Cheguei ao dormitório cansada e saturada com as aulas que tive durante o dia, o Ethan vinha me buscar para irmos ao bar ali perto da faculdade para comermos alguma coisa e passarmos um tempo de qualidade. 

Só há um problema, não cheguei a contar lhe da noite com o Kit. Tentei, pensei e cheguei mesmo a começar mas não consegui. Parece que não sou tão corajosa como pensava. 

A Lizzy estava sentada em cima da cama a pintar as unhas com uma cor chamativa, vermelho sangue respondeu me ofendida quando usei apenas a palavra vermelho. 

Matem-me no dia em que souber a diferença entre os dois. 

-Devias lhe ter contado. - puxa o assunto do Kit. 

-Não consegui. - respondo sincera. -Sei que era o certo a fazer, mas não consegui. Só tenho medo que aquele estúpido use isso contra mim. 

-Não me parece desse género. Vi-a mais o Alexander a fazer dessas. 

O Alexander... a ponta solta da história, se ele sabe disto vai me atormentar para o resto da vida. E o Jordan também já percebeu que se passa alguma coisa porque passei a semana a ignorá lo, logo ele que não tem culpa nenhuma. 

-Tens razão o Alex tem mais cara disso. Pensei que o fosses defender. 

Ela ri de forma sarcástica e reconheço mais uma vez a razão pela qual somos tão amigas, não é alguém que se deixe enganar. Não é mesmo.

-Rachel o Alex pode achar que me tem na não, mas rapidamente vai perceber que sou eu que controlo. - ela ri-se. -Se ele acha que sou uma romântica e que me vou apaixonar como as outras ele está estupidamente enganado. 

-Porquê logo o Alexander? O Jordan é tão melhor. 

-O Jordan tem namorada. - responde com certezas e eu abro a boca surpreendida. 

- O Jordan não tem namorada, eu saberia se tivesse. -digo ainda com mais certezas.

Na verdade, nos últimos tempos o Jordan tem andado muito estranho mas sempre associei aos treinos ou às noitadas com os dois amigos. Ele tinha que me contar, nós sempre contámos tudo um ao outro. Até agora...

-Sim porque o Jordan também sabe que andaste enrolada com o Kit. -ela observa e faço sinal para falar mais baixo. 

Não andámos enrolados. 

-Lizzy vamos fingir que isso nunca aconteceu e o Jordan não tem namorada. -digo firme. 

-Andas tão no teu mundo que nem reparaste na cara de apaixonado dele, nas saídas repentinas e na maneira como se anda a vestir e a abusar no perfume. Os homens são todos iguais. - o tom de voz dela parece comprovar a experiência com o sexo oposto. 

Que pelo historial é uma verdadeira profissional. 

-Vou lhe perguntar quando estivermos juntos. 

-Quanto ao assunto do Kit explica me lá como é que vão trabalhar amanhã juntos no castigo. -sorri perversa. - Sem se matarem um ao outro. 

Realmente nunca tive tanta vontade de lhe arrancar um daqueles olhos verdes bonitos. Vou ignorar simplesmente, parece a escolha mais óbvia a fazer. 

Batem à porta e vou abri-la com um sorriso na cara. 

O polo comum substituído por uma t-shirt preta, os olhos doces castanhos por um verde atrofiante, os fios castanhos por um loiro agradável e o porte ligeiramente magro por um corpo musculado e forte. 

Sem contar com o meio sorriso trocista que o acompanha desde que o conheço. 

-Má hora? -ele olha para a minha mala ao ombro e o cabelo loiro encaraculado como o Ethan adora. 

-Péssima. -digo maldisposta e ele sorri mais um pouco. 

Não o via desde aquela noite, nem ouvia a voz dele, aquela voz irritante. 

- Sempre um amor de pessoa Wase. -diz irônico e entra no quarto sem autorização. 

Cumprimenta a Lizzy com a cabeça, que acena um pouco séria para o mesmo, provavelmente tão desconfiada quanto eu. 

-Vou sair agora para jantar com o meu namorado. -dou ênfase à palavra namorado. -Se quiseres falar temos amanhã o dia todo. 

-Engraçado. -ele ri-se. -Pensares que vinha falar contigo, isto é, podemos falar loirinha quando quiseres. - sustentamos o olhar. -Mas era com a Lizzy que vinha falar. 

-Comigo? -ela olha para cima. -Estou a pintar as unhas. 

-Posso esperar. - diz sem emoção. 

Percebo que é a minha deixa para sair dali e saio sem dizer nada, batendo com a porta com força. 

                                                                                            *

O jantar estava simplesmente delicioso ao ponto de ter levado os dedos à boca para sentir por uma última vez o sabor do hambúrguer gordurento. Não precisava de coisas muito sofisticadas para ficar com um sorriso rasgado, uma cerveja e um bom pedaço de carne faziam-me a noite. 

Apesar de estarmos na parte mais sossegada do bar a jantar, já havia alguma confusão. Viam-se corpos a dançar na pista, bebidas a serem derramadas, empregados de um lado para o outro e casais a escaparem-se para as casas de banho. 

O Ethan não costuma gostar destes sítios, mas eu gosto, então costumamos tentar manter o equilíbrio. 

-O teu irmão parecia-me muito melhor. - ele sorri enquanto devora o hambúrguer.

-Uhumm. - sorrio também. -Mas acho que precisa de sair mais vezes de casa, conhecer novos sítios, novas pessoas, novas coisas. É um miúdo curioso e essa curiosidade tem que ser alimentada. 

-Tal como a tua. - ele toca-me no nariz com carinho. -Podíamos ir passear este fim de semana, era uma surpresa para ele o que me dizes? Só nós os três sem confusões. 

É exactamente por isto que adoro o Ethan. 

Os meus olhos que até à altura estavam nos dele distraem-se com o rapaz que acabara de entrar. Todos olhavam para ele da mesma forma, impressionados, curiosos, intrigados. Kit Sprouse conseguia hipnotizar qualquer pessoa com a beleza gritante. 

Não era só o rapaz mais popular da UST, era também o mais bonito. 

O Ethan vira-se para tentar perceber para onde olho e parece ficar incomodado com a presença do mesmo. Porque razão ficaria incomodado? 

Talvez... não ele não saberia. 

-Já venho fofinha. - beija-me levemente e sai sem conseguir responder.

*

Kit Sprouse

A morena à minha frente está a dançar junto ao meu corpo. As minhas mãos passam subtilmente pelo corpo dela e oiço-a gemer o meu nome baixinho. Sorrio e sem pensar duas vezes beijo-a com delicadeza no pescoço nu, deixando os meus lábios percorrerem-na. Quando ela se volta, não preciso de fazer nada, as nossas línguas trabalham juntas num beijo ofegante. 

Quando me afasto para voltar aos beijos no pescoço uns cabelos loiros vêem-me à cabeça e perco a concentração no que estou a fazer. Ela hesita, não sabe porque parei, volto a beijá-la para não ter que dizer nada.

Passado alguns minutos vou pedir qualquer coisa para beber, uma cerveja caía bem. 

-Tu de novo. - reviro os olhos para o empregado com um cabelo de uma cor estranha. 

Era o rapaz que estava a tentar agradar a Wase na outra noite, o mesmo rapaz que me desafiou. Nada bom, nada bom.

-Podia dizer o mesmo. Mas digamos, eu trabalho aqui, qual é a tua desculpa? - ele continua a servir algumas pessoas à minha volta. 

-Gosto das cervejas de cá. - sorrio. -O mesmo não posso dizer do atendimento. 

Entrega mais umas bebidas antes de olhar para mim sério. 

-Se tens algum problema podes escrever no livro de reclamações, tenho mais que fazer. 

-Duvido seriamente. - aponto para o espaço vazio à minha volta. -Não tens mais ninguém para atender. 

Ironicamente quando acabo a frase o grande e magnífico presidente da faculdade aparece ao meu lado com o seu ar mais limpo e puro. O Ethan é sempre a pessoa mais educada na sala, quem não adorava ser como ele? 

Rio do meu próprio pensamento. 

Por quanto tempo mais vai enganar a Wase? 

E ainda melhor será que ele já sabe da nossa aventura no quarto do motel? 

-Boa noite. - diz calmo. -São duas cervejas.

Parece que não. Rachel, Rachel... interessante. 

O rapaz atrás do balcão serve-lhe rapidamente as bebidas e surpreendentemente o Ethan empurra uma na minha direcção. Parece ansioso, as mãos tremem-lhe e os olhos inocentes (nem tanto) não conseguem focar um único minuto. 

-Ethan a que devo tanta simpatia meu caro? - digo com puro sarcasmo e ele por mais inteligente que seja não consegue perceber. 

-Precisamos de falar. - diz nervoso. 

-Imagino que o assunto seja a tua namorada. 

-A Rachel não pode sonhar que falámos. 

-Pode parecer estranho. - baixo o tom de voz. -E não vai acontecer muitas vezes, mas concordo contigo. A Rachel não precisa de saber. 

                                                                                                   *

O cheiro a fumo nas traseiras do bar é quase infernal, se não tivesse tão habituado a tabaco provavelmente não aguentava tanta poluição. 

-Só precisava de garantir que não dizias mesmo nada à Rachel. - agarra o polo com força. -É sério Kit, foi um erro. Foi mais do que um erro... nem sei porque o fiz. 

-Por alguma razão deve ter sido, não se trai alguém só porque sim. - observo neutro. 

-As coisas entre mim e a Rachel não estavam, nem estão fáceis. - admite e não sei porquê estou a ouvir cada palavrinha com atenção. -Ela é complicada. 

-Continua a não ser desculpa. 

-Sempre achei que éramos só nós os dois sabes? Conheço a Rache desde criança, crescemos juntos, foi a única pessoa por quem me apaixonei durante todos estes anos e eu amo-a.

-Não estou a perceber onde queres chegar. - cerro os olhos confuso. 

-Eu amo a Rachel, faria tudo por ela. - a respiração dele está pesada. -Mas nós nunca fomos feitos para estar um com o outro, não dessa forma. Durante muito tempo acreditava que sim, que a Rachel era a mulher da minha vida e tentei enganar-me a mim próprio e ela o mesmo. 

-Então? - tento juntar os pedaços. 

-Acho que confundimos as coisas. Nós gostamos tanto um do outro, mas não pensamos da mesma forma, nem gostamos das mesmas coisas... com o tempo fui percebendo que ela nunca olhava para mim da mesma forma que olhava para as pessoas que ama, com aquele brilho tão característico. 

-Ethan tu estás bêbedo? - pergunto. 

Disso à alguns anos atrás e digo agora, não sou bom com palavras, mas sou bom a observar e a avaliar pessoas. 

Ele está a ser tão sincero que até custa ouvir. 

-Não. - respira fundo. - Não quero que digas nada à Rachel porque sou eu que devo fazê-lo, mesmo que tenha sido um erro, tenho que lhe dizer. 

Rapaz corajoso. 

-Tudo bem. - aceno e entro para dentro do bar, deixando o pobre rapaz perdido nos seus pensamentos. 

Nem ele sabe que está a falar com alguém com que a namorada quase o traiu. 

Quão engraçado esta história é?