00 | epílogo
CANADÁ, 1 de janeiro de 2021
Narrador por Harper
— You and me forevermore. — Shawn murmurou depois de me cobrir e deixar um beijo casto na minha bochecha. Sorri sem grande expressão para ele, apenas revelando o nosso amor latente, pois era o máximo que o álcool no meu corpo me permitia fazer.
Ao acordar, com uma leve dor de cabeça, pois a minha resistência ao álcool foi caindo com os anos, e, segundo meu marido, eu havia feito um bom uso dela durante tempo o suficiente, notei que a cama estava vazia.
O relógio branco, que Shawn havia escolhido, junto com a decoração de nossa casa, pois sabia que eu não tinha paciência para isso, ou melhor, o mínimo interesse, marcava pouco mais que nove horas. E, apesar de odiar acordar cedo, o desejo intrínseco de ouvir seu "bom dia" e a voz de minhas mães no almoço que iríamos oferecer me fez minimamente mais feliz do que o usual.
Vaguei pela casa em passos lentos, tentando me acostumar com a claridade, enquanto tentava me recobrar em que lugar da casa havia deixado meu celular. Não conseguia me lembrar com precisão o quê, mas havia algo importante hoje.
O cheiro de café e bacon já preenchia a casa, denunciando que Shawn estava preparando café para mim, vez que mantinha uma alimentação estritamente saudável, o meu completo oposto. Ri ao lembrar de que, no passado, já um pouco distante, havia dito, justamente sobre a nossa relação, que os dispostos se atraiam.
Acho que nunca em meus recém-feitos vinte e quatro anos eu acertei tanto em uma frase. Os dispostos se atraem. E meu relacionamento com Shawn emanou isso desde que decidimos dar os próximos passos, talvez um pouco rápidos demais, mas coerentes com o que sentimos.
Nos casarmos depois de um ano de namoro foi assustador, em especial partilhar quando começamos a morar juntos. Consequência natural da troca de alianças de prata pelas de ouro. Mas nos permitiu um amadurecimento mútuo.
Meus dedos deslizaram pelo corrimão da escada no máximo de silêncio que consegui manter, sendo a voz de Shawn, que cantarolava sua música romântica favorita de ano novo, a única coisa realmente audível na casa.
Sorri quando meus olhos pousaram no topo da lareira, me deparando com a foto do nosso casamento. Envoltos por uma moldura de marrom terroso, estamos nós dois.
Shawn em um terno preto de corte simétrico, enquanto abraça minha cintura com o sorriso mais vivo que já vi, enquanto eu gargalho, meu vestido azul capri de alças, um pouco acima do joelho, ornando com um all star de cano alto branco e um pouco desbotado, destoando do meu recém consagrado marido. Realmente, os dispostos se atraem.
Éramos e estávamos tão jovens na foto, contudo, partilho da mesma certeza daquele dia.
Sou desviada dos meus pensamentos quando Shawn canta a frase que disse antes que eu pegasse no sono, e então volto minha rota a cozinha.
Ele está de costas, muito atento ao que acontece no balcão para notar minha aproximação, mas escolho lhe distrair, indo até ele e abraçando seu corpo, trazendo seu dorso próximo ao meu rosto.
— Bom dia. — Beijei repetidas vezes a parte de seu corpo que antes apoiava meu rosto. Ele se virou na minha direção, dando o sorriso carinhoso que eu já estava acostumada, mas nunca enjoada, e me abraçou, acariciando meu cabelo.
— Bom dia, Harper. — Sorriu e seu rosto se iluminou ao dizer meu nome. — Caiu da cama ou finalmente ouviu seu alarme tocar?
— Ano novo, vida nova. — Brinquei, ainda sentindo seus braços me envolverem em uma recíproca. A nossa expressão de amor sempre era assim. — Vai queimar o bacon.
Ele me deu um beijo no topo da cabeça e voltou a atenção ao fogão, pois, de fato, o bacon estava prestes a queimar.
— Não está esquecendo de nada? — Ele perguntou depois de mais alguns segundos de silêncio, em que eu apenas contemplava ele e a sua habilidade com as panelas em ação.
— Eu ainda não te disso "eu te amo" desde o começo do ano, é isso? — Questionei enquanto enchia a minha caneca com refrigerante.
— Também, também... — Ele me encarou com um olhar questionador, tentando entender se eu realmente havia esquecido algo que, supostamente, era importante para mim.
O problema era que eu não me lembrava de nada que tivesse tamanha relevância na data de hoje.
— Não me olha assim! — Rimos. — É sério. Acho que bebi demais ontem e não consigo me lembrar. Tínhamos alguma coisa importante para o dia de hoje?
— Você realmente deve ter bebido muito. — Ele colocou o bacon no prato que tinha ovos e estava no micro-ondas, depois o colocando na minha frente. — Mas tudo bem... — Disse, e eu soube que ele estava tentando evitar com que eu me responsabilizasse sobre isso. — Não e tão importante, de verdade. Não tanto quanto dizer "eu te amo", para seu marido, pela primeira vez no ano.
— É que, no caso, meu marido ainda não disse que me ama nesse ano também. — O observei se sentar ao meu lado.
— Achei que era um combinado no nosso relacionamento que você era a pessoa responsável por começar com as declarações de amor. — Um sorriso de divertimento desenhou seus lábios.
Ele sempre falava sobre isso, e, ainda que de forma mais relaxada, eu sabia o quão importante era para ele que eu falasse sobre o que sentia, e reafirmasse que eu fui a primeira a confessar meus sentimentos, pois não tive receio do que poderia acontecer. Nós havíamos nos escolhido e eu fui a responsável pelo primeiro passo. Eu o havia visto por ele, como ele e de forma transparente, e, ainda assim, o escolhi, assim como farei todos os dias.
— Ok, Shawn, você venceu. Eu te amo. Melhor agora? — Arqueei uma sobrancelha, e ele negou com a cabeça.
— Você precisa melhorar essa declaração. — Rimos. — Você costumava ser mais elaborada com as palavras antigamente.
— Até porque a gente já está casado há cinquenta anos, né, Mendes.
— Pra você é garoto perfeição, Harper. — Nosso olhar se mantinha fixo, transbordando amor.
— Eu te amo, garoto perfeição. — Sorri naturalmente enquanto mantínhamos o contato visual. Ele se aproximou e colou nossos lábios, em um beijo apaixonado e carinhoso.
— Eu te amo, Harper, e quero dizer isso todos os dias enquanto eu viver. — Repetiu a frase que disse quando se confessou pela primeira vez, e a de seus votos no nosso casamento. — Mas, eu preciso te contar um segredo: eu já havia dito que te amava depois da meia noite. — Me abraçou.
Terminamos de comer enquanto conversávamos sobre a noite de ontem, e, quando o assunto chegou em Maggie, porque eu havia iniciado, é claro. Eles ainda mantinham um contato muito educado, mas minimamente íntimo, eu lembrei que ainda não havia achado meu celular e falado com ela.
Maggie havia passado a virada de ano com seu pai, em um cruzeiro. Nos falamos por vídeo durante um bom tempo ontem, inclusive depois de ambas as viradas do ano, vez que estávamos em horários diferentes, mas ainda não tinha falado com ela desde então.
— Você viu meu celular? — Perguntei enquanto configurava a máquina de lavar louça. — Não falo com a Maggie desde o ano passado. — Brinquei.
— Vai ano, vem ano e vocês continuam igual. — Soube que ele sorria enquanto falava apenas pelo seu tom de voz. — Aqui. — Me entregou.
— Era isso a coisa importante que eu não estava lembrando?
— Quase, Harper, quase.
Shawn saiu da cozinha, e pude ouvir o barulho da televisão sendo ligada, bem como ele se ajeitando no sofá para ver seus típicos quinze minutos de jornal antes de ir tomar banho.
A rotina dele era tão ajeitada e metódica que eu quase me sentia envergonhada de, bem, apenas viver, mas ele sempre fez com que eu me sentisse confortável com qualquer expressão do meu eu, de forma que isso era o menor dos detalhes no nosso relacionamento.
Apoiada no balcão da cozinha, e intercalando um olhar entre o homem da minha vida, as notícias e o meu celular, uma notificação do Twitter me chamou atenção, e não era do trabalho, mas sim um dos meus nomes favoritos: Justin Bieber.
Era isso que Shawn se referiu!
O novo clipe do meu eterno cantor favorito, Anyone, havia sido lançado, o que fez com que eu deixasse para responder as mensagens de minhas mães e da Maggie depois. O mundo podia esperar, mas eu não.
Sentada em uma das cadeiras do balcão da cozinha, sentia a adrenalina e a excitação enquanto o vídeo carregava. E tudo isso foi substituído por lágrimas quando a voz mais madura do que no início de carreira, e que eu conhecia em todas as letras, acompanhou o clipe.
As lágrimas escorriam tão rapidamente quanto os soluços deixavam a minha garganta. Era um misto de orgulho pela trajetória dele e de eu ter encontrado uma pessoa que fazia com que eu sentisse exatamente aquilo que ele cantava.
— Harper? — Ouvi a voz de Shawn, mas não consegui tirar os olhos da tela, obcecada com a visão do cantor com as tatuagens escondidas. — Harper? Está tudo bem? — Senti seu corpo atrás de mim e a voz vacilante. — Meu deus, Harper... — Ouvi ele respirando com mais calma, provavelmente tentando regular a respiração. — Eu achei que fosse algo importante.
— Era isso, né? — Perguntei, incapaz de parar de chorar. Seus braços me acolheram em um carinho reconfortante, que soava como casa e que era afável como o amor mais puro que eu já havia conhecido.
— Era. — Sentia seu coração relativamente alterado, enquanto ele acariciava minhas costas.
O seu calor e a música que ainda tocavam só me faziam chorar mais ainda. Era um misto, era o fato de eu ter acompanhado toda a jornada do cantor, mas não era só isso.
Não era só isso porque, em cinco anos juntos, Shawn havia me visto chorar poucas vezes. Apenas no dia em que ele me pediu em casamento, e acho que também foi um pouco por causa do susto, e quando Maggie decidiu ir passar uma temporada viajando após o final do ensino médio.
Mas agora, ali, ouvindo alguém cantar exatamente o que simbolizava o meu relacionamento, não consegui conter as lágrimas. Na verdade, acho que as contive por tempo demais.
Shawn era exatamente tudo. Ele era uma das coisas boas que havia acontecido na minha vida, sem que eu esperasse ou me julgasse merecedora, ele foi uma surpresa que eu acho que sempre sonhei, mas nunca tive coragem de admitir.
Shawn era a certeza que eu tinha todos os dias, e eu sabia que era a sua quando ele adaptava sua rotina para mim. Ou quando ele me fazia bacon no café da manhã. Ou quando ele me pediu em casamento ainda com dezoito anos. Ou quando eu errava e fazia as coisas erradas, e, ainda sim ele estava lá. Ou quando eu gritava e dizia que estava cansada, e ele me mostrava que calma e diálogo sempre eram a solução. Ou quando eu estava sem tempo, e ele me mostrava que sempre podemos criar algo nosso. Ou quando eu simplesmente não sabia o que fazer, e ele me dizia que estava tudo bem não saber o caminho. Em todas as situações ele me mostrou que a resposta seria "sim", se fosse necessário para estar ao meu lado, e a concordância foi recíproca.
Shawn me via como eu havia me mostrado para poucas pessoas. Fez com que eu colocasse coisas na minha lista de sonhos, em especial, um relacionamento. Fez com que eu crescesse junto a ele, sempre respeitando meu espaço, a minha pessoa, meus objetivos e o que, eu de fato, buscava.
Eu sei que fui seu norte quando a vida parecia uma eterna tempestade, mas na verdade foi ele quem me mostrou a rota. Foi ele quem me mostrou que felicidade nunca é demais e que sempre é possível agregar mais no nosso coração.
Shawn foi e era meu verdadeiro amor. Meu primeiro e único amor. Minha expressão da comunhão que aceitamos em uma quarta-feira, dia vinte e um, enquanto trocávamos votos em uma pequena cerimônia.
Shawn simplesmente é. Meu passado, meu presente e meu futuro. A companhia que eu encontrei, ou melhor, que a vida me agraciou e que a detenção uniu.
— Acho que ele escreveu essa música pensado em mim... — Confessei, depois de conseguir parar de chorar, ainda sentido o abraço.
— Eu ia dizer a mesma coisa. — Riu, e eu ergui o rosto para poder ter a visão que anseio pelo resto dos meus dias. — Eu te amo, Harper. É você, e sempre será você.
— Eu te amo para sempre, garoto perfeição.
FIM
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