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Rachel Wase

Oiço um som de uma porta a abrir e sorrio quando percebo que os rapazes conseguiram mesmo arrombar a fechadura. Espreito para dentro dos balneários e começo cada vez mais a gostar da ideia de ter vindo com eles. O meu coração grita de adrenalina. 

-Não toques em nada e tenta não falar connosco. - o Alexander passa por mim. -Não queremos problemas. 

Podia ter dito mil e uma coisas sarcásticas, mas optei pela mais educada. 

-Até porque cheio de problemas já estás tu Alex. - olha para mim sério, mas uma curva forma-se nos seus lábios passado um pouco. 

Ele devia ter mais cuidado afinal sei o seu segredo sujo e nada me impede de contá-lo. 

-Wase podes vir cá? - o Kit pede já no interior. 

Entro no local do futuro crime e vejo o mesmo encostado aos cacifos vermelhos que deveriam corresponder aos jogadores da equipa. Aproximo-me e ele entrega-me umas chaves. 

-Imagino que sejam para abrir os cacifos. - começo por dizer. -Não deves estar mesmo a pensar que vou fazer isso. 

-Alguém tem que o fazer. - ele sorri. -E o Alex está a guardar a porta.

-Então e tu? - devolvo-lhe as chaves. 

-Alguém tem que ter a certeza que o trabalho é bem feito. - sorri ainda mais. -Para além disso vou buscar os outros equipamentos que estão fechados numa sala. 

Aceito as chaves e olho para os vários cacifos à minha frente... vou ter algum trabalho a tirar a roupa toda deles. Só espero que não esteja suada e suja. 

                                                                                                *

 Olho para os equipamentos, apitos e para o próprio balneário e está tudo virado ao contrário e pintado de vermelho. Isto é puro vandalismo, mas aqui entre nós é divertido. Só vão demorar um dia ou dois a limpar e como provavelmente devem ser os jogadores... eles lá merecem.

-Isto é o que chamo trabalho bem feito. - o Kit cruza os braços. -Ninguém vai saber, nem desconfiar e nós (aponta para o Alex) vamos assistir a uma bela luta.

-Óptimo e a minha parte do trabalho? - digo cruzando também os braços. 

Os dois rapazes olham para mim como se fosse um animal com cinco olhos e duas bocas. Depois olham um para o outro e talvez passem por um processo estranho de partilha de pensamentos, uma quase telepatia, porque parecem mesmo perceber o que o outro quer. 

-Vais ser recompensada. - Alex. 

-Não digas isso dessa forma. - cerro os olhos. -Faz-me parecer um cão. 

-Vá lá Wase diz-nos o que é que queres? 

-Já que perguntas. -sorrio de lado. -Quero quatro bilhetes para ir assistir à luta do teu irmão. 

Isto era uma excelente ideia e se ele não aceitasse podia simplesmente fazer chantagem com o Alexander, o que poderia tornar as coisas bastante feias. 

-Tu não vais mesmo levar o teu namorado ao combate do meu irmão. - diz sério.

Cerro os olhos. Sei que as coisas ainda estavam estranhas e que evitávamos ao máximo falar daquela terrível noite, mas ele acha mesmo que ia levar o Ethan para lá? 

Primeiro o Ethan não gosta de nada que envolva violência (diferente de mim). 

Segundo o Ethan NÃO gosta mesmo nada de violência.

-Mesmo que levasse não tinhas nada a ver com isso. - digo também séria e o Alexander parece perceber a tensão (estranha no entanto) entre nós. -Mas para tua informação não vou levar o Ethan. 

-Então os bilhetes...? 

-O meu irmão, o Peter e a Lizzy. - explico. 

-Nós podemos arranjar isso certo Kit? - o Alex fala quebrando o silêncio constrangedor. -São só quatro bilhetes. 

-Amanhã depois das aulas às 19h no pátio da faculdade. 

Passam os dois por mim, dando a entender que está na hora de ir embora. Quando penso que não vão dizer absolutamente nada, eis que. 

-Ahh e Wase. - o Kit vira-se. -Usa qualquer coisa melhor. - observa as minhas roupas.

Idiota.

                                                                                             *

Estava em frente aos dormitórios com o Peter à espera da Lizzy. Ainda tínhamos que andar dez minutos até ao pátio e com o tempo que demorava a se arranjar nunca mais íamos lá chegar. 

O meu irmão volta a mandar-me uma mensagem a pedir desculpa por não poder vir. Os meus pais acharam que ainda era muito cedo para ver combates, apesar de achar que era mesmo o que ele precisava para se animar. 

O facto dele não estar aqui tinha me desanimado um pouco. 

-Juro que acho que ela foi raptada. - o Peter bufa. 

-É a Lizzy. - rio -Ela veste-se para matar. 

O Peter ri de uma forma desajeitada. Normalmente ele era muito seguro com o sexo oposto e podia-se dizer que tinha um grande historial de conquistas, mas quando o assunto envolvia a Lizzy ele ficava diferente. Nervoso. 

Não sabia dizer se ele realmente gostava da personalidade dela e a via só como uma boa amiga ou se não conseguia desligar a parte do cérebro que a deseja brutalmente. Pelos olhos dele quando a minha amiga apareceu num vestido justo vermelho e num casaco de cabedal diria que era a segunda opção. 

Ela estava um espanto nos seus saltos altos e com os lábios carnudos pintados de vermelho. Era assim que se vestia para um combate ou pelo menos como eu imagino todas as outras mulheres desesperadas. Não que seja o caso dela. 

-Uau. - rio com a reacção do Peter. -Estás um espanto. 

-Obrigada Peter. - ela passa as mãos por ele como um gato. 

Se havia coisa que a mesma sabia fazer era dar a voltar aos homens. 

-Tu também não estás nada mal. - olha para ele. 

-Mas Rachel. - ela olha para mim. - Caralho. 

O Peter parece concordar e assobia, algo que já tinha feito umas duas vezes antes da Lizzy chegar. Olhei para mim. Tinha vestido um vestido preto não muito justo, nem muito curto que deixava a minha cintura marcada com alguns pormenores dourados e o meu peito simplesmente fantástico. Usava umas botas simples e um casaco verde menos revelador por cima. O meu cabelo loiro caía com ondas perfeitas.

Agora vamos ver o "usa uma coisa melhor".  

Vais engolir essas palavras Sprouse. 

-Se não tivesses namorado diria que querias impressionar alguém. - o Peter comenta. 

-Estamos no século XXI as mulheres já não se vestem só para impressionar os homens. - não pude deixar de pensar que tinha alguma razão. 

-Nós vestimos-nos para impressionar tudo e todos. - a Lizzy concorda sorridente. -Agora vamos!

                                                                                          *

Chegámos ao pátio da faculdade mesmo em cima da hora e já os três amigos de longa data estavam encostados aos muros frios. Como se fossem um só sorriem quando aparecemos. 

Talvez o Peter se sentisse ligeiramente ameaçado com tanta testosterona, mas não era o caso. Era confiante tal como eles. 

Estava uma noite bonita.

-Meninas. - o Jordan assobia. -Vocês estão lindas. 

Nós agradecemos com um grande sorriso.

Deixo o tecido do casaco cair um pouco e o Kit segue o movimento com calma. Está apreensivo e sei que resultou quando o vejo juntar as mãos de nervosismo.

 Estou bonita para caralho.

O Alexander também não disfarça o desejo que tem pela Lizzy. Esta noite, porém, a atenção não vem só dele. 

-O teu irmão? - o Jordan pergunta-me discretamente. 

-Os meus pais acham que ainda não é seguro para a idade dele... - suspiro. -Gostava tanto que ele viesse connosco. 

-Vamos ter mais oportunidades. - ele parece confiante. -Já conheces-te o Brandon, não me parece que ele perca aquele combate por nada. 

Concordo mentalmente. 

-Rachel! - oiço alguém gritar por mim e olho para trás à procura da voz que conheço tão bem. 

Era o Ethan e não parecia nada feliz. 

-Ethan? - eu e o Kit dizemos ao mesmo tempo. 

Olho para o loiro de lado.

-Precisamos de falar. - ele puxa por mim misturando força e delicadeza. 

Afastamos-nos um pouco do grupo que fica a olhar para nós. Se repararam no mesmo que eu, vamos ter uma bela de uma discussão porque o Ethan parece mesmo chateado. 

-O que foi? - solto-me dele. -Falámos à pouco Ethan e avisei-te que ia sair. 

-Não me disseste onde. - os olhos julgadores em mim. -Vais ver uma luta? - ele diz ainda impressionado ou chocado. 

Reviro os olhos. Odeio quando ele julga certas decisões ou gostos ou mesmo valores que tenho. 

Ninguém me diz o que fazer, ninguém me diz como pensar e ninguém me diz o que é certo ou errado.

-E depois? - estou irritada. -Não é nada de mais e que me lembre não temos que concordar em tudo. 

Abana a cabeça irritado. 

-Não, não temos. - diz frio. -Mas omitiste-me várias coisas Rachel, vais ver uma luta provavelmente ilegal e vais sair com aqueles... 

Olha para os rapazes e vejo uma luta interior dentro dele. Nunca gostou deles, mas respeita-os. Isso é uma das suas qualidades, qual é o problema agora?

-Não vou sair com eles, vou com eles para lá. - corrijo. -Ethan não quero discutir.

-Nem eu Rache. - parece mais calmo. -Mas aqueles os dois são pessoas que odiaste durante anos e agora vais sair com eles? Sabes que não confio... 

Interrompi-o já sem paciência. 

-Ethan... - tento acalmar-me. -Está tudo bem. - passo as minhas mãos no rosto dele

-Tenho que te contar uma coisa. - diz de repente. 

-Agora?

-Agora. - responde sério. 

Olho para as pessoas atrás de mim e olho para o meu namorado. Por alguma razão demorei muito tempo a responder a algo tão simples. Algo que nunca percebi porquê ou percebi mais tarde. 

-Tenho que ir. - beijou-o rapidamente e saio a correr. 

Devia ter ouvido.

                                                                                            *

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