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                                                                                    Rachel Wase

Andava a tentar encontrar o lugar em que ficava sentada todos os anos no auditório, era um lugar à frente, porém discreto o suficiente para não ser incomodada por pessoas ou professores. 

Por ser o primeiro dia a aula estava mesmo muito cheia e bati contra alguns corpos até encontrar a fila onde me sentaria. Alguns olhavam de lado para a loira que lhes pisava os pés ou amachucava as camisas perfeitas, outros simplesmente sorriam à procura de novas amizades. 

Neste caso, da minha amizade porque a loira sou eu, Rachel Wase. 

-Todos os anos a mesma coisa, alguma paixão secreta por mim Wase? - ele sorri e eu tento não revirar os olhos com o comentário. 

-A minha paixão é por este lugar, não por ti Peter. - respondo. -Mas experimenta deixar crescer a barba e depois falamos. - pisco-lhe o olho a sorrir.

O Peter é um dos meus amigos mais antigos na UST, ele está no mesmo curso que eu e assistimos às mesmas aulas desde o primeiro dia do primeiro ano. Apesar de estar quase no nível de insuportável é um bom rapaz e dos poucos que vale a pena conhecer. 

-É bom saber que nada mudou entre nós. - sorri de novo. 

-Ainda com a Ca... - tento lembrar-me do nome da última rapariga que ouvi falar. 

Peter pode não ser o rapaz mais atraente, não faz parte da equipa de futebol, não tem os lindos olhos do Alexander Jones, os músculos do Jordan Lewis ou o rosto quase perfeito do Kit Sprouse, mas se fosse uma hierarquia Peter não ficava muito atrás no que diz respeito às meninas. 

-Caroline? - ele ajuda. 

-A ruiva bonita que encontrei na festa depois dos Sharks terem ganho o campeonato o ano passado. - explico antes do nosso professor entrar. 

Os Sharks era o nome da equipa de futebol que defendia a nossa faculdade, são conhecidos por toda a cidade pelas jogadas originais e a eficácia no campo, não costumam perder jogos e por isso todos os anos há a típica festa de comemoração. 

Todo o ano é igual, este não será diferente.

-Ahh sim, bem bonita, porém não o suficiente para me cativar. - ele explica despreocupado. 

-Ainda me pergunto porque somos amigos.

Ajeito os meus livros na pequena carteira e vejo um dos professores mais exigentes entrar com o seu bigode exagerado e o chapéu antigo na cabeça. 

-Porque não conseguias aguentar estas aulas sem mim. 

Infelizmente, era verdade, não aguentaria isto sem uma boa dose de boa disposição ao meu lado todas as manhãs. 

-Bom dia, sejam bem-vindos a mais um ano na UST. Este ano a exigência vai estar elevada. 

-Ainda mais... - ouvi alguém dizer. 

-Mais do que bons alunos, procuramos boas pessoas. - termina o discurso. 

Então alguém bate à porta e cora perante os sorrisos calorosos e toda a atenção dada, talvez seja normal, afinal Lizzy Holt é alguém impossível de ignorar com o seu sorriso perfeito e os fios castanhos a caírem-lhe sobre as costas.

Lizzy teria tudo para ser mais uma daquelas tiranas que nós conhecemos dos filmes clichés, mas não é nem um pouco disso. A garota é arrojada, não tem papas na língua e sempre tem um olho na última moda, não sendo superficial o suficiente para conviver com as meninas loucas deste sítio. 

-Posso me sentar aqui? - ela pergunta constrangida com todos os olhares. 

E antes que eu respondesse à sua pergunta, meu caro amigo Peter começa a espalhar o seu charme ou o que pensa que tem.

-Claro que podes. O meu nome é Peter e o teu linda? - ele sorri. 

Eu tenho conter o meu riso porque conhecendo Lizzy como conheço, Peter acabou de deitar quaisquer probabilidades de chamar à atenção da garota. Sempre pode se contentar como um amigo, fazia melhor figura. 

-Lizzy Holt. - ela senta-se ao meu lado e verifica as unhas de tom rosa. 

Peter está tão concentrado na sua beleza natural que nem percebe o desinteresse da mesma, apenas assente satisfeito com a resposta. Como se alguém dizer o próprio nome prometesse uma boa dose de amor ou uma noite escaldante. 

-Se soubesse que tínhamos a mesma aula tinha vindo contigo. - ela murmurou ao meu lado. 

-E perdemos a chance de descobrirmos desta forma que vamos ser colegas de curso? - sorrio. 

-Tinha tantas saudades tuas sua louca. - ela responde com um grande sorriso. 

-Pensei que nunca mais voltavas.

O professor que discutia algumas dúvidas com os alunos da fila da frente muda a sua atenção para nós e estende um longo sorriso cheio de segundas intenções. 

Maldito. 

-As meninas estão a gostar da conversa? - ele pergunta e eu finjo não perceber a ironia por de trás das suas palavras. 

-Que conversa? - respondo de volta, fazendo-me desentendida. 

-Menina Wase já ouvi muitas histórias a seu respeito. - ele começa, mas eu o paro. 

-Que coincidência, também ouvi muitas a seu respeito. - digo divertida e vejo suas sobrancelhas carregadas se juntarem. 

Ele não está nada divertido. 

-Wase por favor está calada. - o Peter diz e bate-me no cotovelo. 

Talvez ele tenha razão e eu realmente deveria manter a minha boca calada, mas nunca disse que era alguém muito controlada. 

-O seu amigo é um rapaz sábio deveria ouvir o que ele diz.

-E eu achando que deveria ouvir o que o senhor estava a explicar. - respondo descontraída. 

-Rachel... - a Lizzy diz nervosa ao meu lado. 

*                    

                                                                      Na secretaria da UST

-Não sei porque raio acabo sempre metida em confusões quando estou contigo Wase. - ela reclama ao meu lado. 

Estamos os três sentados à espera de ser chamados ao gabinete do director por segundo consta o papel com a queixa feita, ter faltado ao respeito do professor de gestão financeira. Isto podia até não ser grande coisa, mas admito que me sentia mal depois dos meus amigos terem vindo também parar à secretaria. 

Há também a ironia do meu namorado ser o presidente da faculdade e adorar regras e uma série de coisas chatas que eu nunca oiço. 

-Desculpem. - digo seriamente arrependida. - Não sabia que aquele idiota também vos ia expulsar da aula. Vocês não fizeram nada, foi só para me provocar, devia mesmo ir...

O Peter revira os olhos e trava a minha frase. 

-Não devias nem vais fazer nada! - ele grita um pouco irritado. 

Estou entre os dois e ambos parecem um pouco chateados com a situação, mais o Peter que já não é a primeira vez que acaba aqui neste mesmo sítio comigo à espera de um castigo. Mas desta vez isto estava mesmo demorado, o raio do director tem algum problema ou quê?

-Isto vai demorar muito? - pergunto à mulher escondida entre os papéis da secretária. 

-O senhor director está a resolver um problema e logo vos atenderá. - ela diz sem olhar para mim. 

-Nós temos mais que fazer. - refilo. - E eles não fizeram nada, podem ir embora. - acrescento rapidamente. 

-Não sou eu que vou decidir isso menina Wase. - ela então olha para mim com um sorriso.

E eu iria jurar conhecer aquela cara de algum lado, mas talvez fosse só impressão minha e fosse só a nova mulher da secretaria, que por acaso se parece muito com alguém que eu conheço. 

Afastei os meus pensamentos. 

-Bem ao menos podem se conhecer melhor. - tento aliviar o ambiente. 

O Peter sorri de lado e vejo que qualquer pontinho de frustração comigo tinha passado. Já a Lizzy simplesmente revira os olhos e retoca a maquilhagem no seu pequeno espelho com a bandeira de Itália atrás. 

-Parece-me obra do destino linda. - ela solta seu charme ou tentativa dele de novo. 

Falha miseravelmente, de novo. 

-Peter não estou numa de conhecer garotos agora, quero me concentrar nos estudos. - Lizzy fala sincera mas simpática também. 

O que prova a minha teoria de que Peter é um cafajeste, mas vale a pena ser seu amigo. 

-Qual é de vocês duas que nunca dão uma hipótese para o meu coração? - ele finge estar magoado e nós todos acabamos rindo à gargalhada. 

-Mas fala de onde vocês as duas se conhecem? - ele pergunta interessado. 

-As nossas mães são muito amigas e nós nos conhecemos desde pequenas, sempre fomos boas amigas. Só que meu pai conseguiu trabalho noutro país e então a gente se mudou à alguns anos atrás, porém sempre falávamos as duas. 

-E Lizzy tinha falado da hipótese de vir para a UST. - eu expliquei o resto. 

Ficávamos falando por uns longos minutos, pondo a conversa em dia e contando algumas histórias sobre por exemplo como quando Peter no verão passado saltou nu em frente de praticamente todo o mundo numa das festas da fraternidade ou quando ficou tão bêbedo que vomitou em cima de Alexander Jones que beijava intensamente uma garota qualquer. 

-Juro que pensei que ia morrer na hora. - ele diz. 

-Só não morreu porque até Alexander percebeu que estavas completamente bêbedo, a sério Peter podias ter entrando em coma alcoólico. - eu bato em seu braço levemente. 

-Ahh Wase não estava assim tão mal. 

-Quem é Alexander? - Lizzy pergunta perdendo-se um pouco na conversa. 

-Ninguém que vala a pena falar. - eu digo só imaginando uns quantos adjectivos terríveis para meter no melhor amigo daquele loiro idiota. 

-Ela só diz isso porque o Alex é um dos melhores amigos da pessoa que ela mais odeia neste mundo. - o Peter ri-se quando eu lhe levanto o dedo. -E por ironia o seu outro melhor amigo é um dos seus grandes amigos, Jordan Lewis. 

-Nunca te vi ficar afectada com ninguém loirinha. - ela diz muito interessada na conversa. - A quem se deve essa honra? 

Quando ela acaba de falar, os três meninos saem da sala do director, cada um com um jeito diferente. 

Kit Sprouse sorri discretamente. 

Alexander Jones não parece demonstrar qualquer emoção. 

Jordan Lewis parece irritado. 

Os três não poderiam ser mais diferentes e tão iguais ao mesmo tempo. 

-Imagino que o loiro seja o tal. - ela diz com um sorrisinho no canto do lábio. 

-Han? - sou apanhada desprevenida. 

-O rapaz que te irrita, só pode ser aquele ali. As tuas pupilas dilataram automaticamente e das duas uma, ou estás apaixonada por ele ou ele irrita-te profundamente. - ela pára para pensar. - De qualquer forma o que sentes por ele é forte. 

Olho para ela e tento não fazer a cara mais enojada possível ao ouvir apaixonada na mesma frase onde falamos do Kit, mas contenho-me porque bem ela não sabe. 

Depois olho para ele.

Nenhum de nós diz nada, absolutamente nada.

Não queria admitir, mas o facto de ele me ter visto a chorar tirava-me mesmo do sério. 

-Wase. - o Jordan sorri para mim e eu obrigo os meus olhos a largarem os do Kit. 

Kit Sprouse é a pessoa mais irritante à fase da terra e nós nunca nos vamos dar bem, essa é a única certeza que eu tenho no mundo. 

                                                                                          *

Olá!

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Beijinhosss