Moleques e bitoquinhas
Eu levanto a minha camisa enquanto me olho no espelho do banheiro pequeno e quente.
Antes, eu não entendia por que Jungkook hyung ficava todo suado e fedorento depois de desentupir o vaso que eu tinha a rotina de entupir em dias intercalados.
Na verdade, eu nem posso me dar ao luxo de citar essa rotina no passado porque ainda tenho muitos problemas com o intestino preso, então passo dias sem ir ao banheiro... mas quando eu vou...
É. Desde que meu irmão foi morar em Seul com Jimin hyung, muita coisa mudou por aqui. Não para melhor.
Eu sinto muita saudade dele.
Quando eu preciso desentupir o vaso, agora que não tenho mais um irmão mais velho para fazer isso por mim, eu choro. Não é toda vez, mas, na maioria das vezes, eu derrubo umas lágrimas, sim. É vergonhoso, e eu não me orgulho disso, mas acho que o ato de salvar o encanamento maltratado do banheiro desencadeia toda a falta que Jungkook faz.
E, de quebra, agora eu entendo que o esforço de usar o desentupidor no banheiro quente realmente faz o corpo suar um monte.
Mas hoje, agora, o que eu faço é outra coisa.
Mais uma vez, eu puxo a camisa e olho para a região das minhas costelas.
— Será que vai doer?
Taehyung está sentado no chão, no corredor, de frente para a porta aberta do banheiro. Eu olho para ele é pergunto de novo:
— Será, Tae?
— Acho que não. Se doesse de verdade, Jungkook-ssi não teria umas quinhentas no corpo.
— Ele tem menos de cem — eu digo e solto a blusa antes de sair do banheiro e me sentar ao lado de Taehyung.
— Mentira. Ele parece um gibi mal humorado, mas bonitão!
— Bem menos de cem — reforço, balançando a cabeça em concordância com o seu choque. Eu também fiquei surpreso.
— Menos de cem tatuagens cobrem o corpo todo? Tipo, um corpo daquele tamanho, Hee?
— Fiquei tão surpreso quanto você... — confesso. Nós nos olhamos seriamente e começamos a rir. — Então... será que dói?
— Jungkook-ssi pode não ter quinhentas, mas ainda tem muitas tatuagens. Então... mantenho o meu argumento...
Eu expulso o ar enquanto Tae arruma o boné virado para trás. É o boné roxo que Jimin hyung deu para ele no último natal.
Taehyung fica muito bonito de roxo. E eu fico muito vermelho sempre que penso no quanto ele é bonito.
— Jungkook hyung é um ogro. — Eu tento continuar a conversa para não ficar tempo demais pensando no quanto meu melhor amigo me atrai. — O conceito de dor tolerável dele é diferente do meu...
— Você tá vermelho, Hee — Taehyung diz, fugindo do tópico de conversa.
Eu fico ainda mais vermelho, como é natural na minha família.
Se até meu hyung fica todo corado com a maior facilidade, quem dirá eu.
— Calor... — eu minto. É verão, mas não está tão quente.
— Sério? — ele pergunta, confuso. — Nossa, eu tô até achando o dia fresco. Quer ir pra sala? Lá é mais ventilado... aí eu vou poder te abraçar e ficar grudado em você sem te deixar com mais calor ainda...
Ai, meu deus. Meu deeeeus. Meeeeeu deeeeeus.
Eu acabei de ficar mais vermelho!
— Fofo, Hee — Taehyung diz, rindo bobo da minha cara imitando um tomate.
Eu me pergunto como é que Jungkook hyung disfarçava. Quer dizer, eu tenho certeza quase absoluta de que Jimin hyung amava deixar meu irmão todo vermelho de propósito, então... como ele disfarçava?
— Aliás... ei, por que mesmo a gente tá sentado no chão do corredor? — Tae pergunta, ainda risonho.
— Esperando mãe vir chutar a gente eu acho... — respondo enquanto abraço meus joelhos, constrangido.
Este é mesmo um lugar esquisito para a gente escolher sentar. Mesmo assim, nós não fazemos menção de sair daqui.
— Tia Ga-eul vai dar um grito daqui a pouquinho — Tae diz, certeiro.
Ela vai mesmo brigar com a gente e perguntar por que comprou um sofá se nós vamos sentar no chão. Depois, provavelmente, vai fazer a gente arrumar alguma coisa na casa.
— Mas então... a tatuagem — Taehyung volta ao assunto inicial. — Tá mesmo com medo da dor, Hee?
— Tô. Na costela dizem que dói muito.
— Quer desistir?
— Eu fiz muita faxina e implorei muito pra mãe me dar a autorização... e já marquei com o tatuador. Não vou desistir! Mas talvez eu chore de dor na hora... você vai comigo?
Taehyung sorri para mim e segura a minha mão. Meus olhos se arregalam quando ele entrelaça os nossos dedos.
Eu estou de mãos dadas com Kim Taehyung. Eu estou de mãos dadas com Kim Taehyung!
A mão dele é enorme, mas é macia e quentinha, e eu estou segurando essa mão!
— Claro que vou, Hee. Eu tenho um dinheirinho guardado... posso comprar frango frito pra você depois que a gente sair do estúdio.
— Eu li que é ruim pra cicatrização... tem um monte de coisa que não pode comer nos primeiros dias depois de fazer a tatuagem.
— Espera! Então Jungkook-ssi tatuou aquilo tudo mesmo assim? Mesmo tendo que parar de comer frango frito por dias?!
— Duvido. Ele deve ter comido mesmo assim, aquele sem-noção.
— Isso faz mais sentido — Taehyung pondera, balançando a cabeça em uma concordância.
Nós nos olhamos e rimos. Ainda estamos de mãos dadas, e falar sobre Jungkook hyung me faz lembrar de quanta saudade sinto dele.
Minhas emoções estão confusas e eu ainda estou todo vermelhinho.
Antes que a gente volte a falar sobre tatuagens, Jungkook hyung, ou comece a fofocar sobre a vida dos outros, a campainha de casa toca. Eu olho para o meu lado direito e vejo mãe sair da cozinha e caminhar até a porta principal.
— Quem será que é? — Taehyung pergunta, todo curioso. Eu balanço a cabeça para os lados, porque também não faço a menor ideia.
— Quer ir sentar na sala pra descobrir como quem não quer nada? — sugiro.
Tae abre um sorrisão, e eu sei que ele vai concordar com a minha ideia. No entanto, antes que ele levante em um pulo empolgado, nós nos entreolhamos assustados quando ouvimos a voz de minha mãe.
— Meu deus! — ela quase grita, surpresa.
Com os olhos arregalados e a curiosidade sempre em alta, eu e Tae nos atrapalhamos todinhos para levantarmos juntos antes de corrermos até a sala, e assim que reconheço quem está do lado de fora, sendo abraçado por mãe e recebendo muitos beijos dela, eu tenho vontade de chorar.
— Hyung...?
Jungkook hyung sorri quando olha para mim, preso ao abraço de mãe, e eu continuo preso ao mesmo lugar, sem encontrar o impulso para ir até ele.
— Meu deus... meu filho... — mãe repete, segurando-o pelo rosto para olhar para ele demoradamente antes de voltar a enchê-lo de beijos na testa e na cabeça para então abraçar Jungkook. Ela repete isso muitas vezes. — Meu fedorento...
Eu olho para o lado dele. Jimin hyung também veio.
O cabelo dele está maior e o pescoço tem duas tatuagens novas, mas o olhar ainda é o mesmo olhar gentil de sempre, e o sorriso dele é cheio de carinho enquanto olha para Jungkook e mãe matando a saudade.
Antes, encontrar Jungkook hyung e Jimin hyung era nada além de cotidiano. Nós nos víamos sempre, sempre. Agora, é tão inesperado que eu continuo parado.
É a primeira vez que Jungkook hyung vem para casa desde que se mudou para Seul, e ele fez isso de surpresa.
— Hee... — Taehyung me cutuca, acho que tentando me tirar do transe. Eu não consigo olhar para ele.
— Jimin... querido... — Quando mãe finalmente solta Jungkook hyung, ela estende os braços para Jimin. Ele deixa uma casinha de transporte no chão, com cuidado, antes de abraçá-la cheio de carinho.
— Não vai falar comigo não, moleque?
Eu respiro devagar para segurar o choro, mas basta Jungkook hyung falar comigo que todo o meu trabalho vai por água abaixo e eu sinto a visão turva e meus olhos quentes.
— Hyung! — eu o chamo, morto de saudade, quando corro até ele e o abraço bem forte.
Jungkook é grande. Eu sempre me perguntei como ele pode ser tão grande e eu tão pequeno se somos irmãos. Secretamente, eu esperava que milagrosamente, um dia, cresceria até ficar alto e forte como ele, mas acho que vou ser meio baixinho e magricela para sempre. Pelo menos, agora, eu ainda sou. Por isso, é fácil para ele me erguer do chão quando eu o abraço e choro como um molequinho.
— Hyung, eu não acredito que você tá aqui! — Eu o abraço com ainda mais força, com os pés longe do chão e os olhos fechados. — Eu não acredito!
— Mãe ligou — ele diz — pra dizer que vocês não conseguiram desentupir o concreto que você caga. Vim dar uma força.
— Jungkook... pelo amor de deus, gracinha...
Enquanto Jimin hyung o repreende e tenta esconder o riso, eu dou o maior socão no peito de meu irmão e volto para o chão, fuzilando-o com os olhos cheios de lágrimas.
Eu odeio ser chorão!
— Insuportável! — resmungo, secando as lágrimas, todo orgulhoso.
Jungkook hyung ri e me puxa de volta para mais um abraço. Eu estou bravo, mas não estou bravo de verdade, então o abraço de volta.
— Você cresceu? — Ele apoia a mão em cima da minha cabeça. — Ou foi só a cabeçona que ficou maior?
Eu solto um grunhido revoltado e o empurro de novo. Depois, dou dois murros no peito dele, que sequer causam efeito.
— Insuportável! — eu repito.
— Meu deus... o fedorento chegou há dois minutos e vocês já vão começar com essa palhaçada?! Tenham dó!
— Mãe! — chamo, inconformado. — Ele que começou!
— Cala a boca, cabeçudo.
— Te odeio!
— Beleza. Por isso que tá todo remelento de choro desde que me viu.
Eu dou mais um soco no peito dele.
Mãe revira os olhos. Ela e Jimin hyung estão lado a lado, e ele acaricia o ombro dela enquanto os olhos pequenos ficam menores quando ele sorri na direção de Tae.
Jungkook hyung disse que os olhos de Jimin parecem ter o desenho de uma fenda provocada pelas garras de um animal selvagem e que isso é a coisa mais bonita que ele já viu. Eu concordo com as duas coisas.
— Jungkook-ssi, Jimin-ssi, já posso abraçar vocês ou vou levar porrada?
— Vai levar porrada de qualquer jeito, moleque-ssi do inferno. Tem casa não?
— Prefiro ficar aqui com Hee — Tae responde, como sempre, sem se ofender pelas grosserias de meu irmão. E, apesar da resposta implicante, Jungkook hyung o abraça quando Taehyung se joga nele, esfregando a testa no pescoço tatuado. — Que bom ver você, Jungkook-ssi!
— Aham — Jungkook hyung diz, dando dois tapas nas costas cada vez mais largas de Taehyung.
Depois, ele rouba o boné da cabeça do meu melhor amigo e coloca na própria cabeça, virado para trás.
— Ei! Jeon Jungkook-ssi!
— Qual foi, moleque-ssi? Tô cansado. Pega as malas e as coelhas. Primeiro as coelhas.
— As coelhas vieram?! — pergunto, só então voltando a olhar para a casinha de transporte cuidadosamente no chão, ao lado dos pés de Jimin hyung.
— Yep. Jungoo tá puta da vida.
Jungkook vai até o sofá e se joga nele do mesmo jeito desleixado e ogro de sempre enquanto massageia a nuca.
— Qual é a novidade? — mãe pergunta, abaixando-se diante da casinha. — Cadê minha neta linda?
— Tia, acho que a senhora é a única capaz de tirar Jungoo da casinha sem perder pelo menos um dedo — Jimin diz, acariciando a cabeça de Tae, que o abraça demoradamente. — Por favor, faça isso por nós.
— E Ji-ji-ssi?
— Um anjo, como sempre. Veio quietinha durante toda a viagem.
— Já vou tirar as coitadinhas daqui. Vieram juntas? — mãe pergunta, corajosamente abrindo a portinha da casa de transporte.
Eu, Tae e Jimin hyung nos afastamos para o lado assim que Jungoo dispara para fora. Jungkook hyung puxa as pernas para cima do sofá.
Ji-ji sai logo depois. Jungoo é de Busan, mas Ji-ji só foi adotada quando Jimin e Jungkook foram para Seul. É a primeira vez que eu a vejo sem ser por fotos ou vídeo chamada, e ela é ainda mais bonitinha pessoalmente, com o pelo marrom meio arrepiado e os olhões pretos e redondos.
Até o jeito de saltar das coelhas é diferente. Ji-ji parece inocentemente curiosa pelo espaço novo. Jungoo parece percorrer a sala em busca da primeira vítima de uma das suas dentadas.
— E as suas coisas? — mãe pergunta. — As malas?
— No carro. Pegamos depois — Jimin responde, tomando a liberdade de entrar depois de tirar os sapatos. — Com licença.
Taehyung fecha a porta, e Jimin me abraça pelo ombro e beija o topo da minha cabeça enquanto me faz caminhar junto com ele até o sofá.
— Oi, Junghee.
— Oi, ladrão de irmão.
Jimin ri, e nós sentamos. Ele deixa eu sentar entre ele e Jungkook hyung, então sou imediatamente recebido por um chute e por uma reclamação:
— Sua cabeçona tá invadindo o meu espaço, cabeçudo.
Eu pego uma almofada para jogar em meu irmão e, logo no instante seguinte, Jungoo se aproxima perigosamente do sofá e bate as patas de trás.
— Ela acabou de rosnar?! — Taehyung pergunta, horrorizado.
— Imagina morar com isso — Jungkook diz, olhando para a coelha. — Toda noite eu deito pra dormir com a certeza de que ela vai me matar durante o sono.
— Chame a nossa filha de "isso" mais uma vez e quem te mata durante o sono sou eu, Jeon.
— Jeon é o cacete!
— Jimin vai ter a minha aprovação pra te punir caso fale coisas ruins sobre a minha neta — mãe diz, aproximando-se de Jungoo enquanto segura Ji-ji com os braços.
Ela se abaixa e, cheia de coragem, pega também a coelha de pelos brancos com manchinhas pretas. Nenhuma tragédia acontece e logo mãe está de pé, carregando as duas coelhas para a cozinha depois de beijar a cabeça de cada uma delas.
— Venham, princesas, vocês devem estar estressadas. Vou dar água e um lanchinho para vocês!
— Também tô com fome, mãe! — Jungkook diz.
— Problema seu! — ela grita da cozinha.
— Bem feito! Insuportável!
Ele me chuta.
— Vai pegar água pra mim, moleque.
— Vai você!
— Deixe de ser ruim, cacete.
— Gracinha, deixa o seu irmão em paz...
— Shh, amor... você é filho único. Seus comentários nesse contexto aqui são inválidos.
— Ihhh, Jungkook-ssi chamou Jimin-ssi de "amor"!
— E é pra chamar como, orelhudo?! A gente namora e mora junto. É pra chamar ele de "ódio"?!
— Acho que combina mais com essa sua energia brava! — Taehyung responde, tentando sentar com a gente no sofá. Eu fico todo encolhido e Jungkook hyung fica todo enfezado.
— Não cabe mais gente aqui não, moleque-ssi!
— Então vai pro chão, hyung.
— Como é, cabeçudo?!
Jimin hyung explode em uma risada muito alta, e eu também. Jungkook revira os olhos e Tae, todo sorridente, diz:
— Tava com saudades de vocês.
— Nós também estávamos, Tae — Jimin confessa. — Por isso viemos visitar.
— Vão ficar até quando? — pergunto.
— Até o próximo fim de semana. Conseguimos organizar as nossas folgas.
— "Conseguimos", Jeon? — Jimin repete, incrédulo. — Eu que tive que organizar tudo sozinho!
— Jeon é o cacete! E você é melhor com planejamento, Ji.
— Indiscutivelmente. Mas não roube o meu mérito. Eu consegui organizar.
— Viram como ele ficou mesquinho? Nunca mais causo colapso nenhum no tempo por você, Park Jimin.
Eu e Taehyung nos olhamos, confusos, e Jimin fica de pé. Ele se abaixa pra deixar um beijo na boca de Jungkook hyung e diz:
— Se precisasse, causaria sim. E eu causaria cem colapsos em todos os universos por você, gracinha.
Eu volto a trocar um olhar confuso com Tae. Como se tivesse dito algo completamente comum, Jimin se afasta.
— Vai pra onde, Ji? — Jungkook pergunta, olhando para ele por cima do encosto do sofá. — Pegar minha água?
— Vou ao banheiro, Jungkook-ssi — Jimin ri, afastando-se.
— Vai cagar? Vê se não tem bosta do Junghee no vaso!
— Meu deus, você é insuportável! — eu resmungo.
— E você é uma extrusora de merda.
Mãe volta à sala. Jungoo e Ji-ji seguem a avó fielmente, e eu aproveito para dizer, inconformado:
— Mãe! Manda Jungkook hyung me deixar em paz!
— Vocês dois que me deixem em paz! E saiam do sofá. Vocês são novos, sentem no chão.
Jungkook revira os olhos, mas não tem nem coragem de desobedecer. Eu e Taehyung menos ainda.
Quando Jimin hyung volta à sala, ele nos encontra sentados no chão enquanto mãe divide o sofá com as coelhas.
Rapidamente, ele entende o recado e senta com a gente no chão também.
— Então — mãe começa com esse tom meio perigoso. Vem bronca por aí. —, vocês vieram de Seul até aqui de carro, foi?
— Cinco horas de viagem, mãe. Tô cansado. Não vem me dar bronca, não — Jungkook diz, percebendo o mesmo que eu percebi. É fácil antecipar uma bronca de Jeon Ga-eul, provavelmente porque as broncas vêm o tempo todo.
— Não vem me dar bronca é o inferno, Jeon Jungkook! Vocês avisaram a alguém que estavam vindo? E se sofressem um acidente, hein?!
— A mãe de Jimin sabia, mãe...
— Ah, então quer dizer que a mãe dele sabia, mas a sua não?!
Vixe. Só piora.
É melhor Jungkook hyung ficar calado.
E ele fica.
— Desculpa, tia — Jimin diz, todo manso. — Nós queríamos fazer uma surpresa, mas deveríamos ter avisado. Não faremos mais isso, certo?
Mãe suaviza o olhar. Acho que ninguém resiste à mansidão de Jimin.
Deve ser por isso que ele e o cavalo do meu irmão dão certo. Equilíbrio e tudo o mais.
— Tudo bem, querido. Ainda bem que deu tudo certo na viagem... e eu estou muito feliz por ver vocês — ela diz, sentando no chão com a gente, e logo em seguida abraça Jungkook e beija a cabeça dele. — Quase morri de saudades do fedor do meu primogênito.
Jungkook hyung revira os olhos e Jimin ri intensamente, acariciando Ji-ji quando ela salta para as suas pernas.
— Tia, eu te entendo agora. Depois de seis meses morando com Jungkook... eu realmente entendo que a senhora estava certa o tempo todo.
— Jimin! Cacete! Tá me chamando de fedorento?
— Eu sempre disse, Jimin. Eu sempre disse...
Jimin ri ainda mais e, sentado do outro lado de Jungkook hyung, se inclina para dar um beijo nele.
— Certo, chega! — mãe diz, inclinando-se para afastá-los. — Tem criança na sala!
— Eu tenho dezesseis anos! — resmungo.
— Mas a altura é de dez — Jungkook provoca.
— Insuportável!
Ele ri, abraçando Jimin pelo ombro e beijando o pescoço dele, bem em cima de uma das tatuagens. Depois, ele diz:
— Aliás, mãe, para com isso de não me deixar beijar o meu namorado na frente dos moleques... porque esses dois aí se beijam sempre.
Eu já fiquei vermelho muitas vezes só hoje, mas em nenhuma delas fiquei tão vermelho quanto agora.
— Hyung!
— Jungkook-ssi, você tá errado! — Taehyung diz enquanto mãe estapeia o meu irmão.
— Para! — Jungkook resmunga, jogando o corpo para cima de Jimin pra fugir dos tapas de nossa mãe. — Fedorenta!
— Fedorento é você! Fedorento!
Jimin está morrendo de rir. Taehyung também ri, ao meu lado, e eu olho para ele. Quando nossos olhares se encontram, eu me sinto ainda mais vermelho e viro o rosto tão rápido que até machuca um pouco.
Acho que desloquei alguma coisinha.
— Por que você tá me batendo se os moleques que ficam se beijando?! — Jungkook pergunta enquanto eu massageio o pescoço.
— A gente não se beija! — Taehyung diz, de repente.
A voz dele é tão alta que até as coelhas se assustam e todo mundo olha pra ele. Ele fica todo vermelho e abaixa os olhos.
— Desculpa. Não gritei de propósito. Mas eu não... eu não beijo Hee o tempo todo, não...
— Ficou com medo de eu te quebrar todo, foi?
— Credo, Jungkook-ssi, não! Você é todo cavalo mas é um amor. Não me bateria nunca!
— Você que pensa, moleque-ssi.
Silêncio.
— Achei que vocês estavam namorando, Tae — Jimin hyung é o primeiro a ter coragem de falar.
— Não com a minha aprovação.
— Jeon... — Jimin suspira, enfadado. — Shiu.
— Jeon é o cacete, Park.
— Casais jovens são complexos demais — mãe pega as coelhas e fica de pé. — Vou dar mais comida às minhas netas.
— Tá segurando elas errado! E não pode dar comida demais! Deixa as coelhas em paz, mãe, pelo amor de deus.
— Calado! — mãe responde, sem dar ouvidos às reclamações de Jungkook hyung.
Depois que ela some na cozinha, eu, Tae, Jungkook e Jimin nos entreolhamos um pouco desconcertados.
— Então... — Taehyung começa. — Eu e Hee não nos beijamos tanto, não. A gente não é um casal...
— Aconteceu alguma coisa? — Jimin pergunta, preocupado.
Eu e Tae abaixamos os olhos.
Não aconteceu nada. Nós demos algumas bitoquinhas e depois não demos mais.
Eu acho que Tae não quer ser meu namorado nem nada do tipo.
É meio triste porque eu realmente... realmente gosto dele. Gosto muito. Gosto tanto. E ele não gosta de mim do mesmo jeito.
Mas eu fico feliz por podermos ser amigos. Ele é o meu melhor amigo... ele e o meu irmão.
— Escutem — Jimin diz, estendendo as mãos. Ele me acaricia e acaricia Taehyung simultaneamente. — Não precisamos falar sobre isso, ok?
— Não precisamos é o cacete! Precisamos, sim!
— Deixa de ser fofoqueiro, gracinha.
— Ji, você não quer saber o que rolou?
Eu sei que Jimin quer saber. Ele é muito ruim em esconder a curiosidade. Mesmo assim, ele fica de pé e puxa Jungkook hyung junto.
— Vamos descansar um pouco, amor. A viagem foi longa.
Jungkook revira os olhos e solta um som emburrado, mas, como quase sempre, faz o que Jimin pede com a voz mansa.
Jimin hyung coloca a mão nas costas do meu irmão, sorri para nós e depois eles vão juntos até o quarto de Jungkook, que continua o mesmo desde que ele foi embora.
Eu abraço as minhas pernas, constrangido agora que estou só com Taehyung.
Nós nunca falamos sobre as bitoquinhas que repentinamente pararam.
Acho que secretamente concordamos em não entrar naquele assunto, mas agora ele foi trazido à tona e é muito constrangedor.
— Hm... — eu murmuro. — Daqui a pouco dá a hora de ir fazer a tatuagem... você ainda vai comigo...?
— Eu quero ficar mais tempo com você, então... sim...
Eu abaixo os olhos e mordo o meu lábio.
Às vezes Tae diz umas coisas que me fazem pensar que ele gosta de mim... tipo, como eu gosto dele.
Mas eu não quero me iludir.
Quando ele me beijou pela primeira vez, na praia, eu me iludi muito. Durante as semanas que sucederam aquele dia, continuei me iludindo... e aí, de repente, a ilusão chegou ao fim quando eu percebi que ele estava me tratando somente como um amigo.
Eu suspiro e balanço a cabeça para os lados antes de olhar para ele e sorrir sem jeito.
— Vou separar as coisas que tenho que levar — digo.
— E eu vou tentar pegar o meu boné de volta com Jungkook-ssi...
Eu dou uma risadinha enquanto olho para Taehyung, com os cabelos arrepiadinhos.
É fofo. Taehyung é fofo e lindo.
Queria tanto dar mais bitoquinhas nele...
— Ok... — é tudo o que digo, a despeito do meu desejo secreto.
Nós ficamos de pé e caminhamos em silêncio pelo corredor. Quando chegamos às portas dos quartos, uma de frente para a outra, nós dois olhamos para dentro do quarto de Jungkook hyung.
Ele e Jimin estão deitados juntos. Jungkook tá todo agarrado ao corpo de Jimin, que faz carinho no cabelo dele.
— Estar aqui me deixa meio nostálgico, gracinha...
Ele não nos perceberam aqui, abelhudando.
Jungkook suspira bem alto e abraça Jimin com mais força.
— Eu sei que foi caótico... desesperador... quase deu tudo errado... mas eu gosto de lembrar de como tudo começou, Ji...
— É uma boa história de amor, não é?
— A melhor. Melhor que frango frito.
Eles riem juntos. São meio bobos e eu não entendo metade do que eles falam quando estão sendo melosos.
Jungkook e Jimin têm metáforas muito esquisitas.
Aí eles se beijam.
É um beijão. Acho que todo beijo deles é assim.
Mas, meu deus, a porta do quarto ainda tá aberta!
— Que safados! — Taehyung diz indiscretamente.
Jungkook para de beijar Jimin e olha para nós, furioso, e joga o travesseiro em nossa direção antes de ficar de pé e caminhar na nossa direção.
— Moleques do inferno!
Antes que a gente seja arremessado pra cima, eu e Taehyung corremos até o meu quarto e eu tranco a porta. Logo em seguida, ouço Jungkook bater a porta do próprio quarto e, por último, mãe grita:
— Se eu ouvir mais uma porta batendo, eu parto vocês no meio!
Eu e Taehyung nos olhamos, trancados no quarto, e começamos a rir. Depois, as risadas se transformam em falta de jeito e, de novo, estamos constrangidos.
— Ok... eu vou... — Aponto para o armário, nem sei por que. Taehyung fica calado e eu desvio o olhar. Caminho até o guarda-roupa e abro a porta, mas, em vez de analisar as opções de roupas e escolher a ideal para fazer a minha primeira tatuagem, eu fecho os olhos e fico com vontade de morrer.
Eu achei que esses momentos desconfortáveis não aconteceriam mais, já que eu e Tae tínhamos deixado a história das bitocas para trás, mas... eu quero tanto dar mais beijos nele que sinto vontade de chorar.
— Hee? — ele me chama.
Eu respiro fundo.
— Oi? — respondo, sem olhar para Tae. Eu começo a mexer nas roupas aleatoriamente. Nem sei o que estou procurando.
— Olha pra mim?
Ai, meu deeeeeeeus.
Olhei.
— Olhei.
Taehyung sorri pra mim. Ele tem o sorriso mais lindo do mundo. É meio retangular, e os olhos ficam curvados para baixo.
É tão fofo que dói...
— Você acha que a gente deveria conversar sobre isso? — ele pergunta, ainda sorrindo, ainda sem jeito.
Eu vou gaguejar.
— S-sobre o que? — gaguejei mesmo.
— Sobre... a gente? Os beijos e...
— Não tem sobre o que falar, tem? — pergunto, nervoso.
Eu não quero ouvir Tae confirmar que nós não nos beijamos mais porque ele simplesmente não gostou de me beijar. Sério. Não quero mesmo.
— Você quer me beijar de novo, Hee?
É claro que quero. Meu deus. Que pergunta!
Mas eu fico calado. Ele também. Nos olhamos em silêncio enquanto eu continuamente pondero a possibilidade de correr até Jungkook hyung e pedir pra ele me bater bem forte até eu, sei lá, desmaiar.
— Eu ainda quero beijar você, Junghee.
Tudo bem.
Eu não vou precisar de uma porrada do meu irmão. Acho que Taehyung, sozinho, vai me fazer desmaiar.
Eu tô tonto.
— Que? — é a única coisa que consigo perguntar.
— Eu ainda quero beijar você. Eu quero muito beijar você e segurar a sua mão o tempo todo e ficar abraçadinho com você sempre que puder.
— Mas... você não... — Eu nem sei o que estou tentando dizer.
— Você lembra o que eu disse quando você se declarou pra mim? — Eu não sei o que falar, mas Taehyung sabe. Ele parece ter segurado essas palavras por um tempão. — Eu tive medo de que colocar romance entre nós dois poderia estragar a nossa amizade...
— Eu lembro...
Lembro mesmo. Ele me evitou por dias. Eu chorei muito. Jungkook hyung quis matar o Tae por isso. Foi horrível.
— Eu ainda tenho medo disso — ele confessa, sentado na cama enquanto me olha. — Eu ainda tenho medo de perder meu melhor amigo... mas eu quero muito... quero tanto ser mais que seu amigo, Junghee...
— Então por que você não me beijou mais?
— Por que eu tava com medo. Eu tava com muito medo. E aí, quando eu percebi, você também não tentava mais me beijar...
— Eu não queria te deixar desconfortável...
— E eu te amo muito por isso, Hee... porque você é bonzinho. Você se preocupa com os outros e cuida muito de mim.
— Mas então... Tae, você ainda gosta de mim?
— Eu gosto de você, Junghee.
Eu abro a boca pra falar, mas não consigo formular nem uma palavra gaguejada. Tae me olha com expectativa e, depois de longos segundos de silêncio, ele desvia os olhos e coça a nuca.
E pergunta:
— Você não gosta mais de mim?
Eu sou muito burro em muitas coisas. Matemática, por exemplo, e meu irmão é literalmente um gênio da matemática. Física e química também. Então eu não costumo julgar outras pessoas como burras, porque sei como é ter dificuldade em entender algumas coisas.
Mas essa pergunta que eu acabei de ouvir foi mais burra até que a minha resolução em uma questão de logaritmos que Jungkook hyung me ajudou a resolver por vídeo chamada.
Eu nem respondo, porque acho um absurdo Taehyung pensar que eu não gosto mais dele.
O que eu faço é outra coisa.
Eu caminho até a cama. Quando Tae me olha, eu seguro o rosto lindo que ele tem e beijo a boca dele.
Na mesma hora, eu sinto vontade de desmaiar. Eu não estou oxigenando muito bem e sinto que posso explodir a qualquer momento.
Mas aí Taehyung me empurra.
Ele me empurra e me faz afastar da cama. Eu quase começo a chorar, mas aí percebo que ele só me afastou para ter espaço para poder ficar de pé. E, quando fica, é ele quem me segura pelo rosto e pressiona a boca na minha.
Essa é a melhor bitoquinha que nós já demos.
Definitivamente a minha favorita.
— Eu nunca mais vou parar de beijar você, Jeon Junghee — Taehyung diz, intercalando as palavras a um monte de beijinhos nas minhas bochechas.
Eu rio enquanto me sinto todo mole e vermelho.
Aí eu o abraço. Eu puxo Tae para bem perto e deito a cabeça no ombro dele enquanto ele me abraça de volta, e esse é o melhor abraço do mundo.
Eu acho até que já me recuperei da vontade de desmaiar. Mas aí, de repente, ainda me abraçando, Taehyung confessa:
— Eu quero namorar você...
— Ai, meu deus...
— É muito rápido? Eu tenho que te beijar mais vezes antes de dizer isso?
Eu balanço a cabeça para os lados na negativa mais desesperada da minha vida.
— Pode dizer! Eu só... ai, meu deus...
Ele me afasta e olha para mim enquanto ri, aí me dá um beijo na testa.
— Vamos fazer sua tatuagem, ok? Falamos sobre namoro depois.
— Ok...
— Mas depois... depois você vai me namorar, né, Hee?
— Vou! Muito!
Hã?
Taehyung ri de novo.
— Ok. Então eu vou ter um namorado tatuado? Será que você vai ficar todo rabiscado igual a Jungkook-ssi?
— Você não gosta?
— Tá doido? Jungkook-ssi é bonitão! E você também é! Pode ter mil tatuagens ou nenhuma... eu sempre vou ser doidinho por você.
— Que bom... porque eu não sei se vou ter tanta tatuagem quanto meu irmão, mas eu gosto da ideia...
— Vamos fazer a primeira então!
Eu sorrio e balanço a cabeça em uma concordância. Começo a me afastar, mas aí volto correndo e roubo um selinho que deixa Tae todo bobo.
Só então eu volto ao armário.
Eu finalmente tiro a blusa velha de vestir dentro de casa e, no lugar, visto uma das blusas que Jungkook hyung deixou aqui antes de se mudar pra Seul.
Ela fica enorme em mim. Enorme. Mas eu adoro.
Antes de sair do quarto, eu afasto os cabides com as blusas penduradas e revelo a foto grudada no fundo do armário.
É uma foto de pai. Mãe diz que foi a primeira foto que ele tirou comigo e com Jungkook hyung, logo depois que eles me trouxeram do hospital.
Jungkook tem razão. Eu era um bebê feio.
Mas eu amo essa foto. E, diferente de Jungkook hyung, que ficou em negação por anos depois da morte de nosso pai, eu aceitei um pouco mais rápido. Jungkook se afastou completamente da família, mas eu precisava me sentir próximo da minha. Então colei essa foto aqui e, mesmo enquanto meu irmão se afastava e parecia sentir raiva de mim, eu olhava para a nossa foto com pai e torcia para que, um dia, ele voltasse a cuidar de mim como cuidou desde que eu nasci.
Eu fico muito feliz por isso ter acontecido. Eu amo muito o meu irmão.
Mesmo morando em Seul, tão longe de mim, Jungkook hyung cuida de mim. E eu sei que pai também cuida da gente, não importa quão longe esteja.
— Tchau, pai — eu digo bem baixinho, olhando para a foto antiga e desgastada.
Eu pego a minha carteira com o dinheirinho que juntei por meses e fecho a porta do guarda-roupa.
— Vamos? — digo para Taehyung.
Ele faz que sim.
Nós saímos do quarto e encontramos a porta do quarto de Jungkook hyung aberta de novo. Ele e Jimin não estão mais no quarto.
— Essa blusa é minha, bandido!
Eu olho para ele, que está sentado no sofá, e sorrio de um jeito implicante.
— Agora é minha, hyung.
— Meu deus... ousadia do cacete. Moleque folgado!
Eu rio, e Jimin também ri, abraçando-o carinhosamente.
É meio esquisito porque os dois têm cara de malvados, com todas essas tatuagens e tudo o mais, mas eles são muito grudentinhos um com o outro.
É fofo.
— Vão sair? — mãe pergunta, se apoiando no arco da cozinha.
— Vou fazer a tatuagem, mãe... eu te avisei quatro vezes só na última semana...
— Ah — ela me olha de maneira criteriosa.
Eu fico nervoso, porque Ga-eul é imprevisível e, mesmo depois de ter autorizado por escrito, é capaz de anunciar agora que mudou de ideia e que não vou fazer tatuagem coisa nenhuma.
— Jungkook — ela chama, de braços cruzados, olhando para hyung. — Você e Jimin... vão com seu irmão.
— Por quê?! — eu e hyung perguntamos juntos, inconformados.
— Porque esse fedorento aí e Jimin obviamente têm experiência com tatuagens. É para garantir que o tatuador não vai estragar a pele perfeita do meu bebê.
Jungkook revira os olhos. Eu olho para ele, esperando que ele aceite vir com a gente, e logo ele fica de pé.
— Anda logo — ele diz, apertando a minha nuca e a nuca de Taehyung enquanto guia a gente pra fora de casa.
— Tá doendo! — resmungo, mas ele não solta.
— Não dê mais comida pras coelhas antes do horário! — ele diz pra mãe enquanto enfia os pés nas botas pavorosas que sempre usa.
Eu e Tae também calçamos os sapatos enquanto Jungkook continua apertando nossas nucas.
Nós saímos primeiro. Jimin hyung sai logo depois e mãe para na porta. Jungoo e Ji-ji seguem ela e param ali também.
— Vão com cuidado — ela diz.
— Sim, senhora — Jimin responde. — Quando voltarmos, trazemos o jantar.
Ela sorri e continua nos olhando enquanto caminhamos até o carro. Antes de entrarmos, ela diz:
— Amo vocês.
— Também te amo, tia Ga-eul-ssi!
— Ela não disse que ama você, moleque-ssi do inferno!
— Os quatro! — mãe faz questão de dizer. — Amo os quatro.
Jungkook hyung revira os olhos, enciumado, e eu dou uma risadinha.
— Toma, amor — Jimin diz, sorrindo, ao entregar a chave de Pandora.
Jungkook hyung segura pelos chaveiros. Antes, era um chaveiro de um coelho como Jungoo. Agora, tem dois chaveiros de coelho: um preto e branco, e o outro marrom.
— Estou cansado. Você dirige, não é?
— Dirijo, Ji — Jungkook responde e dá um beijo nele.
Enquanto Jimin entra no carro com calma, Jungkook me segura pelos sovacos e me joga no banco traseiro.
— Cavalo! — grito, furioso.
— Pra matar a saudade, cabeçudo.
Taehyung ri, mas se engasga quando Jungkook ameaça arremessar ele também, aí é mais rápido e corre pra sentar ao meu lado no conversível.
Finalmente, hyung salta para o banco do motorista e engata a chave.
— Mãe? — ele chama antes que mãe entre em casa.
— Diga, fedorento.
— Separa Desafio em Tóquio pra gente ver quando voltar!
Mãe apenas balança a cabeça para os lados e fecha a porta com força. Todo mundo no carro ri, menos Jungkook.
— Vocês ainda não sabem reconhecer um bom filme.
— Claro, gracinha... — Jimin diz, rindo, e Jungkook liga o carro.
Eu sorrio, sentado no banco de trás de Pandora. Parece que faz uma vida inteira desde que fiz isso... que entrei nesse carro junto com três das minhas pessoas favoritas no mundo. Eu não consigo parar de sorrir.
— Eu deixaria vocês escolherem a música — Jimin diz, conectando o celular ao som do carro. — Mas, quando estou em Pandora com Jungkook, eu gosto de ouvir a nossa playlist. Tudo bem por vocês?
— Tudo bem por mim! — Taehyung diz.
— Ótimo. Vamos começar com Read my mind... e logo em seguida vamos ouvir a melhor de todas as músicas já feitas.
— Bohemian Rhapsody?! — pergunto.
— Queria eu que fosse... — Jungkook suspira, dirigindo para longe de casa. — Mas Jimin é doido. A melhor música pra ele é outra.
— Sim — Jimin confirma e sorri, olhando para nós. — O nome é "Meu frango frito".
— Credo — Tae diz. Jimin começa a rir.
— Pois é. Credo — Jungkook diz. Aí, ele me olha pelo retrovisor interno. — Vai tatuar o que, moleque?
Eu fico calado, meio envergonhado. Taehyung sorri, porque ele sabe.
— Hein? — Jungkook hyung insiste.
Eu olho para o lado e confesso:
— Sua data de nascimento.
Silêncio.
— Junghee... — Jimin diz, me olhando carinhosamente. — Você vai tatuar a data de nascimento como Jungkook tatuou a sua? E também vai ser a sua primeira tatuagem?
Eu balanço a cabeça pra cima e pra baixo.
— Vai ser a data de nascimento dele... e a data de nascimento de mãe... e a data de nascimento de pai... uma embaixo da outra...
Jimin sorri para mim e continua sorrindo quando olha para Jungkook, que não diz nada.
Quando o carro para em um sinal vermelho, Jungkook olha para mim.
— Vai tatuar onde? — pergunta.
— Costela... como a sua... Mas eu vi que dizem que dói muito...
Jungkook balança a cabeça para os lados e olha para a frente de novo. Um tempo depois, ele volta a olhar para mim.
— Sabe uma coisa que eu e Jimin dizemos, moleque?
— O que?
— Amor acima da dor. Sempre.
— Que? — Taehyung pergunta, confuso. — O que isso tem a ver?!
— Vai doer pra caralho — Jungkook hyung diz. — Mas a dor não vai ser maior que o amor que ele sente por nós.
Jimin continua sorrindo e eu percebo quando ele desliza a mão e aperta a perna de Jungkook hyung. É um gesto cúmplice e carinhoso.
— Não me encorajou muito... — eu confesso.
— Vai doer só um pouquinho — Jimin diz, olhando para mim. — Depende de pessoa para pessoa. As minhas não doeram.
— Tomara que não fique doendo em mim também — choramingo. Eu estou com medo, mas quero muito fazer a tatuagem.
— Vou te fazer companhia — Jungkook hyung diz. — Vou fazer mais uma tatuagem também.
— Sério?! — pergunto.
— Sim, Vou tatuar "Desafio em Tóquio".
— Pelo amor de deus! Eu termino com você se você tatuar isso!
— Termina coisa nenhuma, Park Jimin. Vai ficar bonitão.
Taehyung dá uma risada ao meu lado e diz baixinho pra mim:
— Quando você for meu namorado, eu não vou ameaçar terminar, viu? Vou gostar de todas as tatuagens que você fizer!
Eu sorrio todo sem jeito.
— Que é que o orelhudo tá falando aí atrás?
— Amor acima da dor, né, Jungkook-ssi? — Taehyung pergunta.
— Não fique usando a nossa frase, moleque.
— Só quero saber se é verdade... porque você vai me dar a maior surra quando eu te contar uma coisa, mas a dor de apanhar não vai ser maior que o amor que sinto por Hee!
— Cuidado, Tae... — eu digo, escondendo o riso.
— Jungkook-ssi — ele anuncia: — eu voltei a dar bitoquinhas no seu irmão!
Jimin ri sonoramente e Jungkook, mais uma vez, fica calado. Ele continua dirigindo até estacionar o carro em um lugar qualquer. Aí, ele tira o cinto e olha para Taehyung antes de dizer:
— Vou te quebrar todo!
Jimin explode em uma risada, e Jungkook também ri. Taehyung, corajoso como é, se lança para a frente e beija a bochecha de Jungkook antes de beijar a bochecha de Jimin. Aí, ele diz:
— Eu realmente senti muita saudade de vocês dois, Jimin-ssi e Jungkook-ssi. Venham ver a gente mais vezes...
— Deus me livre — Jungkook diz com a cara enfezada dele, mas eu sei que é brincadeira. Taehyung também sabe, então ele ri.
Aí hyung volta a dirigir. As músicas que ele e Jimin gostam de ouvir estão tocando no alto falante do carro e Taehyung, em silêncio, segura a minha mão.
Eu ainda não consigo parar de sorrir.
Os últimos anos foram muito difíceis na minha família. Mas, apesar de tudo, eu estou bem.
Nós todos estamos bem.
Acho que Jimin e Jungkook têm razão.
O amor... ele está acima da dor.
fim
Oi! Como prometido, aqui está o especial Taehee como agradecimento a quem participou do stream de butter! <3
Gente, mil desculpas pelos erros que provavelmente passaram. Eu não tive tempo nenhum de revisar porque minha rotina tá uma loucura
Faz um tempinho desde a última vez que eu consegui escrever. Esse ano veio como uma marretada no meu emocional porque simplesmente não tem como ver o que tá acontecendo com o país e não sentir desespero. Eu nunca estive tão esgotada antes. E quando meu emocional fica tão abalado, eu tenho bloqueios criativos muito complicados. Escrever esse especial foi um desafio danado não só pelo pouco tempo livre, mas principalmente por isso... mas foi bom matar um pouco da saudade doída que eu tenho dos personagens de Cem chances
Espero que tenha sido uma boa leitura pra vocês, apesar de tão bobinha
Eu confesso que tinha planos de fazer uma continuação Taehee, muito tempo atrás... seria na mesma pegada de Cem Chances, com o Tae e o Hee um pouquinho mais velhos, em Seul... mas realmente não tá dando pra escrever, então esse especial mais leve é, provavelmente, tudo que teremos dos dois moleques :(
Mais uma vez, obrigada pelo carinho de sempre e me desculpem pela ausência prolongada
Se cuidem. Usem máscara, vacinados ou não. Precisamos nos cuidar e cuidar de todos ao nosso redor <3
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