OBRA DE ARTE QUE NÃO PODE SER RESTAURADA

até tentei consertar a tempestade que nascia e crescia em gotas de lágrimas pelos meus olhos, mas eu não tinha o domínio de técnicas artísticas como aquelas que aplicaste em mim quando ainda era seu precioso quadro. com as tintas que deixaste aqui, amarelo, laranja, marrom e azul que só me lembravam mais a ti, até tentei me refazer. mas de nada adiantava, pois acabava encontrando-te em cada pequena pincelada que minhas mãos trêmulas coordenavam sem maestria. acabei por me tornar uma bagunça: além de não saber mais quem era eu em meio à tempestade, eu havia destruído as belas lembranças em forma de obra de arte que deixaras em meus olhos e boca e coração. profanei o mundo da arte ao roubar do universo a oportunidade de contemplarem a melhor versão de mim. agora eu estava empoeirada num canto esquecido de uma galeria qualquer, e a única coisa que me restara entre névoa e escuridão, era... poesia.