33
Kit Sprouse
Tento manter-me o mais silencioso possível, não quero que reparem que estou ali.
Olho para os dois - o rapaz que fora um dia meu amigo veste roupa preta, os cabelos loiros estão todos fora de si e consigo perceber que continua fisicamente forte.
Quando era mais novo os meus pais queriam à força toda que conhecesse pessoas e fizesses amigos. Tempos antes de Alexander e Jordan Lewis, tempos antes de descobrir que Brandon era meu meio irmão.
E eu detestava pessoas.
Agora não as detesto, mas quando era mais novo definitivamente não era tão simpático.
Então conheci o Keith Wase, ele era filho de um casal amigo de meus pais e era uns anos mais velho mas demos-nos logo bem. Ele era alguém que não teria qualquer problema em quebrar regras e diverti-me muito durante a nossa amizade.
Até que um dia ele pediu para me afastar da irmã, ameaçou-me quando eu era apenas um miúdo de doze anos que gostava de passar tempo com a Rach.
Eu não gostava, eu adorava passar tempo com ela.
Mas eu sabia demais, tinha visto algo que o loiro não queria que visse.
E ele sabia que eu não ficaria calado então usou algo contra mim. Agarrou-me pela camisola e espetou-me com força contra a parede, era alguns centímetros mais alto que eu e definitivamente mais forte.
Não transpareci medo, raiva, nada. Fiquei olhando para ele com toda a calma do mundo, mesmo ele sendo mais alto e forte que eu era mais esperto e se Keith se distraísse por um segundo facilmente sairia daquela situação.
Nunca tive medo dele, tive medo por ela.
Então ele fez mais força e se aproximou com os olhos com raiva - ele estava com medo - pensei.
O medo faz com que as pessoas façam coisas completamente fora de série, o medo deixa as pessoas irracionais. O medo faz com que alguém em quem você pensava que era de confiança mostrar suas vestes de lobo.
Wase era a personificação do medo naquela noite - não teria medo de mim, mas teria medo de outra coisa qualquer. Muito medo, na verdade.
Ele diz as seguintes palavras sério:
-Se abres a boca sobre o que viste sabes o que acontece - o olhar está vago, como se não estivesse em si, mas de qualquer forma a ameaça assusta-me.
Mas não o suficiente.
Então no mesmo dia corri pelas ruas para encontrar Rachel Wase.
Corri, corri, corri por ela apenas.
Mas então tudo correu mal.
*
Os músculos de Rachel contraem, parece desconfortável com a presença do irmão.
Quem não ficaria desconfortável? Até eu.
Sinto os meus olhos queimarem, odeio Keith ainda mais do que tentei odiar Rachel.
Porém, nunca consegui por mais que tentasse.
-O que estás a fazer aqui Keith? - a loira pergunta incomodada.
-Já não posso vir visitar a minha irmãzinha? - sorri - Os pais disseram-me que eras responsável pela feira de angariações, parabéns.
Mesmo de costas para mim consigo perceber sua cara de desdém.
-Vou repetir: o que é que queres?
Ele sorri torto.
-Sempre tão simpática. Mas já que perguntas pensei que me podias ajudar.
-A resposta é não. - responde firme. -Não te vou ajudar com merda nenhuma, não me importo minimamente com o que andas a fazer com a tua vida desde que não me envolvas a mim ou ao resto da nossa família nisso.
Ela continua irritada.
-E não voltes a vir cá.
-Rach, não sejas assim. -o loiro pousa o capacete no chão e as mãos estão agora mais próximas da Wase. - Só preciso que me dês acesso aos espaços fechados ao público, nada de especial.
-Caralho achas mesmo que te vou ajudar com essas operações sujas? Já me chega ir para casa e fingir que está tudo bem, ouvir o Matthew a perguntar por ti, os pais a arranjarem desculpas para nunca apareceres. Se precisas de um sítio, arranja. Não te vou ajudar.
Ele não parece gostar da resposta e na hora aperta o pulso da mesma com força.
Os meus nervos sobem. Na verdade, estou em combustão.
Quem é que ele pensa que é?
Não me admira a história das operações sujas, Keith sempre foi sujo, mas a surpresa foi ver que Rachel sabia disso.
Rachel sabe disso.
E isso me traz lembranças da noite em que corri em sua direção para lhe contar.
*
Rachel Wase
Tento soltar-me das suas mãos que apertam os meus pulsos com força, com certeza vai deixar marca.
-Larga-me! - grito enquanto sacudo as mãos com força.
Mas não resolve, continuo presa.
Então sinto uma presença atrás de mim, consigo sentir seu cheiro tão caraterístico.
-Não ouviste? Larga. - sinto sua raiva em cada palavra.
E regressei por pouco aos tempos em que era mais nova, tempos em que era normal ver o meu irmão mais velho e Kit Sprouse no mesmo espaço.
A memória me enoja.
-Sprouse. - Keith diz com um pequeno sorriso, mas vi seus músculos encolherem um pouco. -Há quanto tempo?
-Demasiado. - Sprouse responde sem tirar os olhos do outro.
Keith é mais velho, mas isso já não é um grande ponto a seu favor. Vejo alguma cautela e algum receio nos seus olhos, afinal Sprouse já não é o miúdo que jogava futebol com ele e tinha menos 20 centímetros.
Sprouse é um homem. Alto, tem um porte físico de meter medo e invejar e é estupidamente bonito com o seu cabelo loiro despenteado, um loiro bem diferente do meu irmão. Os seus olhos sempre foram o meu traço preferido no seu rosto.
Mas eu ainda o odiava. Ele era detestável.
-Vais soltá-la ou precisa de repetir?
Então ele solta-me e mantém os olhos em Sprouse.
Não parecem os dois amigos que eram em criança.
Na verdade, parece que se vão matar ali e agora.
Mas então Keith sossega e agarra em seu capacete.
-Tudo bem, de qualquer forma preciso de ir. - ele senta na mota preta. - A gente se vê depois Rach.
*
-Estou bem. - reclamo quando Kit Sprouse me tenta analisar pela terceira vez. - Já disse que estou bem. - bufo.
-Os teus pulsos estão roxos. - ele diz e noto que tenta conter a frustração por minha forma agressiva de falar.
-Pior se estivessem azuis ou laranjas. - sorrio sem dentes. -Tenho que acabar de arrumar isto.
Agarro nas latas de cerveja que estavam no chão. Preciso mesmo de acabar o que tenho para fazer, tenho que garantir que está tudo impecável.
-Certo, então vais fingir que isto não aconteceu? - ele diz.
Levanto as sobrancelhas.
-Isso é meio a sua jogada. - respondo pensando no que aconteceu entre nós.
Ele ri um pouco, só um pouco.
-Rachel o teu irmão... - eu o paro
-O meu irmão é um idiota, não é novidade para ti pois não? Não quero falar mais sobre isto.
Toda esta conversa que fazia lembrar nossa infância me incomodava.
Durante todos estes anos em que nos odiámos mutuamente havia sempre algo em que ambos concordávamos sem mesmo alguma vez termos combinado isso - não se falava do nosso passado, não tínhamos um passado.
-Ao menos deixa-me ser eu a levar as caixas com as cervejas. -parece um pedido, mas não vejo qualquer indicio de me deixar fazer o contrário do que disse.
Mas mantenho-me firme.
-Eu consigo levar Kit.
-Não tu não consegues.
-Consigo, sim.
-Caralho Rachel deixa de ser tão teimosa.
Olhei para as marcas e concordei com ele.
-Tudo bem, pode levar, mas eu vou contigo ainda fazes estragos.
Sinto seu corpo atrás do meu pelos caminhos do pátio até às salas vazias. Estamos os dois em silencio, mas não parece constrangedor.
Um silêncio bom.
-Podes deixar aqui. - aponto para o frigorífico.
*
Kit Sprouse
Vou atrás da Rachel em silêncio.
Nenhum de nós diz nada e não me importo com isso.
-Podes deixar aqui. - ela diz apontando para o frigorífico.
Assim o faço.
Quando acabo de arrumar as latas olho para ela que estava agora a soltar o cabelo.
-O que foi? - rude como sempre.
Estamos os dois fechados numa sala pequena, passa das 23h da noite e apesar do que aconteceu lá fora não me consigo deixar de lembrar cada vez que olho para ela de quando esteve comigo - nua.
Só de pensar o meu pau fica animado.
Pareço um adolescente a ficar excitado pela mera presença de uma mulher, mas não consigo evitar.
Então decido que não há outro momento para meter à provar o furacão que é Rachel Wase.
*
Rachel Wase
Kit está bem perto, demasiado perto.
-Rachel vamos passar muito tempos juntos esta semana. - ele começa e paro sua divagação antes que acabe seu pensamento.
-Você é um génio. - respondo.
-Vamos passar muito tempo juntos, sozinhos. - ele sorri. - Como estamos agora.
-E o que isso significa? - eu sorrio de volta.
Não sei o que Sprouse pretende, mas não me vai surpreender mais.
-Isso significa que a gente pode aproveitar. - sua voz rouca faz meu corpo tremer um pouco.
Ele aproxima-se mais um pouco.
Estamos agora bem juntos. O seu peito toca no meu e a sua respiração pesada se junta com a minha.
Ele deposita um pequeno beijo no meu pescoço, mas não me encolho.
Depois outro beijo e uns quanto mais deixando uma linha de beijos sobre meu corpo.
Não gosto nem um pouco do que me faz sentir.
Ele não tem pressa no que faz. Como quem sabe que a pressa é inimiga da perfeição.
Tento conter-me um pouco. Se ele queria brincar a este jogo eu era muito melhor jogadora, muito melhor.
-Kit. - chamo por eles e seus olhos se abrem com pura lúxuria.
Ele deseja-me e deseja-me para caralho.
-Uhum. - responde continuando a beijar a minha pele exposta.
-Nós precisamos mesmo de ir. Amanhã é um grande dia.
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