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Oito

...O que vocês disseram no escuro será ouvido à luz do dia...

O sangue clama em ecos de traição,
Caminhos sombrios que os corações seguem
Entrelaçados na fina escuridão.

Arkadi Damarov

O som constante e quase hipnótico dos motores do jato particular é uma trilha sonora familiar para mim e para minha irmã, havíamos passado grande parte de nossas vida nesse tipo de cenário, viagens rápidas entre países, o luxos silenciosos que o sobrenome Damarov possui.

Eu olhava pela janela, o céu noturno se estendendo sem fim, como se estivéssemos voando sobre um oceano de sombras, a luz suave do compartimento fazia o couro dos assentos parecer ainda mais refinado, um contraste gritante com a escuridão lá fora. Irina estava sentada do outro lado, mexendo em seu bracelete prateado, uma peça delicada que nosso pai havia lhe dado. O bracelete brilhava contra a pele clara dela.

Ela não parece interessada no que acontece ao redor, seu olhar estava fixo na janela, perdida em pensamentos, como sempre. Irina tem um estilo punk que reflete sua personalidade ousada, ela usa uma blusa preta justa, com detalhes de rede que se entrelaçavam nos braços, enquanto um casaco de couro sutilmente desgastado acentuava sua figura esguia. As calças rasgadas, justas nas pernas, mostravam um pouco de sua tatuagem de flores negras que serpenteava por sua coxa, uma arte que ela exibia com orgulho.

Seu cabelo, tingido de um tom escuro com mechas azuis vibrantes, caía em ondas desgrenhadas sobre os ombros, emoldurando um rosto de traços delicados e marcantes. É como se cada peça de sua roupa contasse uma história, revelando um pouco de sua essência rebelde e livre, em contraste com a suavidade do bracelete prateado que ela mexia nervosamente.

— Você está estranhamente quieta. - comentei, tentando puxar conversa, mas com um tom que soava mais leve do que minha curiosidade real. Ela ergueu os olhos lentamente, seus olhos castanhos quase pretos, cravando-se nos meus com aquela irritabilidade típica.
— Ansioso para ver o papai, Kai? - ela perguntou com um sorriso irônico, sem desviar os olhos do acessório.

Eu odeio quando ela me chama assim. Arkadi já é um nome curto o bastante, mas ela gostava de brincar com as poucas coisas que eu preferia manter sob controle.
— Não sei se "ansioso" é a palavra certa. - respondi, meu tom baixo e sério. — Você sabe como é.

Raphael sempre foi uma presença sólida, inquebrável, alguém que exercia o controle sem esforço. Mas, ultimamente, até eu percebia a mudança em seu comportamento, ele estava mais distante, mas, como sempre, não nos dava pistas claras do que estava acontecendo. Irina soltou um suspiro leve e mexeu novamente no bracelete, fazendo o metal refletir a luz suavemente.

— Ele sabe o que faz. - ela se inclinou para trás, sua postura relaxada.
— Só espero que ele não nos perca no processo. - ela diz levantando os olhos e sorrindo. — Mas você ainda quer agradá-lo. - suspirei, desviando o olhar para as luzes que passavam pela janela, as linhas escuras das torres góticas começando a emergir à distância.
— Não é isso, Irina.
— Ah, claro que é. - ela retruca, cruzando os braços. — Você sempre foi o bom filho. O "herdeiro", o que segue todas as regras. A verdade é que ele nunca vai te dar a aprovação que você quer. Quanto mais cedo aceitar isso, melhor.

Eu sabia que ela tinha razão, mas não estava disposto a admitir. Não agora, enquanto o peso do retorno apertava meu peito. Para Irina, nada disso parecia importar, a rebeldia dela sempre a afastava daquilo que meu pai esperava de nós, e de alguma forma, isso a tornava livre, enquanto eu, mesmo sabendo das falhas, ainda me agarro a algum tipo de dever.

O piloto anunciou a chegada com uma voz robótica e impessoal. "Senhor Damarov, senhorita Damarov, estaremos aterrissando em cinco minutos. A temperatura externa é de dez graus negativos." Irina soltou um suspiro exagerado e esticou os braços acima da cabeça, como se estivesse saindo de uma soneca particularmente longa.
— Finalmente. Não aguento mais esse silêncio insuportável, preciso sentir o chão de novo.

Quando a porta do jato se abriu, o ar gélido entrou como uma lâmina de gelo, cortando qualquer resquício de calor. Irina foi a primeira a se levantar, descendo as escadas do avião com uma confiança quase despreocupada, como se o mundo ao seu redor não pudesse tocá-la. Seu casaco de couro voava ao vento, enquanto ela caminhava na direção da limusine preta que aguardava na pista, as luzes da cidade refletindo em seus cabelos escuros. Desci logo atrás, puxando meu casaco para me proteger do frio implacável. O motorista, um homem alto e corpulento, nos aguardava ao lado da porta da limusine, fazendo uma leve reverência.
— Senhor Damarov, senhorita Damarov, bem-vindos de volta. Seu pai os aguarda.

Irina revirou os olhos de forma exagerada ao ouvir a formalidade, mas não disse nada. Ela entrou no carro com um salto casual, jogando-se no assento como se estivesse em casa, eu a segui, mais contido, e a porta se fechou atrás de mim com um som abafado.
— Vamos lá. - Irina murmurou, esticando as pernas e olhando pela janela. — Voltar para o covil do velho.
— Você deveria mostrar mais respeito. - retruquei, sabendo que minhas palavras não fariam diferença para ela, ela riu, mas sem humor.

O caminho até a casa Damarov, fora dos limites da cidade, é um percurso que fizemos incontáveis vezes. A limusine deslizou suavemente sobre a estrada, suas luzes refletindo nas fachadas imponentes das mansões e florestas cobertas de neve ao longe. Ao meu lado Irina, observa pela janela a paisagem fria e familiar da Rússia. O silêncio no carro era quebrado apenas pelo suave zumbido do motor, mas havia uma tensão inconfundível no ar, um tipo de nervosismo que raramente admitíamos sentir.
— Finalmente, férias. - Irina resmungou, jogando a cabeça para trás no banco, o tédio claro em seu tom. Sua irritabilidade habitual parecia amplificada, como se a ideia de voltar para casa a enervasse mais do que o habitual.

Quando os portões de ferro surgiram à frente, as luzes da limusine os iluminaram de forma quase teatral, revelando os símbolos gravados nas barras escuras - emblemas da nossa linhagem, símbolos da força e domínio dos Damarov. Ao se abrirem lentamente, a casa apareceu ao longe, suas torres góticas elevando-se contra o céu negro como se fossem as próprias sentinelas da morte.
— Lar, doce lar. - murmurou Irina, com seu típico tom ácido.

A limusine parou suavemente diante da entrada principal e a porta foi aberta com eficiência pelo motorista. O ar frio russo nos atingiu novamente, como um lembrete brutal de que havíamos retornado ao coração de nossa origem, o vento frio faz com que o casaco grosso que eu usava parecesse insuficiente. Eu saí primeiro, Irina saiu logo atrás, ela puxou o casaco para mais perto do corpo, como se estivesse se preparando para enfrentar uma tempestade.
— Vamos logo com isso. - disse Irina, com seus passos rápidos e decididos na neve. Eu a segui, sentindo a familiaridade do lugar.

As portas pesadas de madeira se abriram à nossa frente, revelando o grande hall de entrada, as paredes são revestidas com tapeçarias antigas e retratos dos ancestrais Damarov, homens e mulheres cujos olhares severos pareciam nos seguir enquanto caminhávamos. O piso de mármore ecoava nossos passos, o som parecendo ressoar pelas vastas paredes, amplificando cada movimento.

À nossa frente, à base da escadaria principal, estava ele. Raphael. Alto, imponente, como sempre, mas desta vez havia algo diferente em seu semblante. O cansaço parecia ter suavizado um pouco sua expressão rígida. Seus olhos, ainda tão penetrantes como sempre, pareciam menos severos, quase... acolhedores. Ele vestia um terno impecável, feito sob medida, mas seu semblante carregava uma leveza que eu não esperava. Talvez fosse o peso dos anos, ou quem sabe, ele estava apenas tentando ser mais pai do que comandante hoje.

— Vocês chegaram cedo. - sua voz reverberou, mas com um tom menos seco, havia um toque de curiosidade, quase como se ele estivesse, de fato, satisfeito por nos ver. Seu olhar se fixou primeiro em mim e depois em Irina, como se estivesse tentando medir nossas reações, como se quisesse garantir que estávamos bem.

— Queria evitar a tempestade que está vindo. - Irina respondeu antes de mim, cruzando os braços com um meio sorriso. — E também, queria garantir que você não tivesse muito tempo para preparar um discurso longo sobre responsabilidade e honra. - ela está cansada, e talvez um pouco mais aliviada por estar em casa do que gostaria de admitir.

Raphael soltou um riso breve, algo raro, seus olhos brilharam levemente ao olhar para mim, e o sorriso em seus lábios se suavizou.
— E o ultimo ano letivo, Kai? Como foi? - ele perguntou, ignorando o tom ácido de Irina. A pergunta me pegou um pouco de surpresa, vinda de um homem que normalmente se preocupava apenas com os negócios.
— Bem... nada fora do normal. - respondi, um pouco hesitante, sem esperar por esse tipo de interesse. — Alguns desafios, mas nada que nós não conseguíssemos lidar.

Raphael assentiu, aparentemente satisfeito. Ele não é o tipo de homem que faz perguntas triviais, então esse simples comentário me fez perceber que talvez estivesse tentando... se conectar de outra forma. Ou pelo menos, de um jeito menos formal. É incomum, mas de certa forma, reconfortante.
— Isso é bom. - ele diz com uma calma que não costumava demonstrar. — Estou feliz que as coisas estejam indo bem.

Irina revirou os olhos de leve, como se estivesse entediada com a troca de palavras mais amenas, mas eu noto que, por baixo da atitude rebelde, ela está tão curiosa quanto eu sobre o motivo desse súbito interesse paternal.
— Se preocupa tanto que nem ao menos ligou. - prendo a respiração assim que que a minha irmã caçula termina de dar sua última cartada de rebeldia.

Eu dei um passo à frente, pronto para dar uma resposta mais formal, mas antes que pudesse falar, algo chamou minha atenção. No canto do hall, quase despercebida nas sombras, havia uma figura, uma mulher que eu nunca tinha visto antes. Ela estava de pé, com os braços cruzados, e o olhar afiado fixo em nós, como se nos estudasse

Irina congelou por um instante, e depois franziu a testa, claramente surpresa.
—  Quem é você? - a voz dela soou desafiadora, como sempre, mas dessa vez havia uma curiosidade genuína. Não era comum termos desconhecidos andando livremente por nossa casa, muito menos alguém com uma postura tão... frágil.

Raphael deu um pequeno passo à frente, mas sua expressão permaneceu inalterada.
— Esta é Alyn. Ela vai ficar conosco por um tempo. - eu troquei um olhar rápido com Irina, mas não disse nada. A presença dessa mulher era desconcertante. Havia algo nela - sua postura, a maneira como seus olhos pareciam absorver tudo ao redor - que me incomodava. Eu não sabia o que pensar, mas o fato de meu pai ter trazido alguém de fora para dentro de nossa casa era no mínimo inusitado.

Irina, no entanto, não conseguiu esconder sua surpresa.
— Protegida? - ela profere em desdém. — Desde quando temos protegidos? - Raphael apenas a encarou, um leve sorriso de canto surgindo em seus lábios. Ele ignorou o tom ácido da filha, e com um aceno de cabeça, indicou que devíamos seguir em frente.

Alyn se manteve em silêncio, mas seus olhos não deixaram de nos seguir enquanto passávamos por ela. Havia algo nos seus movimentos que me deixava inquieto. Talvez fosse o fato de que, em toda a minha vida, nunca tinha visto meu pai acolher alguém de fora. Raphael sempre foi reservado, sempre focado em nós e nos negócios, e agora, essa figura enigmática estava aqui, caminhando pelas mesmas passagens que nós, respirando o mesmo ar que nós.

Enquanto subíamos as escadas em direção aos nossos quartos, o silêncio é palpável, Irina me lançou um olhar rápido, e eu sabia que estava pensando o mesmo que eu, por que Alyn estava aqui? E por que Raphael havia decidido colocá-la sob proteção?

Chegamos ao andar superior, e cada um seguiu para o seu quarto, quando abri a pesada porta do meu, uma onda de familiaridade me envolveu, mas havia um peso diferente agora, o quarto, sempre tão acolhedor, parecia de alguma forma distante. As paredes de pedra cinza, que costumavam me passar uma sensação de segurança, agora pareciam frias, mesmo com as tapeçarias detalhadas que tentavam suavizá-las. Ao centro, uma cama confortável, com lençóis macios e travesseiros perfeitamente arrumados, me esperava, quase como um refúgio.

À esquerda, a grande janela arqueada deixava uma luz prateada banhar o chão, enquanto as árvores no pátio balançavam suavemente com o vento. Suas sombras longas dançavam no mármore polido, sempre achei aquele jogo de sombras hipnotizante.

No canto, a lareira baixa crepitava preguiçosamente, lançando um brilho quente e acolhedor sobre o ambiente, o som do fogo é reconfortante, trazendo um aroma amadeirado que me transportava para memórias antigas. Era como se cada faísca e cada estalo me lembrasse da infância.

No entanto, enquanto meus olhos percorriam o quarto, uma lembrança infantil me fez sorrir. Um pôster antigo de "No Limite do Silêncio", com Lena Marlowe, ainda estava pendurado na parede oposta à cama. Lembro-me bem da obsessão boba que tive por ela quando mais jovem, assistindo o filme incontáveis vezes.

Soltei um suspiro longo, como se finalmente pudesse relaxar depois de todo o dia agitado. Caminhei até a cama e me joguei sobre o colchão macio, sentindo cada músculo do meu corpo se entregar ao cansaço, olhei para o teto abarrotado de outros pôster e alguns desenhos feitos por Irina, e deixei meus pensamentos vagarem. Fazia tempo que não ficava neste quarto, e uma parte de mim sentia falta dessa familiaridade, do silêncio que sempre me confortou. As memórias de noites em que eu e Irina ficávamos acordados até tarde, planejando escapadas ou conversando sobre o futuro, inundaram minha mente. Apesar das nossas diferenças, havia um conforto em estar em casa, cercado por tudo que conhecíamos.

Virei o rosto para a parede à minha direita, onde ficava o pequeno corredor que conectava meu quarto ao de Irina. Duas portas pesadas separavam os dois cômodos, mas o corredor estreito era como um segredo compartilhado entre nós. Era nosso caminho privado, onde conversávamos sem que ninguém soubesse, onde conspirávamos sobre as regras e os segredos da casa. Eu sentia falta disso.

Fechei os olhos, esperando que o cansaço me vencesse, mas antes que pudesse afundar completamente no sono, ouvi o clique suave da porta. Abri os olhos e vi Irina deslizando pelo corredor, sua silhueta delineada pelo fogo que crepitava na lareira.
— Não conseguiu dormir? - ela perguntou em voz baixa, fechando a porta atrás de si.
— Não exatamente. - respondi, me levantando levemente. — E você?

Ela deu de ombros e veio até o pé da cama, sentando-se ali como costumava fazer quando éramos mais novos. Havia uma expressão pensativa em seu rosto, e eu sabia que o silêncio que nos envolvia estava prestes a ser quebrado.

— Alyn. - ela começou, com um tom cauteloso. — Você acha que ela é... perigosa? - eu respirei fundo, tentando organizar meus próprios pensamentos.
— Não sei, Irina. Mas seja lá o que for, não acho que Raphael faça nada sem um propósito claro.

Ela assentiu lentamente, como se estivesse processando cada palavra. Irina soltou um suspiro e olhou para mim, seus olhos revelando que ela também estava tentando encontrar lógica em tudo isso.

Irina apoiou a cabeça contra cama, fitando o teto como se buscasse respostas em algum lugar distante.
— Nós precisamos descobrir o que está acontecendo antes que sejamos os últimos a saber. - ela disse, com a voz baixa, quase como se estivesse falando consigo mesma. — Não podemos simplesmente esperar que Raphael nos conte tudo. Ele nunca faz isso.

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