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Rachel Wase

Arrumava as coisas com alguma rapidez, sem me preocupar com que roupas iria usar durante a semana, aliás mesmo durante o próximo semestre. Odiava a sensação de voltar para a faculdade e saber que os problemas iam voltar, os dramas e confusões. Pior, que o rosto daqueles dois ia voltar a assombrar-me como uma maldita praga. 

Detestava o friozinho que sentia na barriga de nervosismo ou de qualquer coisa diferente que me recuso a admitir ou a pensar sobre o que será, quando ambos sabemos, infelizmente. 

Passaram dois meses desde que descobri a traição e de que estive sozinha com o Kit Sprouse. Entretanto as férias de natal tinham começado o que foi a desculpa perfeita para voltar para casa, estar com a minha família e fazer mais do que ignorar certas pessoas. 

Mas agora não importava, nada disto importa mais.

O que aconteceu entre nós foi uma espécie de alucinação, talvez tenhamos os dois batido com a cabeça ou enquanto limpávamos a zona velha da faculdade podemos ter inalado uma substância estranha que nos deixou ligeiramente atraídos um pelo o outro.

Só a lembrança enoja-me.

O meu telemóvel toca pela terceira vez e atendo finalmente já adivinhando quem estará do outro lado da linha. 

-Sim Lizz? - a minha melhor amiga responde qualquer coisa animada e finjo que não oiço. - Não estou a perceber... 

Ela solta uma espécie de grunhir e eu rio. 

-Rachel Wase nós vamos sair hoje.

-As aulas começam daqui a poucos dias. - respondo sem me lembrar de melhor desculpa.

-Desde quando é que isso te impediu? Que eu saiba tu é que costumas ser o mau exemplo, quebras regras desde que te conheço e não te importas minimamente com as consequências. - ela faz uma pausa no discurso -Não me digas que é por ele?

Fico meio constrangida por não saber a qual deles ela se refere. 

-Quem te ouvir falar até pensa que fujo de alguém. 

-Não foi o que andaste a fazer nos últimos dois meses? A fugir do Kit e principalmente do que sentes por ele? 

-Por favor. - rio em ironia -Isso é ridículo. 

-Então prova-o, vem sair hoje. - oiço o risinho dela, sabe que ganhou porque jamais recuso um desafio. 

Não gosto de perder, nem que isso signifique sacrifícios. 

-Para além disso, é ano novo! É um crime ficar em casa. 

Com isto não pensem que deixei de sair, que me escondo em casa atrás de uma desculpa qualquer para não enfrentar os problemas. Mas também não deixa de ser mentira que preferi outros caminhos, outras pessoas, outro ambiente e que tentei ao máximo evitar confrontos. 

O mais estranho? Sempre gostei de confrontos, mas não quando o confronto é comigo mesma. 

Largo as malas e deixo o resto das roupas por arrumar estendidas no chão. Desço as escadas com calma, sorrio para o meu irmão e saio de casa com naturalidade.

Levo as mãos às chaves do carro e ajeito o banco, sinto-me estranha, não tão parecida a mim mesma. Olho para o espelho com atenção, o meu cabelo loiro está enorme, o meu rosto ligeiramente mais magro e o meu nariz dá sinais de quem vai apanhar uma grande constipação, vermelhão... 

Sorrio já sei onde vou primeiro e como qualquer típico cliché vou tratar disto antes de novo ano porque como costumam dizer mudanças são boas, principalmente quando estamos à muito tempo presos no mesmo sítio ou neste caso no mesmo corte de cabelo. Sim, sim vou cortar o cabelo. 

                                                                                             *

Entro no café que encontrei pelo caminho, está completamente cheio de pessoas o que me faz reclamar com algumas que se metem à minha frente. Ao passar por uma janela, vejo o meu reflexo e gosto cada vez mais do que vejo, o cabelo curto assenta-me bem e pareço muito mais fresca.

-Um café duplo por favor. - peço à rapariga atrás do balcão.

-É para já. 

Vou até uma mesa e concentro a minha atenção no ecrã do telemóvel, está praticamente a cidade toda a falar da passagem de ano e das milhares de festas completamente loucas que vão acontecer hoje. 

Por outro lado, não podia estar menos entusiasmada com o facto de ter que sair de casa esta noite. 

Isso também significava que a faculdade estava prestes a começar e que iria voltar ao meu dormitório, do qual não tenho as melhores lembranças. 

Mas quem sou eu porra? 

Sou a Rachel Wase e por favor, já tive demasiado tempo escondida como uma menina assustada, coisa que não combina mesmo nada comigo. 

-Deve ser algo mesmo aborrecido. - alguém fala perto de mim, referindo-se ao telemóvel que tenho nas mãos. 

Olho para a pessoa à minha frente e tenho uma vontade enorme de rir, talvez de desespero ou de outra coisa. 

Maldito ano acaba logo, porque isto é jogar sujo. 

-Tu por aqui? - rio com ironia -Sempre pensei que alguém como tu preferisse sítios mais divertidos. 

-Podia dizer-te o mesmo. - ele ri. -Não pareces do género de passar o último dia do ano num café sozinha. 

-A relaxar antes da grande festa de logo à noite. - digo neutra. 

-Que tempos do caralho, sinto saudades da faculdade. - suspira divertido. -Fazia tanta merda. 

Brandon Sprouse, o meio irmão do Kit senta-se à minha frente com uma expressão tão casual que me faz pensar se isto é uma piada de mau gosto. 

-Uhum. - o meu café chega e remexo o pauzinho no mesmo. 

Ele não diz nada, acho que nem eu, nem ele nos sentimos desconfortáveis com o silêncio. 

-Sabes, não sei o que se passou entre ti e o Kit, mas ele realmente anda chato de mais ultimamente. -olha para mim sério. -O meu palpite diz que estás metida nisto, tenho razão Rachel Wase? 

Ele nem pisca mas consigo sentir o meu coração a bater a uma velocidade acelerada. 

-Não mesmo. -sou firme. -Nós não temos nada, nunca tivemos e definitivamente (reforço a palavra) não vamos ter. 

-Tarde de mais. - um sorriso perverso forma-se no seu rosto perfeito e poderoso. -Vocês já têm. 

Merda. Tinha me esquecido o quão bonitos os garotos desta família podem ser, as semelhanças entre os dois são quase óbvias, os lábios finos e os olhos verdes remexem com qualquer rabo de saias. Inclusive o meu. 

-Nós não temos. 

-Vocês têm sim. - repete em risos. -E tu gostas para caralho do que ele te faz sentir, não gostas Rachel?

Estou parva a olhar para o mesmo. Não tenho, o que é raro, a resposta na ponta da língua e adorava arrancar aquele sorriso parvo do seu rosto. Nem percebo esta conversa, talvez tenha mentido, mas o que quer que tenha acontecido entre mim e aquele rapaz loiro já acabou. 

-Não sei qual é o vosso problema. - levanto-me irritada. -O mundo não gira à vossa volta Sprouses, acordem! 

Saio irritada do café sem antes sequer acabar de beber o meu café, o que foi totalmente idiota da minha parte, mas voltar lá está fora de questão. 

Mudei a minha opinião por completo, essa festa que venha, para eu meter logo esta merda toda para trás de uma vez e voltar a ser a pessoa equilibrada que era. 

                                                                                              *

Olá! 

Saudades de escrever, deixem os vossos comentários para saber se ainda estão dispostos a acompanhar esta história. 

Desculpem por todo o tempo à espera e prometo que serão recompensados pela espera (ou assim eu espero)! 

O que acham que vai acontecer na festa de passagem de ano? 

A nossa Rachel com certeza irá se encontrar com o Kit, mas como é que as coisas estarão entres os dois? 

Beijinhosss :)