Capítulo 08: Sem Mais Lágrimas
CAPÍTULO 08 – Sem Mais Lágrimas
DELILAH DANVERS
O funeral de Lisa Castillo ocorreu em Verona, na Itália, em vinte e cinco de Setembro, pelo fim da tarde. Eu não havia levado flores e vestir preto nunca combinou comigo.
Lisa Castillo só havia falecido há dois dias, no entanto, já aparentava completar uma órbita. Em dois dias, ouvi mais histórias sobre ela, lástimas de saudade e todos os tipos de sons de choro do que já ouvira em toda a minha vida.
— Eu vou te perguntar algo, Dev — anunciei à Radke, de repente. — Talvez seja bobagem, mas preciso que seja sincera.
Debaixo de uma mesa, escondida do funeral ao lado de Devon, meus braços estavam encolhidos e as minhas costas, doloridas, por já estarem curvadas na mesma posição por tempo demais.
Devon era como uma irmã para mim. Me entendia como ninguém e uma das únicas pessoas que nunca me julgava, mesmo depois de eu externalizar os maiores absurdos já falados das últimas décadas. Eu também costumava dizer que Dev era como uma versão de mim, só que mais discreta e um tanto quanto mais nova.
— Tudo bem. — Ela me olhou.
— Você acha que a Lisa foi para o céu?
Concentrada no questionamento, Devon encolheu-se mais, contorcendo as sobrancelhas.
— Bem, eu...
— Acho que não. — Eu a interrompi, antes mesmo de tê-la dado a chance de me responder. Devon estreitou os olhos firmemente. — Lisa era uma pessoa de alma boa, mas muito conturbada, não concorda? Ela tinha alguns problemas, me lembro bem.
— De fato, Lisa era uma menina correta. Mas com certeza não está no céu, apesar de eu constantemente duvidar da existência disso. — Ela fez uma pausa para refletir. — Acha que vai sentir falta? Da Lisa?
Me ajeitei no pequeno espaço. Minha cabeça encostava no teto da mesa, enquanto Devon por pouco debruçava-se ao meu lado.
Talvez eu não fosse tão desapegada quanto parecesse ser, mas devo admitir que a minha relação com Lisa nunca foi das mais verdadeiras. Logo, a resposta era uma só.
— Não, não sei se vou. Mas Lisa sempre foi... sempre foi muito emotiva... Sei que caso qualquer um de nós viesse a morrer, ela sentiria a nossa falta. Não sei se é justo com ela.
— Como se você se importasse, Delilah. — Devon riu. — Ela está morta. Não é justo conosco. Pagamos caro para estar aqui e adivinhe? Tivemos as férias inteiras estragadas por culpa dela.
Pigarreei. Soa como algo cruel de se pensar e sequer dizer, mas é a dura verdade. França não tinha mais graça. Nenhum de nós parecia animado com a viagem, os pontos turísticos, os passeios que planejamos juntos. Não mais.
— Eu não queria dizer antes, mas a primeira coisa que pensei foi isso. Ninguém se importará mais com a viagem, imagino. ASMFC poderia ter matado a Lisa depois que chegássemos na California — brinquei. Com certeza, não com a melhor intenção, mas com a angústia de tudo que acontecia.
Devon encolheu-se mais ainda, gargalhando, com o rosto de frente com seus joelhos. Pensávamos igual sobre quase tudo e era indiscutível.
Eu e Radke fomos interrompidas de nossas falácias assim que Ryan puxou o pano branco que cobria a mesa, nos relevando sentadas no chão, escondidas lado a lado, grudadas pelo aperto.
— O que vocês estão fazendo aí? — Ryan perguntou baixinho, inclinando o corpo magro para nos enxergar melhor. — Isso é desrespeitoso para caralho.
— Com quem? Lisa? — Devon retrucou, sarcástica. — Não fazia ideia que ela estava aqui para ver essa cena. — Reclinada ao seu lado, eu cutuquei um de seus braços em repreensão, por mais que segurasse a risada.
— Saiam daí antes que mais alguém as veja.
O ignorei.
Observei pela frecha da mesa o que acontecia do lado de fora, mas só reparei em Joshua, cambaleando atrás de Ryan, com uma taça nas mãos, as pernas frouxas e os olhos, uma vez verdes, ficando vermelhos.
— O que Joshua está bebendo? Por acaso deu isso à ele? — Me direcionei a Ryan, que segurava uma garrafa de espumante com dois dedos. — Não acredito que vai fazê-lo se embebedar com vinho, Ryan. Sabe que ele é descontrolado.
Ryan virou a cabeça para todos os lados, garantindo que ninguém o notou com o corpo agachado e com uma garrafa quase vazia.
— Ele está deprimido, Delilah, e você sabe o que ele sempre diz...
— Sim, é claro que sei — afirmei. — Mas não seria difícil adivinhar, de qualquer jeito. É o que todos os alcoólatras falam, sim? 'É só uma forma de escape'. Nada dessa merda justifica.
— Delilah...
Devon o olhou, perturbada. Quis se intrometer.
— Como pode nos chamar de desrespeitosas quando o ex-namorado de Lisa está bebendo todas no funeral da própria? — Sua voz aguda ecoou, pela primeira vez durante a conversa, em alto som.
E por uma fração de segundos, Ryan não soube mais ao certo o que responder e nem por onde começar, mas certificou-se de ajeitar a postura e manter contato visual conosco.
— Eu sei que a Lisa era uma pessoa... complexa. Ela era a mais reservada de nós e talvez, contudo, a mais difícil de lidar, pelo menos com a maioria das coisas. Mas, apesar de tudo, Lisa era nossa amiga. — Ryan começou. — É claro que Joshua está muito mal com a situação. Ele a amava. Vocês podem achar que não é desrespeito com a Lisa, mas sabem que é com ele.
— Foi um belo discurso, Ryan. — Fingi limpar lágrimas nos cantos dos olhos, enquanto Devon batia palmas descontroladamente e balançava a cabeça. — Estou emocionada. Sabe de tanto... também sabe que é um hipócrita, não?
Enfim, Ryan levantou-se do chão, com as mãos sobre o rosto.
—Honestamente, eu desisto.
— Não se preocupe, eu já estou vazando desse lugar cheirando a purgatório — continuei. — Preciso descobrir quem é ASMFC e por que ele está fazendo isso.
— Ele? — Ryan repetiu o que eu disse. — Você acha que a pessoa que matou Lisa é um homem?
— Não posso tirar conclusões sobre absolutamente nada, Ryan. Ligue para o Dr. Trevor Gauthier. Este caso cabe a ele resolver, não à mim.
[...]
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