Capítulo 17 - Sometimes I say stupid things (Rafael)
Sometimes I say stupid things
(Às vezes eu digo coisas estúpidas)
That I think well, I mean I
(Que eu penso, bem, eu quero dizer eu...)
Sometimes I think the stupidest things
(Às vezes penso as coisas mais estúpidas)
Because I never wonder
(Porque eu nunca me pergunto)
Oh how the girl feels
(Oh, como a garota se sente)
No You Girls - Franz Ferdinand
Bárbara ficou em silêncio por um minuto. Dois. Três. Quatro... Quem é que estava contando? A sensação que eu tinha é que ela estava em silêncio por uma eternidade inteira. Também, que porra eu estava pensando? É claro que puxar uma conversa era uma péssima estratégia. Terrível. Só podia dar confusão mesmo. Eu esperava, todavia, no mínimo uma bolsada na cara.
A bolsada era pior que o silêncio.
Mas o silêncio era melhor que um pé de cabra. Eu acho.
Quando eu comecei a questionar se minha pergunta a tinha feito entrar em um estado de pânico tão grande que não tinha mais volta, ela olhou para mim. Seus olhos estavam cheios de água, mas sua expressão era firme. Dura. Resoluta.
— Não tenho nada para falar com você — ela disse.
Sua voz era quase firme. Tinha uma pontadinha de emoção ali no meio. Eu continuei abanando, para não correr o risco de perder os poucos centímetros de confiança que eu tinha reconquistado.
— Bárbara — tentei chamar.
— Nada — ela cortou. — Para falar — as palavras vinham a prazo. Não sei se era porque ela estava mesmo com muita raiva ou prestes a passar mal. Por via das dúvidas, abanei mais rápido. — Com você.
— Por favor — eu disse. — Acho que é necessário.
Não dá nem para acreditar que esse tipo de coisa estava saindo da minha boca, mas estava. Eu precisava olhar algum tipo de teoria ou estudo sobre perder o próprio controle da fala. Estava tudo fora de controle no meu cérebro. Acho que as minhas miniaturas mentais tinham sido pegas de surpresa por um assaltante chamado coração e passado totalmente o controle das minhas ações para esse filho da puta.
— Não — foi tudo que Bárbara disse. — Por favor, digo eu — ela enfiou o rosto entre as mãos. — Cala a boca. Não quero ouvir sua voz. E continua abanando essa porcaria.
Eu prendi uma risada na garganta e disfarcei com uma leve tosse. É claro que não era hora para rir, mas estava me dando uma vontade horrível de gargalhar. Nunca fui bom em lidar com situações do gênero. Era mais fácil quando eu estava simplesmente triste. Não me dava vontade de rir.
Mas eu não estava triste.
O que era a merda de um problemão.
Porque no meio desse assalto, pelo jeito, meu coração tinha convencido meus funcionários mentais que estava tudo bem se nós tivéssemos um pouco de esperança.
ESPERANÇA.
Sacou a merda?
Porra, esperança de quê?
Não é como se eu quisesse reatar o namoro.
Não é como se essa fosse nem mesmo uma opção a ser ponderada.
Nós dois mal conseguíamos respirar o mesmo escasso ar nesse elevador. Como é que a gente ia reatar um namoro?
E por que caralhos eu estava pensando nessas coisas?
— Bárbara — eu disse, só para fazer minha cabeça pensar em outra coisa. Não tinha mesmo nada para colocar depois do vocativo. — Acho que a gente precisa mesmo falar sobre algumas coisas.
Ela me encarou com uma expressão transtornada, mas ainda a beira das lágrimas. Seus olhos fundos estavam estreitos, assim como seus lábios. Sua testa ficou franzida e até a pontinha do seu delicado nariz deu uma torcida. Ela levantou uma mão. Achei que era para me dar um tapa. Não me movi. Eu merecia um tapa, eu acho.
— Acho que você pode ir pro inferno — ela respondeu, movimentando seu lábio só um pouquinho, para um esboço de sorriso meio falso.
Eu abri a boca para responder que pelo jeito já estava nele, mas fechei no último segundo. Fiquei com medo do que ela ia pensar. MEDO. A combinação desse sentimento com a esperança supramencionada me dava mais medo ainda.
E se eu estava no inferno, a única coisa que me sobrava fazer era abraçar o capeta.
Como se esse fosse exatamente o gatilho que minhas miniaturas estavam esperando, meu cérebro começou a me bombardear com um monte de questionamentos e informações que ele desejava que eu repassasse para Bárbara.
— Você não quer falar sobre a primeira vez que me viu, por exemplo? — eu perguntei, cruzando os braços. — Porque eu realmente gostaria de ouvir esse seu lado da história.
— Te achei um babaca desde o início — ela retrucou, desviando o olhar.
Ignorei.
É claro que ela não tinha me achado um babaca desde o início. Eu podia até ser meio idiota, mas eu era uma pessoa boa. Ela era minha melhor amiga. Quem fica amiga de um cara babaca, a não ser uma pessoa igualmente babaca?
Ela era uma babaca, é claro.
Mas isso foi depois.
— Você não quer falar sobre nosso primeiro encontro? — eu espetei de novo, sentindo-me confiante. — Sabia que eu estava tão nervoso que quase te liguei para desmarcar, dizendo que eu estava com alguma virose maluca?
— Rafael — Bárbara disse, ainda olhando para o outro lado, com a voz dura. — Cala a bosta da sua boca.
— Não, Bárbara. Não tem o que você possa fazer, além de me ouvir e entrar na conversa — eu estiquei minha mão para tocar seu braço. — Você não lembra de quando eu te pedi em namoro? Achei que eu ia engasgar no meio do pedido.
— Rafael... — agora a voz dela já parecia mais amolecida, mas ela puxou o braço para longe de mim.
Escorreguei mais para perto. Nada era capaz de me impedir agora. Nada. Era hora de colocar tudo na mesa e esperar sua opinião sobre o assunto. A esperança tinha tomado conta do meu corpo todo e chegava a ser tão forte que eu me sentia quase sufocado por ela.
— Sua festa de dezesseis anos, você lembra dela? — eu perguntei, dando um sorriso que ela não viu. — Dancei valsa com você.
— Por que você está fazendo isso? — ela retrucou, encostando-se no elevador e choramingando baixinho.
— A gente precisa conversar — eu disse, porque era óbvio que era isso que eu queria. — Tem muita coisa que eu não entendo.
— Não, Rafael — ela sacudiu a cabeça, fungando.
Eu me aproximei, tocando seu braço novamente. Tão sutil que por um segundo achei que ela não tinha percebido, mas seus ombros ficaram tensos no segundo seguinte. O toque da pele dela era motivo para despertar as lembranças mais incríveis, as que hoje eram as mais sofridas.
— Você lembra, Bárbara, da primeira vez que te deixei sem ar? — Eu disse, percorrendo o braço dela com meu dedo. — Da primeira vez que... — era difícil até dizer. — dormimos juntos?
Bárbara choramingou mais alto e eu comecei a me sentir culpado. Eu não queria deixa-la triste. Eu queria bombardeá-la com o que me fez feliz, anos atrás. O que nos fazia feliz, anos atrás. Eu queria fazê-la querer falar.
— Foi você que terminou comigo, Rafael — ela disse, virando o rosto só um pouquinho na minha direção.
Eu me ajeitei, para conseguir enxergá-lo. Deslizei só um pouquinho no elevador, para encará-la.
— Isso foi antes — eu disse, sem ter coragem de entrar nesse assunto.
— Claro que isso foi antes — ela disse, revirando os olhos molhados. — Antes de você quebrar a merda do meu coração.
— Você também quebrou o meu — eu disse, na defensiva. — Você não quer falar sobre as merdas que espalhou sobre mim no colégio, por exemplo?
— Você estava andando com a Nadja dias depois de terminar comigo — ela apontou um dedo na minha cara, voltando a parecer transtornada. — O que você queria que eu fizesse?
Ela fez exatamente o que eu queria que ela fizesse: ficou com muita raiva.
Nas minhas previsões, todavia, eu não tinha pensado que ela ficaria com tanta raiva a ponto de fazer meus últimos meses em Monterey serem praticamente insustentáveis.
— Eu não gostava de Nadja de verdade... — eu tentei minimizar o assunto.
— Não importa! — ela berrou.
— Claro que importa, eu não queria te magoar de verdade — eu tentei de novo, sem saber o que fazer.
Aquela discussão tinha saído completamente do controle e caminhado para um lado que eu não estava interessado em discutir. Nem sabia como fazê-lo. Será que a gente não podia esquecer isso e seguir em frente? Carregar só as lembranças boas, quem sabe?
— Você não queria me magoar? — ela gritou. Tão alto que eu achei que seu Zé viria ver se estávamos bem ou nos matando. — Você me chamou de gorda.
A declaração dela me surpreendeu. Tanto que eu até me inclinei para trás, confuso. Gorda? Ela nunca foi gorda. Tudo bem que ela tinha mais quilos do que tem agora, mas eu chamo isso de ser saudável.
— Eu nunca falei isso — eu disse, sendo verdadeiro mesmo.
— Mentiroso! — As lágrimas escorriam pelo seu rosto como se aquela, dentre todas as coisas que eu já tinha dito naquele elevador e na vida, tivesse sido a mais dolorosa que ela ouviu. — Você fez!
Então, ela contou.
Eu era uma pessoa muito pior do que eu me lembrava.
E a esperança que tinha conquistado meu corpo voltou a ficar pequena... Tão pequena que eu tinha minhas dúvidas se conseguia encontrá-la novamente.
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7 anos antes, mês de Abril – Monterrey, Califórnia
A lembrança veio aos poucos a medida que Bárbara ia contando, entre soluços. Não dava nem para entender como ela conseguia falar. Parecia que cada palavra enfiava uma estaca no seu peito. Eu queria calá-la. Ela não precisava passar por isso, por minha culpa.
De novo.
Eu lembrava o primeiro dia que ela apareceu diferente. Seu cabelo estava cortado de forma sensual, repicados em camadas e caindo pelo rosto. Suas roupas eram diferentes também, mais justas. Menos seus sapatos, que eram sempre os mesmos. Quando ela entrou no colégio, todo mundo ficou mudo.
Fiquei com medo de que naquele silêncio mórbido fosse possível ouvir meu coração. Porque ele estava batucando alto.
Eu tentei não olhar, tentei de verdade.
Falhei. Ela nem olhou para trás.
Passei o dia inteiro inquieto. Toda vez que eu dava um mole, minha mente saía voando e me levava até ela. Sentada um pouco mais na frente na sala ou andando pelos corredores. Por que ela tinha feito isso? Já tinha ouvido todo tipo de comentários dos moleques da escola e tive que me segurar para não deixar cada um deles com olhos roxos.
Eu não era nada dela. Eu não podia revidar. E, acima disso, eu não acho que ela precisava de minha ajuda. Será que aquilo tudo era por mim? Era muito egocentrismo cogitar essa possibilidade? Mas se era por minha causa, estava tudo errado. Ela precisava ficar com ódio, não só magoada.
Queria aquela raiva que a fizesse sentir alívio quando eu fosse embora. Se fosse só mágoa, eu não precisaria ter arquitetado todo aquele plano. Então, mais tarde naquele dia, me apoiei no armário dela e esperei.
Vi quando ela me viu. Foi só um olhar de relance e ela deu uma meia-parada, como se questionasse se deveria continuar ou não. Continuou. Já chegou me mandando sair da frente. Eu respondi com alguma outra gracinha, claramente desestabilizado pela proximidade.
Merda.
Eu me lembrava de questionar se um dia aquela sensação ia passar.
Pelo jeito, a resposta é não.
— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou, num tom raivoso.
— Eu só queria... — eu comecei, mas não continuei.
Perdi toda força e coragem para falar quando ela olhou para mim, tão perto. Eu abri um sorriso, tão fraco que nem sei se ela conseguia reparar. Era tão linda. E estava ainda mais bonita. Eu queria abraça-la. Escondê-la entre meus braços. Reatar o que eu queria não ter rompido.
— Eu acho que estourei toda cota de tempo que eu tinha para perder com você nos últimos seis meses — ela revirou os olhos. — Ou você desembucha de uma vez, ou eu vou cair fora.
Mas não tinha jeito. Tão linda.
E nunca mais ficaria comigo.
— Se me cabe um conselho — comecei, desviando os olhos.
Não dava para falar aquilo olhando para ela.
— Não cabe — eu a ouvi responder, mas ignorei.
— Esse tipo de roupa te deixa gorda — eu disse, com dificuldade de proferir as palavras.
Os olhos dela se encheram de lágrimas naquele mesmo segundo que eu terminei a palavra. Se eu pudesse pegá-la de volta, eu teria feito. Seus lábios tremeram, tristonhos. Eu virei de costas e fui embora, com medo de que eu mesmo começasse a me sentir mal ou caísse de joelhos, implorando perdão e declarando minhas mentiras.
Eu não queria terminar.
Ela não era gorda.
Ela era a garota da porra da minha vida.
Mas não tinha jeito.
Era um amor que não era para ser.
Eu só tinha quinze anos.
Como saber que eu estava fazendo tudo errado?
E agora, todo esse tempo depois, como ajeitar o tudo errado do passado?
Não tinha jeito.
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Não tem mais jeito, acabô, boa sorteeeee ♪
Será, gente? Esses dois ainda tem solução? Nem eu tô sabendo dizer.
Queria pedir desculpas por não ter postado ontem (de novo). Eu tô vivendo numa bola de neve assim, onde minhas coisas só se acumulam dia após dias e eu tô tipo sufocando. Todo dia tento colocar tudo em ordem para conseguir seguir em frente e ter um amanhã melhor, mas tô falhando de verdade. Espero conseguir. Na minha lista de coisas para fazer até terça que vem tem um bônus. Já até pensei sobre o que vai ser, mas oremos para eu conseguir executar. Segunda-feira passei o dia inteiro chorando, mas hoje já estou um pouco mais fortalecida. Queria pedir umas correntes de boas vibes aí, viu.
Boas novas são: ontem eu e uma galera aqui do wattpad divulgamos uma fotinho dizendo #embreve! É sobre aquele projeto que eu já falei para vocês aqui nos comentários. A foto tá no meu instagram (claraguta) e na minha fanpage (/autoraclarasavelli), para quem quiser ver!
Já passamos de 40k!!!!!!!! EBAAAAAAAAAAAAAAAAA. Vou esperar fazer 50tão e providenciar um bolinho, sim??? Estou com saudades de bolinhos!
Obrigada pela paciência e por não desistirem de mim. E para quem pediu DR no elevador, COMEÇOU!!!!!!
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