceu a minha confiança, Bella.
Ela envolveu os braços ao redor da garota.
– Escuta, Bella... – Quando se separaram, Athena fitou os olhos verdes da amiga. – Não se deixe enganar pelo que ninguém pensa de você. Eu vi a garota construída sob muitas camadas que você me mostrou naquela realidade que criou. Você não apenas imaginou um cenário feliz para si mesma, Bella, mas para todos nós. Foi por esse motivo que te dei outra chance. Quem você é, por si só, já é o suficiente para se orgulhar.
– Obrigada. De verdade, Athena, obrigada.
Athena assentiu e foi para o próximo da fila.
– Eu deveria ter imaginado, novata, que você seria a mascarada – Thomas sussurrou. O garoto não estava minimamente triste.
– Você deveria parar de me chamar de "novata". Não estamos mais na escola.
– Nem me lembre. Mas eu devia saber mesmo. Vi a cidade e suas pessoas serem salvas em mais de uma maneira por Azura.
– Como assim?
– É que... eu morei em Lumina Valley a minha vida inteira. Conheço essas pessoas há muito tempo. Acho que, todos nós, alguns mais do que outros, precisávamos dessa mudança que os heróis trouxeram. Obrigado por me escolher para ser Dinamite, Athena, e também pela ajuda com a MJ. E também... por mudar a vida do meu melhor amigo. London já não era ele mesmo fazia algum tempo.
– Não fui eu quem fiz ele ser verdadeiro consigo mesmo.
– Não, mas ele me contou como você ajudou. Eu mesmo tentei fazer isso, mas, ao que parece, não era da minha ajuda que ele precisava. Obrigado de verdade por trazer meu amigo de volta... e por ser minha amiga nesse tempo também.
Ele parecia o mesmo garoto de sempre quando abraçou Athena, afagando suas costas.
– O Mascarados – ela falou – foi realmente genial, Thomas. Isso vai ajudar as pessoas de verdade.
Ele gargalhou de volta.
– Foi o meu melhor projeto. Fique bem, Athena.
– Eu espero que você seja feliz e continue sendo esse apoio. E que algum dia consiga você gostar de café na próxima vez que nos encontrarmos.
Thomas negou e se afastou, abrindo espaço para MJ, que tinha a expressão oposta da calmaria do namorado.
– Quando você disse que eu não planejava ficar aqui... – Athena começou.
– Eu sei que você não queria. – Os olhos de MJ estavam marejados. – Olha só, você já está até indo embora.
– Você não estava errada. Só que agora não me sinto da mesma forma.
– Ah?
– Agora eu tenho vários motivos para voltar.
Olhando para a melhor amiga, Athena sorriu para esconder as lágrimas.
– MJ, você me ajudou a não enlouquecer de vez, me manteve firme quando senti que estava sendo puxada para longe. Foram poucas as pessoas que conheci com a sua convicção e lealdade, e nenhuma era especial como você. É minha melhor amiga em todos os aspectos e a definição da palavra. Nós estaremos afastadas agora, mas saiba que o meu coração e os meus pensamentos sempre estarão no seu bem-estar, assim como você sempre pensou no meu.
– Athena, sério? – MJ enxugou o canto dos olhos. – Eu não queria chorar. Isso nem é a droga de uma despedida!
– Então não chora! – Athena pediu, também estava à beira das lágrimas. – E eu trouxe algo para você. Espero que, com isso, você continue a iluminar o mundo com suas palavras.
MJ pegou o presente, uma caneta roxa, e abraçou firmemente a amiga.
O próximo foi Oliver. Ele, que não sabia do maior segredo de Athena e London, mas que estava no gramado de uma casa completamente estranha para se despedir de uma recente e improvável amizade.
– Você veio! – Athena comemorou.
– Não se engane. Eu vim porque queria praticar minhas expressões felizes.
– Está se saindo muito mal, Oliver.
Fácil assim, ele tirou a carranca do rosto e revirou os olhos.
– Na verdade, eu só vim para agradecer pelo que fez por mim. Consegui uma bolsa na faculdade dos meus sonhos porque você me ajudou um pouco, então... obrigado.
– Como é?
– Não. Ainda não vou repetir.
Athena gargalhou alto.
– É a segunda vez que me agradece, Oliver.
– Eu tento evitar. Lembre-se de mim quando ver o meu nome nas telas de cinema.
Sem maiores despedidas, Oliver foi embora.
E assim, restavam apenas duas pessoas no gramado dos fundos dos Robbins. No fim, era ela e aquele que sabia de tudo e mais um pouco sobre ela, o garoto por quem ela tinha, em duas ocasiões, se apaixonado.
London levantou o queixo de Athena e roubou um beijo demorado, difícil de separar e que, quando terminou, deixou os dois paralisados fitando um para o outro. Era muito diferente enxergar sem as máscaras.
– Acabamos de nos encontrar, depois de tanto tempo procurando, e vamos nos separar de novo – disse London. – Parece que estamos mesmo amaldiçoados, Fallon.
– Nunca foi uma despedida para nós dois, Gray.
Athena segurou a mão dele na frente do corpo por um tempo, e com a outra mão, ele a puxou e a envolveu em um abraço. Era a não-despedida mais dolorosa que tinham feito.
Alguns minutos depois, London a levou de volta aos Robbins e não falou nada quando as portas do carro fecharam com ela dentro.
Antes de entrar no banco do passageiro, Robert encontrou o olhar do garoto.
– Eu não deveria estar falando isso, por isso vamos fingir que eu não estou – disse.
– Entendi – London respondeu. – Não estamos conversando.
– Eu não gostava muito de você no começo, garoto, ou as suas intenções com Athena.
– Mesmo quando nem eu sabia que gostava dela?
– Mesmo então. Você partiu o coração dela uma vez, e isso me fez não gostar muito de você. Mas Athena insistiu em sua amizade e então em um relacionamento com você, que por algum motivo vivia no Palco Robbins, então preciso confiar nela e acreditar que você é bom.
London assentiu. Em algum lugar em sua relação com Athena, embora ela nunca fosse falar explicitamente, ele sabia que Robert era bem mais que alguém que ela conhecia. Ele era, bem como Nicholas, uma figura paterna para ela. London entendia o dever em protegê-la com palavras porque também se importava com a garota.
– Você era Escarlate, alguém capaz de protegê-la de tudo, exceto de si mesmo – disse Robert. – Embora um alívio, isso também é um medo eterno de um homem preocupado.
– Eu nunca faria nada para machucar Athena – foi a vez de London responder.
– Eu sei disso agora.
London ergueu a sobrancelha.
– Vamos dizer que as opiniões de Anna se alinharam com as minhas. Ambos levamos em consideração o julgamento de Athena – Robert falou. – Essa conversa nunca aconteceu.
London observou o homem entrar no carro e deu um último aceno para Athena.
Durante a viagem até o ponto de ônibus, as conversas no carro ocorreram como todos os dias, mas os Robbins sabiam que não seria mais daquela forma por um bom tempo. Athena não falou nada em voz alta, mas encontrou o olhar de Will, sentado do lado dela no banco de trás, e percebeu os olhos levemente marejados. Ele estava segurando o choro, então ela pegou a mão dele e apertou suavemente.
Faltando cinco minutos para o desembarque do ônibus, quando os passageiros estavam entrando e escolhendo os lugares, Anna, Berto e Will ajudaram a descarregar as malas.
Na porta do ônibus, os quatro chegaram mais perto para um abraço caloroso.
– Chegou a hora, garota – disse Robert.
– Se cuide, Athena – falou Anna.
– Não se esqueça de se alimentar direito.
– Tente não se meter em confusão.
– Faça mais amigos.
– E estude bastante...
– Isso é tudo? – perguntou Athena, gargalhando.
Anna e Robert olharam um para o outro, conferindo se era tudo que tinham a dizer.
– É o suficiente por enquanto.
– Venha visitar sempre que puder... – pediu Will. – E nós vamos também, não é, mãe?
– Sem dúvida.
Athena observou o irmão caçula.
– Eu trouxe um presente para você – ela disse.
Ela entregou o homem-aranha de pelúcia, colocou-o na mão do garoto e virou-o, onde uma assinatura em itálico tomava as costas do boneco.
– Para o meu grande fã, William Robbins, de Escarlate – ele murmurou.
– Sei que não é o mesmo herói, mas... achei que você gostaria.
Os olhos de Will brilhavam em divertimento.
– Você conseguiu a assinatura do Escarlate para mim? Isso é demais!
Will abraçou a irmã mais velha. London conseguiu alguns pontos com o menino com o presente.
– Prometa que vai visitar a gente. Sei que seu namorado é o herói da cidade, mas você é a minha heroína – o garoto murmurou.
Athena notou a reação de Anna e Robert por trás do abraço e sorriu para eles. Ela não queria uma grande despedida dos Robbins. Todos os amigos sabiam de sua partida, cada um seguindo seu caminho, bem como ela, e tinham feito suas despedidas. Os Robbins, entretanto, permaneceriam na cidade. Foram os primeiros a aceitá-la, mesmo quando ela não tinha feito o mesmo por eles.
O momento não era uma despedida, mas ninguém queria dizer adeus primeiro.
– Quero que saibam que estou voltando para Manhattan porque ainda existe uma parte do meu passado que eu quero descobrir mais. Mas não é para sempre, apenas durante os meus estudos – ela mentiu um pouco. – Além do mais, tenho todos os motivos para voltar.
Athena juntou os outros Robbins no abraço.
Eles se afastaram e sentiram o vento frio recalibrar a temperatura entre os corpos.
– Estaremos esperando para te receber quando você retornar – falou Anna.
– Eu sei – Athena respondeu. Não esperava nada mais dos Robbins. – Obrigada.
Ela subiu os degraus do ônibus e observou os lugares cheios de rostos desconhecidos, todos com o mesmo destino à Nova York, mas todos com objetivos muito diferentes. Para ela, voltar à cidade significava retomar o Projeto Fallon em seus próprios termos. Ela se certificou de que a Marca do Guardião estava bem escondida e sentou no banco da janela.
Os Robbins avistaram Athena e acenaram, três figuras familiares que trocaram o rosto entristecido por sorrisos fartos para a despedida. Deixavam um membro da família para trás, mas Athena sabia que estavam felizes por ela seguir sua jornada, mesmo que em outra cidade.
Logo o ônibus começou a partir. Três figuras ficaram para trás e uma seguiu em frente.
Na ponte da fronteira da Cidade das Máscaras, onde Lumina Valley terminava, Athena checou o celular. Uma mensagem de London, uma simples frase, fez seu coração pegar fogo.
Olhe para fora.
Visível para quem soubesse o que procurar, uma luz prateada brilhou no topo da ponte, acompanhando o trajeto do ônibus entre as pilastras.
Eu prometi que faríamos isso juntos ou não faríamos nada, não prometi?
Iluminado pelo brilho do outono no pôr-do-sol, London não conseguia ver Athena no ônibus, mas sabia que ela podia vê-lo.
Um mascarado se apoiou na última pilastra.
Athena sempre percebia quando ele estava por perto.
Até o fim.
Uma guardiã sorriu em resposta.
London sempre percebia quando ela estava por perto.
O ônibus cruzou a divisa de Lumina Valley, deixando o mascarado e a ponte para trás.
London verificou a mensagem no celular e soltou uma gargalhada.
Promessa cumprida, exibido. Deixo a Cidade das Máscaras em suas mãos, Gray.
Que a Cidade das Luzes sobreviva quando você chegar, Fallon.
Athena tinha todos os motivos para retornar para Lumina Valley, mas, por enquanto, sua jornada estava em outro lugar.
Quando London aterrissou na ponte e desativou o orbe, sentiu o coração apertar, mas, por enquanto, retomaria sua vida na cidade.
Ambos sabiam que não era o fim. Para os dois, era o começo de suas aventuras.
This Town - Niall Horan
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REVISADO (2453 PALAVRAS)
Chegamos ao final :)
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