Capítulo 03: - Diagnosed With Love (Diagnosticado com Amor) - Rafael
Does anybody know the answer to this question?
(Alguém sabe a resposta para essa pergunta?)
Cause I'm confused so now
(Porque eu estou confuso então agora)
I'm hoping for suggestions
(estou torcendo por sugestões)
My heart is talking loud (So loud)
(meu coração está falando alto – tão alto)
What is this about (About)?
(Sobre o que é isso? – sobre o quê?)
Diagnosed With Love – Chris Brown – 2008
Quando finalmente parou de berrar. Bárbara puxou um maldito caderninho da bolsa, como se fosse conseguir enxergar qualquer coisa naquela escuridão. Ela inclinou a luz do celular para o caderno e xingou baixo, em inglês. Pelo jeito alguém tinha um compromisso muito importante marcado e não podia se dar ao luxo de perder a noite inteira trancafiada no elevador com o ex-namorado.
Eu também conseguia pensar em pelo menos cento e oitenta e quatro lugares que eu preferia estar do que trancafiado no elevador com ela, mas pelo menos não ficava dando na cara.
— Vai perder sua reunião com o secretário-geral da ONU? — eu disse, cruzando os braços por cima da perna, largado no chão.
— What? — ela tirou os olhos da agenda e me encarou, confusa.
— Você sempre com essas malditas agendas — eu apontei, fazendo desdém.
Ela fechou a agenda com uma dramaticidade desnecessária e o barulho ecoou naquele cubículo. Ela jogou a agenda dentro da bolsa e apoiou a bolsa sutilmente no chão, ainda me olhando com raiva. Era algo que ela precisaria superar. Pelo jeito nosso destino seria passar horas aqui dentro. A não ser que ela topasse aproveitar o tempo disponível para tirar um cochilo naquele nada confortável chão de elevador, teríamos que conviver.
— Vai dizer que ainda usa caneta de pompom rosa? — eu dei um sorriso de canto, irônico.
— Você não tem nada a ver com as minhas canetas — ela retrucou, cruzando os braços.
Ela continuou falando, mas eu não estava mais ouvindo. Já estava perdido em lembranças, que não fazia questão nenhuma de lembrar.
8 anos antes – Monterrey, Califórnia
Eu estava tomando banho quando meu celular começou a tocar. Eu enfiei a cabeça para fora da cortina, só para ver de quem era a ligação. O nome dela estava estampado no visor e eu saí todo destrambelhado do chuveiro, deixando um rastro de água para trás. Tive muita dificuldade de apertar o botão, com a mão molhada. O celular era pequeno, uma versão muito anterior aos smartphones que teríamos anos depois e as teclas eram rígidas e apertadas.
Era a primeira vez que ela me ligava, eu não podia me dar ao luxo de perder a ligação.
— Hello? — Eu atendi, tentando soar calmo.
— Oi! — Ela disse, em português. Eu contive um sorriso. Então ela continuou usando inglês. — Eu pronunciei certo?
Eu ri. Nós tivemos poucas interações ao longo do último mês, meu primeiro como aluno do Colégio St. Claire – tradicionalíssimo colégio privado de Monterrey, Califórnia. Nas poucas vezes, eu sempre deixava escapar uma palavra ou outra em português (mas eu me negava a aceitar que era por nervosismo) e ela ria, querendo aprender. É claro que oi já tinha sido uma dessas, naquela altura.
— Sim — eu ri, falando também em inglês. — Oi, Bárbara.
— Está ocupado? — Ela perguntou.
— Não — eu respondi, omitindo o fato de que meu banheiro estava sendo alagado e que isso significava que, eventualmente, minha mãe ia descobrir e me matar.
Eu já conseguia até ouvir os gritos. De repente, se eu colocasse a culpa no Eduardo...
— É que eu estava pensando, sabe... — ela disse do outro lado da linha e meu coração disparou.
Eu conseguia imaginá-la enrolando a ponta dos cabelos loiros e lisos no dedo, mordendo o lábio como quem tem dúvida do que deve falar e levantando aqueles olhos tão azuis para me encarar. Era uma bela cena para se imaginar. Realmente, incrível. No que ela estava pensando? Porque eu estava passando muito tempo pensando nela desde que a vi pela primeira vez.
— Sobre o nosso trabalho de química — ela continuou e jogou um balde de água fria em todas as minhas expectativas.
A primeira ligação de Bárbara para mim foi para saber sobre o nosso trabalho de química. Eu conseguiria pensar em cento e oitenta e quatro assuntos que eu preferia que fossem o motivo daquela ligação.
Mas, honestamente, eu não podia mesmo reclamar. Já fazia um mês que as aulas tinham começado e eu mal tinha conseguido trocar três palavras com a garota. Em minha defesa, ela era intimidante. Tinha pernas compridas, apesar da baixa estatura. Vivia de salto alto, para compensar a situação. Eu não conseguia parar de encarar enquanto ela passava pelo corredor, usando um salto de mandona, mas toda suave. Ela quase parecia andar em câmera lenta, deixando um rastro de perfume e de garotos babando para trás.
Na verdade, eu nem sei se isso é realmente verdade. Eu só sei que ela deixava um Rafael babando para trás. Eu não estava acostumado com essa história de ficar babando e muito menos de ficar para trás.
E não pense que era porque eu sempre fui desse meu jeito, desde novo. Ah não. Isso simplesmente nunca tinha acontecido antes porque eu nunca tinha achado uma garota tão linda e tão interessante naquele nível. As minhas colegas no Brasil eram até jeitosas – uma ou outra era realmente bonita, mas nunca balançaram meu interior como aquele balançar de quadris no corredor vinha balançando. Parecia um maldito terremoto por dentro, toda vez que ela passava.
Por sorte, a professora Robb sorteou as duplas para o trabalho de química e nós dois acabamos juntos. Isso me deu motivo suficiente para trocar celulares com a menina e conseguir falar mais de duas palavras sem sentir um bolo se formando no meu recém-desenvolvido pomo-de-adão.
— Ah sim — eu respondi tentando não parecer frustrado. — O que tem ele?
— Eu estava pensando... — ela começou novamente.
As visões do cabelo sendo enrolado no dedo voltaram e eu ponderei o quanto precisaria tolerar daquele sofrimento. No que ela estava pensando? Eu pagaria meus escassos dólares da época para saber essa resposta. Não sobre a química, mas sobre mim. De repente sobre a nossa química.
Na época, Bárbara nem era a garota mais desejada do colégio – ah não, tinham muitas outras. Eu bem sei. Soube melhor ainda depois. Mas, inegavelmente, ela tinha alguma coisa. Eu não sabia dizer o que era, mas me fazia querer ficar por perto o tempo todo. De repente era algum mel próprio, que fazia brasileiros orbitarem ao seu redor? Eu poderia provar essa teoria agora que ela estava no Brasil. Se funcionasse com outros homens, só podia ser isso.
Se bem que a Bárbara que estava na minha frente, trancada comigo no elevador, era muito diferente daquela que habitava as minhas lembranças indesejadas.
— Quando você pode ficar depois da aula para o fazermos? — Ela terminou a ponderação.
Hum.
Eu examinei as minhas possibilidades, enrolado muito mal em uma toalha, no final da tarde de uma terça-feira meio gelada em Monterrey. Era bom que não fosse muito cedo, porque provavelmente em algum momento daquela semana eu teria que lavar o banheiro – se não conseguisse empurrar a culpa para Eduardo. Alerta de spoiler: eu não consegui empurrar a culpa e tive que lavar tudo mesmo, sob os constantes gritos da minha mãe que era "para eu aprender a ser mais responsável".
Bem, pelo jeito não funcionou, não é mesmo? Pelo menos não do jeito que ela queria. Anos depois, eu não era responsável como ela desejava. Tenho dúvidas se um dia serei.
Um encontro para fazer o trabalho era melhor que encontro nenhum, né? Eu não podia dizer que estava disponível qualquer dia porque não queria que ela pensasse que eu era um desocupado. Ao mesmo tempo não queria que ela achasse que eu era um desinteressado se eu parecesse displicente. Eu precisava ser certeiro, de repente dizer um dia, uma hora e um local. Rápido, direto e, se eu tivesse muita sorte, apaixonante?
— Terça-feira é um bom dia para você? — Ela interrompeu meus pensamentos e destruiu mais uma vez todas as minhas expectativas. — Podemos nos encontrar na biblioteca.
No decorrer dos anos, Bárbara fez muito isso. Destruiu minhas expectativas sobre muita coisa. Ela tinha um raciocino acelerado, frases destruidoras e uma maneira única de sorrir quando estava zoando da minha cara. Eu tive que aprender a contorna-la, a ser mais rápido e a surpreendê-la.
— Pode ser na terça sim — eu disse, sem ter certeza.
Não tinha exatamente uma agenda onde anotava todos os meus compromissos, o que provavelmente só mostrava que minha mãe estava certa e eu precisava ter um pouco mais de comprometimento com minhas obrigações. Em minha defesa, nunca deixei de fazer uma prova ou faltei a compromissos importantes. Só vivi uma vida com muita emoção, na qual muitas vezes só descobria sobre a prova na manhã que eu pisava no colégio ou só lembrava do compromisso na hora que eu já deveria estar chegando nele. Vamos incluir nessa última categoria quase todos os meus voos, trens e ônibus, durante o mochilão pela América Latina.
— Então está combinado — ela disse.
Eu conseguia ouvir o som da sua caneta arrastando pela sua agenda. Pelo que eu observava na aula, ela sempre carregava uma agenda. Na época, é claro, ela ainda não usava uma caneta de pompom rosa. Isso foi só depois... Bem, depois de tudo.
— Combinado sim — eu respondi.
— Sabe, eu estava pensando — ela começou de novo e eu fechei os olhos, sem aguentar criar expectativas em cima de algo falso.
— Sim? — Eu tentei incentivar.
Alguém bateu na porta bem na hora, interrompendo minha terceira esperança no dia que ela tivesse algo a dizer sobre nós, além do trabalho de química. De repente ela podia perguntar se eu não queria acompanha-la na festa de alguma amiga, ou na estreia de algum filme no cinema... De repente num show. Qualquer coisa. Eu não era muito criterioso se o assunto envolvesse Bárbara.
— Tá falando sozinho, seu maluco? — a voz do Eduardo ressoou do outro lado do banheiro, juntamente com uma risada.
Bárbara ouviu e silenciou. Eu quis abrir a porta e dar na cara de Eduardo que na época era um pentelho de onze anos de idade e não tinha menor noção da vida – muito menos sobre garotas. Não que eu tivesse, no auge dos meus quinze. Não que eu tenha, no auge dos vinte e três.
— Você precisa ir? — ela perguntou, do outro lado da linha.
Eu poderia dizer não, é claro. Mas Eduardo continuaria achando que eu estava falando sozinho e continuaria falando do outro lado da porta, atrapalhando o andamento da conversa. Eu também não podia abrir a porta e manda-lo dar uma volta porque ele veria o estado do banheiro e adiantaria a bronca que eu levaria da minha mãe.
— Sim — eu murmurei no telefone. — Mas Bárbara, eu estava pensando...
Ela riu. Não sei até hoje se ela percebeu a ironia ou se ela simplesmente achou algo no meu tom de voz engraçado. Minha voz ainda estava se firmando, então a segunda opção é plenamente possível.
— Se algum dia desse você não quer, sabe, sair comigo — eu disse, de uma vez, segurando a toalha na cintura com a maior dificuldade da minha vida. Talvez, eu disse talvez, minhas mãos estivessem tremendo. — De repente ir no cinema, ou na praia ou, ou, ou...
— Sabe de uma coisa, Rafael? — Ela disse e só pelo seu tom de voz eu era capaz de dizer que ela ainda estava sorrindo. — Eu adoraria.
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https://youtu.be/t2M-FtTwlyo
Se você não pegou a referência, favor clicar play no vídeo abaixo:
https://youtu.be/BKY8ni6kByE
Bundas reboladas ou não, aí está nosso lindo capítulo de TERÇA-FEIRA e AINDA É TERÇA-FEIRA, então está tudo nos conformes!!! Peço desculpas por um post tão tarde, mas hoje foi um dia atípico. Não só porque foi feriado e eu montei todas as coisinhas de Natal aqui em casa (fotos no meu insta, claraguta), mas porque eu passei GRANDE PARTE do dia trabalhando em um PROJETO ESPECIAL que vocês vão saber MUITO EM BREVE e que envolve um monte de gente talentosa e maravilhosa aqui do Wattpad. AGUARDEM!
Então, esse é o novo modelo de postagem que eu tô pensando pro livro. A princípio cada um vai narrar o capítulo sozinho agora, sem repetição de cenas e sem eles dois narrarem no mesmo capítulo. Algo no elevador, no início do capítulo, vai despontar alguma lembrança no fundo da memória desses dois malucos e arrastar-nos para um flashback. Agora, ATENÇÃO: os flashbacks não vão seguir a ordem cronológica dos acontecimentos!!!!!!!!!! OHHHHHHHHHHH! Ou seja, fiquem ATENTOS porque vocês que vão ter que montar esse quebra-cabecinha na cabeça, com os acontecimentos e lembranças que eles vão apresentando, no meio desse turbilhão de emoções. Ou seja, ainda teremos capítulos com lembranças ANTERIORES à essa do Rafa (posteriores também, é claro).
RECADINHOS FINAIS:
1) Tem promoção rolando no meu canal do youtube + grupo de leitores no facebook, valendo DOIS LIVROS DA PAULA PIMENTA. Assista esse último vídeo do meu Bookshelf Tour até o final e saiba como participar:
2) Tem BLACK FRIDAY chegando!!! E adivinha quem vai estar em promoção? Isso mesmo, Mocassins e All Stars! O livro vai ser vendido pelo mesmo preço que eu vendo para vocês, leitores do Wattpad. Apenas R$32, com frete grátis e brindes (botton, adesivo e marcadores de TODOS os meus livros - menos chinelo e salto alto, que ainda não tem marcador. Providenciarei, viu!). Fiquem de olho na minha página do facebook (/autoraclarasavelli) que vou lançar a promo por lá! Ótima oportunidade de pedir aquele presente de Natal adiantado, hein!!
3) Alerta de evento também! Vou estar dia 04/12, na Barra da Tijuca, no evento NATAL LITERÁRIO! Vai ser no Condomínio Ion Intelligent Center – Av. das Américas, 1650 - Bloco 3 – Barra da Tijuca – RJ a partir de 12h30. Estarei lá até 19h30 esperando vocês para dar beijos, abraços e autógrafos. Estarei com Mocassins e All Stars e posteres de Acampamento (que serão brinde para quem comprar o livro, mas também serão vendidos avulsos para quem não comprar o livro, por R$5. Se você já tiver o livro, é só levar que eu dou um poster!!).
Acho que é só, viu.
Obrigada por todo carinho de sempre! Animada porque nós já estamos com 4.5k de leituras! De repente eu faço um bolo quando chegarmos em 10k? <3 Acho digno!
Beijos e até terça-feira :)
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