Fazenda
Julian chegou apenas com uma mochila nas costas. Os olhos vermelhos indicavam ou que estava chorando ou que estava fumando. Marc recepcionou-o com cansaço e vontade de xingá-lo por atrapalhar sua rotina, mas não o fez. Archie havia lhe dito que precisava tratá-lo bem, pois provavelmente ele estava numa fase ruim.
Quando entrou e atirou-se no sofá, Marc cruzou os braços e ficou encarando-o seriamente. Archie olhou-o com nervosismo e perguntou:
━Você está bem?
━Sim, obrigado pela preocupação. -ele sorriu fracamente
Nunca havia visto Julian tão abatido. Ele sempre lhe pareceu extrovertido e alto-astral, não sabia como poderiam ajudá-lo, mas podiam oferecer um quarto para dormir.
━Eu arrumei seu quarto.
━O que exatamente aconteceu, Julian? -Marc estreitou os olhos, indo direto ao assunto
━Você sabe, cara. Encontraram minha erva e me expulsaram de casa.
━Expulsaram para sempre?
━É, eles tem outros filhos melhores. -resmungou
━Logo vão implorar para que você volte.
━Disseram que se eu não arranjar um emprego, nem que seja de lavador de pratos, não entro em casa.
Archie franziu o cenho, visto que aquela havia sido sua profissão no passado.
━Pelo menos é um trabalho honesto.
Julian não entendeu o tom defensivo de Archie, mas então lembrou-se que Natalie importunava o garoto por conta de seu trabalho. Ficou vermelho.
━Desculpe, não foi isso o que quis dizer.
━Quanto tempo pretende ficar aqui? -Marc indagou
━Até o fim do mês? -arqueou as sobrancelhas numa careta e a boca de Marc escancarou-se- Ei, falta uma semana para o final do mês!
━Tudo bem, Julian. -Archie acalmou os ânimos
━Juro que não vou incomodar, Archie. Vocês podem transar quantas vezes quiserem, eu vou fingir que sou surdo.
O rosto de Archie ficou extremamente vermelho e olhou para Marc, que continuava boquiaberto.
━Você fica falando sobre a nossa vida sexual com ele?
━Não!
━Mentiroso. Ele adora falar que consegue transar por horas, Archie. -Julian falou, num tom professoral, balançando a cabeça para cima e para baixo
Archie balançou a cabeça, irritado e disse:
━É mentira.
━Não é mentira e você sabe! -Marc exclamou
Ao longo do dia, descobriram os hábitos e manias daquele visitante indesejado. A primeira coisa que notaram, por exemplo, foi sua agitação. Se estavam assistindo televisão o pé dele balançava sem parar. Estava sempre disposto a buscar coisas na casa, ansioso para mover-se.
Além disso também era bastante inconveniente e não percebia, pois era ingênuo. Ria de algumas coisas infantis e contava piadas sem graça que faziam o anfitrião fuzilá-lo com o olhar. Para piorar, Julian também bebia bastante.
No dia seguinte, Archie chegou em casa após mais um dia cheio na cafeteria, e encontrou-o bebendo cerveja junto com o namorado. Irritou-se e mandou-os colocarem as garrafas vazias, que se espalhavam em suas voltas, no lixo. Ambos obedeceram, Julian rindo e Marc resmungando.
Havia outra coisa que estava incomodando Archie: a cumplicidade entre os dois. Observando-os, notou que tinham piadas internas, provocações que não entendia e só por aquilo sentia vontade de expulsar Julian dali. Marc mostrava-se bem menos travado na presença dele, o que lhe deixava enciumado. Então lembrava-se que os dois eram apenas amigos e que Julian provavelmente, mas sem muita certeza, era heterossexual. Algumas vezes o pegava analisando o rosto de Marc muito intensamente, então tratava de afastar o namorado, preocupado com aqueles olhares.
A vida sexual do casal ficou completamente abalada com aquela chegada inesperada. Archie não queria transar com Julian na mesma casa, pois talvez ele fizesse piadas indecentes das quais não gostaria nem um pouco. Sua decisão gerou uma reação passivo-agressiva de Marc para com Julian. Por causa do amigo não transavam quase nunca e Archie estava numa greve de sexo.
Entretanto, Julian era uma boa pessoa. Tinham proibido-o, expressamente, de fumar maconha e sentiam-se como os pais de um adolescente adulto. Julian bebia bastante álcool e dizia coisas inapropriadas, mas era gentil. E sempre lavava a louça. Além de arrumar os problemas que encontravam na casa. Se havia um problema com as torneiras elétricas, por exemplo, ele consertava. Ou seja, era inconveniente, mas era prestativo.
No meio da semana um Leonard cabisbaixo mandou mensagens para Archie, perguntando se poderia conversar, ao que o amigo prontamente respondeu positivamente e convidou-o para vir à casa de Marc (e sua também).
Antes do asiático chegar, encontrou algumas caixas de papelão com algumas coisas de Marc, como roupas e calças. Ao perguntar o que era aquilo, Julian respondeu:
━Ele pediu para eu colocar as roupas na caixa.
━Por quê? -franziu o cenho, pegando uma camisa de botões bonita
━Eu... -Julian coçou a cabeça, intrigado- Não perguntei.
Archie suspirou e resolveu ignorar as caixas. Marc estava gostando de fazer Julian de empregado. Pedia para ele fazer suas tarefas domésticas, como arrumar o quarto e limpar a cozinha, e o surfista obedecia, já que estava morando ali de graça.
Quando o asiático tocou a campainha e foi atendido por Julian, franziu o cenho.
━E aí, cara? -ele lhe cumprimentou de um jeito heterossexual
Leonard piscou, tentando entender o que ele estava fazendo ali.
━Sou o novo mordomo da casa. Posso pegar seu casaco? -ele fez uma mesura
━Não, obrigado. Quer dizer, eu estou com frio, por isso não vou tirar meu casaco. -disse, atrapalhado
━Relaxa. -Julian riu- Quer chá?
Archie apareceu na porta e, vendo a expressão confusa de Leonard, desculpou-se com o olhar e cumprimentou-o com um abraço. Em seguida puxou-o para longe de Julian, até o sofá, onde Marc estava atirado, assistindo um documentário sobre assassinos.
━Esse tipo de comentário combina com o Marc, o que é muito esquisito. -sussurrou para Archie- Mas faz sentido.
Ele encarou-lhe com o cenho franzido.
━Olá para você também.
━Como vocês estão? -o asiático perguntou
Archie puxou-o delicadamente para sentar-se no outro sofá e, no mesmo momento, Julian veio da cozinha trazendo uma bandeja com chá e biscoitos amanteigados.
━Não me disse que tinham contratado um mordomo, Marc.
Julian colocou uma mão atrás das costas, inclinou-se com a bandeja e disse:
━Por favor, me liberte, estou sendo mantido como escravo. -brincou
━Mordomo e ator? -Leonard arqueou as sobrancelhas e deu um sorrisinho- Que talentoso.
━Anos de teatro.
━É mentira, ele é desempregado. -Marc resmungou
Julian suspirou, largou a bandeja na mesa central e jogou-se em cima dos pés de Marc, que gritou e chutou-o nas coxas. Leonard olhou para Archie com surpresa.
━Adotamos o Julian. -disse, brincando
━Não estou atrapalhando? Desculpe, me sinto idiota agora. Eu estou sozinho em casa.
━Leonard, eu entendo, não precisa se desculpar. -sorriu
━Eu sei servir chás e consertar coisas. -Julian cantarolou- E estou desabrigado.
O asiático começou a rir e Archie gostou de vê-lo mais alegre. Então quase chutou Julian para longe do namorado e resmungou:
━Faça ele rir.
━É para já, meu chapa.
Marc pouco participou da conversa, mas interessou-se quando Julian mostrou suas habilidades de mágica. Leonard estava falando sem parar com ele e Julian dava corda, sempre fazendo uma piadinha sem graça que o asiático achava extremamente engraçada. Archie descansou do fardo de cuidar de Julian por alguns minutos e, silenciosamente, deitou ao lado do namorado e cochilou.
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Finn contou que havia confiado em Vincent e não tinha se arrependido de ter mostrado sua parte mais vulnerável para ele. descreveu para o psiquiatra toda a sua apreensão ao saber do acidente de Leonard. Falou sobre os momentos angustiantes, no hospital e terminou contando sobre a doação de sangue que Vincent havia feito. Comentou também o fato de que o asiático parecia ter aceitado que fossem todos amigos dali em diante. Samuel então perguntou-lhe:
━Como ele reagiu ao ver você e Vincent?
━Bem, eu acho. Ele foi simpático. Leonard é sempre simpático. -sorriu com melancolia
━Acha que ele não ficou triste?
━É difícil dizer. Ele provavelmente escondeu sua tristeza.
━Acredito que ele possa estar sim triste, Finn, mas também acho que você fez um bom trabalho. Mesmo que tenha agido com desespero ao saber do acidente, conseguiu controlar-se e pensar no que precisava ser feito. Ainda por cima fez Vincent conversar com Leonard.
━Acho que Leonard entendeu que estou feliz com Vincent, mesmo que às vezes sinta falta dele. Podemos ser amigos mesmo assim, ele é uma boa pessoa. Mas na verdade não é isso que está me incomodando.
━Então o que é?
Contou-lhe sobre a proposta do fotógrafo. Samuel inclinou-se, uniu as mãos no colo e perguntou:
━Quais são as consequências dessas fotos?
━Não sei direito. Conversarei com o fotógrafo essa semana.
Tinha marcado um horário para conversarem, por mensagem.
━Se já marcou um horário provavelmente já decidiu que vai fazer as fotos. Ou não?
━Eu quero fazer essas fotos para conseguir mais confiança. Acha isso idiota? -fez uma careta, envergonhado e Samuel riu e gesticulou negativamente
━De maneira nenhuma, é um motivo válido. Precisa saber para qual finalidade essas fotos serão usadas e, dependendo da resposta, saiba que poderá haver consequências.
━Quais tipos de consequências?
━Fama, dinheiro ou o oposto. Comentários negativos, depreciativos e críticas. É uma ótima maneira de exercer sua confiança corporal, mas precisa estar atento ao outro lado da moeda.
━Entendi.
━A decisão precisa ser sua, Finn. Para tudo na vida há um lado positivo e um negativo. Mas também deve saber que sem arriscar nunca saberemos nosso potencial.
Saiu da consulta refletindo sobre o que Samuel tinha dito. Já estava tomando os remédios e a tristeza havia tornado-se longínqua em seu dia a dia. O humor tinha estabilizado e sentia-se mais alegre. Os efeitos conhecidos da medicação, como a baixa libido e a tontura, não atrapalhavam o relacionamento com Vincent, que realmente não ligava tanto para aquilo e parecia feliz só de pintar e ler livros em voz alta quando estavam juntos. E assar croissants.
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O encontro com David tinha sido numa cafeteria na zona mais rica da cidade. Finn sentiu-se um pouco deslocado lá e teve um pouco de receio, além de mais dúvidas sobre as fotos. Ao redor, tudo brilhava, desde o piso até ao lustre de cristal. Os garçons lhe atenderam com seriedade e algumas pessoas lhe olharam de cima a baixo.
Escondeu o rosto atrás do cardápio e esperou por David. Quando o viu, ao longe, levantou a mão para chamá-lo. Ele sorriu e aproximou-se. Tinha alguns cabelos grisalhos, mas o rosto era jovial, bem como o estilo de roupas. Usava um óculos de armação simples e tinha olhos castanhos.
━Finn, é um prazer conhecê-lo!
Ele estendeu a mão e Finn apertou-a. David nem ao menos reparou em suas roupas, sentou-se a sua frente e começou a olhar o cardápio. Quando o garçom passou, fizeram seus pedidos, dois cappuccinos.
━Minha proposta é simples e ousada, especialmente porque você nunca fotografou. Quero tirar umas fotos suas para uma marca de roupas de grife, você aceitaria?
Entreabriu os lábios e fechou-os, pensando naquilo.
━Desculpe a pergunta, mas por que eu?
David balançou a cabeça, inclinou-se na cadeira e sorriu com simpatia.
━Porque é esse o meu trabalho. Descobrir pessoas bonitas e fazê-las famosas. As marcas querem ser conhecidas como as primeiras experiências de modelos que se tornarão estrelas mundiais.
Finn franziu o cenho, chocado com o fato de que ele provavelmente tinha descoberto vários modelos famosos.
━Mas não quero que se sinta na obrigação de fazer isso, lógico que não. Serão fotos suas vestindo uma coleção de uma marca. Não quer dizer que virará uma estrela mundial. É um teste. Se gostar do resultado pode continuar na carreira de modelo. Se não gostar nada muda. Simples, certo?
Finn assentiu. Naquele momento o garçom voltou com seus cafés. Agradeceu-o pela bebida e a tomou lentamente, para não se queimar.
━Acho que não custa nada tentar. -murmurou- Mas eu nunca fiz isso, tenho certeza que não serei um bom modelo.
━Bobagem. Não sabe o que uma câmera e um bom fotógrafo podem fazer.
━Certo. Quando podemos fazer as fotos? -perguntou com nervosismo
━Que tal amanhã, no meu estúdio?
Finn engoliu em seco. Não teria tempo para preparar-se psicologicamente, mas talvez fosse melhor daquela maneira, assim não desistiria.
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Ada lixou as unhas de Natalie a aplicou o esmalte final, que dava brilho ao esmalte rosa que ela havia escolhido. Por último apertou o spray secante e tirou uma foto da mão dela.
━Faça uma pose mostrando as mãos.
━Ada...
━Eu sei que você ama aparecer no meu perfil. -provocou-a
Natalie prontamente ajeitou a coluna, ergueu os ombros e o queixo, levou as mãos até o rosto e deu um olhar penetrante e sedutor para a câmera. Os olhos azuis estavam pintados com delineador e uma sombra rosa fraca, quase imperceptível.
Ada tirou a foto e publicou-a no perfil. Sempre pintavam as unhas uma da outra e adoravam tardes dedicadas à amizade que possuíam. Naquele dia, no entanto, eram quase 18 horas da noite e Ada estava nervosa. Os pais tinham ido à fazenda novamente e tinha convidado Alan para lhe visitar, já que ele enviara mensagens dizendo que tinha atualizações sobre os documentos da loja que queria abrir.
━Quer que eu fique aqui com você? Posso me esconder na adega. -disse sugestivamente
━Não precisa. Sabe que sempre que quiser um vinho é só pedir. -Ada piscou
━Hoje não posso, vim dirigindo. -suspirou
Deitou-se na cama de Ada, de barriga para cima e tocou o quadril, percebendo que ainda podia sentir seu osso. Fechou os olhos em agradecimento a si mesma por não ter comido nada naquele dia.
━Vou ficar aqui até ele chegar. Assim ele sabe que se fizer alguma gracinha vai morrer.
━O Alan não é assim. Ele é um amor, igual ao Archie.
Natalie revirou os olhos.
━E como foi sua conversa com o Julian?
━Legal, eu perdoei ele. Gosto de tê-lo como amigo. E talvez ele tenha problemas não-resolvidos quanto à sexualidade.
━Talvez? É óbvio que ele tem. Aposto que Julian tem sonhos eróticos com o Marc toda a noite.
Ada começou a rir e Natalie também. Jogou uma almofada na loira, com cuidado para não estragar as unhas e, quando pararam de gargalhar, perguntou:
━Tudo bem se eu levar o John à fazenda?
Ada deu um sorrisinho brincalhão e Natalie corou.
━John? Mas e o Kevin? Ou quer levar os dois?
━Não! Se bem que seria útil. Um deles poderia secar meu cabelo e o outro poderia lixar minhas unhas. -disse com um sorriso diabólico
━Você é terrível! Mas pode sim levá-lo. Vai ser legal, mas tem que prometer que vai se comportar e não vai provocar o Archie.
━Não vou. Vou ignorar a existência dele. -fechou os olhos e bocejou
Continuaram conversando sobre Kevin e John, até que a campainha tocou. Ada levantou-se, nervosa, e Natalie praticamente arrastou-a aos saltos, de braços dados, até a entrada principal. Lá, abriu a porta e deu de cara com uma versão bem mais masculina de Archie. Ele tinha ombros largos, vestia um terno alinhado, usava óculos e tinha os cabelos penteados para trás, em ondas pretas. Os olhos verdes se arregalaram ao ver Natalie.
━Seu irmão falou de mim para você? Prazer, sou a Natalie. -sorriu e estendeu a mão, ao que ele segurou, sem saber direito como agir- A Ada é minha melhor amiga e espero que você seja legal com ela. -disse de uma maneira ameaçadora e ao mesmo tempo sutil
━Hã... -gaguejou- Sim?
━Para um advogado foi uma péssima resposta. Estou indo, Ada, me ligue se precisar.
Natalie abraçou-a, apertou o braço da amiga de maneira reconfortante e caminhou em direção ao carro estacionado na rua do condomínio. Alan olhou-a se afastar, com o cenho franzido, chocado com a recepção. Ada deu-lhe um sorriso constrangido quando finalmente lhe encarou.,
━Vamos entrar?
Levou-o até a sala de estar e sentaram-se no sofá, lado a lado, em frente à lareira. O dia estava frio e a sala estava aconchegante.
━Me disse que tem novidades sobre a loja?
━Sim. -abriu a pasta preta que sempre carregava e tirou de lá a pasta que Ada tinha lhe entregado- Finalizei a papelada. Está tudo pronto para abrir a loja.
━Mas não ficaria pronta apenas no fim do mês?
━Sim, mas eu me dediquei mais a isso. -Alan coçou a cabeça e corou
Ada baixou os olhos, alegre e empolgada. Alegre porque ele parecia estar gostando da sua companhia e empolgada porque poderia abrir a loja no dia seguinte se quisesse. Respirou fundo e, com as bochechas prendendo fogo, segurou a mão dele.
━Obrigada, Alan.
Ele corou e balançou a cabeça. Sentiu calor com a proximidade e por conta da lareira. Quis afrouxar a gravata, mas ignorou o desconforto no pescoço. O coração acelerou ao ouvi-la rir baixinho.
━Eu acho que você é um ótimo advogado.
━Obrigado.
━Mas um péssimo comedor de tortas.
Começaram a rir juntos e não perceberam que continuaram com as mãos unidas num toque delicado.
Era diferente estar com ele. Com Julian era mais eletrizante, com Alan era calmo, como uma brisa gostosa. Preferia assim.
━Ada... -engoliu em seco e preparou-se para dizer o que havia ensaiado diversas vezes em frente ao espelho- Podemos sair outra vez?
Os olhos castanhos dela brilharam e um sorriso feliz espalhou-se por seu semblante delicado.
━Claro que sim. Mas o que acha de aproveitarmos que está aqui e termos um encontro?
Alan corou com o quão direta ela era, mas assentiu.
━E aonde vamos?
━Para a adega!
E então foram. Meia hora depois estavam cambaleando pela sala de estar, rindo de coisas sem graça e falando frases desconexas. Ada atirou-se no carpete e Alan deitou-se ao seu lado. Após muitas taças de vinho suas cabeças rodavam. Mas estavam mais soltos, por isso Alan disse, sem pensar direito:
━Eu nunca quis um relacionamento sexual. Sempre pensei que relacionamentos amorosos não fossem para mim. Mas eu gostaria de ter algo com você.
Ada arregalou os olhos, chocada com a confissão. Uma pontinha de esperança espalhou-se por seu coração, que apertou de alegria. Tomou coragem e disse, sentindo a cabeça rodar e as bochechas ainda mais quentes:
━Poderíamos trocar carinhos, comer chocolates, assistir filmes... -Ada fechou os olhos, sorrindo ao imaginar aquela relação tranquila que tinha descrito
Alan virou o rosto para encará-la e ficou um pouco perdido com o quão delicados os traços dela eram. Estendeu a mão para tocar sua bochecha e Ada olhou-o diretamente.
━Gostaria de ter um relacionamento assim? -a loira sussurrou a pergunta, quase constrangida- Não vou dar tudo o que você quer.
━Eu não quero, nunca quis isso. -franziu o cenho- Sempre quis companhia, amar alguém. Sexo não é requisito para uma relacionamento.
Ada começou a lacrimejar sem perceber, virou-se e encostou seus lábios nos dele. Um formigamento suave percorreu sua boca lábios e mordeu-os delicadamente sobre os dele, que pareciam paralisados com o gesto.
Quando Alan compreendeu que estava sendo beijado, abraçou-a pela cintura e retribuiu o beijo, segurando-a gentilmente pela nuca. Abraçou sua cintura e puxou-a para cima do próprio corpo. Ela riu e ajeitou-se em seu peito, que subiu e desceu de maneira eufórica.
Inclinou-se e beijaram-se mais calmamente, um beijo com gosto de vinho.
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Os flashes quase lhe deixaram cego, mas com o tempo acostumou-se. Vestiu roupas lindas que nunca tinha experimentado antes. Com cuidado colocou-as no corpo, com medo de estragá-las ou rasgá-las.
A maquiadora elogiou seu rosto:
━Nem preciso fazer retoques, você tem a pele perfeita, o rosto perfeito!
Finn corou e agradeceu, sabendo que ela estava sendo muito gentil.
Na hora de fotografar não havia quase ninguém no estúdio. David deixou-o confortável e quebrou o gelo, como Ada tinha dito, com piadas. Disse-lhe para imaginar que estava em situações absurdas e cômicas. No início fez caretas envergonhadas, sentindo-se ridículo, mas aos poucos foi perdendo a timidez. Então as fotos começaram de verdade.
David deu-lhe instruções simples e objetivas. Disse como deveria se portar, quais posições deveria fazer e quais expressões faciais estava buscando. Não foi difícil imitá-las, pois as fotos eram sérias e mecânicas, específicas para mostrar as roupas. O mais difícil foi lidar com a própria imagem corporal. Mas a todo instante lembrou-se dos conselhos de Samuel e isto lhe ajudou a superar a falta de confiança.
Nem percebeu que havia chegado ao fim, só quando as luzes apagaram e as do estúdio acenderam notou que haviam mais pessoas do que imaginava ali. Sorriu com vergonha e agradeceu a todos. David lhe chamou para ver algumas fotos e ficou chocado com o resultado. Os ângulos, as cores, as roupas, tudo estava perfeito. E o rosto era realmente bonito e proporcional.
━Como sabe a campanha será liberada no fim do mês, em uma semana.
━Entendi.
━Curta seus últimos dias no anonimato, Finn Dawson.
Um arrepio percorreu sua espinha e assentiu, sem saber direito como responder. No celular, havia várias mensagens de Vincent perguntando como havia sido o ensaio. Disse que tudo tinha ido bem e convidou-o para fazer algo que ainda não haviam feito: ir ao seu apartamento recém decorado.
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Na Kimura, Leonard respondeu a mais e-mails. Após voltar ao trabalho tinha conseguido novos clientes. E também possuía muitos projetos para finalizar, o que lhe deixava aliviado, pois lhe dava algo em que pensar que não fosse nos términos desastrosos com Ethan e Finn.
Passava os dias comendo saladas e tomando chás. Dormia abraçado no travesseiro aromático, o primeiro presente que havia recebido de Finn. De dia criava os projetos arquitetônicos e de noite, tentava distrair-se com algo para não pensar no loiro.
Então baixou um aplicativo de relacionamentos, mas não gostou do que viu. Sentia que estava fingindo ser uma versão muito mais alegre de si mesmo do que realmente era. Era respondido de maneira pouco animada e os homens só queriam saber de sexo. Não que o asiático não sentisse falta daquilo, pelo contrário, mas achava que precisava passar por um período pouco sexual para entender-se melhor. Por fim perguntou-se por qual motivo estava buscando um relacionamento. Por que não podia ficar solteiro? Por que precisava sair com alguém ou buscar alguém? Pessoas solteiras não eram incompletas.
Percebeu que não precisava estar numa relação para ser feliz. Poderia ser feliz fazendo outras coisas, como cuidar da sua horta, dos jardins de casa, da Kimura e da mãe, a quem ia visitar todos finais de semana, como prometido. Na casa dela esquecia-se da vida um pouco. Lá era calmo, mas também agitado por conta das visitas dos primos. Sentia-se bem, ria bastante e, aos poucos voltava a ficar alegre. Era bom estar sozinho, podia pensar e refletir com mais tranquilidade.
O dia de ir à fazenda aproximava-se, mas não estava mais tão preocupado com o fato de que veria Finn e Vincent juntos. Também veria Ada, de quem gostava muito, e Archie. E Julian, que havia mostrado ser muito engraçado. Poderia conviver com aquilo. Finn estava feliz e poderia ser alegre sozinho e longe dele, mesmo que fosse mais difícil e doloroso. Mas estava lidando com as consequências de uma escolha errada, não podia exigir muito, sabia.
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Vincent entrou no apartamento que cheirava à uma comida específica que Finn adorava e que tinha berinjelas na preparação. O lugar era maior que o seu estúdio e adorou a decoração minimalista. Todos os móveis eram modernos, brilhavam e tinham cheiro de novos, pois haviam sido recém comprados.
Na sala havia um sofá pequeno, um tapete branco e uma televisão de plasma. A cozinha tinha eletrodomésticos novos e a sala possuía plantas nos cantos.
A mesa pequena, de vidro, estava posta com uma toalha branca e um conjunto de louça simples e bonito. No centro da mesma viu uma travessa com uma lasanha que fumegava.
━Tudo isso para mim? -Vincent perguntou ao sentar-se
━Sim, para comemorarmos as fotos.
━Estou feliz por você. -Vincent segurou a mão do loiro e Finn apertou-a com carinho
━Gostei das fotos. Trouxe uma para te mostrar.
Finn vasculhou a galeria do celular até encontrar a foto que queria e estendeu o aparelho para o namorado ver. Vincent abriu um sorriso largo e cheio de covinhas e ficou olhando para a tela por longos segundos, reparando em cada canto. O loiro quis beijá-lo, de tanto amor que sentiu.
━Você está estonteante.
Riu com o uso daquele adjetivo.
━Mas você é assim todos os dias, então não estou surpreso.
Finn corou com o elogio e inclinou-se para beijá-lo nos lábios. Serviu um pedaço de lasanha para ele e um para si.
━Depois vamos fazer o tour do apartamento.
━Mal posso esperar.
Continuaram comendo e conversando animadamente sobre as fotos até que Vincent recebeu uma mensagem. Pegou o celular, quase guardando-o novamente, não querendo estragar o momento, mas o remetente chamou sua atenção: era o nome de uma editora. Abriu e começou a ler. Seus olhos foram se arregalando conforme os passava pelas palavras e as entendia. Quando olhou para Finn, que lhe encarava com ansiedade e preocupação, exclamou:
━Eu vou ser publicado. Meu livro vai ser publicado!
Finn bateu palmas de felicidade, levantou-se e abraçou-o, sentando-se em seu colo. Vincent continuava boquiaberto, encarando a tela do celular. Beijou-o na bochecha e sussurrou:
━Você merece.
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Mais tarde, naquela mesma semana, todos receberam uma mensagem que deixou-os chocados, pois era de Marc. Mas quando começaram a entender o que ele estava preparando, quase não puderam acreditar. E havia um pedido especial para cada pessoa: Finn, Leonard, Ada e Alan.
Cada um teria um papel a desempenhar naquela surpresa que Marc estava preparando. Ficaram extremamente animados com a os pedidos, sabendo que o resultado seria incrível. Uniram-se e conversaram num grupo privado sobre o que fariam, trocando ideias e parabenizando Marc pela ideia.
A ida à fazenda de Ada tornaria difícil manter o segredo, mas prometeram que não falariam nada sobre aquilo enquanto estivessem lá.
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A casa da fazenda tinha um gramado enorme em volta, além de uma piscina grande no quintal. A arquitetura era colonial no exterior e, por dentro, a decoração moderna contrastava com a fachada. Possuía móveis rústicos e robustos, mas os ambientes de lazer eram repletos de conforto e tecnologia.
O primeiro a chegar tinha sido Alan, que havia dirigido ao lado de Ada. Chegaram às 6 da manhã e a loira logo puxou-o pela casa enorme para mostrar-lhe todos os cômodos. Após o tour pela casa enorme, o café da manhã foi servido pelos dois empregados que Ada adorava, Jena e Steve. Liberou-os rapidamente para fazerem o que quisessem, já que gostaria de ficar sozinha com os amigos durante o final de semana.
Comeram omeletes com espinafre, bolo de laranja e café com leite. Alan mastigou tudo lentamente, gostando do sabor forte do leite em todas as comidas.
━Pronto para ordenhar as vacas?
Alan parou de mastigar e engolir tudo numa mordida só.
━Seus amigos não vão chegar logo?
━Vão, mas temos tempo. Não fique acanhado -ela deu um sorrisinho brincalhão
Ao terminarem de comer Alan espantou-se com a quantidade de comida que cabia num corpo tão pequeno como o de Ada. Quando terminaram, colocaram a louça na pia e seguiram para a parte exterior.
Perto dos estábulos havia uma área enorme e verde onde algumas vacas pastavam. Elas deram um mugido quando Ada aproximou-se após pegar uma caneca, um balde e um banquinho.
Alan admirou o macacão jeans e as botas amarelas que ela usava. Olhou para si mesmo e torceu o nariz, pois tinha colocado a roupa menos formal que havia encontrado, uma camisa branca de mangas curtas por cima de uma camiseta de algodão branca com uma calça de moletom. Nada fashion, mas era bom estar livre da gravata.
Ada colocou o banquinho ao lado da vaca e fez uma mesura engraçada.
━Por favor, honre a vaca com suas mãos.
Alan começou a rir. Sentou-se no banco e pensou no que deveria fazer. Sabia como ordenhar uma vaca, porque já havia visto em filmes, mas fazer era diferente. Apertou as tetas do animal, que mugiu baixinho, e o líquido saiu rapidamente. Ada estendeu-lhe o balde.
Conversaram sobre a fazenda, sobre os animais que possuíam e Alan espantou-se ao entender que estava se apaixonando cada vez mais por ela. Admirou-a falar sem parar, adorando as caretas que fazia, o jeito expressivo e os gestos com as mãos... Lembrou-se do beijo na adega, do jeito bêbado como haviam trocado carícias e riu ao recordar que tivera que sair de manhã pela janela, escondido, pois os pais dela tinham chegado.
Estava perdido em pensamentos, admirando-a tagarelar, quando ouviu passos rápidos. Uma moça bonita, que já conhecia, tocou os ombros de Ada e a fez pular de susto. A loira virou-se e, ao ver quem era, abraçou-a.
━Natalie! Onde está o John?
━Está vindo. Olá, Alan.
Natalie analisou-o melhor e, sob a luz do sol ele mostrou-se bem mais bonito do que tinha percebido anteriormente. Não iria ameaçá-lo, pois pelo que Ada tinha dito ele tinha algo que Julian não possuía, noção. E os olhos verdes brilhavam toda vez que encarava a amiga, então resolveu dar-lhe uma chance, mesmo que fosse irmão de Archie.
Dirigiu até a fazenda com John ao lado. No meio do caminho ele pediu permissão para colocar uma música e Natalie começou a rir ao escutar a música country que começou a tocar.
━Para entrarmos no clima. -ele corou, rindo da própria piada
Conversaram sobre coisas amenas durante o caminho e agradeceu pelo assunto Kevin ter sido deixado de lado. John pareceu nervoso ao seu lado, pois limpou as mãos suadas na bermuda várias vezes. Num determinado ponto do caminho Natalie entrelaçou os dedos nos dele, sem tirar os olhos da estrada. Foi o suficiente para tranquilizá-lo. Ele contou-lhe sobre a irmãzinha e sobre desejar ter filhos um dia. Natalie teve vontade de parar o carro e apertá-lo, pois ele ficava ainda mais bonitinho falando sobre crianças. Quem o visse, com seus quase 1,90m de altura, não imaginaria o quão doce era.
John aproximou-se de Ada. Alan reparou no quão alto ele era. Natalie usava um salto enorme, percebeu, por isso a diferença de tamanho não era tão extrema entre ambos.
━Olá, Ada. -ele disse timidamente
━Oi, John!
Alan levantou-se, aproximando-se dos dois.
━Prazer, Alan.
Estendeu a mão e ele a apertou com um sorriso simpático.
━Natalie, coloque uma roupa mais fresca. -Ada murmurou para a amiga, que vestia uma camisa branca para dentro de uma calça preta de cintura alta
━Em qual quarto vamos ficar?
Começaram a caminhar para dentro da casa, afastadas de John e Alan, que vinham atrás atrás.
━Você vai ficar com John. Eu vou ficar com Alan.
Um rubor espalhou-se pelas bochechas da loira. Natalie mordeu os lábios e disse:
━Eu pensei que íamos ficar juntas.
Ao notar o tom chateado da amiga, Ada preocupou-se.
━Desculpe, eu pensei que quisesse ficar com John.
━Eu quero. Mas nunca ficamos próximos assim.
━Se comporte, mocinha. -Ada brincou, semicerrando os olhos
━Diga isso aos outros hóspedes que acabaram de chegar, não para mim.
Natalie olhou por cima do ombro e viu o carro que Marc havia comprado há pouco tempo aproximar-se. Quando Julian saiu do veículo, usando uma regata e uma bermuda, arqueou as sobrancelhas. Archie saiu em seguida e então Marc, usando óculos escuros modernos e estilosos.
John veio para seu lado e repousou a mão em sua cintura de maneira tímida, tão sutil que quase não sentiu. Ele estava nervoso e queria agradar, pensou com carinho. Segurou a mão dele e levantou os olhos azuis para seu rosto, dando um meio-sorriso. Ele corou, completamente perdido em seu rosto e Natalie mordeu os lábios.
Archie viu quem estava ao lado de Ada de longe e respirou fundo, preparando-se para as provocações dela. Aproximou-se de mãos dadas com Marc, que estava usando óculos que lhe deixavam ainda mais sexy. Além disso poucas vezes tinha visto o namorado usando bermuda e gostou de ver as pernas expostas e torneadas dele. Julian deu uma corridinha até Ada, abriu um sorriso e cumprimentou-a:
━Olá, princesa.
A loira corou com um pouco de constrangimento e Alan, agora ao seu lado, franziu o cenho, sem entender. O surfista olhou para o irmão de Archie e, ao perceber o clima entre ele e a anfitriã, pigarreou e coçou a cabeça com constrangimento.
━E aí, cara? -estendeu a mão para ele, que apertou-a
Archie abraçou a amiga com carinho e ia cumrimentar Natalie, mas olhou para cima e viu um rapaz alto e bonito. Ele estendeu a mão.
━Olá, eu sou o John.
━Prazer, Archie.
Os olhos azuis lhe encararam de maneira semicerrada, como se lhe desafiassem a dizer algo, mas Archie apenas deu um sorriso simpático.
━Olá, Natalie.
━Olá, Archie.
Marc acenou para todos, recusando-se a cumprimentar um por um. Franziu o cenho ao olhar para o rapaz desconhecido e ficou encarando-o daquela maneira pouco simpática e desconfiada até ver a mão dele na cintura de Natalie. Encarou a ex-namorada e quase começou a rir. Seriam para ele os conselhos que ela tinha pedido? Pobre rapaz.
━Finn e Leonard estão a caminho? -Ada indagou, curiosa
━Acho que sim. -Archie respondeu e pegou o celular- Sim, estão chegando agora.
O barulho de carro alertou a proximidade dos amigos. Finn saiu primeiro, Vincent depois e, para surpresa de todos, Leonard foi o último a pôr os pés para fora. Era o asiático que tinha dirigido até ali e Archie ficou feliz ao constatar que após o acidente o medo dele de dirigir não havia perdurado.
Vincent entrelaçou as mãos nos dedos de Finn e aproximou-se do grupo. A casa ficaria cheia, pensou, mas ao olhar para o tamanho da construção, soube que teriam espaço de sobra. Cumprimentou um por um com um sorriso e aperto de mãos; Finn e Leonard fizeram o mesmo. Tinham feito uma viagem tranquila durante a qual o loiro sentou-se ao lado de Leonard e tinham conversado bastante durante o trajeto. Falaram sobre pintura, arte e comida.
━Separei um quarto para cada casal.
Leonard sentiu-se um pouco deslocado, visto que não tinha mais um namorado, mas não corrigiu a amiga. Sorriu e pegou a mala de mão que havia trazido. Julian foi para seu lado e murmurou:
━Acho que somos um casal agora, cara.
Todos pegaram suas bolsas e bagagens e entraram na casa enorme. O andar superior era dedicado às suítes e todas possuíam a mesma decoração: um tapete de lã de ovelha, uma cama grande e confortável, uma televisão e uma pequena lareira.
A manhã foi dedicada aos banhos, organização das malas, cochilos e trocas de roupas. A tarde começou quente e, por isso Ada sugeriu uma festa na piscina, ao que todos concordaram.
_____
Nícolas olhou, com uma careta, para a piscina e para o monte de gente que havia ali. Ada raramente convidava amigos para a fazenda e a única do grupo que conhecia era Natalie. Avistou-a de longe, usando um biquíni preto ao lado de um rapaz alto.
O ponto positivo daquela superpopulação era que poderia pegar emprestado alguns dos homens para lhe ajudar a administrar medicação para alguns animais. E poderia aproveitar para usá-los como ajudante.
Bocejou e foi em direção à irmã. Os olhares de todos lhe seguiram.
━Vou ficar na minha casa. -tinha uma propriedade dentro da fazenda onde passava os dias- Se algum cara estiver livre pode mandá-lo para mim? Preciso de ajuda com alguns animais.
━Certo, maninho. Mas meus amigos vieram para se divertir, não para trabalhar.
━Tchau, Ada -resmungou e saiu sem cumprimentar ninguém.
Ada revirou os olhos e serviu-se do suco de melancia que tinha preparado. Pegou uma fatia de pizza que haviam pedido e a comeu lentamente. No aparelho de som uma música pop alta tocava. Alan estava sentado, parecendo deslocado e a loira logo aproximou-se para conversar e tentar animá-lo com sua tagarelice.
━A Ada tem um irmão? -Archie murmurou a pergunta para Marc
Ele pegou um pedaço de pizza e começou a mastigar, dizendo para si mesmo que iria fazer o dobro de exercícios quando chegasse em casa. Sentou-se ao lado de Archie na piscina e beijou-o no ombro.
━Nunca falamos sobre nossas famílias.
Archie percebeu, com desconforto, que Natalie estava sentada a sua frente, na beirada da piscina. John estava na água, debruçado ao lado dela e conversando animadamente. Ela vestia um biquíni preto que valorizava suas curvas. Vez ou outra reparou alguns olhares de Marc e deu-lhe um beliscão.
━Pare de olhar para ela. -ficou irritado
━Não estou... -começou a defender-se
━Está sim.
━Há quantos dias não transamos?
━Não interessa -Archie ficou vermelho e cruzou os braços.
Era inevitável olhá-la de vez em quando. Não com desejo, mas sim porque a achava bonita e também gostava de mulheres. Entretanto, lhe agradava mais ainda ver Archie enciumado. Deu-lhe um sorriso diabólico e tocou suas coxas por cima do calção de banho.
━Ciúmes? Porque não coloca um calção menor? -puxou o tecido discretamente para baixo e Archie encolheu-se com vergonha
Todos estavam conversando animadamente. O namorado puxou mais seu calção, espiou dentro das calças e sussurrou:
━Vamos para o quarto?
━Não, Marc -empurrou-o com o ombro levemente, mas Marc perdeu o equilíbrio e caiu dentro da piscina
Recebeu um olhar enviesado e irritado que tornou-se ainda mais raivoso ao ver todos rindo. Archie sentiu um pouco de pena, mas afastou-se rapidamente para conversar com Leonard.
_____
Mais tarde, Finn e Vincent foram para a cozinha preparar um lanche para todos. Enquanto isso Ada, Archie e Marc seguiram para os estábulos. Como prometido ela liberou sua égua favorita, Ellis, e ajudou Archie a montá-la. Na verdade Marc ajudou-o, segurando-o pela cintura e impulsionando-o para cima.
Quando sentou-se nas costas do animal branco que tinha um pêlo lustroso, o coração de Archie acelerou e uma sensação de euforia espalhou-se por seu corpo. Ada segurou a rédea e começou a caminhar ao seu lado, guiando o animal. A égua era calma e seu trote era manso. Aprendeu alguns comandos básicos para guiá-la e, por fim, encarou Marc.
━Não quer montar, Marc? -deu uma piscadinha
Marc olhou para o namorado, que estava extremamente sexy usando aquelas roupas de montaria e balançou a cabeça negativamente. O obrigaria a ficar com aquelas roupas até que estivessem sozinhos.
━Eu passo.
Ada suspirou com frustração, vendo que seu plano de dar o cavalo mais malcriado para Marc montar tinha ido por água abaixo.
━Vamos dar umas voltinhas então.
Percorreram alguns quilômetros da propriedade e, quando Archie sentiu-se seguro, Ada afastou-se e deixou-o guiar sua égua. Ficou cuidando-o de longe. Ellis era comportada e acalmava os cavaleiros de primeira viagem. O trote tornou-se mais rápido e Marc engoliu em seco com preocupação.
━Relaxa, papai -Ada riu.
Novamente aquela palavra. Revirou os olhos e cruzou os braços, encostando-se na cerca do estábulo.
O vento que tocava o rosto de Archie era quente e gostoso. Era bom estar ali, andando a cavalo pela primeira vez, sendo observado pelo namorado e pela amiga. Sentia uma sensação de liberdade encher seu peito. Gostou de guiar Ellis e acariciou seu pescoço devagar algumas vezes, com um pouco de hesitação. Ela era boazinha e não reagiu aos seus toques com brusquidão. Archie abriu um sorriso enorme e trotou em círculos, testando a velocidade conforme pegava confiança no animal.
Gostou tanto de cavalgar que não percebeu os minutos passando. Quando voltou para perto de Marc, a amiga já tinha entrado e o sol estava mais baixo no horizonte.
━Vai ter que me ajudar a descer.
━Com o maior prazer -Marc deu um sorrisinho torto
Estendeu os braços, sentindo-se como uma criança e Marc segurou-lhe por baixo das axilas. Quando pôs os pés no chão, foi abraçado por um par de braços fortes. Recebeu beijos no rosto, no pescoço e toques nada castos pelas coxas. Afastou-se, rindo e sentindo cócegas.
━Vamos colocá-la no estábulo.
Marc grunhiu e entrelaçou os dedos nos dele. Levaram a água para onde estava antes. Então começaram a caminhar em direção à casa.
━Vou tomar um banho. Suei bastante.
━Não -Marc disse, decididamente.
Caminhou ao seu lado com um sorriso enigmático no rosto bonito. Archie estreitou os olhos.
━Não? Como assim?
━Não vai tirar essas roupas. Só depois, mais tarde.
━Eu estou suado -resmungou
━E daí? Gosto do seu cheiro.
O rosto esquentou e foi abraçado novamente pela cintura. Recebeu um beijo no pescoço e constatou, com resignação, que o romantismo de Marc era sempre relacionado a sexo. Mas não importava, gostava. Além disso ele continuava se esforçando para ser mais carinhoso no dia a dia, bastava.
_____
John e Alan arrumaram o entorno da piscina, colocando copos na pia e todo o lixo em sacos plásticos. Enquanto isso Julian dormia numa espreguiçadeira perto da água. Olharam para ele, que parecia cansado, e resolveram deixá-lo ali e ir para dentro.
Na cozinha, Finn e Vincent andavam para lá e para cá. Suas habilidades culinárias se complementavam e, ao contrário de muitos casais, não brigavam ao cozinhar. Gostavam de aprender um com o outro.
Enquanto cozinhavam e sujavam louças, John e Alan lavavam o que era utilizado. Na sala, Natalie, Leonard e Ada estavam colocando a mesa quando Marc e Archie entraram.
Archie empurrou o namorado escada acima, disposto a transar o mais rápido possível com ele para que aquietasse seus desejos que começavam a ficar cada vez mais desesperados.
Lá fora, Julian foi sacudido por um par de mãos fortes e nada delicadas. Abriu os olhos, perdido, e viu um rosto desconhecido em frente.
━Cara, qual o seu problema? Eu estava dormindo! -exclamou com chateação por ter sido acordado
Nícolas revirou os olhos e estendeu a mão. Julian reparou melhor nele, sob a luz do sol, e viu que era extremamente parecido com Ada. Tinha cabelos loiros num tom acobreado e olhos cor de avelã.
━Venha me ajudar.
━Ei, eu nem te conheço direito!
━Mas está na minha casa.
Julian bufou, mas seguiu Nícolas. Entraram num galpão enorme onde no centro havia um cavalo num brete de madeira. Ao lado havia uma mesa com alguns instrumentos e objetos que não conhecia. O animal parecia apático e cabisbaixo. Quando aproximaram-se não moveu-se. De perto, viu algumas lesões circulares e vermelhas no peito do animal.
Julian foi para trás do animal, curioso, e Nícolas disse, com impaciência:
━Saia de trás dele, por acaso quer levar um coice?
━Ele está tão triste que não vai me machucar. -resmungou, mas afastou-se
━Segure o buçal para mim.
Julian franziu o cenho, gesticulou de maneira vaga e perguntou:
━O quê?
Nícolas suspirou com aborrecimento e caminhou com passos duros até a frente do cavalo. Segurou e puxou o buçal, que nada mais era do que um arreio que ia da cabeça até o pescoço do bicho. Estendeu-o para Julian.
━Segure com firmeza. Vou aplicar um tratamento nele.
━O que ele tem?
━Pitiose equina. É uma doença de pele causada por um fungo.
Enquanto Nícolas retirava um líquido de um frasco pequeno e colocava numa seringa com agulha, Julian reparou mais de perto nas lesões do cavalo, que estavam vermelhas e eram feias de se olhar, mas não ocupavam muito espaço no peito dele. O pêlo marrom estava opaco e viu, no olhar do animal, um certo cansaço. Ou talvez estivesse calmo, Julian não fazia ideia de como interpretá-lo.
Nícolas aproximou-se, puxou um pouco da pele do animal na região do pescoço e injetou a agulha ali. O cavalo piscou, moveu a pata da frente e relaxou assim que a seringa saiu de sua pele.
━Deve doer. -Julian murmurou, largou o buçal, espreguiçou-se e disse: Você é irmão da Ada?
━Sim.
Percebeu que ele era de poucas palavras. Bocejou e reparou que haviam algumas galinhas ciscando pelo galpão. Lá fora ouviu barulho de pássaros e o relinchar de cavalos.
━Mora aqui?
━Espero que não esteja se referindo ao celeiro. -Nícolas comentou com ironia e começou a lavar as mãos num balde- Moro na fazenda, não na casa principal, mas numa casa separada.
━Posso ver?
━Por que quer ver minha casa? -arqueou as sobrancelhas com curiosidade
━Eu não tenho nada para fazer, cara. -resmungou- Enchi o saco dos meus amigos e agora eles estão cansados de mim.
━Como assim?
Níscolas secou as mãos nas calças e arqueou as sobrancelhas, intrigado. Tirou o cavalo do brete com cuidado e ele logo trotou para fora do galpão.
Reparou melhor no amigo de Ada e notou que tinha a pele bronzeada, o que indicava que gostava da praia. Os olhos verde-olivas mostravam certo cansaço, mas também tinham um brilho divertido. O jeito largado e tranquilo era tão diferente do seu... Onde a irmã arranjava aqueles amigos?
━Fui expulso de casa.
Resolveu não perguntar sobre os motivos por trás da expulsão. Em vez disso, falou:
━Preciso de um assistente, se quiser a vaga é sua.
Não gostava de contratar pessoas sem conhecê-las, mas ele era amigo de Ada e parecia extremamente perdido. Era jovem, forte e podia lidar com os animais, além de não ter lugar para ficar, pelo que tinha entendido.
━E tem um quarto para mim?
━Na minha casa. Vamos, queria conhecê-la, não?
Nícolas deu um sorrisinho torto e começou a caminhar sem olhar para trás, com as mãos nos bolsos da calça. Julian piscou várias vezes, ainda pensando na proposta de trabalho e ponderando se deveria aceitar. O que os pais achariam daquilo? Poderia viver no campo e levar uma vida tranquila e sem preocupações, também aprenderia a cuidar da fazenda... Gostou de imaginar-se ali, mesmo que em sua mente a imagem era bem mais parada do que o dia a dia na fazenda realmente era.
Percebeu que Nícolas se afastava e, quando alcançou o irmão de Ada, recebeu um risadinha estranha dele e um olhar misterioso. Desviou os olhos dos dele, sentindo-se um pouco intimidado.
━Meu nome é Nícolas.
━Julian.
━Bonito.
Julian franziu o cenho, fez uma careta e encarou-o, sem entender direito o que havia achado bonito. Nícolas deu-lhe um sorrisinho torto e pôs as mãos nos bolsos da calça jeans. Talvez estivesse enxergando flertes onde não haviam. Mas ele tinha um jeito parecido com o de Marc, pegou-se pensando sem querer...
_____
Enquanto isso, no andar superior da casa, Marc empurrou Archie para a cama, segurou sua nuca de encontro ao colchão e começou a puxar o cós das calças pretas de montaria para baixo.
━Marc, todos estão nos esperando! - Archie protestou
Seu rosto estava sendo pressionado contra o colchão macio. Os dedos do namorado apertaram a pele das suas coxas, que agora estavam expostas. O corpo começou a reagir e o calor fez alguns pingos de suor escorrerem por sua testa.
━Eu preciso transar. -Marc sussurrou- Estou ficando louco.
━É por isso que olhou para Natalie na piscina? -Archie o provocou
Marc revirou os olhos e abriu o zíper da bermuda que vestia. Admirou o corpo pequeno que estava a sua mercê, apertou a bunda dele e puxou com força as calças, para marcar a pele branca. Usou a saliva para facilitar a própria masturbação.
━Anda logo. -Archie disse, abafado pelo colchão
O coração acelerou e o rosto ficou quente. Sentia falta do sexo também e saber que Marc iria penetrá-lo logo lhe deixou mais ansioso ainda. Não queria fazer aquilo na casa da amiga, mas o outro não iria sossegar enquanto não transassem. Torceu para que Marc fizesse aquilo o mais rápido possível. Não tinham muito tempo, o lanche estava quase pronto...
Sentiu-o esfregar o membro em sua entrada. Mordeu o lençol.
━Vai doer. -Marc resmungou, lambeu os próprios dedos
━Eu sei.
Archie fechou os olhos enquanto era preparado pelos dedos habilidosos. Tinha se precavido antes de sair de casa, sabendo que assim que Marc encontrasse um tempo sozinho iriam transar.
Quando sentiu-o pedir espaço em seu interior, mordeu com força a própria mão. A camisa foi puxada, teve as coxas apertadas e levou beliscões fortes na cintura. Em instantes começou a tremer de prazer.
Marc grunhiu com o aperto em volta do próprio membro, sabendo que não conseguiria segurar por muito tempo. Puxou-o pelos cabelos e beijou suas bochechas da melhor forma que pôde. Apertou seu queixo, enfiou dois dedos em sua garganta e mordeu-o no ombro para abafar os próprios gemidos.
Archie mordeu os lábios. Ele estava demorando. Os amigos estranhariam o sumiço... Por isso, virou-se de lado e, com toda a força que arranjou, jogou Marc para o lado e sentou-se em seu quadril, sem tirá-lo de seu corpo.
Ele arregalou os olhos, surpreso com o movimento, mas Archie franziu o cenho e colocou uma mão em cima de sua boca.
━Sem fazer barulho. -disse baixinho
Marc apertou os olhos, gostando de ver o semblante vermelho e suado dele, que agora mordia os lábios com o pescoço inclinado para trás, conforme movia-se sobre seu corpo.
━Você está muito atrevido. -sussurrou
Archie apertou suas bochechas e começou a mover os quadris com mais afinco. Tocou os próprios mamilos, Marc beliscou sua barriga Archie olhou para baixo, chocado com o fato do outro não ter gozado.
━Por que está demorando tanto?
━Precisa me provocar mais.
━O que quer que eu diga? -resmungou, constrangido e sentiu o pênis dele pulsar em seu interior
Marc apertou sua cintura, apoiou-se nos cotovelos e, com um sorriso largo, disse:
━Lembra dos xingamentos, Archie? -arqueou as sobrancelhas sugestivamente
Uma onda de calor espalhou-se pelo corpo de Archie. Desviou o olhar, apoiou as mãos na barriga de Marc, inclinou-se e, sem olhá-lo, sussurrou em seu ouvido:
━Qual você mais gostou?
━Gostei de te chamar de vagabunda.
Archie fechou os olhos e quase escondeu o rosto no pescoço dele. Mordeu os lábios, respirou fundo e moveu os quadris para sentí-lo mais rapidamente.
━Então é isso que eu sou? -resmungou, sentindo o rosto ferver- Uma...
Não ia conseguir completar a frase. Fechou os olhos com força, então apelou para outra tática. Segurou o rosto de Marc com força, aproximou-se de sua boca e disse:
━Se você não gozar agora vamos ficar outra semana sem fazer sexo.
Marc xingou-o baixinho, usando aqueles xingamentos que deixavam Archie alvoroçado, depois deu um sorrisinho e moveu os quadris mais rapidamente até chegar ao orgasmo em seu interior. Quando ele finalmente acabou, Archie agradeceu mentalmente de alívio, levantou-se e trancou-se no banheiro. Se o deixasse entrar nunca mais sairiam do quarto.
_____
Os lanches que Finn e Vincent serviram foram sanduíches naturais e um bolo de chocolate recheado com morangos. Todos sentaram-se na mesa grande e rústica para saborear os pratos. Leonard elogiou os cozinheiros, assim como todos os outros presentes, menos Marc, que preferiu comer a falar.
Ninguém comentou sobre a falta de apetite de Natalie, que, após muita insistência de Ada, tomou um pouco do suco de melancia. John comeu bastante e ficou intrigado quando tentou lembrar de quantas vezes a tinha visto comer. Ela parecia emburrada enquanto olhava para as comidas. Tocou seu joelho por baixo da mesa e os olhos azuis lhe encararam com confusão.
━O que foi? -perguntou e o tom saiu mais ríspido do que pretendia
John encolheu-se, entreabriu os lábios para falar, mas acabou dando um sorrisinho sem jeito.
━Não te vi comendo muitas vezes.
━É porque eu não gosto de comer. -respondeu com um pouco de impaciência
━Mas tem algo que você goste de comer? Eu sei cozinhar, posso preparar o que você quiser.
Natalie apertou o guardanapo entre os dedos e desviou o olhar. Não sabia que tipo de relação tinha com John, nem como aquele flerte se desenvolveria, mas ele era tão bondoso e gentil que tinha medo de machucá-lo. Não era bondosa, muito menos gentil. Às vezes era ríspida sem perceber. E agora encontrava-se num impasse, sem saber direito como portar-se ao lado dele.
━Prepare drinks para mim.
━Certo. -ele pareceu extremamente satisfeito com a resposta
Ada começou a tirar fotos das comidas e a conversar animadamente com Leonard, que sentiu-se ainda mais alegre com a atenção da anfitriã. Alan tentou puxar assunto com Marc, que permaneceu com uma expressão indiferente, então virou-se para o irmão.
━Como anda a cafeteria, Arch?
━Ótima, o lucro está aumentando muito.
━E a faculdade?
━Não tenho aula todos os dias, é à distância, então estou conseguindo administrar tudo. -apertou a mão de Marc com carinho por cima da mesa
━Fico feliz com isso.
━Ada será minha cunhada então?-Archie sussurrou com um sorrisinho
━Espero que sim.
Naquele instante ouviram um latido de cachorro e um labrador amarelo entrou correndo em direção à Ada. Lambeu os dedos da loira que levantou-se e inclinou-se para abraçá-lo.
━Amêndoa!
Alan arqueou as sobrancelhas, estendeu a mão e acariciou o pêlo do animal. Ele pôs a língua para fora, ofegante, e lambeu seus dedos. Ada riu, então olhou em volta e seu semblante mudou de animada para preocupada.
━Onde está o Julian?
Todos se encararam sem saber. Leonard franziu o cenho, levantou-se e disse:
━Posso ir procurá-lo. Ele colocou as malas no meu quarto mais cedo.
━Eu vou com você. -a loira disse, decidida
O asiático fez uma careta, apontou para o cachorro e sugeriu:
━Posso levá-lo comigo, assim não me perco.
Ada pensou sobre o assunto e assentiu.
━Provavelmente ele está com meu irmão, ele sempre precisa de ajudantes. Amêndoa vai saber te levar.
O asiático acariciou o animal entre as orelhas e logo abaixou-se para cumprimentá-lo, sorrindo com alegria. Com um aceno, saiu pela porta da frente. Antes de seguí-lo, Amêndoa caminhou até Natalie e lambeu seus dedos. Então foi embora, atrás de Leonard.
Natalie fez uma expressão de nojo e esfregou a mão no guardanapo. John riu ao seu lado.
━Não gosta de cães?
━Não.
━Eu tenho um cachorro, um labradoodle preto. O nome dele é Sal.
━Sal?
━Quando ele era filhote derrubou um pacote de sal em cima do pêlo, ficou todo branquinho.
Ele parecia estar se divertindo só de lembrar. Natalie franziu o cenho e continuou esfregando a mão no guardanapo. A gata que tinha, Blair, não gostava de dividir seu território.
Após a saída de Leonard, todos continuaram conversando animadamente. O grupo terminou de comer e então foi hora de lavar a louça e arrumar a mesa. Natalie levantou-se, colocou a cadeira no lugar, apontou uma unha afiada para Marc e Archie e disse:
━Vocês não fizeram nada. Se mexam.
John engoliu em seco com o tom mandão, tocou-a no braço delicadamente e sugeriu num tom gentil:
━Eu faço a sua parte.
━Não, John. -resmungou
━Mas...
Natalie lhe deu um olhar enviesado, de braços cruzados, tão intenso que ele coçou o pescoço com constrangimento. Então ela relaxou, suspirou e acrescentou, num tom mais complacente:
━Tudo bem. Estou com dor de cabeça, vou deitar.
━Eu posso levar um pedaço de bolo.
Natalie mordeu os lábios, sentindo o rosto esquentar. Balançou a cabeça e disse:
━Não quero. Obrigada.
━Que legal, não sabia que você tinha um mordomo particular. -Marc comentou
━Fica quieto, seu pervertido. -ela inclinou-se ameaçadoramente e disse: Acha que ninguém sabe o que estavam fazendo no quarto?
Archie corou até a raíz dos cabelos e olhou para Marc com desespero, agradecendo por Ada estar na cozinha.
━E daí? -Marc bocejou, pegou a carteira de cigarros da bermuda, levantou-se e revirou os olhos- Alguém tem que transar nessa casa. Pelo visto não vai ser você.
━Ei, isso foi desrespeitoso. -John disse, subitamente irritado
Marc arqueou as sobrancelhas, tirou o isqueiro do bolso e, com um semblante indiferente, caminhou até a porta da casa.
Natalie ficou vermelha até a raíz dos cabelos, tanto quanto Archie. Olharam-se intensamente, então algo bizarro aconteceu. Começaram a rir. Quando percebeu que estava rindo com Archie, fechou a cara e subiu para o quarto com passos largos. Archie respirou fundo, levantou-se e, antes de passar por Marc, falou:
━Se não parar de provocá-la vai dormir no chão.
_____
Leonard caminhou enquanto conversava com o cachorro. Tentou descobrir se era fêmea ou macho, mas desistiu de tentar, pois o animal não parava de balançar a cauda.
A fazenda era enorme e ainda tinham que percorrer muitos metros até chegar a uma construção simples que enxergou de longe e que apostava que era a casa do irmão de Ada.
Ao redor algumas vacas mugiram, próximas demais. Leonard cumprimentou-as com um careta, sem saber direito se deveria fugir ou andar normalmente. Algumas galinhas começaram a ciscar muito perto de seus pés e começou a conversar com elas;
━Eu não como mais carne, sabiam? Uma grande vitória para a espécie de vocês, eu diria. Eu amava uma coxa de frango.
Balançou a cabeça, achando-se ridículo por estar falando com aqueles animais. Então Amêndoa começou a correr e seguiu-a com passos apressados. Quando chegou na frente da construção simples e moderna, ouviu algumas vozes, inclusive a risada frouxa de Julian.
Bateu na porta, mas não obteve resposta. A risada continuou. Então espiou pela janela. Dali, conseguiu ver Julian, com um cigarro na mão. Ao seu lado estava Nícolas, também com um cigarro na mão. Semicerrou os olhos, sem entender o que os dois achavam tão engraçado.
Estavam na sala e Julian segurou um vaso de planta em mãos. Era uma planta esquisita e, ao reconhecê-la, Leonard engoliu em seco. Nícolas aproximou-se e tirou o vaso das mãos dele. Naquele momento o clima mudou.
Nícolas moveu os lábios enquanto dava um sorrisinho torto. Julian fez uma expressão surpresa. Começou a falar rapidamente, rindo enquanto pronunciavam as palavras, então o inesperado aconteceu: o irmão de Ada inclinou-se, puxou Julian pela cintura e beijou-o. O surfista ficou estático e chocado. Seu olhar encontrou o de Leonard, que escondeu-se, com o coração acelerado. Em seguida começou a rir.
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NOTAS DA AUTORA:
Oi, gente! Estamos na reta final da história, esse foi o penúltimo capítulo.
Gostaria de agradecer a todos que votam e comentam, vocês são extremamente importantes para escritores, vocês incentivam e dão muito gás para mim, só gratidão.
Espero que tenham gostado desse capítulo todo cômico, eu me diverti muito escrevendo.
IMPORTANTE: ceninhas da fazenda estão postadas na história TOQUES (inclusive como chegamos a esse beijo do Julian e do Nícolas). E a cena da Natalie e do John rsrs nessa fazenda.
Site de Hematomas (espaço para mandar recadinhos, memes e extras):
http://sites.google.com/view/hematomas/página-inicial/authuser=0
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