Capítulo 28
De férias da escola, London passava mais tempo na Companhia Gray do que gostaria, mas, sempre que estava longe de olhos alheios curiosos, ou mesmo quando tinha que colocar os estudos de casa em dia, ele tentava escapar para encontrar com os amigos. Sem a ajuda e a confidência de Keaton, entretanto, nenhuma daquelas fugas poderia ter acontecido.
Ele acenou para o motorista e puxou o cachecol vermelho contra o pescoço.
Do lado de fora, o Palco Robbins não parecia tão movimentado quanto estava. London observou Athena correr de um lado para o outro, entregando e anotando pedidos, limpando as mesas e recolhendo o pagamento.
Ela estava andando com os olhos no bloco de anotações e uma cadeira estava no meio do caminho. London colocou a cadeira de volta antes que ela pudesse tropeçar e a sentiu bater contra seu peito.
– Desculpa! – Ela levantou a cabeça, envergonhada. – Ah, é você, Gray. Desculpa por trombar em você.
– Não tem problema.
Parecia que o Palco Robbins estava começando a ser notado em Lumina Valley, então Athena não se demorou na frente de London por muito tempo. Parecia que a cafeteria era um tipo de jogo complicado com apenas um atendente.
– Não posso conversar agora, está muito cheio. – Ela continuou andando e parou para limpar uma mesa, e London foi atrás, ainda surpreso com o movimento nada usual. – Eu falei para o Berto que precisávamos de mais alguém trabalhando, mas ele disse que eu, a Nicole e o Marcus conseguíamos dar conta de tudo sozinhos.
No banco acolchoado, perto das janelas, um homem deixou o pagamento em cima da mesa junto com a louça suja.
– Você não... – Ele foi embora antes que ela terminasse de falar. – ...pode deixar aí.
London recolheu os pratos e o dinheiro e os guardou em seus respectivos lugares.
– Pronto.
– Obrigada, Gray.
Athena secou as mãos no avental e pegou a banqueta com a lista das apresentações do dia. Os nomes estavam agrupados em horários do dia anterior e, no palco, Athena teve certeza de que a mulher cantando não era o cantor country nomeado na lista.
– Caramba, ninguém é organizado por aqui!
Marcus largou o avental em cima da bancada.
– Vou tirar um intervalo, garota.
– O quê?! – Athena quase gritou. Tinham três pessoas esperando para serem atendidas, ela não tinha permissão para pisar na cozinha e preparar os pedidos, e Nicole estava ocupada contando o estoque. – Mas...
London vestiu o avental de Marcus.
– Eu cuido da cozinha, Fallon.
– O quê? Você sabe cozinhar?
– É claro que eu sei cozinhar.
Athena revirou os olhos.
– É claro que sabe.
– Só confia em mim, tá? Você meio que não tem outra escolha.
Athena nem parou para considerar as opções, precisava mesmo de ajuda.
– Certo. Obrigada pela ajuda.
London abriu a porteira para ela passar. Ela atendeu os primeiros clientes e entregou os pedidos para ele começar a preparar, torcendo para que não colocasse fogo na cozinha e para que Marcus voltasse logo.
Com tanto trabalho nas mãos, os dois nem perceberam o tempo passar até que Marcus voltou, meia hora depois, e expulsou London da cozinha, mandando-o perturbar outra pessoa, e ele foi perturbar Athena.
– Acho que consigo bater a meta deste mês antes de você – ele disse.
– Você nem trabalha aqui.
– Fallon... – ele soou ofendido – nunca imaginei que você fugiria de um desafio.
– Eu só estava te dando uma chance de cair fora. Você vai perder feio.
– Quer apostar?
– É um desafio, Gray.
London apertou a mão da adversária, fechando a aposta. Sabia que ela venceria no fim, mas era divertido desafiá-la. Enquanto provocavam um ao outro, teve a estranha sensação de que eles tinham uma interação divertida, uma sensação familiar, e afastou o sentimento com um balançar de cabeça.
Meia hora se passou até que o Palco Robbins estivesse em ordem novamente. A banda certa estava tocando, o dinheiro no caixa, contado, os pedidos, entregues e as mesas, limpas, e os dois jovens trabalhadores puderam descansar por um tempo.
– Acho que eu nunca te perguntei, mas por que você está trabalhando aqui, Fallon?
– Porque nem todos nós, cidadãos comuns, nascemos em berço de ouro.
– Estou falando sério. – A risada dele contradizia a própria afirmação. – Por quê?
Athena mirou os olhos castanhos dele.
– Estou economizando para voltar à Nova York.
London não conseguiu esconder a surpresa. Quando descobriu no primeiro dia de aula que Athena tinha se mudado para Lumina Valley, tinha imaginado que ela ficaria na cidade de vez. Nunca passou pela cabeça dele que ela estava considerando voltar.
– Você quer voltar?
– Foi a minha casa por 17 anos, Gray.
– Não foi o que perguntei. Você quer voltar?
Athena hesitou. Ainda que seu objetivo ao aterrissar em Lumina Valley fosse retornar, Nova York não parecia mais tão mágica sem seus pais e Ashlynn.
– Não tenho mais tanta certeza. – Ela abaixou a cabeça. – Todos os que eu conhecia de verdade se foram. Quero voltar, mas não sei se será a mesma coisa sem a minha família lá, entende?
– O que está pensando?
Athena estava totalmente confortável. Era fácil conversar com London.
– E se eu voltar para Nova York e descobrir coisas que não quero descobrir? E se eu voltar e descobrir que Ash era uma completa estranha? Quero dizer, ela já escondeu um monte de coisas sobre si mesma, então...
London não aguentava vê-la daquele jeito, revirando-se por dentro com o passado de Ash. Ele tinha visto uma vivacidade forte brilhar nela quando estava empenhada em descobrir sobre o envolvimento com Seamus Gray. Ela estava tão certa do que queria, tão determinada, que ele não acreditava na desistência sem um motivo plausível.
– Por que você desistiu da investigação?
Athena recuou. Não entendia por que ele continuava trazendo o assunto à tona, ainda mais quando não conhecia nada do que ela sabia.
– É que você não me parece o tipo de pessoa que deixaria uma coisa assim para trás. E por qualquer motivo que você tenha para me manter afastado, acontece, Fallon, que eu nunca parei de investigar.
Parte de Athena se arrepiou ao saber que ele estava procurando saber mais. Entretanto, ela deveria saber que não deveria esperar que London se rendesse tão fácil.
– É perigoso – ela avisou.
– Eu não ligo
E parte dela, London percebeu, se iluminou de curiosidade.
– Fazemos isso juntos ou não fazemos nada – ele sugeriu. – Que tal?
A garota hesitou. Ela se lembrava precisamente da origem das palavras, vindas como uma forma de amor de Elena para o filho. London estava as transformando em uma promessa, e Athena não entendia a razão dele estar disposto a se arriscar daquela forma.
– Por que você quer tanto assim saber, Gray?
E foi a vez de London ser verdadeiro.
– Minha família está envolvida. Ash e Seamus se conheciam de alguma forma. Fallon e Gray, nós dois somos o legado deles, e eu quero saber no que estamos metidos.
Dahlia tinha alertado à Athena. Um passo mais próximo da pesquisa também era um passo mais próximo do assassino. Aceitar embarcar na ideia era estupidez, era um passo mais próximo de arriscar a vida dele.
Ela tinha avisado para Dahlia que London não pararia de procurar. Estava na natureza dele. Ninguém poderia segurá-lo se colocasse algo na cabeça. London simplesmente tinha os motivos certos e o melhor coração em Lumina Valley.
Então Athena escolheu sua resposta. Existia um modo de incluí-lo na investigação, um modo de protegê-lo se o assassino decidisse ir atrás dele: se chegasse a tal ponto, então Azura poderia intervir. Ela arriscaria a própria segurança para protegê-lo.
Naquela cidade, Athena só confiaria em London para falar sobre o Projeto Fallon.
– Além disso – continuou London –, essa é minha escolha.
Athena estava convencida de que ele sabia argumentar. Não seria ela aquela a segurar as correntes de London.
– É uma promessa – ela falou. – Faremos isso juntos ou não faremos nada.
Eles apertaram as mãos, fechando uma promessa de segredos, mentiras, e com as vidas em risco. De algum jeito, parecia mais fácil, tudo parecia capaz de se enfrentar, se estivessem enfrentando tudo juntos.
– Eu também não parei de investigar, Gray – Athena revelou.
– É claro que não parou.
London gargalhou alto.
De repente, uma voz os interrompeu:
– Você é o namorado da Athena?
Os dois olharam para baixo. Will estava olhando para as mãos dos dois, unidas, e eles as largaram imediatamente. Um rubor subiu pelo rosto de Athena e ela respondeu mais rápido do que normalmente faria.
– Não! Eu não tenho namorado!
Will levantou a sobrancelha, indeciso se acreditava ou não.
– Então por que vocês deram as mãos?
London deu de ombros, nem um pouco constrangido.
– Fechamos um acordo para desmascarar um vilão juntos.
Athena olhou para ele, boquiaberta, chocada com a facilidade de distorcer a promessa, então olhou para Will, que tinha os olhos brilhando.
– Que demais! Eu posso ajudar?
– Não! – disse Athena, mais alto do que pretendia. – Gray, esse é o Will.
London levantou para cumprimentar Will.
– Sinto muito. Quem sabe quando o próximo vilão aparecer?
Ele afagou a cabeça de Will. Athena ficou impressionada com o modo como ele lidou com o menino, e ficou um pouco enciumada também. Will tinha sido horrível com ela quando eles se conheceram, e não estava sendo tão ruim com London.
Anna e Robert se juntaram aos três no balcão, e o garoto cumprimentou-os.
– Oi, sr. Robbins! Lembra de mim? – ele perguntou.
– Você está tanto aqui que os clientes agora pensam que é um funcionário. – O olhar de Robert desceu até o avental do garoto, quase querendo arrancá-lo de uma vez, se não fosse o movimento da loja. – Daqui a pouco vão descobrir que eu não te pago um centavo.
Anna interrompeu os dois e apertou a mão de London.
– Me chamo Anna. Sou a esposa do Berto.
Athena percebeu ela ser mais receptiva com London do que Robert foi quando os dois se conheceram, um comportamento atípico. Ela segurou uma risada e voltou ao trabalho.
– Athena é sua amiga? – Anna perguntou.
– Sim, uma das minhas melhores amigas – London respondeu.
Athena sentiu o peito apertar com a resposta dele. Embora tivesse recusado a pergunta de Will, mais por vergonha do que por outra coisa, ela não odiaria que parte da verdade fosse mentira.
Passeando pelas ruas de Lumina Valley estava seu antigo motorista, Norman Ferris. O olhar dele cruzou com o de London por um segundo antes de desviar e continuar andando.
O garoto correu para alcançar o motorista e chamou seu nome:
– Norman! Norman!
Ele continuou chamando, mas o homem não olhou para trás. Ele correu mais rápido e se colocou na frente do motorista.
– Sr. Gray! – o homem exclamou.
Ele viu o garoto de um ano antes em sua frente, e, para ele, que o conhecia desde bebê, era impressionante a mudança que o tempo tinha causado, em termos de aparência. London, que não gostava de ser chamado de "senhor", mas gostava de chocolate quente com chantilly, era um homem.
De repente, Norman ficou com vergonha da própria aparência.
– Eu pedi para não me chamar de "senhor", não pedi, Norman?
O motorista segurou a alça da mochila com mais força e deu um passo para trás.
– Mas não preciso mais seguir o seu pedido. Não trabalho mais para o senhor.
London observou o motorista, o mesmo da fotografia de Bella. Era visível, pela barba mal feita e os olhos perdidos, que ele não estava bem.
– Como está o seu pai? E quanto à Dahlia?
– Será que podemos nos encontrar algum dia? Assim eu contarei tudo o que aconteceu, o que acha?
– Não sei se devo.
London assentiu.
– Queria dizer que agradeço por tudo que você fez pela minha família, principalmente pela minha mãe. Desde que o senhor saiu, eu me perguntei como estava passando – revelou. – O senhor nunca falou nada, nem o meu pai. Eu me pergunto o motivo de sua demissão.
Norman balançou a cabeça, tentando afastar as lágrimas que encheram seus olhos com confusão. Ele não entendia como London Gray, que mesmo depois de perder o contato com o motorista, se preocupava com alguém como ele.
– Eu não poderia continuar trabalhando como motorista para a sua família – disse. – Na maioria dos dias, eu era responsável por levar a sra. Elena Rivera para onde ela quisesse, e, com o passar do tempo, o meu trabalho se tornou... – ele respirou fundo – levar a sra. Elena para onde ela precisasse estar. Eu dirigi por quilômetros, semana após semana, esperando por alguma melhora no quadro clínico dela, mas nenhum hospital tinha alguma solução. Quando enfim voltei de Nova York sem ela, eu me demiti.
London ergueu os olhos castanhos para o motorista, alarmado.
– É esse o motivo, senhor. Eu gostaria de deixar esse assunto de lado, se me permite. Agora, me desculpe – Norman falou –, mas estou atrasado para um compromisso. Podemos nos encontrar outro dia. Soube que o Palco Robbins é uma excelente cafeteria.
– Tudo bem. Eu gostaria muito.
E quando ele foi embora, London ficou parado por cinco minutos no lugar, incapaz de mexer o corpo, se perguntando por qual motivo a mãe teria ido para Nova York.
REVISADO (2169 PALAVRAS)
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