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Capítulo 23

Os dias seguiram-se da mesma forma para London. Ele levantou da cama animado, foi escoltado até a escola por Keaton, chegou na sala de aula e procurou pelos amigos. Ele estava começando a se aproximar de todos um pouco mais a cada dia e não mais havia o sentimento de solidão que antes permeava seus dias.

A promessa do fim do outono levou também uma surpresa para Lumina Valley.

O professor entrou acompanhado de uma adolescente, rindo e conversando de algo que a garota discursava ao longo do caminho até a frente da turma, chamando a atenção de todos os alunos sem que o professor precisasse fazê-lo. Consideravelmente bonita, parecia com uma modelo, com os dentes brancos alinhados, cabelos longos que caíam como ondas ruivas nas costas, os olhos verde-acastanhado, a pele levemente bronzeada pela exposição ao sol e a postura ereta.

London abriu o sorriso mais convidativo que conseguiu ao reconhecer a garota.

– Bella – ele murmurou de onde estava.

Ela se apresentou para a turma sem qualquer indício de vergonha de falar em público, a voz alta o bastante para ser ouvida na sala inteira, como tinha sido treinada a fazer, e não foi preciso atrair o interesse de ninguém: estavam todos curiosos.

– Bom dia, pessoal! – ela falou. – Meu nome é Isabella Marshall e me sinto preparada para concluir o terceiro ano com todos. Será muito divertido conhecer cada um de vocês! E, é, eu estou ciente de que estamos quase na metade do ano letivo. – Ela arrancou algumas risadas dos alunos, exibindo o sorriso brilhante de volta. – A minha família estava passando um longo tempo na Austrália, mas estamos de volta agora, e por isso cheguei atrasada, como uma noiva no dia do casamento, hehe...

London escondeu uma risada. O tom de voz agudo e risonho era familiar para ele, que a conhecia há muito tempo, mas parte dele desejava que ela tivesse abandonado aquela atitude há algum tempo.

– Desculpe, acho que já acabou o tempo de apresentação. – Ela riu com nervosismo. – Espero que possamos nos conhecer mais, e até lá, bons estudos!

Houve uma salva de palmas longas demais para Isabella Marshall, que as aceitou com o fervor de uma atriz terminando sua peça.

O primeiro rosto que ela viu ao descer do tablado foi o de London, no meio da sala, e imediatamente seu rosto iluminou com o primeiro sorriso verdadeiro que dava na manhã, um sorriso aliviado. O coração estava batendo acelerado quando abraçou o amigo.

– London! Parece que não te vejo há meses!

– É porque não me vê a meses mesmo, Bella – ele murmurou contra a cabeça dela.

Ela o afastou e observou seu rosto, então o abraçou mais uma vez, mais leve e contido.

– Senti saudades – ela murmurou.

London soltou o fôlego e afagou as costas dela.

– Eu também.

Perto deles, Thomas manteve o grupo de amigos distraído enquanto London e Bella se cumprimentavam; sabia que os dois tinham muito para conversar antes de introduzir a garota, que era uma estranha para a maioria, aos outros.

– Como foi a viagem? – London perguntou.

Bella sorriu, colocando novamente a armadura sem perceber.

– Foi agradavelmente adequada. Parece que a filial da empresa da mamãe fará sucesso na Austrália, afinal.

London tocou o ombro dela.

– Bella – murmurou –, não precisa mais fingir.

Então, como confiava em London, a garota com a personalidade mascarada, embaixo de felicidade e modos dignos de nota da realeza, relaxou.

– Isso é cansativo, sabe? – ela brincou.

London esfregou o ombro dela. Aquela era a verdadeira Bella Marshall. Era a principal característica que ambos tinham em comum: interpretar um papel na frente dos outros.

– Vamos, vou te apresentar aos meus amigos.

Bella ergueu as sobrancelhas.

– Que amigos?

– Então... algumas coisas mudaram enquanto você esteve longe.

Thomas foi o primeiro a dar boas vindas a Bella. Os dois não eram muito próximos, só se viram algumas poucas vezes na mansão dos Gray, entretanto, a personalidade de Bella não era tão desconhecida para Thomas, e vice-versa.

– E aí, Bella? Como foi a viagem?

– Bem entediante, como deve imaginar. – Ela observou com certa perspicácia que o garoto havia mudado sua aparência drasticamente. – Você está diferente...

– Vai perceber que muitas coisas estão diferentes – ele respondeu, dando de ombros. – Ah, esses daqui são o resto do grupo.

A garota observou as pessoas atrás dele e colocou novamente a máscara. Ela abriu um sorriso excessivamente branco, ajeitou o cabelo bagunçado por causa dos abraços e deu o seu melhor para que ninguém notasse o desleixo em sua postura anterior. Na frente daquele grupo, Isabella precisava ser digna do sobrenome Marshall, e a voz de sua mãe ecoou no ouvido dela enquanto sua voz pronunciava o modo como foi treinada a falar com desconhecidos:

– Bom dia, pessoal! Como estão todos sentindo-se nesta manhã?

Ela notou um certo desapontamento disfarçado no rosto dos adolescentes, entretanto, manteve o comportamento, esperando alguma resposta.

London se inclinou e sussurrou apenas para a amiga:

– Não precisa atuar na frente dessas pessoas, Bella. Eles são meus amigos.

Bella arregalou minimamente os olhos. Ela notou a forma como o grupo demonstrava familiaridade tanto com London quanto com ela mesma, que era uma completa desconhecida. Aqueles cinco rostos novos eram amigos de London, ela pensou, e tentou enxergá-los do jeito que seu melhor amigo parecia enxergar. Todos tinham a confiança de London, eram eles quem mantinham a verdadeira personalidade do garoto ativa, e por isso também deviam ser dignos da confiança dela. Se fossem todos como Thomas, ela continuou a raciocinar, então deveriam se tornar bons amigos com o tempo.

E todos aqueles olhos de diferentes cores na frente dela observaram a garota abaixar a cabeça e perder a postura de antes, desmontar o sorriso forçado e desmanchar a voz de timbre agudo como um quebra-cabeça.

Então, quando Bella ergueu o rosto e soltou um suspiro longo, sua atitude não era mais ensaiada. Na face daquela garota aparentemente perfeita, foi possível visualizar as rachaduras que ela permitia transparecer.

– Me desculpem por antes – ela falou. – É difícil perder alguns hábitos.

O grupo mudou a expressão com a amostra da humanidade da garota. De repente, era como se todos fossem conhecidos, e assim ela foi tratada.

– Tudo bem, Isabella – disse MJ. – Não tem problema.

Bella ficou aliviada pela recepção calorosa daqueles estranhos, porém não se lembrava mais de como fazer amigos. O último amigo de verdade que tinha feito foi London.

– Bella. Pode me chamar só de Bella.

– E você pode me chamar de MJ, Bella.

MJ apresentou a novata aos outros, que tiveram a mesma receptividade. Bella captou a dinâmica do grupo, entendendo MJ como alguém de grande coração, Liana como uma pessoa fervorosa, Athena como uma das mais sábias, Jasper como uma pessoa excêntrica e Cameron como o mais caloroso do grupo.

Ela compreendeu a atitude diferente de London. Era fácil ver que alguma coisa havia mudado durante sua partida. De alguma forma, quando ele conversava com os amigos de um modo que o garoto de antes nunca seria capaz de fazer, ele estava, de fato, mudado. Se parecia com o garoto que havia se perdido há alguns anos. Ela se perguntou qual era o cataclismo de tal mudança.

Por algumas horas, Bella conseguiu esquecer da fachada que interpretava.

E Jasper tinha certeza de que, quando a poeira baixasse, teria que fazer uma pergunta à garota nova sobre a cidade à meia-noite.

As olimpíadas escolares estavam chegando cada vez mais perto, por isso, a equipe de esgrima chegou mais cedo após as aulas para treinar.

London estava aquecendo o corpo e avistou Bella, vestida de branco dos pés a cabeça com o traje, e soltou um suspiro de alívio. A aula extracurricular não era sua favorita, mas, ao menos, com Bella por perto, a esgrima não seria tão chata.

Eles começaram treinando alguns passos básicos, mas London parecia mais desleixado com os movimentos.

– Se concentre, London! – Bella avisou.

O garoto ajeitou a postura.

– Desculpe.

– Tudo bem. Vamos do começo.

Os dois trocaram de lado e apontaram os floretes para o tronco do adversário. Ao sinal do professor, começaram de novo.

O sensor marcou dois pontos seguidos e rápidos, e Bella tirou o capacete.

– Você nem está se esforçando! – disse ela.

London tirou o capacete também.

– Caramba, eu esqueci como você era competitiva.

– O que está se passando na sua cabeça?

– Nada, não.

– Então vamos jogar sério, London!

Mesmo em seus dias ruins, London encontrava conforto na presença de Bella. Ela o impulsionava, forçava-o a inclinar seus sentimentos em outra coisa, distraindo sua mente ao invés de remoer continuamente a questão com um vai-e-vem. Era um dos motivos para serem amigos. Bella levantava London quando ele estava para baixo e ele fazia o mesmo por ela.

Aquela era uma amizade construída durante anos, antes mesmo da chegada de Thomas na vida de London, mas Bella não sabia tudo sobre o amigo. Não era um problema que estava em sua cabeça, mas uma pessoa em particular.

– Como quiser... – ele murmurou.

Por baixo do capacete, London deu um sorriso ganancioso.

Ele firmou os pés no chão, segurou o florete com força e acertou três golpes precisos e seguidos. Depois, perdeu um ponto e acertou mais dois, encerrando a partida. Estava pegando leve porque todo aquele treinamento era usado continuamente por Escarlate.

– Vamos de novo – Bella sugeriu, ofegante.

Ao sinal do professor, eles começaram outra partida.

Porque eram amigos de infância, Bella entendeu que London estava, de fato, diferente. A confiança com o florete era a menor mudança na atitude dele. Durante as aulas, ele parecia mais sociável e menos tenso. Ela percebeu que ele finalmente estava voltando a ser o London de anos antes, o mesmo garoto por quem ela sentia uma forte paixão.

A sombra de alguns meses antes, instalada no corpo dele como um destino irreparável, estava começando a desaparecer, dando lugar ao antigo melhor amigo de Isabella, o mais real, corajoso e verdadeiro London Gray. Mas ela não sabia muito bem o motivo.

Quando o sensor apitou pela quinta vez na terceira partida, Bella aceitou a derrota.

A brisa do outono estava ficando diferente em seus momentos finais.

London ajeitou a gravata no pescoço e desceu.

No andar de baixo, a mansão estava cheia de funcionários, mais do que o normal, e ele sabia a razão. Porque aquela noite traria muitas presenças ilustres, Seamus, precisava de tudo trincando.

Os Marshall eram os convidados mais bem associados aos Gray. Ambas famílias eram iguais em fortuna e amizade. Durante o tempo que o jantar durasse, todos os sete convidados deveriam ser corteses e respeitáveis para manter as relações com boas aparências. Os Gray e a Rivera deveriam fingir que não estavam despedaçados e os Marshall deveriam fingir que eram perfeitos.

London sabia como jogar aquele jogo; era uma das peças principais desde a infância.

Seamus estava dando ordens alheias aos cozinheiros quando Dahlia chegou. Ela usava um longo vestido verde que deixava uma perna e os ombros à mostra, e cumprimentou todos como parte da cortesia, menos Seamus.

London conseguiu ouvir a conversa dos dois de onde estava apoiado nas escadas.

– Ah, vejo que apareceu – Dahlia começou provocando.

– Você está atrasada – a voz firme de Seamus respondeu.

– Ainda assim, não vejo ninguém aqui.

– Vá para a mesa. Os Marshall vão chegar daqui a pouco.

– Então ainda tenho tempo. Onde está Lonnie?

Seamus agarrou levemente o braço de Dahlia quando tentou passar por ele, e London apertou os ouvidos para ouvir, mas só conseguiu captar algumas frases desconexas.

– Ainda bem que temos Lonnie para nos manter separados, não? – zombou Dahlia. – Você e eu, Seamus, sempre tivemos o mesmo objetivo: proteger London.

– Temos métodos bem diferentes de fazer isso.

– Não tenho dúvidas sobre isso.

Seamus odiava o senso de humor ácido de Dahlia.

– Não me teste, Dahlia.

– Ah, vamos, Seamus, estou brincando.

Ela soltou o braço e falou alto:

– É só por esta noite. Depois não precisamos mais fingir gostar um do outro.

A campainha tocou, atraindo a atenção de todos.

– Lonnie, aí está você! – Dahlia acenou. – Venha! Tenho uma pergunta para você.

London desceu as escadas e se aproximou. A irmã mais velha estava impecável, apesar do cheiro forte saindo da boca.

– Então... o que está acontecendo entre você e Bella?

– Como assim?

– Vocês estão namorando?

– O quê?! Não, não! Não mesmo! Por que você acha isso?

– Ela gosta de você, Lonnie. Quando eu fui te buscar na escola, ou melhor, tentei, mas o segurança não me deixou passar... – disse, meio aérea. – Estava na cara que ela gosta muito de você.

– Somos só amigos, eu te falei! Vamos receber os convidados!

London enlaçou o braço no da irmã e se dirigiu à porta.

– Quanto foi que você bebeu? – ele murmurou.

Dahlia apertou o dedo indicador e o polegar, fazendo uma careta.

– Só um pouquinho – ela sussurrou um pouco alto demais.

O mordomo abriu as portas da frente, fazendo as duas famílias cruzarem o olhar gentil. Do outro lado, os Marshall: Casey, Anthony, Eleanor e Bella, ofereceram seus cumprimentos.

– Sejam bem-vindos – disse London.

Dahlia teve a compostura de se manter quieta.

– Meu pai está lá dentro – ele informou. – A janta está pronta e, devo dizer, impecável.

Ele cumprimentou a família conforme os quatro membros foram entrando na mansão e Dahlia os seguiu para dentro. Bella sussurrou no ouvido dele:

– O que houve com Dahlia?

– Ela teve um encontro com algumas garrafas antes de chegar aqui. – Ele a afastou de perto e manteve a atuação. – A senhorita está muito bonita, Isabella.

– Obrigada! O senhor também não está nada mal nesta noite.

A irmã mais nova de Bella, uma miniatura de cabelos ruivos, sardas e olhos verdes, se aproximou de London.

– Eleanor. Está linda, como sempre. – Ele abaixou e cumprimentou a menina com uma reverência digna de uma rainha, então apontou para o aparelho auditivo na orelha direita dela. – Eu o desligaria durante os primeiros minutos.

Ela murmurou um obrigada e seguiu-o até a sala de jantar.

Na mesa de jantar, os Marshall sentaram do lado oposto dos Gray. Risadas atoa foram trocadas, atualizações sobre os planos empresariais foram discutidas e, quando a janta chegou, elogios sobre os filhos foram servidos com a comida.

– Bella chamou a atenção de uma famosa crítica durante o desfile na Austrália. Não é incrível, Anthony? – a voz fina de Casey preencheu o ambiente.

– Sim, querida.

Seamus repousou os talheres no guardanapo e cruzou os dedos no queixo:

– London teve as notas mais altas em todas as matérias.

London assentiu, embora fosse mentira. O pai simplesmente não se deu ao trabalho de abrir o relatório escolar do filho, ou saberia que o garoto tinha perdido aquela posição e que as notas mais altas pertenciam, na verdade, à Athena Fallon. Com seu tempo dividido entre ser o Escarlate e participar ativamente da Companhia, London não tinha muitas horas restantes para estudar para as provas, e nem mesmo queria ser o melhor.

– Dahlia teve uma apresentação fora da cidade há alguns dias.

– Isso é fantástico! Dahlia, querida, eu adoraria ouvir você tocar o piano algum dia.

– Isso vai ser difícil – ela falou, mas não se deu ao trabalho de explicar.

London torceu o nariz para a expressão boba de Dahlia, mas, ao menos, ela manteve o descontentamento disfarçado com palavrões sutis entre os sons dos talheres e murmúrios.

– Eleanor também teve um grande progresso! Vocês deviam ver como ela combinou as peças durante o desfile! Tiramos a sorte grande com nossos filhos, não é mesmo, Anthony?

– Sim, querida.

Do outro lado da mesa, London viu Bella encenar um envenenamento com a bebida, e escondeu a risada junto de Eleanor.

Uma hora depois, os pratos estavam terminados. Dahlia foi a primeira a levantar.

– Bem, devo me ausentar agora. Parece que eu tenho algumas partituras para ensaiar – mentiu.

Ela deu um beijo na testa de London antes de sair.

A conversa voltou ao ritmo usual. London apontou a cabeça na direção das escadas, murmurando em silêncio para Bella, que assentiu e repousou os talheres na mesa. Os dois se esgueiraram e saíram correndo quando estavam fora da visão dos pais.

Os estilistas escolheram a dedo a roupa de Bella: um vestido longo com cores do fogo quente, da nova coleção de Casey Marshall. A garota estava vestida como parte do outono.

– Parece que você estava certo – Bella falou, sentindo a brisa da estação tocar o rosto. – Lumina Valley mudou. Você tem novos amigos, e isso nem é a parte mais intrigante.

London sentou na bancada e deu uma gargalhada.

– Existem heróis aqui, como em Nova York. – Bella continuou. – É incrível, London.

– Escarlate é mesmo o melhor, não acha?

Bella deu de ombros.

– Prefiro a Azura.

O garoto sentiu a facada no peito, mas deu de ombros; também era sua opinião.

– Você tem uns amigos bem esquisitos – Bella continuou. – Um deles me perguntou o que eu achava de Lumina Valley à meia-noite, o que quer que isso signifique.

Era um bom sinal, London pensou. Significava que seus amigos tinham gostado dela.

– Eu não tenho que fingir ser quem não sou com eles – confessou. – Vai me falar como foi a viagem de verdade?

– Deixa eu pensar. – Ela contou nos dedos. – Fomos para muitas conferências, tivemos reuniões sobre todos os tipos de costuras, literalmente, que você possa imaginar, em todas as manhãs, entrevistas às tardes e jantares de confraternização às noites.

– Divertido, então.

– Exatamente.

Bella gargalhou.

– Quando eu tinha algum tempo livre e não havia nenhum paparazzi por perto, a Ellie me ajudou a dar uma escapada. Consegui algumas fotos.

De um bolso na lateral do vestido, ela tirou uma câmera pequena e entregou nas mãos do amigo. London passou o olho nas imagens, uma por uma, no visor e, como sempre, nunca deixou de se impressionar com a habilidade de Bella de captar o mundo. Havia algumas fotos de pessoas distraídas entre as fotos de paisagens naturais, e era nessas se concentrava o maior talento da garota.

London era familiar com suas fotos na internet, mas a essência das imagens de Bella e dos fotógrafos era completamente diferente. Bella captava os traços mais imperceptíveis, e os paparazzi, os mais superficiais.

Ele continuou passando as imagens, chegando nas mais antigas, de alguns meses antes, em Lumina Valley. Bella tinha fotografado a própria percepção da cidade, seus becos, luzes e pessoas. Em uma das fotos, London reconheceu o rosto pálido, o bigode proeminente, a barba mal feita e a cabeça calva.

– Quando você tirou essa foto? – ele perguntou.

Bella deu uma olhada no visor.

– Há alguns meses, perto da Companhia Gray.

London suavizou a expressão. Entre as características do antigo motorista, notava-se a magreza excessiva, as olheiras sob os olhos cinzentos e o rosto envelhecido.

– Norman parece acabado – ele falou.

– Bem, isso foi uma semana depois do falecimento da sua mãe, London.

– Entendo. Estávamos todos acabados. Me pergunto como ele está atualmente.

Norman tinha sido o antigo motorista dos Gray, antes de Keaton Rose. Ele conseguiu o emprego por indicação de Elena, mãe de London, e sempre mostrava sua gratidão pela forma como cuidava dela. Era ele o responsável por levá-la para todas as consultas médicas dentro e fora da cidade, e para onde mais ela desejasse ir.

Além de tudo, ele era bastante cuidadoso com toda a família, tanto da parte Gray como da parte Rivera. Até mesmo Seamus gostava dele. London tinha se acostumado com Norman, mas quando Elena faleceu, o motorista se demitiu e nunca mais foi visto em Lumina Valley.

London decidiu mudar de assunto:

– Suas fotos são muito bonitas, Bella. Eu gostaria que você pudesse dedicar seu tempo com elas, ao invés dos desfiles.

– Você sabe como é, não sabe? Nós dois nascemos em berço de ouro. Não podemos nos apaixonar por alguma coisa que não seja o continuamento do legado dos pais.

Apertando os punhos, London ecoou a voz na brisa do outono:

– Estou cansado de fingir.

– Eu também.

E ambos sabiam que não havia nada que pudessem fazer sobre isso.

– Falando em problemas familiares... – Bella continuou. – Aquele teatrinho de Dahlia e Seamus não foi muito convincente.

London não conhecia ninguém melhor em decifrar os outros do que Bella Marshall.

– Eu posso falar isso, como a grande mentirosa que sou.

Embora a realidade fosse dura com ela.

– Acho que o jantar foi tranquilo, ao menos – London confessou. – Eles só estavam se segurando por minha causa.

– Igual aos meus pais. Nós fingimos ser a família perfeita na frente das câmeras, mas, em casa, tudo está caindo aos pedaços. – Bella virou-se para London. – Eles estão à beira do divórcio, sabe. Eu não quero ser forçada a escolher um lado, só que também não quero que a Ellie tenha uma infância turbulenta como essa.

London entendia Bella muito bem. Ambos tinham passado a vida inteira em uma peça.

– Ainda bem que você me entende – ela suspirou.

– Eu gostaria de não entender – ele confessou.

– O quê?

O garoto riu do modo confuso que falou.

– Desculpe, isso soou péssimo. Eu gostaria que não tivéssemos que atuar todos os dias. Que não tivéssemos que fingir felicidade na frente da própria família. Porque eu sinto que nós dois estamos presos em um caminho que não escolhemos enquanto o resto do mundo vê nossa superfície e almeja ser como nós. Eu gostaria de não entender, gostaria de pensar como eles, e ser como eles, e poder ser verdadeiro comigo mesmo e com todos ao meu redor.

Bella ergueu o olhar para London; ali se encontrava a mais bonita honestidade, e ali, o garoto que ela gostava há anos se mostrava mais uma vez, livre e sincero. Ela tomou coragem e se aproximou, pegou na mão dele e sussurrou como um segredo:

– É por isso, London, que eu gosto de você.

Mas a reação de London foi completamente diferente do que ela esperava. Ele abaixou o olhar surpreso e, na maior calma, soltou as mãos dela. Quando ele se afastou, a ficha caiu.

– Você... não sente o mesmo por mim.

Ele negou com a cabeça.

Entretanto, Bella conhecia o garoto. As mínimas expressões dele mostravam que havia alguma coisa a mais naquela declaração silenciosa dele. London era sincero e honesto, ele não quebrava o coração de uma garota como estava fazendo com ela. E Bella tinha visto dezenas de corações partidos um após o outro, e sabia que, quando o sentimento dele se mostrava por inteiro, London mirava os olhos das garotas tristes e articulava, com frases inteiras, que não sentia o mesmo por elas. Entretanto, o que London estava fazendo no momento, olhando para as próprias mãos e mantendo o silêncio, significava que ele estava escondendo algo.

E com o peito doendo, Bella entendeu o que ele estava escondendo em si. London não estava diferente apenas por vontade própria.

– Existe uma garota – ela afirmou.

E quando London mirou os olhos dela com surpresa, foi só então que Bella não queria, nem por um segundo, estar certa.

– É tão óbvio, estava na minha cara o tempo todo...

– Bella, isso não é verdade.

A garota não conseguia mais segurar o que estava sentindo. Os olhos transbordaram ao mirar o garoto que tinha acabado de partir seu coração.

– Não precisa esconder de mim, London – ela se odiou por continuar falando. – Somos amigos há quanto tempo? Uns quatorze anos? Sabe que te conheço o suficiente para saber que está, finalmente, apaixonado.

– Eu não-

– London! – Bella levantou a voz. – Não vamos fingir, certo?

E então, o garoto assentiu. Não dava mesmo para fingir com Bella.

– Me desculpa.

Bella balançou a cabeça. Ela conhecia bem o motivo das desculpas; era o jeito dele de dizer que sentia muito por ter se apaixonado, só não por ela. Mas Bella não podia admitir que ele pedisse desculpas, não quando podia perceber que a pessoa, quem quer que fosse, fazia tão bem para ele. Não podia sentir-se mal por ele quando finalmente havia uma mudança na vida amorosa do garoto. Quando, por muito tempo, ele havia rejeitado as garotas dos encontros. Só que Bella nunca pensou que faria o mesmo com ela.

– Não tem problema, está tudo bem – ela murmurou. – Quero dizer, não está tudo bem, mas... eu vou ficar bem, eventualmente, com o tempo.

– Eu sinto muito mesmo.

– Não se sinta mal por mim, London, não faça isso, por favor. Entenda que não guardo mágoas de você, apenas de mim mesma, por não perceber antes.

– Não jogue a culpa em você, Bella. Nem eu mesmo percebi antes.

Rindo com nervosismo, Bella tocou o coração.

– Eu estou feliz por você, London. Mesmo que, caramba... mesmo que esteja doendo bastante a sua rejeição. Eu não vou contar para ninguém. Aliás, vou te ajudar com essa garota que capturou o seu coração, sempre que precisar da minha ajuda.

– Obrigado, Bella. Ainda somos amigos?

– É claro que somos amigos. Não vai ser uma coisa boba como essa que vai terminar a nossa amizade. Só que, primeiro, eu preciso de um tempo, sabe, para processar o que acabou de acontecer.

– Claro. Sim, como quiser.

London devolveu a câmera e ajeitou o cabelo. Bella secou os olhos molhados, colocou um sorriso no rosto e conteve as emoções à flor da pele. Os dois voltaram para a sala de jantar e terminaram de atuar na peça daquela noite de outono.

REVISADO (4188 PALAVRAS)

Olá, leitores! O que estão achando da história até agora? Adoro os feedbacks que vocês escrevem nesse finalzinho :)

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