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Capítulo único

— Droga! — praguejou, saltando da rua para o meio fio e alcançando o pequeno abrigo que o ponto de ônibus oferecia. — Obrigada, universo. As suas reviravoltas não cansam de me surpreender.

Ela resmungava sozinha — uma mania que precisava corrigir urgentemente — enquanto abria a bolsa para conferir se o seu interior estava minimamente seco. Deixou um suspiro dramático escapar dos lábios quando encontrou os papéis e seu celular intactos.

— Pelo menos isso — agradeceu. — Eu seria uma mulher morta se esse celular pensasse em parar de funcionar.

Após conferir as horas e certificar-se que estava dentro do horário do ônibus, Cyndi finalmente levantou a cabeça para procurar um lugar onde se sentar. Para o seu espanto, e mais uma vergonha caindo na conta do dia, ela não estava sozinha. Um rapaz também se abrigava da tempestade naquele espaço apertado, encolhido no banco de metal e segurando uma enorme maleta preta.

Ele usava roupas sociais; um terno invejavelmente bem arrumado, os sapatos sem nenhum arranhão, o cabelo escuro jogado para trás e fixado com gel. Estava tão bem trajado que parecia não pertencer ao cenário, outra provável vítima da chuva naquela tarde. No entanto, o que chamou atenção de Cyndi foi o início de um sorriso divertido em seu rosto.

Não tinha dúvidas que o homem não só ouvira ela falando sozinha, como também se divertia com a sua aparência precária: descabelada, encharcada, a maquiagem borrada e as roupas sujas. "Pronto. Mais um para achar que eu sou doida" foi o seu primeiro pensamento.

Na sua última e desesperada tentativa de fazer algo dar certo — e criar uma boa imagem para um desconhecido — Cyndi abriu a boca e despejou as informações em uma velocidade surpreendente:

— Começou a chover do nada e eu não posso perder esse ônibus! Tive que vir correndo até aqui, mas... — Sua justificativa pareceu alargar ainda mais o sorriso do desconhecido, irritando-a. — Quer saber, esquece.

Sentia-se cansada e arrasada, principalmente por tudo que tinha passado até chegar ali. O frio proveniente das roupas molhadas foi a gota d'água que faltava para seu copo transbordar. Cyndi aceitou a derrota e sentou-se na ponta mais longe do banco... Talvez assim ele não sentisse o cheiro de vômito impregnado em sua calça novinha.

Ela permitiu encostar a cabeça no vidro cheio de cartazes, enquanto um raio cortava o céu e o trovão alcançava seus ouvidos em seguida. Cyndi tateou o interior da bolsa em busca do celular uma última vez, como se assim os minutos fossem passar mais depressa. Quando desbloqueou a tela, a primeira notícia fez seu corpo paralisar.

— Só pode ser brincadeira! — reclamou sozinha, e o homem a encarou novamente. Cyndi aproveitou para mostrar a tela do aparelho para ele, chocada com a notícia. — Olha isso! Eles cancelaram todas as linhas de ônibus que passam neste ponto porque teve um acidente alguns quarteirões abaixo.

A ideia de que não voltaria para casa tão cedo era apavorante, estando principalmente presa num ponto de ônibus com um desconhecido e sem nenhum outro lugar por perto para se abrigarem da chuva. Porém, o pensamento de que mais uma coisa havia dado errado no seu dia era devastador.

Seus olhos encheram-se de lágrimas de desespero. Chorar no meio da rua seria outra vergonha, mas não passaria sem um bom motivo. Era angustiante saber que não tinha nada sob controle, nem mesmo os próximos minutos. Aquela chuva imprevisível era a prova disto. Apoiou os cotovelos no joelho e enterrou a cabeça entre as mãos, desejando estar em casa, tomando um banho quente e entregando os papéis para a irmã.

— Tem outro ponto, não muito longe daqui. — Era a primeira vez que Cyndi ouvia a voz do homem ao seu lado, fazendo-a levantar a cabeça e encará-lo com os olhos arregalados. — A linha 070 leva ao terminal, de lá você pode pegar outro ônibus.

— Obrigada pela preocupação, mas não vai rolar sair daqui nessas condições.

Como se respondesse à convocação, outro trovão, desta vez bem mais forte, rompeu o diálogo. Cyndi levantou as sobrancelhas em um "eu avisei" e voltou a encarar os próprios pés. O salto plataforma preto parecia ter encolhido com a água e apertava seus dedos, mas ela tentou ignorá-lo.

— As chuvas de novembro são assim — continuou o rapaz. — Por sorte eu tenho um guarda-chuva.

— Não vou aceitar um guarda-chuva de um estranho, desculpa — respondeu mais rápido do que pretendia, a frustração começando a ganhar forças dentro de si.

— Eu não estava te dando, estava oferecendo para dividi-lo comigo. Também preciso ir ao outro ponto — falou ao levantar-se.

Cyndi o fitou por aquele ângulo; ela derrotada, cabisbaixa e cansada, enquanto ele era alto, mantinha a postura e não se incomodava com aquela situação. Era como se o desconhecido tivesse enfrentado centenas de temporais como aquele.

— E ai, você vem?

Ela ponderou por alguns segundos, mordendo os próprios lábios. Na verdade, não tinha nada para ponderar, estava no fundo do poço. A sorte a abandonara junto com qualquer pontinha de esperança. Se aquele homem estava disposto a ajudá-la, qualquer coisa seria melhor do que ficar ilhada ali, sozinha.

Colocou-se de pé, sentindo-se um pouquinho melhor. Esperou que ele pegasse o guarda-chuva de dentro da pasta e, quando deparou com a tonalidade prateada cheia de bolinhas douradas, caiu na gargalhada.

— Foi um presente da minha mãe — retrucou, notando o motivo das risadas de Cyndi.

— Sua mãe tem um gosto... diferente. Qual é o seu nome, garoto? — perguntou ao se acomodar embaixo do guarda-chuva. Ele era bem mais alto do que ela, o que tornava aquela cena um pouco engraçada.

— Não me chame de garoto — repreendeu e revirou os olhos. — Você não deveria tratar dessa forma a pessoa que está te ajudando.

Para pirraçá-la, ele puxou o guarda-chuva inteiramente para si. Aquele ato despertou uma pontinha de desespero e frustração em Cyndi.

— Tá bom, tá bom. Desculpa. Você tem cara de ser bem mais novo — apontou, justificando-se. Ela adorava fazer aquilo: ler a aparência das pessoas e tentar deduzir o máximo possível.

O rapaz deu um passo em direção à chuva e Cyndi o acompanhou.

— Vígor — respondeu ele, quando já estavam longe o suficiente para não enxergar o ponto de ônibus.

— O quê?

— Meu nome é Vígor.

— Espera... É tipo Ígor, mas com um "V"? — Vígor concordou. — Sem querer ofender, mas a sua mãe tem um gosto meio esquisito. Tanto para estampas — Apontou para o guarda-chuva e, em seguida, para o homem ao seu lado. — Quanto para nomes. Parece até a marca de um iogurte.

— Sério que quer discutir o que é esquisito ou não? Você estava falando sozinha até agora pouco.

Pelo tom de voz, Cyndi sabia que era uma provocação, mas mesmo assim se sentiu ofendida.

— E o seu nome?

— Cyndi.

— Combina com você.

Desta vez ela cruzou os braços e revirou os olhos. Odiava quando alguém a comparava com o próprio nome. "Cyndi" carregava leveza e simplicidade, mas também significava luminosidade. Era um nome que, como muitos lhe disseram, chamava atenção e trazia uma certa afinidade. E Cyndi não queria que as pessoas gostassem dela pelo nome, mas sim por tudo que ela própria conquistara.

Seguiram em silêncio por um quarteirão. Ocasionalmente, o vento mudava de direção e os pingos molhavam quase metade do corpo de Cyndi. Quando isso acontecia, Vígor inclinava o guarda-chuva levemente na direção dela, tentando protegê-la um pouco a mais, mesmo que isso resultasse no seu terno molhado. Ele poderia pedir para que a mãe lavasse a peça de roupa assim que chegasse em casa, mas a mulher ao seu lado parecia tão preocupada quanto estava com frio, tornando-a a prioridade no momento.

Por sua vez, Cyndi tinha tomado o cuidado de deixar a bolsa entre os dois, no centro do guarda-chuva, e apertava a alça com força quando sentia a água invadindo seus dedos dos pés, dentro do salto. Mesmo naquela situação desconfortável, estava grata por ter uma companhia. Vígor parecia não se incomodar com o temporal e nem com a distância até o destino deles, sendo traçada lentamente por conta das poças e das corredeiras que formavam nas ruas. Com as pernas maiores, o rapaz não tinha dificuldade para contornar os obstáculos, sempre esperando por ela e, às vezes, até mesmo oferecendo-lhe a mão.

Enquanto dividiam o guarda-chuva, Cyndi fez uma observação que, talvez se não fosse aquele momento, ela jamais descobriria: ao andarem lado a lado, muitas vezes os seus braços roçavam de leve, causando arrepios pelo corpo dela. O motivo ela não sabia dizer; talvez pelo tecido de qualidade em contato com sua pele desprotegida, o frio, ou então por ela estar ridiculamente nervosa em ficar tão perto de alguém. Aquela invasão de espaço pessoal, mesmo que por uma causa maior, era desconcertante.

Para distrair os seus pensamentos, Cyndi quebrou o silêncio depois de um tempo.

— Você estava indo trabalhar? — perguntou e ele virou a cabeça para encará-la, confuso. — O terno, a pasta... A aparência bem arrumada, eu diria que é advogado ou um corretor de imóveis. Talvez até um CEO!

Aquelas especulações arrancaram a primeira gargalhada de Vígor. No lugar de sentir-se ofendida por ele rir de algo que ela dissera, Cyndi ficou feliz por ter identificado uma risada de verdade, não aquelas educadas que estava acostumada a ganhar.

— Você acertou. A primeira opção — informou, orgulhoso de si. — Ganhei um caso na promotoria hoje. O meu primeiro caso, na verdade.

Ela aguardou o trovão romper no céu para dizer:

— Meus parabéns! — A animação dele era quase palpável. — Bem, eu sou jornalista.

— Isso explica a sua facilidade em fazer perguntas — brincou Vígor, soltando-se aos poucos. — Você trabalha em algum jornal?

— Na verdade, ainda estou numa emissora pequena. Mas um dia você me assistirá no jornal do meio-dia com as notícias mais escandalosas e dirá "Conheci essa mulher no meio de uma tempestade e chamei ela de esquisita" — a última parte foi dita num tom de voz exageradamente grotesco.

— Em minha defesa — Vígor riu. — Você ofendeu o guarda-chuva da minha mãe primeiro.

— E você não tem vergonha de andar com isso na rua? — questionou, fingindo perplexidade, mas acabou rendendo-se às gargalhadas. Cyndi jamais imaginaria que, depois de tudo que passara, estaria rindo com um desconhecido no meio da rua.

O som das risadas foram diminuindo até dar espaço a uma atmosfera leve embaixo da proteção prateada com bolas douradas. O silêncio que ela tanto odiava foi interrompido, pela sua surpresa, por uma nova pergunta de Vígor.

— Do que você estava reclamando quando chegou no ponto?

Cyndi levantou os olhos, buscando qualquer traço de malícia ou zombaria no rosto dele. Tudo o que encontrou foi um olhar sereno, fitando a outra margem da rua.

— Você vai achar que eu estou inventando ou dramatizando para ser consolada e, com todo respeito, não quero sua piedade.

Vígor não se abalou com o seu tom ácido.

— Por que você não tenta? Ah, cuidado com a lama.

Cyndi contornou a poça lamacenta e respirou fundo, tomando coragem. Ela odiava contar os seus problemas para as outras pessoas, mas talvez não fosse tão ruim se abrir com um desconhecido, certo? Ela nunca mais o veria e precisava descarregar aquela frustração. Nada melhor do que colocá-la para fora em palavras.

— Tudo bem. Primeiro. — Cyndi fez o número um com o dedo. — Acordei um pouco mais tarde e perdi a minha carona, o que me fez chegar atrasada no trabalho e receber uma bronca do chefe. — Ela levantou outro dedo. — Segundo, hoje eu tive uma entrevista com uma dona de casa num bairro carente... ela pediu que eu segurasse o bebê dela enquanto terminava a papinha e aquele projetinho de demônio vomitou em mim.

Cyndi se lembrava bem do momento em que o jorro de gosma amarela com pedacinhos de alimentos mal digeridos acertou a calça cara dela. Ela tinha assustado e dado um berro, quase jogando a criança para cima. A mãe chegara a tempo de pedir milhares de desculpas, pegar a criança no colo e mostrar onde era o banheiro. Mas não tinha o que fazer, o vômito impregnara no tecido, assim como o cheiro agora não saia de seu nariz. Era a primeira vez que usava aquela calça, e queria estar apresentável para a entrevista e para o restante do dia. Infelizmente, aquela peça de roupa seria aposentada antes do desejado.

— Depois disso eu precisei ir ao cartório e...

— Espera! Você foi no cartório assim? — Vígor a interrompeu com a pergunta, olhando-a de cima a baixo.

— Fui. — Ela deu de ombros. — Precisei pegar alguns documentos para a minha irmã. Ela passou por um divórcio complicado e... — Cyndi fez uma pausa, sem saber se deveria tocar na vida pessoal da irmã. — Bem, não se sente confortável em sair de casa, ainda. De qualquer forma, foi engraçado ver a quantidade de pessoas que me deixaram passar na frente da fila só por eu estar "cheirosa".

Cyndi mantinha o tom de voz animado ao contar suas aventuras, mesmo que por dentro ela estivesse com vontade de chorar ao lembrar da vergonha que passara. Ela já tinha desmoronado no ponto de ônibus, não faria o mesmo agora. Talvez quando chegasse em casa e a irmã perguntasse se estava tudo bem, ela responderia que sim antes de ter uma crise e aceitar todas as coisas ruins que acompanharam seu dia. Mas ainda não era o momento.

— Você é idiota — Vígor respondeu, notando que ela estava calada a tempo demais.

— Idiota é essa chuva que começou repentinamente, só para piorar o dia. De manhã estava fazendo um sol... Não deveria estar chovendo tanto.

Para a sua surpresa, Vígor balançou a cabeça em negativa com um sorriso engraçado no rosto.

— Todo mês de novembro há temporais como estes, que começam do mesmo jeito que acabam: sem avisos. Não faz sentido você culpar as chuvas de novembro por um dia ruim. O mesmo serve para o resto. Coisas ruins acontecem todos os dias e com todas as pessoas. O importante é como você enfrenta cada uma delas.

A pausa que ele fez durou tempo suficiente para Cyndi sentir as lágrimas quentes que estava guardando para si rolarem pela bochecha gélida. Aquele sermão tivera o mesmo efeito de um tapa; dolorido, ardente e capaz de despertar para a realidade ao mesmo tempo. Ela buscou secar o rosto com as costas das mãos e se recompor, a tempo de ver Vígor abaixando o guarda-chuva.

— Chegamos — anunciou ele.

— Obrigada. Pelo espaço no seu guarda-chuva, por ter me ouvido e pelas palavras — agradeceu.

Ela virou para encará-lo, flagrando os olhos escuros de Vígor no seu rosto. O rapaz estendeu uma das mãos e apertou sua bochecha num beliscão.

— Vocês, jornalistas, têm o costume de querer ter tudo sobre o controle e ficam sustentando sorrisos falsos... Esqueceu que, como advogado, eu sou um bom detector de mentiras? Prefiro bem mais os sorrisos verdadeiros, como esse.

— Você fala como se tivesse contato com vários outros jornalistas — comentou Cyndi, analisando-o.

— O que posso fazer? A mídia é muito enxerida quando diz respeito a alguns casos. — Vígor deu de ombros e balançou o guarda-chuva algumas vezes. — Mas se serve de consolo, você é uma jornalista diferente dos que já conheci.

— Talvez você só não tenha conhecido os melhores da profissão. — Lançou uma piscadinha.

Vígor inclinou-se em direção ao meio fio e abanou a mão para a linha 070. Ele sabia que, se não tivesse feito, a mulher desatenta teria perdido mais um ônibus, e aquele fato bobo arrancou-lhe mais um sorriso.

— Tente não ser desastrada até chegar em casa — alertou, aguardando o veículo parar.

— Pode deixar! — Ela fez um gesto de continência exagerado com a mão, adiantando-se para entrar no ônibus. — Obrigada mais uma vez, por tudo.

— A gente se vê, esquisita.

Cyndi parou nos degraus e virou o rosto para encará-lo, confusa.

— A gente se vê?

— É. Vou estar aguardando você no jornal do meio-dia.

Aquilo fez com que ela gargalhasse ao mesmo tempo em que seu coração errava uma batida.

—A gente se vê, iogurte. 

FIM 


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