94. Um Pouco de Fé
Acordou exatamente como foi dormir, para sua tristura. Sentiu as dores no pescoço pela almofada alta e as juntas estalaram ao mexê-las, uma a uma. A rainha dormiu naquele sofá colado à janela, muito mais cômodo e convidativo do que o colchão com molas aparentes e penas de ganso fugitivas que dividia com Nikki na Pedreira. Todavia, daria tudo para estar lá.
O antes agradável cheiro de lençóis limpos e comida fresca lhe acordou para a verdade que ela não queria que fosse: era prisioneira em sua própria casa.
Assim que Odile abriu os olhos, sua visão enfocou no berço que puxou para seu lado. Dormiu com uma das mãos entre as grades, segurando delicadamente a mão do adormecido Kaha. Suas orbes verde-esmeralda se arregalaram quando não o encontrou ali.
A rainha bruscamente sentou-se, olhando ao redor em uma busca desesperada pelo pedaço que lhe faltava. Encontrou os lençóis limpos, impecáveis na cama em que recusava a se deitar. O café da manhã estava posto em um canto e o aroma do bolo de cenoura que lhe era favorito apurou suas narinas. Ao lado da bancada com as comidas, um homem ninava o pequeno príncipe nos braços. Ela reconheceu o rei.
- Minha rainha - o homem sorriu, vendo-a acordada. Odile respirou mais aliviada. Temeu que fosse Roto a tirar a criança de sua posse. Temeu que ele, por qualquer razão que fosse, tivesse escutado sua conversa com Rose na noite passada. Se o marechal sonhasse o que ela planejava fazer, tanto ela quanto Kaha estariam mortos até o fim do dia -, por que não dormiu em sua cama?
Odile balbuciou uma resposta, recuperando-se do susto. Processou a pergunta e olhou para o próprio reflexo na janela. Tinha que manter a personagem o quanto fosse necessário.
- Tudo a seu tempo, meu rei - respondeu, levantando-se. Era a primeira vez que estava a sós com ele desde que voltara. Esperou que aquela resposta vazia servisse. Sabia que, caso viesse de qualquer outra pessoa, ele questionaria. Entretanto, estava tão extasiado por ter Odile e Kaha outra vez que parecia quase cego.
A rainha aproximou-se do rei e tomou Kaha nos braços, puxando-o para mais perto. Ela sorriu, como se fosse apenas um gesto inocente, e deu as costas para o rei. O bebê, ainda sonolento, apenas resmungou ao ser colocado outra vez no berço.
Um calafrio percorreu a espinha de Odile quando esta sentiu a mão de Sohlon repousar sobre sua cintura e apertá-la com delicadeza e segundas intenções que ela conhecia bem. A outra mão percorreu seu corpo e ela estremeceu ao toque tão familiar e desconhecido. Sohlon virou-a para ele e beijou seu pescoço vorazmente, entrelaçando os dedos por seus cabelos negros, sedento por tê-la outra vez.
Meses longe de sua rainha lhe deixaram com uma volúpia gritante. Chamou uma ou outra cortesã, talvez mais, mas precisava dela.
O cheiro dos cabelos de Odile penetrou suas narinas e ele a puxou para mais perto, apertando todas as suas curvas e sinuosidades em um desejo que mais parecia a matança da abstinência daqueles lábios.
Odile estremeceu. Não queria aquele toque sobre ela nunca mais. O que antes lhe causava desejo, naquele momento só lhe era repulsa.
- O que foi, meu amor? - o rei afastou-se para olhá-la, imóvel.
Tremendo, a mulher olhou para baixo. Tentou não se entregar - ou entregar-se -, mas falhou. Não sabia se aguentaria aquela farsa por mais tanto tempo. Dois dias inteiros de puro fingimento quando sabia o que esperava a garganta de Sohlon.
- Não foi nada, meu rei - tentou sorrir, mas o riso esboçou tristeza e nervosismo.
Sohlon a olhou seriamente, esperando encontrar respostas naqueles olhos que não o olhavam. O que ela não disse, ele especulou.
- O que fizeram com você, minha rainha? - sua mão quente ergueu o queixo da esposa, obrigando-a a olhá-lo. - Tocaram em você?
O lábio de Odile tremia tanto que a resposta estava ali, ela não precisava verbalizá-la. Talvez aquela lamúria fosse o que precisava para continuar sua mentira. Não conseguindo mais sustentar o olhar de Sohlon, chorou.
O rei abraçou-a com força, como há tempos não fazia. Se aquele homem soubesse o que acontecia bem debaixo de seu nariz, naqueles próprios aposentos, acreditaria nela? Não encostaram em um fio de cabelo dela portões afora. O perigo morava ali dentro.
- Acabou, Odile - furioso, com a voz entrecortada de tanta fúria, Sohlon a abraçou. - Aquelas pragas não vão lhe fazer mal algum, nunca mais.
- Estou cansada, Sohlon - contou. - Só me dê tempo, por favor.
Já era muito ter que aguentar estar na palma da mão de Roto, um fato que ela não conseguia aceitar. Manter a farsa com Sohlon não era a parte difícil, mas não suportaria ser obrigada a se deitar com ele também.
Para sua sorte, Sohlon compreendeu. Se o rei quisesse, também poderia usá-la como uma peça, mas ela estava certa. Aquele homem, por pior que fosse com tudo ao seu redor, cego de tão ambicioso, a amava e amava o filho deles. Não a machucaria.
A imagem de alguém encostando em Odile sem sua permissão o enfurecia tanto que Sohlon policiou-se para não machucá-la em seu abraço. Se por qualquer motivo soubesse que a Pedreira não perecera, a destruiria ele mesmo com as próprias mãos e nada mais. Sentiu-se capaz, naquele momento.
Engoliu a fúria, entretanto. O rei afastou-se de sua amada e olhou-a nos olhos que ficavam ainda mais verdes quando ela raramente chorava em sua frente. Odile tinha uma beleza pura e angelical, ainda mais com os cabelos soltos e bagunçados e a fragilidade que pouco ousava esboçar. Raras foram as vezes em que a viu vulnerável.
- Merecemos um recomeço, meu amor - o homem secou as lágrimas do rosto da mulher. - Me procure quando estiver pronta.
Odile fechou seus olhos e os soluços ainda a acometiam, mas lembrou-se do tão pouco tempo que tinha para planejar tudo antes de chegar ao fim da linha.
- Eu estou pronta para outra coisa, Sohlon - murmurou calmamente. Sorriu falsamente, mas convenceu-o. - Me acompanha em uma volta?
Centenas de vezes caminhou por aqueles corredores, mas nunca sentiu-se tão vulnerável. Odile estava com um de seus melhores vestidos, vermelho rubi com detalhes de fio dourado das melhores tecelãs do Vale. Ergueu a cabeça ao andar, pé ante pé, sob teto tão familiar. Não tinha a coroa na cabeça, mas posava como se ainda tivesse. Ainda impunha o medo que tanto cultivou. Não escondeu as feridas do rosto e as exibiu sem pudor, vendo criados do palacete a lançarem olhadelas discretas. O rei, a figura mais importante do Vale de Awa, sumia ao seu lado com o príncipe nos braços. A família real estava outra vez reunida e o futuro era tão incerto.
Odile rumava para lugares estratégicos, tentando manter um passo discreto de quem não queria nada além de respirar os ares fora daquele quarto outra vez.
Em Crisântemo, os boatos sobre a rainha logo se espalharam. Ficou vista como uma pobre coitada, prisioneira de guerra, e não mais a mulher que fugiu com o herdeiro e abandonou o rei. Ousava usar e abusar da história que criaram para ela. Preferia a piedade ao ódio, e isso de nada importaria em poucos dias.
Andando pelos corredores familiares e por vezes tão desconhecidos, Odile perscrutava com os olhos incessantemente por rotas de fuga para seu filho. Guiava - de braços dados com o rei - e evitava olhar para qualquer soldado da guarda pessoal prostrado nas laterais dos corredores. Sabia o que eles sabiam.
- No que está pensando - a pergunta pegou-lhe desprevenida -, meu amor?
Ela olhou para o rei de soslaio, vendo-a observá-la como uma deusa e não menos que isso. Kaha brincava com as golas das vestes de seu pai, entretido nos penduricalhos brilhantes que as ornavam.
- Estou feliz em estar de volta - mentiu, evitando olhá-lo. Por mais que soubesse que tudo o que fazia era para o bem de seu povo, enganar o homem que amou por tanto tempo lhe machucava.
Sohlon hesitou. Viu que rumaram para os jardins reais. As flores que antes abundavam por todos os lados agora estavam mortas, murchas. As únicas que ameaçavam nascer eram os crisântemos vermelhos que davam nome àquelas terras. As outras, que faziam menção aos Deuses, estavam secas pela terra, mortas como os próprios.
- O que aconteceu lá, minha rainha?
Odile sabia que essa pergunta viria à tona, mas esqueceu-se de se preocupar com ela com tanto para se preocupar.
- Na Pedreira?
- Desde que me deixou.
A rainha sentiu a amargura na voz do homem. Respirou profundamente antes de respondê-lo.
- Eu fui atrás de nosso bebê, Sohlon. Acho que... fiquei meio insana quando tudo aquilo aconteceu. Eu fugi e não queria que me achassem.
- Não dá para culpá-la.
- Não, não dá - hesitou. - Me escondi nos limiares da Pedreira com uma família que me recebeu bem. Inventei meu nome e minha história, mas...
- Mas?
A mulher engoliu lamentos dolorosos ao contar aquela meia verdade. Celeste, Pöli, Fin, Lili, Deco. Sentiu saudades.
- Mas me reconheceram em uma das idas ao centro da Pedreira. Eu tentei fugir, mas...
- Eu entendi - o rei não obrigou-a a prosseguir, o que ela agradeceu. - E Kaha?
E Kaha?, a pergunta a pegou em um susto.
- Foi minha criada pessoal quem fugiu com ele.
Os olhos de Sohlon se arregalaram.
- Gaia?
- Sim.
- A mãe disse que ela estava morta.
Está se enrolando, Odile.
- Deve ter achado isso - tentou se salvar e não colocar Rose em problemas. - A megera fugiu com nosso bebê e eu nem sei o porquê. O porquê do fogo e de tanta dor...
Sohlon estava sem palavras. Balbuciou algumas, mas reformulou-as.
- Talvez estivesse certa em não confiar em ninguém, minha rainha.
- É, eu estava - Odile concordou, sem olhá-lo. Já estavam no centro do jardim quando ela viu quem os observava. O próprio marechal, com um sutil olhar maldoso, a estudava de longe, como se lhe mostrasse que não tinha como se esconder dele. - Não dá para confiar em ninguém nesses tempos.
Roto sorriu, maléfico, escondendo-se outra vez nas sombras. Odile percebeu que não se referia só a ele, mas a ela mesma.
Nunca o passar do tempo lhe soou tão angustiante. Kohan era forte e paciente, acostumado a não ter nada de mão beijada. Entretanto, aquelas quase quatro horas sem sinal de Azura lhe deixavam enlouquecido.
Na casa da colina, onde acordaram, o arandiano andou de um lado para outro, recusando-se a descer para o vilarejo e recusando-se a conversar. Já derrubara mais lágrimas do que gostaria e tinha dificuldade de entender o porquê.
Finalmente debruçou-se sobre uma bancada e encontrou ali uma adega. Não pensou em qualquer consequência ao abrir um vinho antigo e entorná-lo como uma bebida barata, sentindo a queimação do álcool descer por sua garganta. Colocou novamente a garrafa na bancada e ali apoiou as mãos, pensativo. Aquela cena lhe machucara tanto e não saía de sua cabeça. Uma culpa desenfreada o rodeava e Kohan só queria beber para afogá-la. Düran enfiou-se entre Azura e uma flecha. Tomou a morte no lugar dela quando ele disse que a protegeria. Mas não protegeu. Se tivesse expulsado Düran dali, Azura poderia estar morta. Ele estaria aos frangalhos.
As lágrimas e os gritos de Azura lhe feriram e pareciam ainda ressoar em seus ouvidos, talvez pelo egoísta ciúmes de perceber que ela realmente o amava de sua maneira, mas também por saber que nada poderia fazer para que ela se sentisse melhor em perder um amigo de berço.
- Foi o último pedido dele - a voz que o alcançou assustou-lhe e lhe deu um banho de alívio ao mesmo tempo. Kohan virou-se para trás abruptamente, lágrimas ameaçando escorrer pelos olhos castanhos quando a viu parada na porta de entrada, ao lado de uma tocha, encolhida no próprio abraço e parecendo tão menor do que era. Azura prosseguiu. - Eu não podia negar, mas não significou nada disso, Kohan...
A petrichoriana tinha os olhos inchados e vermelhos de quem recentemente parara de chorar e ainda segurava soluços nervosos. Kohan caminhou em sua direção, sério. Ela temeu sua fúria pela primeira vez. Era para ele quem ela permitia-se ser frágil e a última pessoa com quem ela queria discutir. Foi só um beijo, quis dizer. Um beijo que não significou nada. Eu quero você.
Tentou e tentou dizer, mas apenas aceitou a fúria de Kohan ao vê-lo aproximar-se pela sala com passos rijos e duros. Fechou os olhos e esperou pela pancada de qualquer palavra que ele pudesse lhe lançar.
Entretanto, para sua surpresa, Kohan a abraçou com tanta força que a tirou do chão, balançando-a em compasso com suas lágrimas quase como se a ninasse, apertando-a em seu colo como se com medo que ela escapulisse outra vez.
Azura deixou seus soluços retornarem como uma criança assustada.
- Eu não me importo com isso, Azura - com a voz carregada de emoção que ela não lembrava-se de já ter escutado, Kohan sussurrou ao pé de seu ouvido. - Eu fiquei tão preocupado...
- Me desculpa - Azura balbuciou, finalmente encontrando um colo para chorar.
- Só me avise da próxima vez em que decidir fugir nas costas de um dragão - com um toque de humor, Kohan arrancou um riso da mulher. Afastaram-se para olhar um ao outro nos olhos. - Eu sinto muito, Azura. Sinto mesmo.
O assunto voltou à tona, ela sabia que não conseguiria evitá-lo. Não sabia se queria.
A mulher apenas balançou a cabeça, afastando lembranças recentes da memória.
- Temos que continuar - apesar de não querer, sabia que era a verdade. Não tinham tempo para lágrimas. Quando aquilo acabasse, chorariam suas perdas.
Kohan concordou, beijando-lhe os lábios.
- Então vamos.
Cinzas estava movimentada como se chovesse dentro de um formigueiro.
A petrichoriana foi recebida de braços abertos e lágrimas de solidariedade quando chegou ao vilarejo, mais especificamente na sala da casa de Lilo, já familiar a ela. Estavam todos lá, sua família que tomou para si. Angústia lhe abraçou o peito quando percebeu que planejavam uma guerra e ela mandaria as pessoas que amava para encararem a morte. Tentou não pensar naquilo.
Aurèlia lhe envolveu em um abraço que a assustou. Esqueceu-se que a Kino tinha uma ligação com Düran e era mais um que ela perdia em tão pouco tempo, tanta dor acumulada que seus olhos inchados e lábios fraquejados diziam tudo o que ela não conseguia. Azura olhou dentro de suas orbes e lhe confidenciou um olhar de força. Vamos ficar bem.
Kohan fechou a porta quando passaram e isolou a balbúrdia do lado de fora. Azura o olhou antes de olhar para todos os outros. Estavam tão quietos quanto pedras, mas pareciam todos inteiros, tudo que lhe importava. Ginevra, Alaric. Aurèlia e Caiden. Kohan. Além dos cinzentos. Lilo batia nervosamente o pé no chão ao lado de Holga e o xamã inspirava tão pesado que seu peito visivelmente subia e descia. Olhavam para ela.
- O que estão esperando? - tentou retomar a postura de liderança que lhe deram. - Se for por mim, já estou aqui.
Holga segurou um sorriso, Azura percebeu, mas não tinha a maldade de antes em provocá-la. Estava orgulhosa de vê-la composta.
Lilo sumiu em sua casa e aos poucos perceberam que deveriam segui-lo. Foi fácil encontrá-lo em uma mesa na cozinha. O homem jogou todas as suas parafernálias desnecessárias no chão e abriu espaço na mesa redonda, a qual seus convidados dispuseram-se em volta. Procurou por gavetas - uma, duas - até encontrar um pedaço de papel dobrado e amassado com anotações escritas. Virou-o com o avesso para cima e o esticou com as palmas das mãos. Alcançou um bico de pena com tinta e o colocou nas mãos do xamã.
- É com você, Raco.
Todos os olhos recaíram sobre o xamã. Perceberam quase todos que o homem parecia exausto, como se tivesse envelhecido anos em um dia. Raco levara aquela responsabilidade nas costas por tanto tempo e esperava estar pronto. Mas não se sentia pronto. Nada daquilo estava em seus planos.
- Posso? - Azura lhe estendeu a mão. O xamã agradeceu mentalmente ao colocar o bico de pena nas mãos da mulher sabendo que, apesar da sensibilidade que ainda estava exposta naquele olhar, a pequena cinzenta que ele mandou embora há duas décadas estava ali por um motivo maior.
- Certo - Azura debruçou-se sobre o papel em branco e esboçou o Vale de Awa. - É isso que vamos fazer.
- Não esperam que ataquemos - prosseguiu a petrichoriana. - Se tudo o que disseram for verdade, nos deixaram para morrer um a um de fome e doenças e precariedades. Esperam que estejamos procurando lugar para cair mortos e não preparando uma rebelião. Então, a vantagem é nossa.
- Eles têm um exército preparado - Lilo lembrou. - A vantagem é deles.
- E nós temos o Vale de Awa inteirinho - Ginevra retrucou.
- Não sabemos como estão as coisas lá fora - o cinzento rebateu.
- É aí que precisamos de um pouco de fé - Azura interviu.
- Ter fé está nos seus planos? - Holga provocou-lhe.
- Se não estiver nos seus - a petrichoriana tinha a resposta na ponta da língua -, não sei como dorme à noite.
Holga calou-se.
Para Azura, ter fé foi algo lhe ensinado desde pequenina e não referia-se só aos Deuses, apesar destes sempre mostrarem-se presentes quando ela precisou. Fé nos outros, no destino e nela mesma. Isso move montanhas, seu pai lhe dizia.
- Continue - o xamã pediu.
- O melhor acesso que temos a Crisântemo é pela Pedreira. É para lá que vamos, tomamos os nossos e partimos o quanto antes. Conseguimos estar lá em um dia.
- E os outros? - Caiden a questionou. - O resto do Vale.
- Pássaros azuis.
- O motivo de estarmos aqui é que estão todos mortos, Azura - Alaric a lembrou. - Se não mortos, morrendo. Não temos mais meios de comunicação com as outras terras.
Azura olhou de soslaio para uma Ginevra apreensiva.
- Consegue nos ajudar, Gine? - perguntou.
Ginevra, ansiosa, hesitou. Era uma bruxa poderosa, sim. Encontrou outros espalhados por Cinzas e sabia que, caso juntasse iguais aos seus, não seria difícil proteger os pássaros mensageiros por tempo suficiente até que chegassem ao destino.
- Preciso de mais bruxos.
- É só sair às ruas - Holga contou.
- Então ajude ela - Azura pediu. - Quando acabarmos aqui, reúna todos os bruxos que se escondem em Cinzas e mandem urgente uma mensagem para todos os cantos do Vale. Digam para que nos encontrem na Pedreira em um dia e prontos para lutar uma última vez.
- E se não der certo? - perguntou a arandiana, em tom baixo.
- Vai dar - Azura sorriu-lhe.
Um arrepio bom percorreu os braços da bruxa. Fé, Gine, disse para si mesma.
- E espera bater na porta deles com um exército, é isso? - Lilo debateu, impaciente. - A não ser que tenha uma ideia para pular a muralha impenetrável ao redor de Crisântemo, não acho que bater na porta deles seja uma boa opção.
- Mas será - Azura discordou -, porque estarão todos distraídos com outra frente.
- Outra frente? - Aurèlia indagou.
Para esclarecer, Azura esboçou pequenos rabiscos no Mar das Pétalas e setas indicavam o Porto das Rosas.
- Espera ir nadando para o Porto das Rosas? - Holga esbravejou.
- Onde encontramos a segunda maior frota do Vale? - a petrichoriana lançou a questão ao grupo.
- D'Ávila - Caiden respondeu pela terra natal. - Estão ancoradas no Estreito N'ova.
- Muitas ilhadas no Bosque pelo medo insano que todos têm de pisar lá - Azura lembrou. - É de lá que metade de nós partimos.
Silêncio.
- Não sabemos a situação dos barcos - Alaric colocou seu ponto à mesa.
- Estão bons o suficiente - Aurèlia comentou. - Consigo levá-los até lá.
- Em quanto tempo?
- Da Pedreira? - a Kino pensou. - Seis horas, no máximo.
- Descansamos nos barcos - a petrichoriana conversou consigo mesma. - Teremos tempo até a encosta do Porto das Rosas. Encontraremos gente que sabe velejar e essa é a parte fácil.
Silêncio.
- Duas frentes? - Caiden confirmou. - Mar e terra?
- Mar e terra - Azura concordou, como se em seu plano não tivesse falha alguma. - Enquanto se distraem com o mar, vamos entrar pela porta da frente, desprotegida, e estaremos a passos do palacete. E o resto...
Entreolharam-se aos delineados do plano da petrichoriana. Os olhos de Azura e Kohan se encontraram, determinados. O arandiano findou:
- Tenhamos um pouco de fé.
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