Embora o sol estivesse brilhando forte pela janela, Athena viu sombras se erguerem ao seu redor quando abriu os olhos. Imediatamente percebeu que estava no hospital. Os braços se mexeram doloridos, os machucados vermelhos e roxos limitando os movimentos, e algumas partes das pernas estavam envoltas em ataduras, mas ela não sentiu dor.

Anna foi a primeira a notar.

– Meu Deus, Athena! – Ela se levantou da poltrona.

Desde o primeiro dia em Lumina Valley, Athena notou que Anna não era uma pessoa particularmente calorosa, sempre escondendo os sentimentos em pequenas ações, ao contrário do marido. Entretanto, naquele quarto de hospital, com as olheiras pesando debaixo dos olhos, os cabelos desgrenhados e o jaleco sujo, ela parecia não se importar em esconder o que sentia.

Ela abraçou Athena por cima da maca acolchoada e soltou um suspiro longo entre respirações cortadas.

Athena não percebeu se o corpo doía com aquele gesto. Parecia não sentir dor devido aos medicamentos. Ela a apertou de volta.

– Como está se sentindo? – Robert se aproximou da maca, com Will no encalço.

Por cima do ombro deles, Athena observou a multidão no quarto. Uma das primeiras pessoas que pensou que encontraria no hospital, esperando-a acordar, seria algum familiar de sangue. Abraham era o único membro vivo mais próximo e não estava lá quando ela acordou. No entanto, ela não sentiu raiva ou tristeza. Parte dela esperava por aquilo.

– Ele veio – Anna afirmou, encontrando os olhos da garota. – Foi embora quando disse que você ficaria bem. Eu queria que soubesse que ele veio mesmo.

Athena assentiu, sentindo-se um pouco melhor. Embora eles estivessem em caminhos diferentes, era agradável saber que ainda havia uma parte do avô que se importava com ela, a única família que tinha.

No canto, todos seus amigos olhavam-na com a expressão aterrorizada. Ela pensou no susto que Anna devia ter sentido para permitir tantos visitantes de uma vez só. MJ estava com o braço enroscado no de Thomas, ambos sem saber como reagir. Cameron permanecia com a típica expressão calma, mas os olhos estavam baixos, mirando os pés, incertos, assim como os de Bella e Jasper. Liana e Oliver tinham o comportamento totalmente anormal, ficando lado a lado sem trocar uma palavra.

– Não precisam ficar com essas caras – Athena falou. – Eu estou bem, só cansada.

A voz de Anna estava meio embargada, como se doesse para falar.

– Ainda bem que você está bem.

Athena sentiu uma mão quente repousar na dela. Will acomodou-se na maca no espaço que sobrava, o nariz fungando, parecendo preocupado como nunca antes.

– Por que você está chorando? – ela perguntou. O menino a apertou com força, como se não fosse largar mais, e começou a chorar. – Eu estou bem, Will!

– Você... se... machucou... muito...

Athena olhou para os pais dele com o rosto preocupado e confuso, mas eles também seguravam o choro. Ela afagou a cabeça de Will, bagunçando todo o cabelo arrumado dele, e o afastou, oferecendo um sorriso tranquilizador quando ficaram cara a cara. Então, ela ficou surpresa por ele não estar falando nada sobre ela ser a heroína Azura, e se perguntou por que, na verdade, ninguém estava comentando sobre aquilo.

– O que aconteceu? – perguntou.

– Esmeralda atacou a cidade – Anna repreendeu.

Morgan Justice se aproximou, arregalando os olhos para Athena entender a mensagem.

– Você estava com a gente, se lembra? Estávamos indo ao Palco Robbins quando você foi atingida, então viemos ao hospital e contatamos a Anna.

Athena assentiu. Os amigos estavam protegendo sua identidade, o que significava que nenhum deles tinha sido revelado. Naquele quarto, só os Robbins e Oliver não sabiam de seu segredo, e ela pretendia que continuasse assim.

– Mas... e London? – ela perguntou, ainda olhando em volta.

Thomas procurou a confirmação dos amigos e explicou a situação:

– Nós descobrimos que ele era o Escarlate. O mundo inteiro sabe.

Athena fitou o amigo. Ela imaginou que todos tinham saído ilesos, que ainda eram um segredo, mas London foi o único que não conseguiu escapar. Engolindo em seco de frustração e sem poder revelar o que realmente sentia, ela notou que até mesmo Dahlia saiu impune.

– Azura desapareceu após o confronto, assim como Esmeralda – Thomas continuou.

A história foi se encaixando para a ouvinte. A mentira foi a saída que os mascarados encontraram para proteger as identidades de Athena e Dahlia, após a revelação de Escarlate ao restante da cidade.

– Entendo. Onde o Gray está?

Thomas se levantou, deu um sorriso meio cabisbaixo para Athena e puxou a cortina ao lado, afastando os amigos do caminho. London estava deitado com uma máscara de oxigênio cobrindo o rosto e tinha um acesso saindo de sua mão. O corpo, que estava vermelho e com cortes em várias partes, mantinha ataduras e curativos em uma extensão muito maior que a de Athena. Seu desgaste, ela reparou, foi mais mental do que físico.

Ela não conseguia vê-lo em um hospital, ferido e adormecido como estava, e segurou as lágrimas que ameaçavam cair. Milhares de coisas passaram pela cabeça dela enquanto via a fragilidade do garoto que estava, o tempo todo, ao seu lado. Sentia alívio por ter sido capaz de deter Dahlia antes que os dois chegassem ao limite de esgotamento de seus corpos. Sentia dor por ele. Sentia raiva por tudo ter acontecido da forma que ocorreu. Sentia medo de perder ele, apesar de estar vivo na frente dela.

– Normalmente não fazemos exceções, Athena, ainda mais com alguém nas condições atuais dele. – Anna explicou. – Mas pensei que você gostaria de vê-lo assim que acordasse.

Com o auxílio dela e Robert, ela levantou da maca e se aproximou de London, fraco e pálido, evitando tocá-lo por causa do soro. Sem perceber, seu rosto ficou molhado. Ela baixou o rosto no pescoço dele. Ela tinha coisas para falar, coisas que pertenciam à Azura e Escarlate, mas não poderia dizê-las em voz alta. Pensou que deveria ser ela a estar naquele estado, pela lógica, porque usou mais energia do que ele. Não era justo que London estava dormindo e ela estava acordada.

– Qual é a situação dele? – perguntou, engolindo o choro novamente.

Anna se aproximou e ajeitou o jaleco, ainda que não fosse seu expediente, e explicou a situação com a voz firme, apesar de doer seu coração ver Athena daquele jeito.

– Ele foi ferido mais gravemente, Athena. Ele chegou com algumas costelas quebradas e hematomas espalhados pelo corpo após a luta. Tivemos sorte que não houve a perfuração de nenhum órgão, ou o estado dele seria bem mais grave.

Athena pensou em como Anna reagiria se soubesse que ela também tinha batalhado.

– Quando... – Athena engoliu em seco. – Ele vai acordar, não vai?

Anna confirmou com a cabeça.

– Não se preocupe tanto, Athena. Ele está se recuperando bem dos danos. É um garoto forte para a idade dele. Forte como um herói.

Athena abriu um sorriso choroso, temendo por ele, mas feliz pela notícia de que ele se recuperaria logo. A cidade inteira sabia a verdade sobre London Gray, mas não faziam ideia do esforço e da garra que mostrou para lutar contra a própria irmã.

– Não sabia que ele era o Escarlate – disse Robert.

– É por isso que eles usam a máscara, pai – Will interveio.

– Isso mesmo. – Athena balançou a cabeça. – Ninguém deveria saber.

Ela voltou para a maca e respirou fundo. Todos os rostos estavam preocupados, doídos e temerosos por ela. Não era seu trabalho confortá-los, pois ela mesma estava em pesar por si e por London, e ela precisava de um momento de paz, sem todos aqueles olhares tristes em volta como se ela não estivesse bem.

– Pessoal – ela falou –, eu vou ficar bem. Não estou me sentindo bem no momento, em parte porque acabei de acordar de um ataque violento de Esmeralda e descobri que o garoto que eu gosto é o herói mascarado que quase entregou a vida pela Cidade das Máscaras. Isso é muita coisa para a minha cabeça assimilar de uma vez, e, sinceramente, é confuso e cansativo, por isso, gostaria de descansar.

Ela virou para os Robbins.

– Agradeço por se preocuparem comigo. Vou estar em casa logo, certo?

– Você tem que prometer que vai se recuperar. E que vai fazer tudo que a mamãe falar – Will murmurou.

– É trabalho da irmã mais velha falar isso – Athena respondeu. – Eu prometo.

Anna assentiu, satisfeita pela evolução do relacionamento entre todos eles. Ela levou o filho e o marido para fora do quarto, deixando a filha adotiva e os amigos com ela.

– Eu também vou indo – Oliver adicionou. No momento, palavras doces não pareciam tão complicadas de saírem da boca dele. – Ainda bem que você não ficou muito ferida.

Athena acenou de volta e encarou as mãos por um momento, esperando a porta fechar e o silêncio virar coragem.

– Obrigada por proteger a Cidade das Máscaras, pessoal – ela disse.

Embora não quisesse ver os rostos entristecidos, ela não conseguiu evitar olhar para os amigos. Eles pareciam prestes a desabar também.

– Isso tudo foi uma aventura – Liana iniciou. – Mas eu queria tanto que o final tivesse sido melhor para vocês dois.

– Vamos deixá-la descansar, Athena – disse MJ.

– Precisamos entregar os orbes de volta antes – Thomas completou. – Nós guardamos eles para você.

– Obrigada pela confiança – Cameron falou.

– Lumina Valley não saberá do seu esforço, mas nós sabemos – disse Jasper.

– Obrigada por nos proteger, Azura – Bella discursou.

Eles esticaram os respectivos orbes restantes na direção dela. A Marca do Guardião os absorveu de volta com rapidez conforme ela foi recebendo um a um. Athena sentiu o Infinito se completar aos poucos, ou se tornar mais completo do que antes, conforme os orbes foram se juntando. Parecia que, no final, tudo tinha sido resolvido.

– Não acredito que derrotamos Esmeralda – ela sussurrou e forçou um sorriso.

E, por alguns minutos, os sete heróis acordados puderam conversar como adolescentes normais novamente.

○–○

No fim da tarde, depois que os visitantes foram embora, Athena foi levada para casa com a prescrição de Anna, que tomou conta do caso dela, para os antibióticos e remédios para a dor durante o resto do tratamento.

Ela estava fazendo os exercícios de fisioterapia sozinha no quarto, lembrando de não usar o orbe para se curar, pois acabaria puxando demais de sua energia. Queria estar curada o mais rápido possível.

Em um espaço de poucos dias, dois orbes tinham sido destruídos, Escarlate tinha sido anunciado ao mundo, Dahlia foi revelada como Esmeralda e a assassina de Ash, e Norman, do restante, e o Projeto Fallon tinha chegado, finalmente, ao fim. Mas Athena estava machucada, London ainda não tinha acordado e Dahlia estava em coma.

Ela se perguntou como tudo tinha chegado àquele ponto.

Embora Athena mantivesse sua identidade como um segredo, sentia como se tivesse falhado com London pelo mesmo motivo. Ele tinha protegido-a, e por isso não poderia mais ser Escarlate. Por causa disso, não poderia mais ser o herói que era antes, que amava ser. Ela, por outro lado, que desprezou os heróis antes de se tornar uma, ainda era um segredo.

Ela sentia como se tivesse falhado com Ash. Ela tinha recebido o dever de cuidar dos orbes, mas ao invés disso, quebrou a confiança colocada em si. Ela havia destruído o Orbe da Expansão e o Orbe do Corpo, e o Infinito tinha sentido. De alguma forma, Athena sabia que a queimação na Marca do Guardião que sentiu após destruir os orbes, pouco antes de desmaiar, fez algo com o Infinito, embora não soubesse exatamente o quê.

Entretanto, bem no fundo, Athena estava mais chateada por ter falhado do que com as consequências. Ela poderia se sentir mal por trair a confiança de Ash, mas não conseguia. Não podia se sentir mal por ter feito a escolha que julgou ser a correta, a escolha que tinha salvado Lumina Valley e seus habitantes. Como ela poderia se ressentir de escolher salvar vidas ao que fosse acontecer com os orbes? Era por essa razão que tinha se tornado Azura, em primeiro lugar, para ajudar quem precisasse da ajuda dela.

Athena tinha feito o que gostaria que a Dama Dourada e o Soldado Prateado tivessem feito pelos seus pais: arriscar usar o poder concebido em nome de um bem maior. Ela decidiu fazer o melhor para a vida de Dahlia e do irmão, seu melhor amigo, e embora tivesse perdido dois orbes no processo, London estava vivo por causa da escolha. E ela nunca se arrependeria de escolhê-lo.

REVISADO (2061 PALAVRAS)

O que vocês acharam da história até aqui?

OBS: Esse foi o capítulo mais curto até agora °0°