Twelve
Keisuke ficou apenas me olhando, esperando que eu me levantasse. Sinceramente, o que ele queria de mim? Eu queria que ele fosse embora e me deixasse em paz. Não estava com paciência para discutir com ele ou sei lá o porque Keisuke ainda estava ali. Quando percebeu que eu não ia me levantar de onde estava sentada, ele bufou e sentou do meu lado. Keisuke deitou de costas no chão, o cabelo escuro e comprido esparramando para todos os lados. Ficamos em silêncio, ele olhando para lua e eu olhando para ele. Era meio inevitável; Keisuke era lindo. Lindo até demais. E, bem, eu ainda era apaixonada por ele. Não era algo que eu conseguia controlar, que eu conseguia esquecer. Que eu conseguia apagar. E, acredite, tudo o que eu mais queria era parar de amar Keisuke. Seria tão, tão mais simples se eu simplesmente conseguisse apagar ele da minha vida.
-Vai querer ficar aqui a noite inteira?- ele perguntou, me olhando. Eu cruzei os braços.
-Nada está te impedindo de ir embora, Baji.
-Eu não vou te deixar aqui sozinha.- ele disse e voltou a olhar para o céu. Eu bufei, irritada, e deitei ao lado dele, olhando a lua.
Fazia tanto tempo que não ficava perto assim dele, nossos corpos se tocando. Mesmo que só meu ombro estivesse pressionado contra o dele, aquilo já era o suficiente para fazer meu estômago se revirar completamente. Eu sou patética, né? Ainda apaixonada pelo menino que eu deixei dois anos atrás. Esse tinha sido outro grande erro que eu cometi: terminar com Keisuke da forma que o fiz.
-Desculpa.- ele disse. Parei até de respirar. -Por te ignorar esse tempo todo. Eu sei que você tentou. Eu estava chateado por você ter ido embora.
Fiquei em silêncio por um bom tempo. Eu tinha noção que esse havia sido o motivo de Keisuke não ter falado comigo, mas ouvir da boca dele era completamente diferente.
-Eu não conseguia ficar aqui.- eu disse baixinho. -Sei que não foi.... Justo. As coisas que eu disse para você... Eu nunca acreditei nelas de verdade, você sabe disso, não sabe?
Eu me virei para olhar Keisuke, apenas para já o encontrar olhando para mim. Odiava quando ele me olhava daquela forma. Fazia eu me lembrar de quem eu costuava ser, de quem nós dois costumávamos ser.
-Sei.- ele disse e se sentou, me olhando. -Não significa que eu entenda o porque você fez o que fez, Akemi. Não digo só comigo. Você apagou Kazutora da sua vida.
-A gente precisa falar dele?- eu perguntei fechando os olhos com força.
-Akemi, como você espera superar isso se nunca coloca tudo pra fora? Vai só acabar magoando os outros ao seu redor, novamente, porque não consegue admitir o quanto sente a falta dele.- Keisuke disse, cada palavra como um soco no meu estômago.
-Claro que eu sinto! Claro que sim, mesmo que eu prefira imaginar que não o conheço! Keisuke, você acha que nunca tentei ir ver Kazutora?- eu disse e ele me olhou, agora surpreso. Abaixei a cabeça, sentindo as lágrimas queimando nos meus olhos, descendo pela minha bochecha. Que se foda. -Ele não é mais o mesmo desde aquela noite que matou o irmão do Mikey. - passei a mão com força pela bochecha. -Ele disse que eu morri para ele. Que eu nunca me importei de verdade. Que deixei ele, que nem todos nós. Ele não quer saber de mim, Keisuke. Eu sei que eu tenho culpa nisso. Mas não significa que não dói. Sabe como é insuportável olhar para Mikey e saber que quem tirou a vida da pessoa mais importante para ele foi a pessoa mais importante para mim? E que eu sequer pude fazer algo? Consegue entender porque não conseguia, porque não queria, ficar aqui? Era demais. Ainda é demais. E, caramba, eu sei que não é sua culpa! Dizer o que eu disse foi um erro. E te deixar foi o maior de todos. Eu não posso mudar isso, Baji. Não posso voltar na porra do tempo e mudar as coisas. Mas eu posso determinar o que acontece daqui pra frente. E eu não vou embora de novo. Mesmo que você não me queira por perto, eu não vou embora de novo.
Keisuke não falou nada. Ele ficou em silêncio por um bom, bom tempo. E ai, se levantou, estendendo a mão para mim. Torci o nariz, mas deixei que minha mão deslizasse até a dele. Ignorando completamente o tipo de sentimento que isso me causava. Ele me levantou e não soltou minha mão. E nem disse nada enquanto me puxava em direção as escadas. Eu também não disse nada. Não sabia nem por onde começar e muito menos o que dizer depois dessa bomba que joguei encima dele.
Nós descemos juntos aquelas escadas infernais, o único barulho sendo o de nossas botas batendo no chão. Keisuke foi direto para sua moto e subiu nela, apenas se virando um pouco para me olhar. Eu não tinha me mexido. Ainda não sabia se era uma boa ideia sair dali com ele e ir para onde quer que ele quisesse nos levar. Claro que eu confiava nele, mas essa não era a questão. A questão é que não saber o que aconteceria entre nós me deixava nervosa. Não saber o que Baji estava pensando me deixava ansiosa. Eu tinha dito tudo para ele e ele não me disse nada. Será que aquilo bastava, afinal? Será que era o suficiente para que Keisuke me perdoasse pelo que eu falei para ele? Claro que eu queria que sim. Sentia falta da nossa amizade. Sentia falta de bem mais que isso, mas eu já tinha me conformado com o fato que nunca mais teria Keisuke de outra forma. Por mim, tudo bem. Mas eu ainda queria a amizade dele.
Talvez, por causa disso, eu tenha me mexido e caminhado até ele, com um suspiro pesado. Eu me sentei na parte de trás, tantas memórias voltando na minha mente. Tantos momentos que tive com ele. Baji se virou um pouco para mim, me dando um meio sorriso. Ele segurou minhas mãos, as passando em volta de sua cintura. Isso me fazia lembrar da antiga Akemi e do antigo Keisuke e, por algum motivo, não consegui deixar de sorrir pensando nisso.
-Quer cair da moto? Me segura com mais força, caramba. - ele disse e eu sabia que estava sorrindo. Dei uma risada baixa e me aproximei mais dele, abraçando a cintura de Keisuke. Aproximei meus lábios do ouvido dele e sussurrei:
-Só vê se não surta, tá? Eu sei que sou muito gata e gostosa, mas não quero morrer porque te fiz perder a concentração.- eu provoquei e praticamente podia escutar ele revirando os olhos.
-Se ache menos, Akemi.- ele disse e, antes que eu pudesse dizer algo, arrancou com a moto e começou a andar.
Eu não sabia para onde Keisuke estava nos levando e, sinceramente? Eu não me importava nem um pouco. Não quando eu podia estar tão perto assim dele de novo, sem toda aquela tensão e mágoa que esteve entre nós nos últimos dias. Anos. Pelo menos por uma noite, eu queria aproveitar aquilo. Mesmo que ele voltasse a me odiar no dia seguinte. Pelo menos, eu teria algumas horas em paz com Keisuke. E era isso que importava.
Data: 27/08/21
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro