🌟 ℭ𝔞𝔭í𝔱𝔲𝔩𝔬 𝔮𝔲𝔞𝔱𝔯𝔬
"𝕰 𝖆𝖖𝖚𝖊𝖑𝖊𝖘 𝖖𝖚𝖊 𝖋𝖔𝖗𝖆𝖒 𝖛𝖎𝖘𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖆𝖓ç𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖋𝖔𝖗𝖆𝖒 𝖏𝖚𝖑𝖌𝖆𝖉𝖔𝖘 𝖎𝖓𝖘𝖆𝖓𝖔𝖘 𝖕𝖔𝖗 𝖆𝖖𝖚𝖊𝖑𝖊𝖘 𝖖𝖚𝖊 𝖓ã𝖔 𝖕𝖔𝖉𝖎𝖆𝖒 𝖊𝖘𝖈𝖚𝖙𝖆𝖗 𝖆 𝖒ú𝖘𝖎𝖈𝖆." - 𝕯𝖊𝖘𝖈𝖔𝖓𝖍𝖊𝖈𝖎𝖉𝖔.
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𝕮𝖆𝖕í𝖙𝖚𝖑𝖔 𝕼𝖚𝖆𝖙𝖗𝖔.
Diferentemente da ida até o refeitório, Athena optou por retornar a seu aposento de maneira silenciosa. Ao longo de sua pequena caminhada, observou novamente a sala que mais cedo havia chamado a sua atenção. O letreiro velho, todavia convidativo, continuava firme acima da porta por onde observara mais cedo a senhora de meia idade adentrar o cômodo e sumir do seu campo de visão. Sentiu vontade de correr para o local e saber mais sobre aquele lugar, que mesmo não conhecendo, já havia a cativado através do sorriso doce e singelo daquela senhora desconhecida por Athena, cujo o nome guardara em sua mente.
Cogitou por um breve momento a possibilidade de indagar mais uma vez se poderia ir à biblioteca, entretanto a ideia logo fora descartada pela pobre garota, que não tardou a perceber que não obteria resposta para sua pergunta mais uma vez. Olhou discretamente para Alfredo, que caminhava ao lado de Marta e seus demais companheiros, não tão longe, porém perto o suficiente para conter qualquer tentativa de fuga vinda de Athena. O olhar do homem era intercalado entre os pés da garota, parecendo querer calcular minuciosamente cada passo dado por ela, e as paredes sem vida do hospital psiquiátrico. Observou atentamente seu rosto cansado, seus lábios finos e levemente avermelhados comprimidos em uma linha reta; abaixo de seus olhos era possível se identificar duas pequenas olheiras, evidenciando as noites em claro passadas pelo rapaz. Seu corpo forte e repleto de músculos bem definidos davam um certo charme para ele. Imaginou então como seria o rapaz fora do hospital, a julgar pelo diálogo que tiveram na noite anterior, Athena se perguntou diversas vezes se ele seria um ser humano diferente do restante que havia tido contato até o momento. Fora a primeira vez que haviam a ouvido, e isso a cativou. Poderia ser um irmão gentil, um filho ocupado, um marido cuidadoso, ou até mesmo um pai carinhoso, entretanto não conseguiu chegar a uma conclusão, não o conhecia suficientemente.
Não soube quanto tempo ficou encarando o rapaz, entretanto fora tirada de seus devaneios ao perceber o olhar de Marta sobre ela, que a encarava de maneira fria e ao mesmo tempo curiosa. Voltou a olhar para frente ao perceber outro olhar sobre si, Alfredo a encarava de maneira intensa e observadora, a jovem sentiu um arrepio percorrer seu corpo, tomando ciência de que talvez Alfredo tivesse conhecimento sobre a análise que ela havia feito sobre ele minutos antes; Não demorou para que avistasse a porta de seu quarto, que não se encontrava muito longe de onde estavam. Seus pensamentos retornavam para a noite anterior, ainda não havia obtido respostas para que pudesse comprovar sua falsa humanidade, entretanto, mesmo que viesse a negar sua verdadeira origem a fim de comprovar sua sanidade mental, para onde iria? A deixariam realmente sair daquele lugar? Não tinha família, amigos, e muito menos tinha conhecimento acerca da localização de outras estrelas falecidas habitando no planeta terra.
Adentrou o quarto e sentou-se em seu leito, apoiou suas mãos sobre suas coxas de maneira cuidadosa, brincando com seus dedos enquanto seu olhar se fixa sobre suas pernas; seus lábios se juntaram em uma linha fina, simultâneamente a um breve suspiro deixado por ela, estava cansada. Sentiu vontade de chorar novamente, porém limitou-se a respirar fundo a fim de conter suas lágrimas e se acalmar. Observou a agulha que fora posta mais cedo encima da bandeja que ainda repousava na superfície da mesa do quarto, sentiu um leve arrepio percorrer o seu corpo, enquanto suas mãos se fecharam fortemente para que pudesse desviar sua atenção do objeto que lhe causava certo pavor; parecendo perceber a agonia da menina, Ladriel se aproximou lentamente do objeto, retirando o medicamento do quarto, fazendo com que Athena soltasse o ar que nem ao menos percebera que estava a segurar em seus pulmões, e mesmo que por um breve momento, sentiu-se segura novamente.
- Iremos passar na diretoria para perguntar sobre o seu médico, a julgar pela hora ele já deve estar a caminho. Se comporte criança, não queremos problemas. - Alertou Marta, ,enquanto segurava a maçaneta da porta.
Sem esperar a resposta da menina, a enfermeira fechou a porta atrás de si, deixando Athena sozinha novamente. O quarto não tardou a ser tomado pelo silêncio, a jovem então pôs -se de pé e caminhou até a mesinha que continha duas gavetas, abriu a primeira retirando uma escova a qual já estava ali desde que havia chego. Observando seu reflexo pela janela, que se encontrava demasiadamente claro devido a luz diurna que invadia o quarto, puxou os fios de seu cabelo para trás, em uma tentativa de formar um coque. Atentou-se então a sua aparência, estava acabada. Apesar de possuir uma beleza extraordinária, Athena se encontrava com enormes olheiras abaixo de seus olhos devido às noites em claro. Ademais, pequenos hematomas eram exibidos ao longo de seus braços, oriundos do toque agressivo dos enfermeiros no momento em que aplicavam o calmante em sua veia. Seu corpo se encontrava demasiadamente magro, se perguntou de onde tirava forças para lutar contra os enfermeiros, todavia não obteve resposta, se tornando apenas mais uma de suas perguntas que talvez jamais viessem a serem respondidas. Prendeu seus cabelos cacheados em um coque alto e retornou a se sentar na cama; não aguentou olhar o reflexo seu próprio reflexo, enojou-se de sua própria imagem.
O quarto não demorou a ser preenchido pelo silêncio rotineiro, não soube ao certo quanto tempo havia ficado sozinha dentro do local, o que pareciam ser horas, por vezes não passavam de alguns minutos, tal como em alguns dias, o tempo parecia passar tão rapidamente quanto uma estrela cadente pelo planeta terra. Assustou-se levemente ao ouvir barulhos de chaves oriundos do lado de fora, a maçaneta fora girada lentamente, e acompanhado de Alfredo, ao contrário da visão costumeira da enfermeira dos cabelos de fogo e seus outros colegas, Athena apenas encontrou um homem alto, forte, cujo os olhos que eram tão negros quanto a noite, a encararam intensamente, analisando de maneira minuciosa a garota em sua frente. Sua barba estava por fazer, e seus cabelos bagunçados com caimento nos ombros o deixava ligeramente mais charmoso do que o esperado. Trajava um terno azul marinho demasiadamente elegante, enquanto em suas mãos, o homem carregava uma pasta de couro mediana em tons de preto e cinza.
Enquanto Alfredo adentrava o quarto seguido do homem misterioso, cujo a moça cogitou ser Zeus, Athena apenas voltou a concentrar-se em seus dedos, enquanto o homem ainda não apresentado formalmente à ela, acomodava-se no leito do lado oposto do quarto.
- Athena, esse é o senhor Zeus, seu psicólogo. - O enfermeiro disse, quebrando o silêncio que a pouco tomava conta do local.
- Olá Athena, muito prazer, me chamo Zeus. Espero poder ajuda-lá com suas questões. - A voz grossa e levemente rouca do homem sentado à sua frente chega aos seus ouvidos, causando um leve arrepio em seu corpo.
Ao contrário do esperado, Zeus não obteve resposta oriunda da menina, e com o quarto sendo preenchido pela quietude do silêncio outra vez, o médico limitou-se a fazer um sinal para Alfredo, que ainda permanecia em pé em um canto do quarto, que logo saiu do local, fechando a porta e deixando ambos sozinhos um com o outro.
- Eu não sei muito sobre os astros Athena, mas aqui na terra dizem que a Katy Perry é um dos maiores já conhecidos. - pronunciou-se Zeus, em uma tentativa de atrair a atenção da jovem.
- Eu não preciso de ajuda. - Disse a garota por fim, enquanto brincava com seus dedos.
- A começar pela sua negação em ser ajudada, por que? - Perguntou encarando mais a fundo a menina, que agora havia levantado seu rosto para encarar o rapaz.
- Que tal começarmos pela negação demonstrada pelos seres humanos em relação a uma verdade que não seja a universal imposta pelo padrão de normalidade estabelecido por vocês? - Rebateu exibindo um pequeno sorriso ao notar a surpresa do seu terapeuta com a pergunta feita por ela.
- Você fala sobre os seres humanos sem se colocar como uma, como uma observadora que não pertence à essa espécie. Porque?
Athena encarou Zeus com cautela, analisando minusiosamente o rapaz. Não sabia ao certo o que fazer. Queria falar a verdade, contar sobre suas viagens pelo espaço, todavia uma voz em sua cabeça a dizia para negar suas origens, para que pudesse finalmente ser tirada daquele lugar. Poderia confiar no homem sentado à sua frente? A resposta à pergunta de Zeus não veio em palavras, mas sim em um desvio de olhar oriundo da menina, que limitou-se a encarar a janela, procurando conforto no céu estrelado coberto pela luz do dia. Por mais que não pudesse ver, sabia que as estrelas estavam ali, e que talvez as Plêiades também estivessem.
- Como era? - Perguntou Zeus, atraindo novamente sua atenção.
- O que? - Perguntou confusa, não havia entendido a pergunta.
- Como era ser uma estrela?
- Era tão bom. Conhecer diversas constelações de perto, viajar pelo universo, ver diferentes planetas. Eu me sentia livre. Não é como a liberdade coberta de limitações ensinada a vocês, humanos, mas sim a liberdade no mais pleno sentido da palavra. - Respondeu retornando a esboçar um sorriso em seu rosto. Sentiu um aperto no peito e a saudade de causa a invadir, juntamente com as lembranças de sua outra vida.
Zeus a encarava curioso, sem que ao menos Athena tivesse percebido, ele havia retirado de sua pasta um pequeno caderno, e fazia anotações a cada frase dita pela menina. Athena encarou as folhas do caderno de aspecto antigo segurado por ele, logo enseguida retornando seu olhar para o rosto dele.
- E por que você deixou o espaço se sentia-se tão bem em sua vida anterior a essa, Athena?
- Por que eu morri. Quando uma estrela morre, ela vira um ser humano, negam suas origens em uma busca desesperada por aceitação, esquecem de seu passado ou simplesmente fingem que não foram nada antes do que são agora. - começou, suspirando fundo a fim de conter as lágrimas que já estavam começando a embarçar sua visão. - Eu só quero voltar para casa. - Confessou por fim.
- Já cogitou a possibilidade de eles terem apenas seguido em frente e encontrado uma maneira melhor de se lidar com a morte? Qual o motivo de sempre focar no que você tinha, ou em quem você era, do que se atentar ao que você é hoje e ao que tem? - Perguntou, todavia não obteve resposta imediata.
Athena apenas queria voltar à sua vida anterior, a ser o que ela era antes de sua morte.
- Jamais poderia negar quem eu fui em detrenimento do que sou agora. - Disse Por fim após alguns minutos de silêncio.
- Zeus ajudou as Plêiades a acharem o caminho para as estrelas. Não prometo te ajudar a voltar para as estrelas, mas talvez possa te ajudar a achar o caminho para fora daqui, Athena. Basta você querer. - Disse o homem encarando a menina à sua frente.
- Quero sair daqui, e voltar a ser uma estrela.
- Receio que não seja possível. Mesmo que tenha sido uma estrela em outra vida, você morreu, e infelizmente, a morte é um mal irreversível. Ademais, há outras formas de se conectar com o espaço.
- Eu sinto falta de casa, quero retornar para o espaço. Eu não conheço ninguém na terra além daqueles que estão aqui todos os dias. Nem ao menos me lembro como morri. Eu perdi a parte mais especial de quem eu era, o céu. Sabe o que é perder aquilo que mais se ama? - Indagou, arrancando do terapeuta um olhar triste e distante, que logo fora substituído por um olhar neutro após um balanço de cabeça.
- A morte é um processo natural, Athena. Todos nós iremos morrer algum dia, é a consequência da vida. Trágico, não? Creio que as coisas nunca retornarão a ser como um dia foram, mas talvez você possa se encontrar de outra forma aqui na terra, não acha?
- De que forma?
- Talvez adquirindo um pouco mais de conhecimento sobre esse novo mundo que está sendo apresentado para ti. Pode começar, por exemplo, por alguns livros. Me recordo de ter visto uma biblioteca não tão longe de seu quarto, que tal começar por lá? - Perguntou encarando a menina, que mantinha uma fisionomia neutra.
Com letras miúdas, mediante ao silêncio esboçado pela garota, anotou em seu caderno pequenas frases, como "necessidade de autoafirmação acerca de suas origens." e "dificuldade em lidar com a morte.", para Zeus, Athena se via presa em uma realidade alternativa que a fazia ficar presa em um eterno estado de negação acerca da realidade em que estava inserida.
- Você ama o espaço, talvez se encontre estudando astronomia. - A voz de Zeus interrompeu o silêncio, atraindo o olhar curioso de sua paciente. - Já pensou em ser astronauta?
Zeus moveu-se levemente na cama, abrindo sua pasta e retirando um panfleto demasiadamente velho, que havia achado em uma de suas gavetas jogado com outros papéis. Estentendeu o papel para Athena, que o pegou e analisou atentamente as informações apresentadas por ele. Seus olhos brilharam, arrancando um sorriso do terapeuta, que sentiu um pouco de progresso, mesmo sendo a primeira consulta.
- Astronautas? Houve um homem que pisou na lua? Então é possível que eu retorne para o espaço? - as perguntas de Athena vinham acompanhadas da felicidade e ansiedade aparentes na voz da garota, que se encontrava extremamente animada.
- Talvez você não possa participar do espaço da maneira que deseja Athena, mas pode contribuir de uma maneira diferente.
A garota sorriu, encarou o terapeuta que parecia feliz com sua reação, direcionou seu olhar novamente para o papel em suas mãos, e não tardou a concluir, Zeus estava lhe mostrando o caminho para as estrelas, como um dia havia feito com as Plêiades.
O terapeuta então juntou suas coisas, e se preparou para deixar o quarto com uma breve despedida, diante do silêncio da menina. Ela encarava o papel e o segurava com afinco, parecia disposta a agarrar qualquer chance que a levasse para as estrelas ou para o mais próximo possível delas.
- Nos vemos na quinta feira, Athena. - Despediu-se enquanto abria a porta para deixar o local. Mas antes que pudesse sair, fora parado pela doce voz de sua paciente.
- Zeus, posso te pedir algo? - Perguntou e logo recebendo um sinal de confirmação do rapaz. - Peça para que me deixem ir à biblioteca?
•~•
Oii estrelinhas, tudo bem com vocês?
O que acharam da primeira consulta de Athenas com Zeus? Espero que estejam gostando da história!
Marquem aqui um amigo para ler a história, afinal, a leitura em grupo é sempre mais divertida!
Não se esqueçam de votar e comentar nos capítulos, amo ler cada comentário deixado por vocês!
Um grande beijo, e até o próximo!!!!
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