Inauguração
Quando Finn acordou o apartamento estava organizado e sentiu um cheiro de café espalhando-se pelo quarto. Sua temperatura corporal já tinha normalizado e afastou as cobertas rapidamente, com calor. Pelas frestas da janela a luz do sol entrava sorrateiramente, iluminando certos pontos do cômodo.
Lembrou-se da noite anterior com vergonha e tristeza. Havia bebido praticamente toda a garrafa de vinho da geladeira. Tinha desorganizado tudo num rompante de raiva, quando já estava bêbado, e envergonhou-se daquilo. Então alguém havia tocado a campainha.
Pulou da cama com rapidez ao lembrar-se da visita de Leonard e esfregou os olhos, incrédulo, ao perceber que, provavelmente ele ainda estava ali, pois havia um cheiro de café no ar. Lavou o rosto no banheiro, com nervosismo. Não precisou sair do quarto para vê-lo, pois o asiático colocou a cabeça na entrada da porta e Finn odiou-o por ser tão bonito. Os olhos amendoados e delicados combinavam perfeitamente com os traços masculinos do rosto, como a linha da mandíbula acentuada. As sobrancelhas pareciam pintadas de tão simétricas.
━Finn, está se sentindo bem? Fiz café para nós.
━Sim. Você dormiu aqui? -sua intenção não era ser rude, mas as palavras saíram sem que pudesse controlá-las
Leonard assentiu. Finn passou por ele até chegar à sala sem olhá-lo diretamente.
A mesa pequena da cozinha, que ficava junto à sala, tinha algumas comidas em cima, como pães, geleias e frios. O café estava servido em duas xícaras grandes. Finn sentou-se, resignado, na cadeira em frente à mesa, aceitando que teriam de conversar. Assim que pegou sua xícara com ambas as mãos, assoprou o líquido quente e olhou-o girar no recipiente de porcelana.
Leonard sentou-se ao lado do loiro, apoiando os cotovelos na mesa. Analisou os cabelos loiros encaracolados, os olhos azuis tristes e pensou no que falar. Queria dizer muitas coisas, mas tudo embaralhou-se em sua mente ansiosa e angustiada. Desejou tocar os fios dourados e beijar as bochechas dele até vê-lo corar, como sempre faziam pela manhã, mas resolveu comentar sobre o café, buscando um assunto mais ameno para começar o dia:
━O café está bom. Prove.
━Obrigado. -tomou um gole da bebida quente
━Me desculpe por ontem, Finn.
━Ethan irá trabalhar lá?
━Não, só o contratei para tirar as fotos da inauguração.
━Não havia outro fotógrafo disponível?
O asiático comprimiu os lábios.
━Ele me ameaçou. -disse baixinho e Finn arregalou os olhos
━Como assim?
━Ameaçou te mandar fotos minhas, tiradas anos atrás. Não queria que você as visse.
Finn fechou os olhos e tomou outro gole do café. Leonard parecia deslocado especialmente porque vestia suas roupas: uma camiseta branca e uma calça de moletom cinza. O tecido ficaria impregnado com o perfume de jasmim que Finn tanto amava.
━Vocês dois... -o loiro corou, engoliu em seco e prosseguiu: transaram?
Leonard enterrou o rosto nas mãos e, sem olhá-lo, assentiu. Uma parte do coração de Finn se despedaçou. Deu um sorrisinho fraco e inclinou-se. Tocou o ombro do asiático, que levantou a cabeça, com os olhos vermelhos e úmidos.
━Você gostou?
O jeito como ele desviou o olhar, depois baixou-o, foi o suficiente para entender. Leonard fungou e respirou fundo. Segurou uma das mãos de Finn e pareceu concentrado na pele, olhando-a de perto com carinho.
━Você marcou o psiquiatra?
A voz deles saiu baixa, num sussurro e Finn quase afastou-se, irritado com a pergunta, mas respirou fundo e relaxou.
━Marquei.
━Que bom. -deu um sorriso sincero
━Estão namorando? -Finn indagou, voltando ao assunto anterior
━Ethan é... Complicado. Não sei se quero namorá-lo.
━Ele não é um cara legal, Leonard. Ele te tratava mal e nunca te valorizou.
━Eu... -Leonard gaguejou e fechou os olhos, lembrando-se de como o relacionamento com Ethan tinha moldado sua dependência dele
Não tinha dito a palavra de segurança e estava lidando com as consequências das próprias ações. As bochechas estavam tão vermelhas que doía mastigar. As costas, em alguns pontos, sangravam. Quando encarou-se no espelho e viu o corpo todo marcado e dolorido, perguntou-se se tinha valido a pena.
Ethan sentia mais prazer subjugando-o do que fazendo Leonard sentir algum prazer. Ultimamente ele lhe provocava em público, deixando-o constrangido. Entretanto, fetiche era para ser vivido apenas dentro do apartamento, estava nas regras que haviam discutido e no contrato que tinham assinado.
O problema era que o amava demais para negar-lhe algo. Se gostava daquilo queria vê-lo feliz, mesmo que fizesse coisas que lhe deixavam desconfortável. A pior parte era que Ethan pensava que deveria estar disponível, esperando-o, 24 horas por dia.
━Leo?
A voz dele veio de dentro do box e Leonard estremeceu.
━Sim?
━Sim o quê?
Leonard engoliu em seco antes de corrigir-se.
━Sim, mestre?
━Reservei uma mesa para nós dois naquele restaurante que você gosta.
O asiático caminhou até a entrada do box, gostando da sensação do vapor quentinho contra sua pele machucada. Tocou o vidro do box e deu um sorrisinho apaixonado. Gostava quando saíam, pois Ethan mostrava que se importava. Ele às vezes lhe comprava presentes... Pena que aqueles momentos eram raros.
Na maior parte do tempo Ethan estava mais interessado em lhe dominar. No início Leonard havia achado incrível, mas já estava cansado... Não tinha certeza se era aquilo que queria num relacionamento, por mais que gostasse. Deveria haver um equilíbrio, não?
━Vegetariano?
━Esse mesmo.
━Então preciso tomar banho. -murmurou- Estou machucado.
Ele poucas vezes cuidava dos seus machucados. O cuidado pós-sexo era importante numa relação de dominação, afinal, um dependia do outro para que as engrenagens do namoro funcionassem.
━Entre. -ele murmurou
Quando Leonard entrou debaixo da água quentinha, Ethan saiu do box. Ficou olhando-o com confusão enquanto ele se secava.
━Não pode tomar banho comigo?
━Pare de ser chato, Leo.
Ele revirou os olhos e pegou o celular na pia do banheiro.
Aquilo também lhe incomodava: as mensagens secretas. As chamadas de números desconhecidos. Ethan parecia enjoado do namoro. E Leonard estava triste com o rumo da relação.
━Se não te faz bem, como pode ficar com ele?
Leonard levantou-se, serviu outra xícara de café e, em cima do balcão da cozinha, encontrou algumas folhas encadernadas que chamaram sua atenção. Não havia título, apenas um nome: "Vincent Bianchi". Pegou o manuscrito e abriu-o. Quando Finn virou-se e viu o que ele estava lendo, arregalou os olhos.
━Leonard.
O asiático saiu do transe, olhou-o com curiosidade e Finn abaixou os olhos.
━Vincent pediu para que eu lesse. -estendeu a mão para que lhe entregasse
━Vincent?
━Da cafeteria. -as bochechas ficaram quentes instantaneamente- O funcionário que Archie contratou.
━Ele escreve?
━Sim. Está tentando publicar.
Leonard entendeu rapidamente o que tinha acontecido. Havia uma aproximação entre Vincent e Finn. Não possuía o direito de cobrar qualquer coisa do loiro, nem iria. Entretanto, estava triste com a hipótese de ele já estar interessado em outra pessoa. De estar perdendo-o.
━Obrigado por ter cuidado de mim ontem.
Finn murmurou aquilo com um sorriso tão sincero que Leonard quase começou a chorar. Sentia falta dele em casa, do seu jeito romântico e gentil, dos carinhos delicados e dos abraços gostosos.
━Finn, eu sempre vou cuidar de você. Quero que você seja feliz.
O loiro estava cansado de ficar irritado com o asiático. Ele tinha lhe machucado, mas era uma pessoa boa. Estava magoado, no entanto precisaria lidar com sua dor, porque iriam trabalhar juntos.
━É triste não poder mais te fazer feliz, Leonard. -confessou com resignação- Eu não acho que Ethan te mereça, mas foi a sua escolha.
O silêncio que se seguiu foi esmagador. O asiático ficou pensativo, com as sobrancelhas unidas, então disse:
━Você pode me ligar sempre que quiser.
━Vamos nos ver quase todos os dias. -Finn murmurou
Leonard aproximou-se tanto que o perfume doce de jasmim lhe deixou um pouco tonto. Quis abraçá-lo pelo pescoço e beijá-lo por todo o corpo. Imaginou-o retribuindo o gesto, deslizando as mãos por sua coluna magra, prendendo-o num aperto gostoso...
O asiático deitou a cabeça em seu ombro. Finn ficou estático e com o coração acelerado.
━Eu estraguei tudo, eu sei. -a voz saiu abafada enquanto escondia o rosto na camiseta do loiro- Eu amo você, Finn.
━Não posso dividir você, Leonard. -disse com tristeza
Quando Finn colocou as mãos em volta dos ombros dele, ouviu-o chorar. Beijou-o no couro cabeludo, massageou seus ombros com carinho e permaneceu parado.
━Não estou pedindo isso.
━Eu ainda sou seu amigo. -o loiro sussurrou
━Obrigado, Finn.
━Você acredita que Ethan pode mudar, não é?
Leonarr engoliu em seco, afastou-se, e olhou para o chão.
━Se ele te ameaçou ele não vai mudar, Leonard. -Finn inclinou-se e deu um beijo delicado na ponta do nariz dele- Você merece ser feliz. Merece amar alguém que te ame tanto quanto eu.
━Então não temos mais chance?
Finn suspirou.
━Precisamos conhecer pessoas novas.
━Você já conheceu, eu acho.
Os olhos amendoados lhe encararam com curiosidade, repletos de um ciúmes que machucou Finn.
━Desculpe. Você tem todo o direito, Finn.
━Eu conheci alguém. Mas só nos beijamos. Nada demais.
Leonard olhou para o manuscrito jogado em cima da mesa e deu um sorriso fraco, surpreso pela revelação. Segurou as mãos de Finn e beijou-as.
━Vou trocar de roupa. Preciso ir agora.
━Certo.
Finalmente poderia cheirar as roupas que ele tinha usado. Finn gostou do fato de que suas roupas ficariam com o perfume dele. Era estranho querer sentir o odor doce dele daquela maneira quando poderia simplesmente abraçá-lo, mas não se humilharia daquela forma.
Leonard o pegou de surpresa ao segurar seu rosto com ambas as mãos e encostar suas testas. Tocou a ponta do seu nariz com o indicador e sorriu.
━Vincent é sortudo por ter você.
━Nós não... -Finn corou e Leonard balançou a cabeça, rindo baixinho
━Você é um amorzinho. Meu amorzinho. Talvez não seja meu mais, mas... -mordeu os lábios com um brilho melancólico no olhar- Por favor, não se afaste de mim. Se eu te perder vou ficar triste para sempre, meu amor. Sabe que a tristeza não combina comigo, mas ultimamente eu tenho estado assim. Não gosto do que fiz. Nós estávamos construindo um futuro juntos e...
Finn afastou-o, controlando o choro. Não valia a pena compararem o que eram e o que haviam se tornado. Tinha acabado. Leonard tinha escolhido Ethan. Ele tinha terminado consigo para ficar com o ex. Ainda o amava e acreditava que era amado. Mas não podia apagar tudo o que ele havia feito.
Com muito custo e muita dor disse:
━Não vai me perder. Mas nada voltará a ser como antes. Precisamos seguir caminhos diferentes.
Reuniu toda a coragem que tinha para virar as costas e caminhar até o quarto. As roupas teriam o cheiro dele, mas o vazio permaneceria ali. Será que conseguiria se livrar dele?
_____
Na cafeteria, o menu estava definido, o pagamento da empresa efetuado e o lugar organizado. A floricultura também foi cuidada por Archie, que colocou água nas plantas, tirou pétalas secas das flores e afofou a terra dos vasos.
Ao terminar de limpar, teve de colocar uma faixa no cabelo para segurá-lo para trás, pois estava suando. Na cozinha, o calor era mais intenso ainda porque uma fornada de cupcakes acabava de sair do forno.
Quando entrou no ambiente quente, Vincent abanava uma forma com um pano. Archie aproximou-se e espiou o que ele estava fazendo.
━Está tudo bem?
━Sim. -ele gaguejou e começou a mover o pano com mais rapidez
━Queimou?
━Não! -ele quase gritou
Archie sentiu o cheiro de queimado espalhando-se pelo lugar. Ligou o ventilador do teto para que o odor se espalhasse e abriu as janelas. Vincent parecia apavorado, de olhos arregalados e olhando para Archie como se estivesse esperando levar uma bronca.
━Quase queimaram. -ele disse
━Vamos levá-los para o balcão e deixar a cozinha arejar.
Foram para a parte principal da cafeteria e Vincent colocou a bandeja com cupcakes marrons em cima da vitrine.
━Desculpe, Archie. Perdão!
Ele começou a se desculpar com tanto afinco que Archie uniu as sobrancelhas, confuso com aquele comportamento.
━Não tem problema.
━Se você quiser tirar do meu salário...
━Vincent, isso é ridículo. -Archie riu- Você não queimou nada.
━O ponto está horrível, não é? -perguntou com preocupação
━Está bom, por que está tão nervoso? Eu não me importo. -murmurou, pegando um cupcake
Vincent respirou fundo e lembrou do que Marc havia dito, que o chefe odiava erros. Será que provocaria uma briga se revelasse aquilo? Pior, será que Marc brigaria consigo e lhe odiaria mais ainda? Ele já lhe odiava, tinha percebido, só pelo jeito como havia lhe olhado durante o aniversário de Finn.
━Porque... -respirou fundo antes de continuar- Marc me disse que você não gosta de erros.
A boca de Archie escancarou-se. Ele piscou rapidamente, tentando processar o absurdo que havia acabado de escutar.
━Ele disse o quê? -perguntou como se tivesse ouvido errado
━Disse que você não gosta de pessoas que erram. -engoliu em seco com nervosismo
━Ele mentiu! -Archie apertou os lábios com impaciência- Disse isso para te provocar. Eu não acredito! -massageou as têmporas
━Eu ofereci uma água com açúcar para ele. Ele chegou aqui muito... Nervoso. Mas ele me tratou bem! -acrescentou rapidamente
━Vincent, ignore o Marc. -disse com frustração- Ele é ciumento. Por ele eu trabalharia só com mulheres. -revirou os olhos
━Vocês namoram há muito tempo?
━Sim.
━Ele me perguntou se eu tinha namorado. -disse com uma careta e o chefe começou a rir
Quando Vincent pensou naquilo, lembrou-se do beijo que havia dado em Finn. Será que o destino lhe daria outro encontro com o loiro?
Pegou um cupcake da bandeja e deu uma mordida, aliviado ao constatar que Archie não tinha se importado com seu erro de cozimento. No entanto, o chefe parecia irritado com o namorado, pois permaneceu com o cenho franzido por alguns segundos.
━Algo errado?
━Essas coisas que ele faz me deixam irritado.
Pelo jeito uma briga aconteceria porque havia contado sobre a conversa que tivera com Marc. Pensou rapidamente em maneiras de tentar animar o chefe.
━Acho que foi uma brincadeira dele.
━Não foi. Ele é possessivo mesmo. -resmungou e mordeu um cupcake
Dentro da massa quentinha e fofinha pedaços grandes de chocolate escorreram, derretidos. Na boca, a explosão de açúcar foi maravilhosa. A textura macia do doce estava molhada, deixando-o ainda mais gostoso.
━Pode tentar conversar com ele sobre isso.
━Você não conhece a fera. -disse com um sorrisinho- Se ele vier aqui não fique intimidado, ele ladra mas não morde.
━Ele parece ser um namorado dedicado.
Lembrou-se do dia em que os viu chegando de carro, da maneira carinhosa e ardente como haviam se beijado.
━Ele é.
O olhar de Archie encheu-se de amor e um sorriso bobo espalhou-se por seu rosto. Vincent percebeu que os dois eram realmente apaixonados, mas precisavam dialogar melhor sobre certas coisas.
_____
No trabalho, Marc virou o papel entre os dedos várias vezes, pensando e refletindo antes de ligar para o número ali anotado. Na adolescência havia sido aconselhado a procurar um psicólogo ou psiquiatra, os pais inclusive já haviam lhe dito aquilo, mas não insistiram o suficiente. Preferiram fingir que não tinham nenhum problema familiar.
Quando o avô faleceu tudo desmoronou. Foi o suficiente para fazê-lo entrar num looping de ódio e raiva. A vida lhe obrigou a lidar com tudo ao mesmo tempo: as mudanças da adolescência, sua oscilação de humor e o luto. Naquela época tudo parecia extremo e qualquer coisa era capaz de lhe fazer explodir.
A morte do avô também havia revelado uma mãe ainda mais fria e um pai que não sabia lidar direito nem com os filhos e nem com a esposa. Além disso a morte e o testamento do avô pairavam sobre a família.
Mas sempre soubera fingir muito bem. Na escola era popular, tinha amigos dos quais gostava e para os quais nunca falava sobre sua vida pessoal. Conseguiu evitar consequências piores dos pais que tinha.
━Marczinho!
A voz da ex-namorada lhe fez pular de susto. Tirou os óculos de proteção e os guardou na gaveta do laboratório, percebendo que era a hora do almoço.
Natalie entrou como um furacão, usando uma calça jeans de cintura alta e uma blusa bordô. Os cabelos estavam presos num rabo de cavalo. Marc instintivamente afastou-se dela.
━Vamos almoçar? Tenho perguntas para você! -ela sorriu tão largamente e estava tão animada que Marc pensou em ligar para Archie desculpando-se só por estar falando com ela
━Não tem amigos com quem almoçar? -perguntou com irritação
━Não. -o sorriso cínico continuou no rosto
━Pergunte o que quer e saia. Não vou almoçar com você.
━Que audácia, falando com a filha do chefe assim! -as sobrancelhas bem delineadas se arquearam
Marc olhou para a porta e viu que os funcionários passavam em direção ao refeitório. Se vissem os dois ali dentro com certeza começariam a fazer fofocas.
Marc sentiu os olhos dela lhe analisando de cima a baixo. Natalie foi para seu lado e encostou-se no balcão, cruzando os braços em frente ao peito.
━O que quer perguntar? -indagou com impaciência, querendo que ela fosse embora logo
A tela do celular acendeu-se e, quando Natalie olhou para o bloqueio de tela viu Archie debruçado na varanda de uma casa. Começou a rir.
━Que bonitinho. Você está tão romântico, nem parece que no fundo é um idiota.
━Quando vai superar o término, Natalie? -disse e revirou os olhos
Os olhos azuis escrutinaram sua face e ela desviou o olhar.
━Quando você sugeriu aquelas coisas para mim eu fui pesquisar, sabia? Odiei o que vi.
━Você sempre foi cheia de frescuras. -Marc quase bocejou ao dizer aquilo e Natalie fechou a cara
━Não importa, fique quieto e ouça!
Arqueou as sobrancelhas com o tom mandão dela e ficou intrigado com o que ela queria lhe perguntar. Deu-lhe um sorrisinho torto. Natalie corou e ajeitou uma mecha solta do cabelo para trás da orelha.
━Eu fui pesquisar e...
Quando lhe encarou diretamente, o rosto dela tornou-se completamente vermelho. Marc gesticulou para que continuasse. Natalie fechou e abriu a boca pintada com batom vermelho diversas vezes antes de confessar:
━Eu nunca iria fazer o que você desejava. Aquele não era o papel que eu desejava para mim.
A revelação demorou para ser entendida. Marc arregalou os olhos, mas logo se recompôs e tossiu, tentando controlar a risada que queria escapar. Os olhos dela lhe fuzilaram com raiva e suas bochechas se avermelharam.
━Então eu ajudei você a descobrir que é dominadora? -seu tom foi provocador, pois estava segurando a vontade de sorrir de maneira sarcástica
━Sim. -respondeu num muxoxo- E eu tenho um encontro hoje.
Marc quase revirou os olhos com a revelação. Ela achava que seria seu confidente? Por que não arranjava um amigo?
━Pergunte logo. -a impaciência em sua voz foi sentida por ela, que grunhiu com irritação
Natalie suspirou, preparou seu olhar desafiador e reuniu coragem para perguntar:
━Como eu posso dominar um homem?
Marc não conseguiu mais segurar a risada. Natalie arregalou os olhos, ultrajada com a reação dele. Segurou-o com força pelo braço, obrigando-o a encarar-lhe.
━Pare de rir de mim, seu idiota insensível!
Livrou-se do aperto perigoso das unhas dela e disse, com um sorriso irônico:
━Você já sabe como fazer isso. Todos têm medo de você. Aliás, é por isso que não tem amigos aqui.
━Você também não tem amigos, idiota.
━Não preciso de amigos, eu tenho um namorado incrível.
━Que patético. -ela comentou com escárnio- Então é esse o seu conselho? Dizer que eu já sei dominar?
━É. Aja naturalmente. Ele provavelmente vai te obedecer.
Natalie abriu um sorriso tão grande que Marc temeu pela vida do pobre homem que seria sua cobaia. Saber que a ex-namorada tinha identificado-se com aquele papel lhe deixou surpreso, mas ao analisar melhor, viu que fazia sentido. Ela tinha um ego enorme e gostava de controlar tudo.
━Se eu tivesse sugerido para você fazer do meu jeito, quando namorávamos, você teria aceitado?
Marc franziu o cenho, refletindo sobre a pergunta.
━Não sei. Éramos adolescentes com hormônios à flor da pele. Provavelmente sim.
━Não posso dizer o mesmo sobre mim. Jamais faria o que você queria. Não nasci para receber ordens de homens, gosto de mandar. -piscou e saiu do laboratório com o nariz empinado
Marc finalmente respirou com alívio. Pegou o celular e viu uma mensagem não lida de Archie. Ao abrir o chat, encontrou uma foto de cupcakes e outra selfie com Vincent que lhe deixou enciumado. As frases abaixo lhe fizeram num primeiro momento suar, mas depois começou a rir.
"Vincent errou hoje, mas eu realmente não me importo que as pessoas errem"
"Você é incontrolável! Por que disse isso para ele?"
"Ciumento!!"
Então respondeu:
"Fiz isso apenas para você ser mais respeitado como chefe."
"Mentiroso." E Archie completou:
"Marque sua consulta logo"
Mexendo no bolso, Marc pegou o papelzinho. Havia prometido para Archie que marcaria uma consulta. Digitou o número com pesar, torcendo para ninguém atender, mas seu desejo não foi realizado. A voz do outro lado da linha perguntou se desejava marcar um horário e respondeu afirmativamente.
______
Finn foi até a cafeteria com a intenção de conversar com Archie, mas Vincent também era seu outro motivo para ir até lá. Ao entrar pela porta principal, encontrou um ambiente quentinho e com cheiro de bolo.
Não encontrou Archie em canto algum. Em segundos Vincent veio da cozinha, tomando um susto ao vê-lo.
━Juro que não sou um assaltante. -Finn brincou, relembrando o que ele tinha dito da primeira vez em que tinham se conhecido
━Finn, que susto!
━Desculpe! -fez uma careta
Vincent aproximou-se, tirou o avental que vestia e cumprimentou o loiro com um beijo delicado na bochecha. Adorou vê-lo corar e tocar a pele onde seus lábios tinham encostado. Ele possuía um cheiro de lavanda tranquilizador que lhe trouxe uma sensação de dejá vù.
━Archie está aqui?
━Acabou de sair. Quer um cupcake? Eu que fiz, são de chocolate.
Finn estava estufado de tanto comer os doces que havia ganhado de Vincent de presente, mas não negaria um cupcake feito por ele. Os olhos cor de mel brilharam quando lhe entregou um bolinho marrom, parecendo contente com o que tinha feito.
━Byron ficou resmungando quando você saiu de lá. Gostou de você. Ele não gosta de quase ninguém.
━Me sinto sortudo. -Finn sorriu- Nunca tive um gato, mas sempre quis ter um.
━Eles são incríveis. Foi Byron quem me adotou, sabia?
Finn não percebeu, mas em poucos segundos estava sentado em uma poltrona, com Vincent a sua frente, servindo-lhe chá em uma xícara bonita. Passaram longos minutos envolvidos numa conversa sobre gatos; ele contou a história de Byron, como escolheu seu nome e depois partiram para outros assuntos.
━Você parece mais feliz hoje.
━É porque você é uma ótima companhia.
Finn não havia falado aquilo com o intuito de flertar, simplesmente tinha sido sincero. O sorrisinho alegre de Vincent lhe mostrou que ele tinha entendido sua fala como um flerte. Corou e desviou o olhar.
━Já que eu sou uma ótima companhia, que tal sairmos hoje?
Reparou nas covinhas de Vincent e no sorriso largo de quem esperava uma resposta, mas que não ficaria chateado caso fosse recusado. Olhou-o mais de perto, intrigado.
━Você me parece familiar.
Ele repousou o queixo na mão direita e seu semblante tornou-se reflexivo.
━Pareço?
━Sim.
━Tive essa sensação agora há pouco, ao sentir o seu perfume.
━Que coincidência. -Finn sorriu- Podemos sair sim. Aonde vamos?
━Quer ir ao museu? Juro que as exposições são legais e não vai ser tediante porque eu sempre vou lá para buscar inspiração. Posso ser seu guia. -piscou
━Tenho certeza que vou adorar.
━Ótimo. É um encontro. -Vincent levantou-se rapidamente, levou as louças para a cozinha e Finn o seguiu
Vincent apertou seu braço de forma carinhosa e Finn sentiu alguns formigamentos com o toque. Enquanto lavava a louça os dedos ficaram gelados, mas não incomodou-se. O sujeito a quem seus pensamentos eram direcionados estava ali perto, causando um sorrisinho bobo em seu rosto.
_____
Natalie tinha dirigido em silêncio até o lugar que havia escolhido para irem. Era um pub sofisticado que ficava num bairro de classe-média. Tinha escolhido o lugar pensando em qual ambiente John ficaria mais confortável. Já tinha ido aquele estabelecimento com Ada, mas era a primeira vez que levava um garoto lá.
Durante o trajeto, notou a respiração acelerada de John. Vez ou outra ele comentava algo sobre o clima e sobre as ruas pelas quais passavam.
Estava um pouco nervosa também, mas lembrou-se do que Marc havia lhe dito. Era só agir naturalmente. O problema era que quase ninguém gostava do seu jeito natural.
Queria, de uma vez por todas, pôr fim a sua curiosidade. Havia pesquisado por anos os tais fetiches de Marc, intrigada e levemente curiosa, até decidir que precisaria encontrar alguém para experimentar o papel com o qual havia se identificado.
Quando chegaram ao local, deixou o carro com o manobrista e John lhe encarou com as bochechas coradas. Ele vestia um jeans azul e uma camisa de botões branca e simples. Natalie pensou que, caso sua relação com ele se estendesse, adoraria comprar-lhe presentes, especialmente roupas, pois seu estilo não lhe agradava. O queria ao seu modo, da sua maneira e, se não fosse como desejava, preferia não ir adiante. Por isso ele precisava cooperar e estar aberto às sugestões.
Natalie deu-lhe um sorrisinho torto e John ficou vermelho.
━Reservei uma mesa privada para nós.
O interior possuía iluminação baixa e uma decoração elegante. As paredes eram pretas e o piso bege, imitando madeira. Havia um bar no centro, largo e bem iluminado. Em volta, poltronas e mesas se espalhavam. Muitos casais estavam ali curtindo a noite.
Quando Natalie deu seu nome para a maître, ela sorriu e os conduziu até o segundo andar, que era mais silencioso e possuía mesas afastadas e poltronas mais largas. John lhe seguiu, olhando todo o lugar com admiração.
Ao sentarem, um cardápio lhes foi oferecido. Natalie torceu o nariz para as opções de comida, visto que eram todas calóricas. Também não poderia beber, pois estava dirigindo... John analisou o menu com o cenho franzido.
━Encontrou algo gostoso? -inclinou-se, sorrindo largamente
John levantou o olhar, com as bochechas coradas, e Natalie notou semelhanças que ele tinha com Marc. Os cabelos eram encaracolados, a pele era morena, num tom café com leite, e o rosto era bem esculpido. Tinha um queixo acentuado, uma mandíbula retangular e bochechas que coravam com facilidade. Suas sobrancelhas curvadas e os olhos castanhos levemente amendoados lhe davam um ar ingênuo. Perguntou-se como seria segurar o rosto dele e mordê-lo nos lábios, que eram volumosos, quase como os de uma garota. Ele gostaria de tal violência?
━O que vai pedir? Nunca estive num lugar assim antes. É muito bonito e chique.
Natalie franziu o cenho, com vontade de apertá-lo. Achou bonitinha aquela fascinação dele pelo ambiente.
━Vou pedir... -mordeu os lábios vermelhos enquanto lia as opções- O número quatro. Queijos empanados com geléia de pimenta. Podemos dividir.
━Nunca comi. É bom?
━É ótimo.
━Então está decidido.
━O que vai querer beber?
━Eu gosto de cerveja.
Natalie olhou-o com a boca escancarada. Odiava cerveja. Com champanhe e vinho no mundo por que alguém escolheria tomar uma bebida tão ruim e amarga? Não conseguiu esconder seu nariz torcido e John pigarreou com constrangimento.
━Você não toma cerveja, claro. Nem tem cerveja no cardápio. Pode escolher para mim?
Quando ele estendeu o cardápio, os olhos azuis de Natalie brilharam de excitação. Ele estava lhe deixando decidir tudo até o momento, aquilo lhe alegrava. Deu uma olhada nos drinks e escolheu um Kir Royale, uma bebida feita de champanhe e licor de cassis. Um garçom veio anotar seus pedidos num tablet e em seguida foi embora.
━Trabalha no clube há muito tempo?
Natalie tamborilou as unhas na mesa devagar, com um brilho enigmático no olhar.
━Não, há dois meses.
━Você faz faculdade?
━Não. Mas gostaria de estudar algo relacionado à educação.
John mordeu os lábios. Qual assunto teria em comum com Natalie? Tinham vidas muito diferentes. Após trabalhar no clube tinha se apaixonado pela preparação de bebidas e pela gastronomia, mas não eram paixões intensas. Se pudesse fazer algum curso estudaria algo que lhe permitisse dar aulas. Ajudava como podia a mãe e a irmãzinha pequena, com quem tinha conhecido seu gosto por ensinar.
━Você estuda? -ele indagou com curiosidade
Pensou que ela era mais uma filha dos clientes ricos do clube, mas se fosse verdade ela viveria dia e noite lá, como muitas garotas faziam. Natalie aparecia apenas uma vez por semana, às vezes duas.
━Sou formada em engenharia química.
━Puxa, deve ser um curso difícil!
Natalie apoiou o queixo nas mãos no mesmo momento em que o garçom veio entregar o prato e o drink que tinha pedido. Os queijos vieram em cubos e acompanhados de uma porção de geleia de pimenta que era doce e ardia na língua.
Provou o petisco sem muita vontade, odiando ouvir a barriga roncar e implorar por mais. Comeria dois e deixaria o resto para John.
━Gostei dos chocolates que você me deu.
━Eu sabia que você gostaria, todas garotas amam chocolate.
Ficou vermelha e desviou o olhar.
Passaram o resto da noite conversando sobre coisas amenas e Natalie roubou um gole da bebida que havia pedido para John. Quando terminaram, sentiu-se estufada, mesmo tendo comido apenas dois petiscos.
John continuou com fome, mas não seria indelicado e pedir outro prato. Nunca saía com mulheres tão bonitas quanto ela, que parecia uma modelo internacional. Não queria estragar a noite, mas estava nervoso e suando.
O garçom veio trazer a conta. Natalie abriu a bolsa e John pegou a carteira do bolso da calça jeans ao mesmo tempo. Ela entreabriu os lábios, deu um sorrisinho e pegou um cartão prateado da bolsa.
━Eu pago, não se preocupe.
━Podemos dividir?
━Se insiste.
Dividiram a conta e, mesmo assim, o valor foi alto para o bolso de John. Quando saíram para o ar frio do anoitecer, Natalie virou-se e encarou-o de frente, com o queixo erguido.
━Eu gostei do lugar. E da comida. Da bebida também. -John sorriu
━Fico feliz. -retribuiu o sorriso
Natalie mordeu os lábios, aproximou-se dele e reparou nos olhos castanhos mais de perto. Era mais baixa e encarou-o de baixo, com os braços cruzados. John engoliu em seco e não conseguiu lhe olhar diretamente.
━Quer ir para o meu apartamento?
━Você tem um apartamento? -arregalou os olhos
━Sim. Mas antes de ir precisamos conversar. -estreitou os olhos, com um sorrisinho enigmático
━Conversar?
━Sobre nossas expectativas.
John ficou vermelho. Havia percebido que ela gostava de ter as coisas do jeito dela. Também tinha notado que adorava ter a atenção dos outros sobre si, de ser olhada e admirada. John gostava de mulheres mandonas e confiantes. Em parte era a razão pela qual havia resolvido dar chocolates para ela. Vez ou outra ouvia suas conversas com a amiga e a achava engraçada, além de linda e perspicaz.
O carro chegou naquele momento e ela entrou no banco do motorista, colocando o cinto em seguida. Vê-la dirigindo deixou John mais animado do que gostaria. A roupa que vestia contribuiu para seu desejo aumentar: calças de couro, uma blusa quase transparente preta com um sutiã por baixo. Sapatos de salto altos. As unhas vermelhas e compridas tamborilavam no volante e, vez ou outra ela dirigia apenas com uma mão. Ao estacionarem em uma rua bonita e bem iluminada, com prédios altos e modernos, Natalie tirou o cinto, respirou fundo e olhou-o com atenção.
━Você é realmente intimidadora. -John murmurou
Natalie riu. Seu olhar foi em direção aos lábios carnudos dele e pensou em mordê-los, como havia desejado antes.
━Gosta de mulheres intimidadoras? -sussurrou a pergunta
━Sim. -John quase gaguejou
━John eu... Não quero te assustar, mas... -mordeu os lábios- Se você subir comigo terá de fazer o que eu quiser.
As bochechas ficaram vermelhas, mas sustentou o olhar dele. Surpreendeu-se com a resposta.
━Sim, senhora.
Piscou várias vezes, chocada, e ele continuou, com nervosismo:
━Prefere que eu te chame de outro jeito?
Um arrepio gostoso percorreu os braços de Natalie. Sentiu uma súbita vontade de rir de alegria. Ele seria perfeito.
━Senhora está bom. Você tem algum limite?
━Gosto de testar meus limites.
━Você já... Fez Isso antes? -Natalie perguntou e ele assentiu
━Uma vez.
━É a minha primeira vez fazendo algo do tipo -confessou
━Tudo bem. -John sorriu e segurou sua mão- Vou gostar de qualquer coisa que fizer comigo. Pode me usar a vontade.
Os pelos dos braços de Natalie se arrepiaram e os lábios vermelhos ficaram entreabertos, em choque. A sensação de ter controle sobre alguém era inebriante. Mordeu os lábios e deu um sorrisinho. Então fez o que tinha desejado desde a ida ao pub: segurou o rosto dele, afundando as unhas levemente na mandíbula bem delineada e puxou-o para si. Beijou-o devagar e John piscou em meio ao beijo, surpreso. Mordeu seus lábios levemente e, antes de afastar-se, ele segurou sua mão e beijou seus dedos. Natalie inseriu um deles entre os lábios carnudos entreabertos.
Seus olhos azuis brilharam e um arrepio gostoso e eletrizante, novo, percorreu seu corpo quando John sussurrou:
━Farei tudo o que pedir.
Ele esfregou o rosto em sua mão, como um cachorrinho, e Natalie encarou o gesto com um olhar vidrado, quase hipnotizada.
━Vamos subir. -murmurou seriamente
John arrepiou-se com a mudança no semblante dela. Minutos atrás tinha corado e agora tinha lhe feito sentir-se pequeno com seu olhar concentrado. Estava tão ansioso para obedecê-la...
_____
O museu estava quase vazio, com apenas alguns adolescentes passeando e fazendo trabalhos escolares. Vincent sabia de cor o nome de todas as obras ali expostas e falou sobre a vida de alguns artistas como um verdadeiro guia. Quando paravam em frente a uma peça chamativa, perguntava para Finn o que achava que aquilo representava. Então começavam um debate interessante sobre os motivos por trás da criação da tal obra.
Percorreram todos os corredores largos do museu. No meio de uma conversa cheia de risadas, sobre o formato peculiar de uma obra, Vincent pegou sua mão. Caminharam pela arquitetura deslumbrante e antiga do lugar com os dedos entrelaçados.
Sentaram-se num banco que ficava de frente para uma tela enorme e colorida. A pintura retratava uma cena campestre, com colinas verdes e uma casa ao fundo. O céu, no entanto, destoava das outras cores, pois era cinza.
Vincent olhou para o lado e gostou de ver Finn concentrado, tentando buscar interpretações escondidas na cena pintada. Os olhos azuis percorreram cada canto com curiosidade. Olhou para os cabelos encaracolados e teve vontade de puxar um cachinho. Abriu a bolsa lateral que usava e pegou um caderno e uma caneta. Começou a escrever, num brainstorming, frases soltas sobre Finn, aproveitando que ele estava distraído.
O loiro, olhando Vincent de soslaio, com os ombros curvados e escrevendo com afinco, sorriu. Então uma memória voltou a sua mente, uma que sempre estivera lá, em seu subconsciente, mas que agora, vendo-o escrever, estava completa.
━Vincent!
Os olhos cor de mel se arregalaram e ele voltou a atenção para Finn.
━Descobriu algo sobre a pintura?
━Você foi meu aluno. -disse, com um semblante chocado
━Como... -Vincent franziu o cenho, mas relaxou-o ao lembrar-se
Anos atrás, os pais tinham insistido em fazer uma viagem. Aquela não era uma cidade turística, mas o pai havia resolvido passar mais tempo do que necessário ali. Vincent foi obrigado a matricular-se num curso de finanças, já que o pai insistia que deveria cuidar do restaurante da família. Não entendeu nada dos cálculos e buscou um professor particular para lhe ajudar. No entanto, tiveram apenas uma aula, pois logo foi embora da cidade e do país, de volta para a Itália.
Não lembrava-se da aula, apenas dos cabelos loiros do professor. Tinha concentrado-se em tentar aprender, por isso não conseguia lembrar do rosto do professor.
Finn, ao vê-lo escrever, lembrou-se do dia, anos atrás, em que tinha dado aula para Vincent. Tinham quase a mesma idade, mas o loiro tinha recém saído do ensino médio e dava aulas particulares para complementar sua renda. Ministrava aulas de matemática para um número razoável de adultos e crianças. Para Vincent, dera apenas uma aula, por isso a lembrança tinha sido esquecida.
━Mas no seu currículo dizia que está aqui há cinco meses...
━Morando sim. Naquela época era só de passagem.
━Seus pais viajavam muito?
Vincent deu um sorrisinho e pôs um braço em volta de Finn. Beijou-o na bochecha e deitou o rosto em seu ombro, adorando o cheiro de lavanda de suas roupas. Com os olhos fechados, riu baixinho. O destino estava lhe pregando peças, pensou.
━Eles são donos de restaurantes. Nasci e cresci na Itália, mas meu pai tem amigos em todas as partes do mundo. Aqui na cidade ele tinha um amigo chefe, então viemos para que eles trocassem experiências. Mas a estadia se estendeu e ele me obrigou a fazer um curso de finanças. Na cabeça dele eu seria o filho que herdaria o restaurante.
━Você tem irmãos?
━Tenho dois irmãos que se dedicaram a outros ramos.
━Mas você se especializou em confeitaria e bebidas para ajudar no restaurante?
━Sim. Mas meu sonho nunca foi cuidar daquele restaurante. Meus pais levam muita a sério as tradições de família. Eu disse inúmeras vezes que queria escrever e ser publicado, mas sempre fui ignorado. Quando contei que gostava de homens fui expulso de casa. E agora estou aqui. Ao seu lado. -sorriu com alegria
━Eles te mandaram embora do país?!
━Não, eu quis vir para cá. Tinha gostado da cidade quando estive aqui. E queria me afastar deles. Foi um choque para eles, como se não bastasse eu não querer cuidar do restaurante eu ainda gostava de homens.
Ficaram em silêncio, processando as revelações que pairavam sobre ambos. Finn entreabriu os lábios várias vezes, fechando-os em seguida, para finalmente revelar:
━Vi você escrevendo e lembrei do dia em que te dei aula. Mas só recordo fragmentos. Naquele ano dei muitas aulas particulares.
━No dia eu estava concentrado, eu queria aprender para agradar meu pai, por isso não lembrei de você. Mas seus cabelos são inconfundíveis, Finn. São lindos.
Finn corou e desviou o olhar. Quando encararam-se, em frente à pintura que parecia alegre, mas que revelava uma melancolia no céu, Vincent inclinou-se e ficou a centímetros dos lábios do loiro.
━Posso puxar um cachinho? -apontou para seus cabelos
Finn fez uma careta e assentiu. Vincent enrolou um cacho nos dedos e puxou-o delicadamente, adorando vê-lo voltar ao formato original e redondo.
━Eu li uma parte do manuscrito. -Finn murmurou, gostando do carinho que ele começou a fazer em sua nuca
━O que achou? Opinião sincera, por favor.
━É a história da sua vida, não?
A parte que tinha lido contava a vida de uma família que morava no interior e tinha suas desavenças. A vida dos personagens era permeada de discriminação, porque eram pobres, até que o filho decide tentar a vida no exterior. Repleto de uma linguagem lírica e poética, Finn chorou em várias partes. Sentiu falta de ar em certos parágrafos, por causa da intensidade da escrita.
━Sim, mas com umas mudanças no enredo. -Vincent deu uma piscadinha- Talvez eu faça outro ajuste.
━É mesmo?
Finn inclinou-se e beijou a mão dele que estava em seu ombro.
━Vou incluir um certo loirinho. -murmurou
Finn sorriu ao ter o rosto segurado e beijado, desde a testa até o queixo. Os lábios foram deixados por último, num toque tão carinhoso que o obrigou a emitir um suspiro baixo. Os dedos de Vincent tocaram sua mandíbula e seus ombros lentamente, numa massagem.
Arrepios de alegria percorreram as costas de Finn e sorriu em meio ao ato. Talvez pudesse confiar no destino dali para a frente...
_____
Na sexta-feira, Archie decidiu limpar toda a casa para tentar tirar dos pensamentos a inauguração da cafeteria. Conforme o sábado se aproximava, mais ansioso ficava. Mas não iria fazer a limpeza sozinho, teria que delegar tarefas ao namorado que nunca tinha passado sequer uma vassoura no chão em toda a vida.
━Você fica com o banheiro. -pegou um balde com água, uma vassoura e um pano e entregou para Marc
━O que eu faço com isso? -apontou para o balde
━Coloque a vassoura com o pano dentro balde e passe no chão. Com força.
━Por que eu tenho que ficar com o banheiro? Eu nunca limpei um banheiro antes.
━Está na hora de aprender então. -murmurou com um risinho
Archie ficou na ponta dos pés e o beijou, empurrando-o para o cômodo que havia designado para ele. Meia hora depois, após ouvir resmungos do namorado, foi fiscalizar o que estava fazendo. Caminhou até o banheiro pronto para mandá-lo para a cozinha, mas ao chegar lá mordeu os lábios ao deparar-se com um Marc só de bermuda, de quatro no chão.
Ele estava tentando pegar algo atrás do vaso. Archie arqueou as sobrancelhas, adorando vê-lo seminu e suado. A pele dourada contrastava com o piso branco. O cós da bermuda era baixo, baixo demais...
Archie teve uma ideia e, sem que ele percebesse sua aproximação, praticamente deitou-se em suas costas, beijando seus ombros com carinho.
Marc assustou-se, mas ao ver que era o namorado, deu uma risadinha baixa.
━Perdeu a vontade de limpar a casa?
━Estou com vontade de fazer outra coisa. -murmurou
Com divertimento, Archie tocou as nádegas durinhas do namorado. Marc tentou tirá-lo de suas costas, sem sucesso. Estava de quatro, no chão do banheiro, sendo tocado naquelas partes em que o outro quase nunca tocava. Apoiou-se no balcão e tentou levantar-se, mas não conseguiu.
Archie já estava animado nas suas costas, perigosamente perto do seu traseiro.
━Archie! O que deu um você?!
━Quero transar. -murmurou em seu ouvido
Quando finalmente conseguiu virar-se e segurá-lo pelos pulsos, encontrou um Archie corado e desejoso. Ele subiu em seu colo rapidamente e beijou-lhe nos lábios, gemendo em meio ao beijo. Abaixou sua bermuda rapidamente e Marc não demorou para ficar ereto.
━Sua bunda é bem durinha.
Marc arqueou as sobrancelhas, chocado com a fala do namorado. Archie riu baixinho e enterrou o rosto em seu ombro com vergonha. Abraçou-o forte e ficaram agarrados e se beijando.
━Marc... -murmurou
Marc soube que ele queria lhe falar ou perguntar algo só pelo biquinho que fez. Segurou o rosto delicado, obrigando-o a lhe olhar.
━Fale, Archie.
━E se eu quiser ficar por cima? -sussurrou
Os lindos olhos verdes brilharam com ansiedade ao encarar os orbes escuros e confusos.
━Você já ficou por cima, esqueceu? E me bateu no rosto.
━Não assim. Se eu quisesse... -Archie olhou para baixo, onde suas ereções se tocavam e cutucou a coxa de Marc na lateral, perto das nádegas- Eu nunca...
Ficou extremamente vermelho. Marc chocou-se com o que ele estava sugerindo. Engoliu em seco e afastou-o para olhá-lo melhor.
━Está dizendo que quer me comer? -começou a rir
Archie revirou os olhos e encostou-se em seu peito, sentindo-se derrotado.
━Nunca fiz isso com ninguém. -resmungou
━Archie, eu já deixei você me dominar. O que está sugerindo é demais.
Não queria magoá-lo, mas não havia outro jeito de falar aquilo. Até porque Marc sempre havia gostado da sua posição na cama e não sentia vontade de trocar. Às vezes tinha curiosidade de saber se era tão bom como Archie fazia parecer, mas logo tirava aquelas ideias da cabeça. Já tinha tentado uma vez, na adolescência, com o mesmo amigo com o qual tinha descoberto suas preferências sexuais. Não havia significado nada e não tinham ido até o final. Marc não gostava de sentir dor.
━Por quê? Somos namorados há bastante tempo, temos intimidade para isso. Eu tenho curiosidade. Queria que você fosse o primeiro.
━Então há a possibilidade de você fazer isso com outra pessoa? -franziu o cenho
━Não foi isso que eu quis dizer. -Archie suspirou- Mas poderíamos tentar outras coisas, eu estou sempre aberto as suas fantasias. -disse num muxoxo
Ele tinha razão, eram namorados há tempo o suficiente para falar sobre aquilo, mas as posições na cama nunca tinham sido um problema. Não que agora fosse, mas a sugestão de Archie indicava que ele queria experimentar. E se ele não matasse sua curiosidade e fosse matá-la com outro homem? Aquilo não aconteceria, pois Arhcie lhe amava, mas... E se fizessem aquilo, ele gostasse e quisesse repetir?
━Eu estou bem forte. -Archie riu e exibiu um dos braços que realmente estavam um pouco mais musculosos
━Você malha quando eu não estou em casa? -apertou o bíceps dele
━Às vezes. Ou seja, estou pronto para te pegar.
Encostou sua testa na de Marc e apertou os olhos verdes ao mesmo tempo em que mordeu os lábios.
━Não vai me responder?
Marc massageou as têmporas, odiando a posição em que estavam, pois não conseguia se concentrar. Se Archie lhe pedisse qualquer coisa e continuasse se movendo sobre seus quadris aceitaria fazer qualquer coisa que ele pedisse. Entretanto, precisava refletir mais sobre aquilo.
Subiu as mãos pela bermuda dele.
━Se ficar de quatro para mim talvez lembre-se do quanto gosta dessa posição. -resmungou
━Você sabe que eu gosto... Já que não quer responder então me faça esquecer da inauguração. Estou muito ansioso.
Marc puxou a camiseta branca dele para cima e beijou-o no tórax.
━Aqui no banheiro?
━Sim.
━No chão?
━Sim, Marc. -disse com impaciência
━Mas e o espelho? Esqueceu do que eu disse? Da próxima vez que transássemos...
━Esqueça do espelho.
━Sabe muito bem que eu não vou esquecer.
━Eu quero transar agora! Aqui mesmo.
Os dentes de Marc fecharam-se no seu mamilo direito e Archie contorceu-se, apertando as mãos nos ombros largos do namorado. A tarde seria longa e prazerosa.
_____
A cafeteria estava tão bem decorada que Archie quase começou a chorar. Na porta uma moça recepcionava os convidados. Nos alto-falantes uma música calma tocava, para combinar com o clima intimista do ambiente. Os convidados, a maioria estrategicamente colocada na lista, visando divulgar a campanha (de acordo com a empresa que contratara) conversavam alegremente.
Alguns garçons passavam por ali com bandejas bonitas nas mãos, equilibrando cafés e comidas. Entre os convidados, Archie viu Ada tirando fotos e filmando o ambiente. Ao aproximar-se da amiga, ela apontou o celular para seu rosto e falou:
━Diga oi, Archiezinho!
Archie acenou com as bochechas coradas e pôs as mãos atrás das costas. Tinha deixado Marc escolher sua roupa e vestia uma camisa vermelha e uma calça jeans preta.
━Vocês lembram do Archie? -ela virou a câmera para si- Eu tirei umas fotinhos com ele e vocês enlouqueceram com a fofura desse querido, dias atrás. Essa é a cafeteria dele, que inaugura hoje. Café das Flores. -filmou o ambiente- Não é incrível? É uma floricultura e cafeteria! Os doces são perfeitos e gostosos. Vou deixar as informações no meu perfil. Beijinhos!
Ela despediu-se dos seguidores com um beijo e abraçou Archie assim que colocou o celular na bolsa. Seus cabelos loiros estavam soltos ela vestia um macacão jeans com uma blusa azul.
━Estou tão feliz por você, Archie! -lhe abraçou com tanta força que Archie arregalou os olhos
━Obrigado por ter vindo. -sorriu quando ela lhe soltou
━Não me agradeça, é o mínimo que eu poderia fazer. Com certeza esse lugar vai ser um sucesso! Vou vir comer aqui todos os dias.
━Seria uma honra ter você aqui!
Archie ouviu a moça que estava na entrada dar boas-vindas a duas pessoas e viu que eram Finn e Vincent. Os dois haviam se tornado amigos, mas perguntava-se se não havia algo a mais entre ambos. Acenou para eles, que retribuíram e foram em direção a uma mesa..
Os garçons estavam servindo mini croissants e salgadinhos chiques com nomes estranhos que Archie nunca tinha comido. Alguém tocou em seu ombro e, quando virou-se deu de cara com Alan. Ele cumprimentou Ada com um beijo na bochecha e abraçou o irmão.
━Hoje é o grande dia então?
━Estou tão animado, Alan! -os olhos verdes brilharam de empolgação
A mãe apareceu em seguida e sorriu para o filho, olhando o ambiente com admiração.
━Archie, esse lugar é tão elegante! E é seu. -Tereza estava maravilhada
━Fico feliz que tenha gostado, mãe. Reservei uma mesa para vocês. -apontou para um lugar próximo à cozinha
━Essa moça bonita é sua amiga? -ela perguntou, olhando Ada com atenção
A loira arregalou os olhos, engoliu o salgadinho que estava comendo e limpou as mãos num guardanapo antes de estendê-la e fazer uma mesura.
━Prazer, eu sou a Ada. A senhora tem um filho incrível, ele é um amor. -segurou os ombros de Archie e deu-lhe um beijinho na bochecha
Tereza fez uma careta, achando estranho o jeito extrovertido da loira, mas sorriu mesmo assim. Ao olhar para Alan, viu que ele estava com um olhar nervoso e admirador para a menina.
━Alan também é um amor. -murmurou, fazendo o filho mais velho corar- Ele é advogado, sabia?
━Mãe... -Alan resmungou e Ada arqueou as sobrancelhas com um sorrisinho
━Eu tenho que marcar um horário com ele.
━Que tal amanhã? -Tereza sugeriu
━Amanhã é domingo. -Alan sussurrou e deu um sorriso constrangido para Ada- Desculpe.
Ada entendeu o que estava acontecendo e quase riu baixinho. A mãe de Archie estava lhe empurrando para Alan! Reparou no terno bonito que ele usava, nos ombros largos, nos olhos verdes e nos traços retos e ao mesmo tempo delicados do rosto. Ele era bonito, mas Ada tinha recém terminado com Julian, que continuava lhe mandando mensagens de desculpas e implorando para ser perdoado. No fundo estava cansada e queria voltar a ser amiga dele, mas também sentia raiva por não ter sido respeitada por ele.
Mas Alan parecia tão nervoso, todo vermelho... Poderia conversar com ele, não? E falaria sobre a loja virtual que gostaria de abrir.
━Tive uma ideia! -Ada cruzou os braços- Posso falar com você, Alan?
Tereza olhou para Archie com alegria no olhar por ter conseguido o que queria.
Alan assentiu, extremamente vermelho e, quando ela enroscou o braço no seu, ficou olhando para o braço dela com o queixo caído. Ada lhe levou até um canto e começou a falar animadamente.
━Acho que os dois vão se acertar, mãe.
━Espero que sim. Alan nunca me apresentou uma namorada.
Archie olhou para o irmão ao longe. Ele parecia chocado e surpreso com Ada. Talvez ele fosse igual a ela? A hipótese tornou-se mais possível em sua cabeça. Alan nunca havia lhe falado sobre namoradas, nunca havia passado por uma fase terrível na adolescência e seus interesses eram todos voltados para a advocacia e os estudos. Talvez Ada pudesse revelar seu outro lado dele. Eles seriam um casal perfeito, se fossem compatíveis.
Tereza sentou-se na mesa designada, feliz pelo progresso e evolução na vida do filho. Ao mesmo tempo sentiu-se triste por ter passado tantos anos irritada com ele. Não tinha sido uma boa mãe, mas se pudesse recompensá-lo pelo tempo perdido o recompensaria. Estava progredindo, pois tentava compreender o namorado do filho, que parecia bastante frio, mas que ao lado de Archie tornava-se dedicado.
A porta abriu novamente e todos pararam para olhar para Leonard, seguido de Ethan. Ambos estavam extremamente bonitos, em ternos elegantes, e formavam um casal lindo.
━Leonard! -aproximou-se e o abraçou com força
Tinha sido graças ao amigo que a reforma na cafeteria havia sido feita. Graças a ele tinha uma cafeteria. Amava-o demais, mas estava preocupado com ele ultimamente. Havia perdido sua alegria e seu jeito falador característicos, estava mais silencioso do que o habitual.
━Como você está?
━Bem. -Leonard deu um sorriso fraco e olhou para Ethan- Acho que vocês se conhecem.
Archie o cumprimentou respeitosamente, lembrando-se do ocorrido no aniversário de Finn. Tinha dito para o asiático levá-lo se quisesse.
Mas a verdade era que Ethan havia insistido em ir e, para ele parar de falar, Leonard tinha concordado. O relacionamento continuava estranho, mas não abusivo como antes. Talvez por isso o asiático estranhasse. .
━O lugar é lindo. Leo me disse que ele fez a reforma.
━Sim, graças a ele estou inaugurando.
━Archie, você merece tudo isso. -disse com um sorriso sincero
Leonard espiou os cantos do lugar e encontrou os cabelos loiros encaracolados num canto. A risada baixinha e melódica dele chegou aos seus ouvidos, fazendo seu coração apertar. Quis aproximar-se e perguntar sobre sua vida, como se não se vissem na Kimura todos os dias.
Finn estava conversando com outro homem e, ao ver quem era, Leonard deu um sorrisinho triste e coçou o pescoço. Ethan apertou seus ombros de maneira sutil.
━Relaxe, está muito tenso.
Archie já tinha se afastado. Leonard ficou olhando para Finn com uma expressão perdida. Adorou vê-lo sorrir e ouvi-lo rir. Mas quando viu Vincent tocar a face angelical, dando-lhe um pedaço de doce na boca, sentiu vontade de chorar.
━Por favor, Ethan, não o provoque
━Não se preocupe. Vá conversar com o seu ex.
Ex. A realidade da palavra lhe fez estremecer. Respirou fundo e caminhou até onde o loiro estava. O rosto ficou quente e, quando chegou na frente dos dois, olhou de um para o outro com uma careta triste e involuntária. Finn franziu o cenho com preocupação.
━Leonard?
━Vocês estão juntos? -a pergunta saiu baixa
━Leonard, como você está?
O tom gentil de Finn tentou mudar o rumo da conversa e Leonard, dando-se conta de que havia sido bastante rude, balançou a cabeça com constrangimento.
━Estou bem. E você?
━Também. Esse é o Vincent.
━Já nos conhecemos. -cumprimentou-o com um sorriso amarelo
━Finn me disse que foi você quem reformou a cafeteria. -Vincent comentou
━Sim. E decorei também.
Os três ficaram se olhando sem saber mais o que falar. Finn coçou a cabeça, Vincent olhou para o chão e Leonard disse, com a voz trêmula, antes de se afastar:
━Vou ao banheiro. Com licença.
Vincent arqueou as sobrancelhas, sentindo a tristeza do asiático de longe. Reparou como Finn engoliu em seco, preocupado com o rumo de Leonard. Segurou sua mão com carinho.
━Quer ir atrás dele? -o tom foi sincero e despido de ironia
━Não. -Finn suspirou, relaxou os ombros e apertou a mão de Vincent com ternura- Esse croissant não está tão gostoso quanto o que você faz.
━Mesmo? -beijou-o na bochecha
━Sim. -Finn ajeitou o colarinho de Vincent- Pode me dar uma aula de culinária um dia?
━Quando quiser, sabe disso. Byron e eu gostamos de ter companhia.
Finn riu e abraçou-o pelo pescoço. Por cima do ombro, viu os dreads de um homem e, ao ver o rosto, Ethan acenou cinicamente e engoliu um salgadinho, afastando-se. Agradeceu por ele ter lhe ignorado. Não precisavam de outro drama num dia tão alegre para Archie.
Ada aproximou-se, cumprimentou Vincent e abraçou o loiro.
━Finn, quanto tempo! Você está bem?
━Verdade! Estou bem e você?
━Estou ótima! -estreitou os olhos para Vincent- Mas eu não conheço você.
━Sou o VIncent, prazer.
━Namorado do Finn?
━Seu namorado, Finn? -Vincent murmurou a pergunta num tom divertido, fazendo o loiro rir
━Bom...
━Não quis constranger vocês, desculpem! Meu Deus, sério... -Ada ficou vermelha e escondeu o rosto nas mãos
Tirou o celular do bolso e viu o numero de likes nas fotos da cafeteria que tinha postado. Sorriu com os comentários e resolveu tirar fotos com Finn.
━Finn, vamos tirar uma selfie?
Finn, que odiava tirar fotos pois não gostava da própria imagem corporal e não se achava bonito, aceitou relutantemente. Ada era querida, então abriu uma exceção para a câmera dela. Sorriu de maneira tímida enquanto ela piscou e fez uma careta.
━Perfeito! Vou postar!
Antes que pudesse pedir para ela não publicar, Vincent beijou-lhe rapidamente na boca e disse:
━Posso ser seu pintor exclusivo, o que acha? Ou escritor? -arqueou as sobrancelhas.
Os olhos cor de mel brilharam e Finn assentiu com a cabeça
━Pode ser tudo isso.
━Mas eu queria ser mais. -Vincent fez um biquinho e começou a rir, adorando ver o semblante de choque do loiro
Os pais de Marc apareceram com Marie no colo e Archie os cumprimentou com alegria. Apresentou-os para o irmão e para a mãe. Todos socializaram bem, mas percebeu o ar de superioridade de Adeline. Talvez fosse coisa da sua cabeça, mas ela tinha o nariz empinado como o de Natalie.
Archie segurou as mãozinhas de Marie e assoprou-lhe um beijinho, fazendo-a dar um sorrisinho.
Seus olhos foram cobertos por duas mãos que conhecia bem e, quando virou-se, abraçou-o com força, de olhos fechados. O cheiro do sabonete de chocolate estava impregnado na pele dele e Archie quis beijá-lo na frente de todos.
Marc deu uma risadinha rouca e beijou-o na bochecha.
━Desculpe pela demora, estava me arrumando.
Ele era o homem mais bem vestido ali. Usava um terno preto apertado, sem gravata, com uma camisa branca de botões dourados. Analisou toda a roupa com admiração e ficou na ponta dos pés para beijá-lo novamente nos lábios.
━Eu te amo.
Marc desviou o olhar, coçou o pescoço e beijou-o no pescoço, fazendo-o se encolher. Então sussurrou, após tomar coragem:
━Eu te amo mais, sabe disso.
Quando afastaram-se, Archie estava corado e quase derretendo de paixão. Marc possuía aquele olhar intenso e desejoso que conhecia bem. Viram Adeline e Tereza conversando, sorrindo uma para outra, e Jacques conversando com Alan, provavelmente sobre advocacia, enquanto Ada segurava Marie e tirava fotos com ela.
A noite transcorreu de maneira tranquila e, quando todos já tinham enchido suas barrigas, principalmente os convidados importantes que a empresa havia contratado, foi a hora do discurso de Archie.
━Gostaria de agradecer a todos por terem vindo hoje. A floricultura sempre foi o meu sonho, mas tivemos que adaptá-lo à realidade de que poucos compram flores hoje em dia. -alguns risinhos foram ouvidos, mas terminaram ao verem um par de olhos raivoso lhes olhando- Então surgiu a ideia de abrir uma cafeteria. Espero que o Café das Flores prospere e que eu, de alguma forma, consiga convencer alguns a comprar umas plantinhas para alegrar o dia de alguém. Obrigado ao Leonard, por ter reformado o lugar. -Archie deu um sorriso para o asiático, que estava na frente de Ethan, bebendo uma taça de champanhe-. Obrigado ao Finn, por me ajudar com os números. -o loiro encolheu-se e deu uma risadinha.- Obrigado ao VIncent, que iniciará essa jornada comigo. Obrigado à Ada, por divulgar e por ser uma ótima amiga. -ela deu um gritinho de comemoração- Mas o agradecimento especial vai para o meu namorado. -as mãos de Archie tremeram ao segurar o microfone
Era estranho chamá-lo de namorado na frente de tantas pessoas e num evento de inauguração da própria cafeteria. Anos atrás jamais pensaria que aquilo seria possível.
━Se não fosse o Marc eu não estaria inaugurando o Café das Flores. Obrigado por me ajudar a realizar meus sonhos, eu amo você. Obrigado pela presença novamente, aproveitem o resto da noite.
Quando terminou de falar todos bateram palmas e Archie foi correndo para os braços de Marc, que lhe abraçaram com carinho, levantando-o alguns centímetros do chão. Sentiu beijos no topo da cabeça e logo recebeu-os por todo o rosto. Começou a rir e tentar esquivar-se.
A porta abriu-se pela última vez e, curioso para ver quem seria o convidado atrasado, Archie arregalou os olhos ao ver Natalie. Ela lhe encarou boquiaberta. Todos a olharam, mas logo o som dos alto-falantes aumentou e uma música pop começou.
Natalie entrou, sentindo-se deslocada e Marc rangeu os dentes. Archie aproximou-se.
━O que faz aqui?
━Eu fui convidada. -disse defensivamente- Não sabia que era a sua cafeteria.
Archie quase pediu para ver a lista de convidados, mas balançou a cabeça, contendo seu ímpeto de mandá-la embora.
━Ada está aqui? Ada! -acenou para a amiga, que tinha um bebê no colo
A loira encarou a amiga com a boca escancarada
━Vá embora. -Marc sussurrou
━Ei, eu fui convidada. O lugar é bonito mesmo. -olhou ao redor e encarou Archie- Aposto que foi muito caro. -deu uma piscadinha e Archie ficou completamente vermelho
Marc foi para trás dela e empurrou-a em direção à Ada. Disse em seu ouvido, num tom ameaçador:
━Se estragar o dia do Archie vou fazer da sua vida um inferno naquela empresa.
Ela bocejou, olhando-o com pena.
━Vou fazer o que você quer, só desta vez.
Quando Marc foi para o lado do namorado, odiou ver a angústia em seu rosto. Inclinou-se e disse:
━Não a deixe estragar sua noite.
━Por que ela foi convidada?
━A empresa escolhe convidados. Ela pertence a uma das famílias mais ricas da cidade, devem ter incluído o nome na lista. E é amiga da Ada.
Archie suspirou, olhou-a de longe com irritação, mas resolveu que não a deixaria atrapalhar o dia mais feliz da sua vida. Portanto, quando viu que Natalie estava olhando, com um sorrisinho cínico no rosto, abraçou Marc pelo pescoço e beijou-o lentamente na boca, encarando-a com raiva. Ela revirou os olhos e voltou a atenção para Ada.
Archie ficou grudado em Marc pelo resto da noite. Não deixou-o sozinho nem por um segundo, com medo de que ela tentasse algo. Sabia que Marc não cederia, mas mesmo assim queria ter certeza. Natalie os ignorou. Bebeu champanhe a noite inteira, pensando em John e no quanto sua rivalidade com Archie estava ficando desnecessária.
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