Capítulo 29 - Nothing Compares To You (Bárbara)
They say if it doesn't kill you it'll make you stronger
(Eles dizem que o que não mata te torna mais forte)
Oh, but I can't be without you any longer.
(Oh, mas sem você eu não posso ir muito longe)
Every time I let it go, baby it's you.
(Toda vez que eu tento abstrair, baby, é você)
Nothing compares to you.
(Nada se compara a você)
Nothing compares to you.
(Nada se compara a você)
I'm running fast, as fast as I can,
(Estou correndo rápido, o mais rápido que eu posso)
To get you back, just to get you back again.
(Para tê-lo de volta, só para tê-lo de volta novamente)
I can not wait, I can not wait, if we can be, we can be us again.
(Eu não posso esperar, eu não posso esperar, se nós pudermos ser, se nós pudermos ser nós novamente)
I cry at night, cry at night,
(Eu choro a noite toda, choro a noite)
I'll cry for all the words, all the words I didn't say.
(Eu vou chorar por todas as palavras, todas as palavras que eu não disse)
Nothing Compares – Pixie Lott
Eu não levantei quando o primeiro despertador tocou. Nem o segundo. Nem o terceiro. Eu programei um quarto, para quinze minutos mais tarde, já certa de que estava atrasada para o trabalho e, por isso, merecia dormir só mais um pouquinho.
Estava tão cansada. Exausta. Existir na minha cama já era desesperador. Pensar em levantar, me arrumar e encarar o mundo me dava vontade de começar a chorar de novo. Porém, meus olhos doloridos me levavam a crer que meu corpo não tinha mais estoque de lágrimas.
Quando o novo despertador tocou, me forcei a sair da cama. Meus pés tocaram meu chinelo e eu levantei, meio tonta. Caminhei trôpega até meu guarda-roupas, procurando por algo que eu pudesse vestir rapidamente e ir embora. Fiquei encarando as portas, pensando que eu não tinha condições. Não existiam forças suficientes em mim. Minha cabeça rodava e eu estava perdida.
Voltei para cama, engatinhando para baixo do lençol. Fechei os olhos, tentando melhorar a cabeça. Pelo menos a tontura, porque os pensamentos eram impossíveis de melhorar. Talvez eu só precisasse de um tempo. Um dia de folga. Ainda era recente. Tão recente. Muito recente. Meu corpo estava revoltado comigo, pelo jeito. Um dia a mais em casa poderia ser exatamente o que eu precisava. Para desintoxicar. Me reestabelecer. Um dia não parecia tanto tempo assim. Eram só 24 horas...
Só percebi que voltei ao sono algum tempo mais tarde, quando minha mãe me acordou com um grito.
— O que você está fazendo em casa? — Ela perguntou, respirando rapidamente e levando a mão ao coração. — Você deveria estar no trabalho!
Pelo jeito, um tempo, era exatamente o que minha mãe não estava disposta a me dar. Eu pisquei, sentindo que minha cabeça estava um pouco melhor. Estiquei minha mão para ver as horas no meu celular: quase dez da manhã. Droga.
— Seu trabalho ligou dizendo que você não apareceu! Fiquei muito preocupada! — Ela ralhou. — Voltei correndo do meu treino de cardio, certa de que você tinha morrido nesse inferno de cidade!
— Desculpa — tentei dizer, mas minha voz mal foi ouvida embaixo de suas lamúrias. — Estou me sentindo mal.
Não dava para falar de doença. Minha mãe me arrastaria para o médico pelos cabelos se eu falasse que estava doente e eu não sei se seria capaz de esconder minhas atividades pós-sorvete para outro médico. Eles eram sempre tão chatos, invasivos e faziam um alarde tão grande para algo tão pequeno. Eles não entendiam. Eu não estava doente.
— Ah, mas eu vou ligar pro seu pai! — Ela começou a mexer no celular. — Ele precisa ficar sabendo dessa sua falta de responsabilidade.
— Mãe! — eu chamei, me arrastando para fora da cama. — Por favor.
— Oi querido — minha mãe disse no telefone quando eu pulei para fora da cama e me arrastei novamente na direção do armário. Eu precisava sair daqui. — Desculpa te incomodar, mas a Bárbara faltou o trabalho! — Eu peguei qualquer roupa e caminhei meio tonta na direção do banheiro. — Para dormir! — Entrei no banheiro, fechando a porta atrás de mim. — Espera, vou te colocar no viva-voz.
— Filha — ouvi meu pai do outro lado da porta. — Você está bem?
Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu não respondi. Pelo jeito meu corpo ainda era capaz de produzir água. Tirei a camisa do pijama e comecei a trocar de roupa, sem saber o que fazer.
— Claro que ela está — minha mãe respondeu por mim. — Se trancou no banheiro para não nos ouvir.
Terminei de trocar de roupa, mas não tive coragem de sair. Minha mãe e meu pai discutiam no viva-voz do outro lado, mas eu só ouvia a mim mesma. Minha própria voz, na minha cabeça, gritando que eu era a culpada. Pela briga deles. Pela falta ao trabalho. Por ter entrado naquele maldito elevador. Eu fazia tudo errado. Quer dizer, era só me olhar no espelho para saber disso. Nem de controlar meu próprio peso eu era capaz. Como eu poderia controlar a minha vida?
Sentei no chão do banheiro, chorando. Não comia nada desde o dia anterior, mas me sentia tão inchada e tão mal que me forcei a colocar para fora o que havia no meu estomago. Doía, ardia e minhas lágrimas escorriam sem controle. Fraca. Ridícula. Chora mesmo. A culpa é sua.
Levantei, tonta de novo, mas menos desesperada. A sensação era melhor agora que eu tinha feito alguma coisa. Eu tinha o mínimo de controle sobre minha vida. Eu precisava ter. Lavei o rosto, a boca e me apoiei na pia.
— Bárbara! — Minha mãe esmurrou a porta. — Seu pai quer falar com você.
Eu destravei a porta, abrindo-a lentamente. Minha mãe me encarava de olhos semicerrados, esticando o celular na minha direção. Eu saí, pegando o aparelho, desativando o viva-voz e levando-o a orelha.
— Oi, pai — eu disse, me distanciando da minha mãe.
— Bárbara! — Sua voz não parecia cheia de crítica, mas sim de alívio. — O que está acontecendo?
— Estou me sentindo mal e acabei dormindo demais — eu disse, apoiando-me na janela. — Perdi a hora do trabalho por causa disso.
— O que você tem? Devo pedir para um motorista te levar pro médico? — Ele começou.
— NÃO! — Respondi velozmente. — Não precisa.
— Então eu vou ligar pro Walter e avisar que você teve um problema, mas estará lá no escritório de tarde — ele comentou. — Tudo bem?
Não. Eu não queria. Eu precisava de tempo. Para ser sincera, eu não queria voltar para aquele lugar nem depois que minha necessidade de tempo acabasse. Eu queria um emprego meu. Meu. Não do meu pai. Não escolhido pelo meu pai. Não elencado pelo meu pai. Não que eu só consegui por causa dele.
— Está bem — respondi, com lágrimas se formando nos olhos de novo.
— Filha — meu pai disse. — Eu preciso ir. Mas, por favor, converse conosco. Somos seus pais e não seus inimigos.
— Tá bem — menti. — Tchau, pai.
— Tchau, Bárbara — ele disse. — Deixa eu falar rapidinho com a sua mãe.
Enquanto ela estava distraída no telefone, olhando para o além, peguei minha bolsa e parti. Eu não podia ficar ali. Não queria dialogar. Explicar. Eu precisava do meu tempo. Desintoxicar. Corri pelo corredor ao ouvi-la me chamando. Fugi. Só um tempo. Eu ficaria melhor depois dele.
Estava quente. Tão quente. Por que aquela cidade precisava ser tão quente? Eu já estava andando há tanto tempo, mas não queria voltar para casa. Eu tinha ido até meu emprego. Ou melhor, meu antigo emprego. Agora eu era uma desempregada e as nove ligações do meu pai no meu celular me levavam a crer que ele já sabia. Ou que a minha mãe conseguiu arrastá-lo para a paranoia que a fazia ligar de 5 em 5 minutos e arrasar com minha bateria.
Eu vinha caminhando sem rumo, tentando encontrar o rumo. Meu rumo. Da minha vida. Meu caminho. Cansada. Exausta. Perdida. Quente, tão quente. Quando não fazia mais ideia de onde estava, usei o pouco que me restada da minha bateria e chamei um uber.
— Aceita uma balinha? — O motorista perguntou.
Eu sacudi a mão, horrorizada. Bala era ruim. Bala era calórico. Eu precisava permanecer em jejum. Jejum era bom. Tinha lido uma reportagem mostrando as vantagens. Estava frio naquele carro. Gelado. Comecei a me tremer, como o frio secando o suor do calor lá de fora. Muito calor. Cansada. Exausta. Precisava ir para casa. Para cama. Tempo. Precisava de tempo.
— Moça? — A voz do motorista me fez abrir os olhos. — Você está bem?
Eu não respondi. Me empertiguei no banco, olhando pela janela. Meu prédio. Frio, calor, exausta. Tentei murmurar um agradecimento e saí do carro. Calor de novo. Muito. Muita cabeça ruim novamente. Dei passos na direção da porta, mas não consegui chegar. Tão longe. Tão cansada.
— Dona Bárbara? — Seu Zé apareceu na minha visão, multiplicado em vários.
A voz dele se multiplicou também, ressoando na minha cabeça. Dei mais um passo para frente e atingi algo. Alguém. Seu Zé segurou meus braços e me puxou, ainda falando. Suas palavras se embaralharam na minha cabeça, minha vista começou a falhar e eu fiquei com medo. Perdida.
— Seu Zé! — Uma voz de mulher também entrou na bagunça, mais clara. — O que aconteceu com a menina?
No meio de tanto medo, a única coisa que eu consegui pensar era: pelo menos não era Rafael. Ele não podia me ver naquele estado. Alguém começou a me abanar no meio daquela confusão de vozes e minha visão em falta. Deitaram-me no chão e eu desejei simplesmente não estar mais consciente. Mas estou. Acho que estou. É difícil definir o que é verdade e o que é delírio. Não quero me render ao delírio. Não posso me render ao delírio. Não quero mais ser fraca.
Minha vista começa a voltar lentamente um tempo depois., Tempo. Só preciso de um tempo. Seu Zé estava olhando para mim, com uma expressão confusa. Uma mulher também. Ela era familiar. Especialmente por seu olhar. Maternal. Tão maternal. Rosto redondo, cabelos loiros cacheados e bochechas rosadas. Tão maternal que eu queria que minha mãe tivesse pelo menos um pouquinho daquele olhar.
— Querida! — Ela exclamou, me ajudando a sentar. — Você está bem?
— Que susto, dona Bárbara! — Seu Zé comentou. — Achei que tinham drogado a senho...
— Seu Zé! — A mulher interrompeu. — Não assusta a menina!
Eu queria dizer que tudo bem. O medo tinha passado. Não estava assustada. E eu estava bem. Só precisava da minha cama. Assim minha cabeça ia parar de doer. De girar. Um tempo para desintoxicar.
— Você almoçou, querida? — a senhora perguntou. — Pode ter sido isso.
Eu ri. Ela não entendia. Eu não podia almoçar. Eu só precisava levantar e ir embora. Mas estava cansada. Exausta. Não tinha forças para levantar sozinha. Assenti, porque não queria ter que explicar que não almocei. E nem ia almoçar.
— Vamos, eu te ajudo a voltar para sua casa — a minha vizinha estendeu a mão, me ajudando a levantar. Seu Zé se apressou para ajudar. — Você consegue andar?
Eu me agarrei ao braço dela, sem saber a resposta. Será que eu conseguia? Sozinha, tinha minhas dúvidas. Com o braço agarrado no dela, parecia possível. Que vergonha! Agarrada em uma desconhecida para conseguir voltar para casa. O que estava acontecendo? Eu queria não estar tão cansada.
— Quer que eu peça ajuda para alguém? — Seu Zé respondeu, se apressando para chamar o elevador. — Acho que os filhos da senhora ainda não voltaram... Seu Rafael saiu há pouco e seu Eduardo ainda não voltou da faculdade.
Eu soltei o braço dela, horrorizada. Era isso. Era por isso que ela era tão familiar. Ela era simplesmente a mãe de Rafael. Comecei a tremer, como se a situação não estivesse constrangedora suficiente. Dei um passo torto para longe, mas sua mão firme agarrou meu braço. Eu não conseguia mais olhar para ela. Eu estava completamente em pânico.
— Não precisa, seu Zé — ela respondeu, com um sorriso enorme. — Eu dou conta de levar a menina sozinha.
O sorriso. Eu teria reconhecido o sorriso.
Nós caminhamos na direção do elevador em silêncio. Continuamos em silêncio até entrar no elevador, quando a mãe de Rafael acenou para seu Zé e agradeceu. Eu tentei sorrir, mas não consegui. Estiquei meu braço trêmulo para apertar meu andar. Será que ela me reconhecera? Sabia quem eu era? Contaria para Rafael sobre esse terrível encontro? Eu tinha uma sina que me fazia compartilhar o elevador com todos os membros da família dele?
Eu estava tão em pânico que só conseguia responder as perguntas dela com sutis acenos de cabeça. O que piorava a tontura. Tinha gente em casa? Eu sacudi a cabeça positivamente. Aquilo era comum? Eu sacudi a cabeça negativamente.
— Mas seu Zé me disse que você desmaiou outro dia no elevador também — ela ponderou...
E eu resolvi que não havia nenhum sinal com a cabeça que fosse capaz de responder a essa pontuação. Simplesmente fiquei em silêncio, orando para que ela não mencionasse Rafael. Já estava difícil demais superar aquela situação sem que o nome dela fosse puxado para a conversa. Ou melhor, para o monólogo.
O elevador chegou no meu andar e Rita, esse era o nome dela, me ajudou a andar até minha porta. A maneira que ela me encarou quando eu buscava a chave na minha bolsa me levou a crer que ela sabia sim. Respirei aliviada quando a porta abriu e eu dei um passo para frente. Rosana estava parada na sala, me encarando com surpresa.
— Sua mãe está louca atrás de você, Bárbara! — ela colocou a mão na cintura, se apressando para porta.
— Obrigada pela ajuda — eu murmurei para Rita, sem levantar o rosto. — Rosana vai me ajudar agora.
— Rosana, prazer! — Rita disse, para meu completo horror, esticando a mão na direção de Rosana. — Posso ter sua garantia de que você vai preparar algo bem gostoso para Bárbara comer?
Rosana assentiu, me olhando pelo canto de olho. Eu estava apoiada na parede, incapaz de me mover. Estava esperando a porta fechar para pedir para Rosana me ajudar a andar até meu quarto.
— Sim, senhora? — Rosana respondeu.
— E, Bárbara, querida... — Rita voltou-se na minha direção, com um daqueles sorrisos. Com certeza sabia quem eu era. — Eu sei que esse mundo faz muita pressão. Especialmente em cima de vocês, jovens. Tem que ser bonitos. Bem-sucedidos. Magros... — ela se alongou na última palavra. — Mas eu queria te dizer que a coisa mais importante que você precisa ser é feliz.
Eu encarei, ainda muda. Sem forças. Tão cansada. Exausta, mas com lágrimas nos olhos. Baixei a cabeça, perdida. Levantei a mão em uma frágil tentativa de aceno. Rosana se despediu por nós e fechou a porta.
— Normalmente eu escuto tudo que você diz, Bárbara — Rosana disse, ainda com a mão na cintura. — Mas você não comeu nada hoje, comeu?
Eu sacudi a cabeça, começando a chorar.
— Comeu ontem?
Chorei mais ainda.
— Eu vou esquentar um prato para você. Depois disso, você vai descansar um pouco, pode ser? — Rosana disse e eu comecei a sacudir a cabeça, querendo dizer que ia pular direto para a parte do descansar. — Não estou aberta para negociações. Se você não comer o prato, vou ligar para sua mãe e contar que uma vizinha veio te trazer moribunda para casa.
Meus lábios tremeram com o choro. Eu queria bater em Rosana, mas a verdade era que, muitas vezes, ela me ajudava mais do que minha mãe com minhas dificuldades do dia-a-dia. Logo, simplesmente aceitei meu destino e comi o prato esquentado, aproveitando o momento, mas contando os segundos para poder dormir novamente. Minha cabeça. Cansada demais. Precisava de tempo. Mais ou menos trinta minutos depois, estava enrolada na cama e chorando até dormir.
Acordei algumas horas depois. Rosana estava indo embora e passou para se despedir. Eu abri os olhos, sonolenta, mas sem tontura ou dores na cabeça. Sentei lentamente na cama, para ouvir o que ela estava querendo dizer.
— Se me cabe uma sugestão... — Ela começou. — E peço muitas desculpas se não couber, porque afinal já falei muito hoje e...
— Pode falar, Rosana — eu disse, fraca.
— Eu gostaria que você procurasse um psicólogo...
Eu encarei, boquiaberta. Do que ela estava falando? Eu não precisava de um psicólogo. Psicólogos eram pra quem estava doente mentalmente. Eu não estava. Só estava cansada. De toda maneira, agradeci. Rosana sorriu, satisfeita com sua intervenção e foi embora, me deixando sozinha. Eu levantei da cama, cansada. Encarei meu reflexo no espelho e, naquele segundo, realmente pensei que eu poderia estar doente. Será que psicólogos podiam curar aquela imagem? Será que ainda existia alguma forma, que não fosse um milagre, que fosse capaz de fazer com que eu realmente me amasse?
Eu dei um sorriso fraco, me arrastando para o banheiro. Encarei o vaso sanitário. Eu deveria vomitar meu almoço. Mas minha cabeça tinha finalmente melhorado. Talvez eu pudesse ficar... Uma refeição completa em dois dias não era uma média tão ruim.
Afastei-me, fechando a porta atrás de mim. Eu precisava ficar longe, pensar em outra coisa. Mesmo que fosse sobre o bendito psicólogo. Eu sabia a teoria. Eu precisava ter amor próprio, ser feliz comigo mesma. As outras coisas da vida funcionariam melhor se esses dois pilares estivessem de pé. Mas dava vontade de rir. Ficar bem, me amar e depois me abrir para o amor? Será que era esse meu erro? Mas como eu poderia ficar bem? Se a única coisa que eu tinha vontade de fazer era ficar naquela cama para sempre.
E tudo bem, não é mesmo? Não é como se eu estivesse com pressa para amar ninguém. Com o coração tão doído. Com as feridas reabertas pelo elevador. Não fazia questão nenhuma de amar ninguém tão cedo. O que era bom, porque provavelmente o processo de amor próprio demoraria. Muito. Isso considerando que eu tinha intenção de começar esse processo... O que eu não sabia se tinha ainda. Mas tudo bem.... Não é como se o amor estivesse batendo na minha porta.
Algo ressoou pela casa e eu demorei um segundo para entender que era a campainha. Me arrastei para fora do quarto, cansada. Quem poderia ser? Será que Rosana tinha esquecido alguma coisa? Ela tinha a chave, não precisava tocar a campainha. Será que era algum vizinho pedindo ajuda? Ai, meu Deus, por favor, que não seja Rita com um bolo ou qualquer coisa do gênero...
— Só um minuto — eu tentei dizer alto o bastante, pegando as chaves da minha mãe na sala.
Quando eu abri, não vi ninguém. Um segundo depois, a porta da escada bateu, fazendo um estrondo e me levando a ponderar que talvez tivesse sido só uma piada das crianças do prédio. Exceto que não tinham muitas crianças no prédio. Ou nenhuma.
Eu estava prestes a fechar a porta novamente quando vi o pacote no tapete.
Eu abaixei, sem sentir muito bem minhas pernas. Me segurei no batente da porta para não perder o equilíbrio, peguei a caixa e me levantei. Fechei a porta e, antes de observar qualquer coisa, me forcei a sentar no sofá. Eu estava sozinha em casa. Não podia me dar ao luxo de passar mal no meio do tapete. Se aquele pacote fosse me dar qualquer tipo de sensação péssima, era melhor que fosse sentada no sofá.
Era uma caixa pequena.
Tinha um cartão.
Eu vi a letra só de relance, mas já sabia.
Droga.
Puxei o cartão para fora, engolindo em seco, ao mesmo tempo que minhas amigas lágrimas voltavam a presentear meus olhos. Que droga, Bárbara. Parte de mim dizia que eu devia colocar aquele pacote no lixo, mas a outra queria muito ver o que tinha dentro.
"Que minhas ações possam te mostrar o que eu não sei mais como te dizer".
Era isso. Só isso. Sem assinatura, sem dicas e sem novas declarações ou pedidos. Não conseguia me convencer a abrir, apertando meus pés no tapete felpudo. Só naquele momento percebi que estava descalça. Eu olhei para baixo, para ter certeza. Descalça. Eu nunca estava descalça. Era esquisito. Sempre usava meus saltos ou outro sapato. Até no banho, usava meus chinelos. Andar de salto já era praticamente uma necessidade médica. Sem meus sapatos eu me sentia exposta.
Só que o que aquele tapete estava me mostrando era que não precisava ser assim. A sensação do tapete felpudo entre meus dedinhos me dava vontade de rir, me fazia pensar em liberdade e ponderar o que eu vinha perdendo a andar sempre calçada.
Rafael também me deixava exposta. Tão exposta que, na maior parte do tempo, eu tentava me defender. Reerguer os muros que ele derrubava com sua simples existência. Seria sempre ele, não é mesmo? Uma droga.
Só que quando eu puxei o conteúdo da caixa para fora, comecei a pensar que talvez não precisasse ser assim.
Era como se, com Rafael, eu estivesse sempre descalça.
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Oi.
Cheguei no final do dia, mas cheguei. Já estava quase tudo escrito desde ontem, mas eu tive dois dias super puxados no mestrado (sim, eu faço mestrado! Já falei isso?) e não tive tempo de digitar até agora. Precisei adicionar algumas coisas também...
O capítulo está enorme, não é mesmo? Foi super difícil escrevê-lo. Muito sentimental, pesado e - acima disso tudo - importante. É o começo de uma nova vida pra Bárbara, que está tão confusa e no fundo do poço, que precisa começar a se reinventar. Então, para quem me perguntou por comentários ou por mensagens: sim, vamos falar sobre essa bulimia. Precisamos falar sobre todas as bulimias, sobre todos os distúrbios e todos os problemas do nosso coração.
Eu estou considerando que talvez eu precise de mais um capítulo. De todo modo, o livro provavelmente vai acabar até o final do mês. Eu estou separando algumas opções para abrir a enquete e perguntar o que vocês querem ler agora :) Talvez no próximo capítulo já venha a enquete!
Queria agradecer muito pelos comentários, estrelas e pelo apoio. Vocês são muito importantes na minha vida, de verdade. Espero que eu tenha pelo menos um pouquinho de impacto positivo na de vocês também :). Por favor, deixem suas estrelinhas e compartilhem o livro com seus conhecidos - especialmente aqueles que podem se beneficiar com a história da Bárbara.
Recados rápidos:
1) Fui finalista de um concurso de contos de uma plataforma chamada Sweek! Vou deixar o link no meu perfil para quem quiser ler :)
2) O sorteio de Mundos Paralelos autografado por 8 autores está rolando na minha página do facebook (/autoraclarasavelli). Não percam a chance!
3) Semana que vem vai rolar uma semana temática de Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) Talentosos (meu primeiro livro aqui no Wattpad) e eu adoraria que vocês participassem comigo! Entrem no meu grupo de leitores no facebook pra saber tudo que eu estou armando, mas em resumo, compartilhem o amor de vocês pelo livro entre o dia 11 e 18 de Junho usando a #publiquemacampamento :). Boatos que vou mandar marcadores para todo mundo que participar :)
Beijos e boa leitura!
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