Eleven
Mikey tinha me dito para colocar o uniforme da Toman, e assim eu o fiz. Tinha ficado bonito em mim, admito. O que não combinava era aquela merda de cabelo. Ainda não superei esse detalhe, o que fizeram com meu cabelo lindo. Minha madrinha tinha dito que eu tinha ficado com cara de gente ruim com aquele cabelo e o uniforme da Toman (antes de me mandar ir tirar porque, segundo ela, eu não ia sair de casa porcaria nenhuma). Claro que minha madrinha achava sensacional eu fazer parte de uma gangue, já que ela tinha feito parte de uma quando era adolescente. Mas não significava que ela me dava mole e me deixava fazer as coisas. Tipo agora, que estou pulando a janela do quarto para ir encontrar Mikey, porque ela me colocou de castigo. Ele estava junto de Mitsuya, esperando logo abaixo da janela, me olhando tentar e fracassar pular aquela merda.
-Vem logo, Akemi!- Mitsuya disse num sussurro. -Se sua madrinha te pega, você vai morrer.
-Eu não consigo! É muito alto!- eu choraminguei. Mikey deu uma risadinha, o maldito.
-Se você cair, a gente te ajuda a se levantar.- Mikey disse. Eu torci o nariz.
-Hã? Era para você dizer "se você cair a gente te segura", idiota! Agora eu não vou pular mesmo!
-Vem logo, Akemi. - Mitsuya disse. -Ou vai ficar sem carona.
Malditos filhos da puta. Quer saber, que se dane, não vou fazer isso. Me virei para voltar para dentro do quarto, mas minha perna que estava do lado de fora enroscou. E eu caí. Pelo menos não gritei, porque quando pensei em fazer isso, lembrei que minha madrinha ia acabar comigo se me pegasse fugindo de casa na calada da noite. Bom, podia ter sido pior, eu podia ter me espatifado no chão, mas Mitsuya conseguiu me segurar, meu coração tava batendo na garganta e Mikey estava rindo. Filho da puta desgraçado.
Mitsuya me ajudou a ficar de pé, e eu me senti uma fracassada derrotada. Tinha como esse dia ficar pior do que já estava? Mitsuya ficou me olhando de um jeito estranho e eu fiz uma careta para ele.
-O que aconteceu com seu cabelo?- Mikey perguntou, franzindo o cenho. Eu fechei os olhos com força e dei um longo e pesado suspiro.
-Foi um dia de merda.- eu murmurei, seguindo Mikey até a moto dele. Ele jogou a chave para mim, estilo "dirige ai, otaria". -Ficou ruim, né?
-Claro que não, Mimi.- Mitsuya tentou me convencer.
-Ficou estranho. - Mikey disse. Maldito. Respirei fundo e subi na moto de Mikey, e ele se sentou logo atrás. Além de tudo, é folgado. Mas ele vai ver só.
Comecei a acelerar.
-Akemi, não começa.- Mitsuya avisou. Eu dei um sorrisinho para ele. E ai eu acelerei de vez, deixando Mitsuya me xingando para trás. Mas Mikey estava rindo porque, claro, ele não se importava nem um pouco.
Eu tinha sentido falta de momentos como esse. Do vento batendo no meu rosto, da adrenalina que eu sentia toda vez que corria desse jeito, mesmo que um nó se formasse no meu estômago. Ah, sim. Porque eu tinha abandonado esse lugar e essas pessoas? Já parecia um motivo tão idiota. No fim das contas, eu quem mais perdi.
Chegamos no lugar de sempre e, caramba, que nostalgia. Já estava cheio de motos espalhadas, o resto dos membros da Toman apenas esperando pelo comandante. Mikey pulou da moto e eu fiz o mesmo.
-Draken não vem hoje, né?- perguntei e Mikey negou.
-Ele ainda está se recuperando. - Mikey disse, colocando as mãos no bolso e começando a subir as escadas.
Eu dei um suspiro e o segui. Mikey mudava completamente quando estava ali, na frente de todos. Eu já tinha visto. Ele assumia a pose de um verdadeiro líder, de alguém que você seguiria até ao inferno. Eu deveria fazer o mesmo, certo, já que sou terceira no comando? Mas a única coisa que consegui foi ficar com cara de deboche, o que já era natural quando eu encontrava tanto macho reunido. Coloquei as mãos nos bolsos do meu uniforme conforme sabíamos as escadas. Tinha pedido para Mitsuya acrescentar mais bolsos porque, ei! Eu sou mulher. Adoro um bolsinho onde posso enfiar minhas tralhas.
Quando chegamos, todos se curvaram conforme Mikey e eu passavamos entre eles. Tinha tanta gente ali. A Toman realmente cresceu nesses anos que estive fora. Mas eu não analisei muito enquanto seguia Mikey até o topo, onde ele parou e se virou para todos. Eu fiquei a direita de Mikey, olhando para aqueles garotos. Alguns me olhavam com surpresa, outros com desdém. Honestamente, eu não dava a mínima. Não estava ali para agradar macho nenhum. Estava ali porque aquela gangue também era minha, também fazia parte da minha história. E isso ninguém podia tirar de mim.
-Essa noite reuni todos aqui para recebermos de volta uma das fundadoras da Toman que ficou fora por um tempo. - Mikey disse e um burburinho começou. Reclamam que mulheres são fofoqueiras, mas olha só para esses caras! Bando de futriqueiro. -Akemi Hanemiya, a terceira no comando da Toman. Vocês devem respeito a ela. E quem não cumprir isso, está fora!
Um silêncio se estendeu entre todos por alguns segundos. Então, começaram a falar, um encima do outro.
-Ei!- eu gritei, tão alto que minha garganta doeu. Mas deu certo. Isso fez todos se calarem e me olharem. -Vocês não tem respeito? Falem um de cada vez!
-Você é a garota que lutou com a gente contra a Moebius?- um cara perguntou.
-É sim, foi ela que quebrou meu pulso!- um garoto reclamou. Apenas ergui o queixo e cruzei os braços.
-Se me viu lutar contra a Moebius, então sabe o que sou capaz de fazer. - eu disse. Mikey deu um passo a frente, olhando para todos.
-Se alguém tem algo contra, pode ir embora. Na Toman, não vou aceitar alguém que não respeita minha terceira no comando como igual a nós. - ele disse seriamente. Ninguém falou nada, nem mesmo um sussurro. Mikey não sorriu, no entanto. -Ótimo. Nesse caso, nossa reunião está encerrada. Bem vinda de volta, Akemi.
Eu assenti para Mikey e ele se virou, seguindo para os fundos enquanto alguns membros da Toman se viravam para ir embora. Eu apenas continuei ali, de pé, os braços cruzados, observando. Quando eu imaginaria que nossa gangue ia se tornar isso?
-É engraçado, né? - Mitsuya disse, parado ao me lado. Me virei para ele, confusa. -Ver o como a Toman cresceu.
Eu dei uma risada fraca. Sim, era mesmo engraçado. E, ainda assim, era assustador.
-Sinto falta da época em que eramos crianças briguentas.- eu admiti, me sentando nos degraus. -Era bem mais fácil.
-Você e... - ele começou mas então parou. Eu sabia de quem ele ia falar.
-Pode falar o nome dele, Mitsuya. Kazutora. - eu disse e ele suspirou, se sentando ao meu lado e deitando as costas no chão em seguida, olhando pada a lua.
-Você e Kazutora eram os dois lados de uma moeda.- ele disse. -Diferentes e ao mesmo tempo iguais.
Me deitei ao lado de Mitsuya e olhamos para o céu. Não tinha mais o porque esconder o que eu sentia. Era mais fácil fazer isso quando não tinha que olhar para Mitsuya, mas agora... Era diferente.
-Sinto falta dele.- eu admiti, pela primeira vez em anos, minha voz rasgando a garganta. Já sentia meus olhos arderem. -Nossa, eu sinto tanta a falta dele que dói. E, ao mesmo tempo, eu o odeio.
-Ah, Akemi...
-Eu não quero falar de Kazutora nem do que rolou. Sério. Um dia talvez eu consiga, mas não ainda.- eu disse com um suspiro e me sentei. Eu também não estava pronta para dizer a meus amigos que tentei visitar Kazutora alguns meses atrás. E também não queria dizer o que eu encontrei ou o que aconteceu. Era melhor assim. -Você me leva para casa?
-Eu levo você. - eu me virei na direção da voz de Keisuke, apenas para encontra-lo do lado de Chifuyu, que estava sorrindo. Torci o nariz.
-Não precisa. - eu disse cruzando os braços. Keisuke revirou os olhos.
-Você estava pedindo carona, não estava?
-Não pra você!
-Caramba, vocês dois. - Mitsuya disse, fechando os olhos. -Conversem como duas pessoas normais. Por Deus! Eu tô indo. Se resolvam sozinhos. Vamos embora, Chifuyu.
Chifuyu, como um belo desgraçado, seguiu Mitsuya para longe. E não me deixaram nenhuma outra opção que não encarar Keisuke. Então, eu o encarei.
Data: 07/08/21
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